Gerlane do Nascimento Mendes


“VESTÍGIOS DO PASSADO NO PRESENTE”: DIÁLOGOS POSSÍVEIS ENTRE ENSINO DE HISTÓRIA, ARQUEOLOGIA E CULTURA MATERIAL


Intensas mudanças ocorreram no saber histórico nos últimos anos, se tornando cada vez mais evidente que uma das maiores preocupações do ensino de história tem sido inserir novos temas e novas abordagens, a fim de tornar o conteúdo trabalhado na disciplina mais atrativo e significativo para o educando. A historiadora, especialista em História da Educação, Márcia Carbonari [2017] , chama atenção ao afirmar que o século XXI inaugurou uma diversidade de modos de pensar e ensinar história, onde a ampliação dos anos de escolarização, as diversas medidas de incentivo à continuidade dos estudos para além da educação básica e a necessidade de construção de uma escola democrática e plural, por exemplo, vem mudando inquestionavelmente a educação brasileira e, consequentemente, o próprio ensino de História.

Esta preocupação pode ser sentida, se observarmos o movimento de renovação que vem ocorrendo no ensino de história nos últimos anos, envolvendo a introdução de novas abordagens metodológicas, concepções historiográficas, conteúdos e objetos no ensino deste componente curricular que é indispensável para a formação integral do educando. Tudo isto, sempre almejando com que o aluno consiga perceber a relação do que está sendo estudado em sala de aula com sua vivência, e assim mostrar que, o passado não é algo que está desconectado do presente, mas que faz parte de um todo que se complementa. O engajamento dos profissionais da História em romper com uma historiografia escolar que privilegiava fontes oficiais e escritas para produção do conhecimento historiográfico, se intensificou casa vez mais nos últimos anos, o que possibilitou o diálogo com diferentes fontes para a produção desse conhecimento em sala de aula proporcionando um conhecimento ampliado sobre a diversidade das experiências do passado.

Podemos considerar que esse diálogo redimensionou o uso e a valorização das fontes materiais, por exemplo. Carbonari [2017] mais uma vez sublinha que a partir do século XX, a renovação teórica e metodológica na história, no momento em que começa a questionar o documento escrito como fonte privilegiada para suas pesquisas, vai abrindo espaço para novas ciências como a arqueologia, no momento em que considera informações advindas dessa área do conhecimento como fundamentais para construir o conhecimento histórico a ser trabalhado em sala de aula, o que possibilitou ampliar o olhar à diversidade de fontes produzidas pelo ser humano. Neste sentido torna-se cada vez mais evidente a importância de valorizar a contribuição dos diferentes sujeitos que constituem o passado e dos vestígios que podem informar sobre as ações humanas no tempo. Dentro desta trama, o objetivo deste texto é apresentar algumas possibilidades de diálogos entre arqueologia, cultura material e ensino de história mostrando como esta relação favorece a produção do conhecimento histórico em sala de aula e que se insere dentro do movimento de renovação e introdução de novos objetos no ensino de história.

A Base Nacional Comum Curricular [2019] ao definir os conhecimentos que devem ser estimulados no ensino do componente curricular história chama atenção que:

“Para se pensar o ensino de História, é fundamental considerar a utilização de diferentes fontes e tipos de documento [escritos, iconográficos, materiais, imateriais] capazes de facilitar a compreensão da relação tempo e espaço e das relações sociais que os geraram. Os registros e vestígios das mais diversas naturezas [mobiliário, instrumentos de trabalho, música, entre outros] deixados pelos indivíduos carregam em si mesmos a experiência humana, as formas específicas de produção, consumo e circulação, tanto de objetos quanto de saberes. Nessa dimensão, o objeto histórico transforma-se em exercício, em laboratório da memória voltado para a produção de um saber próprio da história” [BNCC, 2019, p.398].

A arqueologia por muito tempo foi considerada como uma disciplina auxiliar da História, até o momento da introdução de novos problemas e novos objetos nos estudos historiográficos como destacamos acima, o que permitiu que a ciência histórica ampliasse seus objetos e introduzisse novos campos do saber que até então eram secundarizados. Utilizaremos uma conceituação simples de arqueologia dada pela arqueóloga do Museu Nacional Tania Andrade Lima, que a define como “a disciplina que investiga a emergência, a manutenção e a transformação dos sistemas socioculturais através dos tempos, por meio da cultura material por eles produzida” [Lima, 2011, p. 3].

Por cultura material iremos considerar o conceito atribuído pelo historiador e arqueólogo Roberto Airon Silva [2017] e pela historiadora Camila Alves Duarte [2017], que definem que, a cultura material constitui-se na dimensão material dos comportamentos sociais dos mais diversos grupos humanos sendo, por sua vez, também carregada de variados sentidos e necessidades, mas sem dúvida um elemento constitutivo do comportamento humano. De acordo com estas definições fica claro que o material não se resume ao que se ver, mas que devemos considerar, observar e compreender toda a dimensão simbólica a qual este pertence, captando e problematizando toda a carga simbólica que carrega em sua materialidade.

Roberto Airon e Camila Duarte enfatizam um ponto fulcral nesta discussão ao dizer que:

“Os dados arqueológicos aplicados ao ensino formal de História precisam tomar como ponto de partida as experiências humanas do mundo concreto e tentar superar as determinações tradicionais de ciência auxiliar e de conhecimento fantástico das grandes descobertas. As informações tratadas pela Arqueologia versam sobre a cultura material de sociedades passadas, que no caso aqui tratado se referem não somente a sociedades distantes no tempo e espaço, mas a sociedades que desapareceram ou foram modificadas, as quais estão ou estavam aqui bem perto de nós ” [Silva; Duarte, 2017, p.190].

Ainda dentro desta discussão, o arqueólogo brasileiro Pedro Paulo Funari [2010] salienta a importância da arqueologia para se entender melhor não apenas o nosso passado, mas também nosso presente. Para ele, a arqueologia não visa revelar apenas o sentido das coisas e dos artefatos desenterrados, mas configurar que estes elementos são vestígios que passaram por apropriação do ser humano, o que retira a limitação do estudo arqueológico apenas ao passado, mas, também, liga-o ao presente. Salienta ainda que:

Um objeto material que detém uma imensa carga simbólica aplicada na sua materialidade, indica que elementos como a confecção, a função e a [s] forma [s], a decoração, tamanho e tipo de material utilizado fazem parte de seu conteúdo e sentido cultural dentro de um determinado grupo ou sociedade específica que o produziu e que o utilizou, nos informando sobre sua organização [Funari, 2010, p.6].

A partir dos pressupostos apresentados anteriormente, fica evidente que a introdução de uma discussão sobre a cultura material no ensino de história possibilita problematizar inúmeras questões que são essenciais para enriquecê-lo, como por exemplo, discutir como as informações sobre fatos e achados arqueológicos podem nos informar sobre determinada sociedade ou grupos humanos. Questões como essa, reforçam a importância do contato com essa cultura material por parte dos educandos e como e até que ponto contribuem para uma melhor compreensão dos conteúdos estudados, enfatizando também sua contribuição para melhor entendimento da história local. Neste processo, enquanto profissionais da história, podemos fazer algumas indagações pertinentes e importantes para pensarmos e refletirmos sobre esta contribuição como por exemplo: qual a relação e as conexões que são possíveis estabelecer entre arqueologia, cultura material e o ensino de história em sala de aula? Como o contato com esta temática potencializa o conhecimento sobre o passado? Como relacionar este conhecimento como o presente e a realidade do aluno através da cultura material presente no local? Que diálogos são possíveis entre o ensino de história e a arqueologia? Como operacionalizar estes conceitos? Como é possível a partir dessa relação, um ensino de história mais significativo?

A aproximação da arqueologia e da história permitem compreender que o conjunto de artefatos e vestígios materiais deixados pelas sociedades humanas do passado revelam elementos que nos fornecem informações sobre seu cotidiano, suas relações sociais, modos culturais e se convertem em patrimônio histórico e cultural, reforçando que “estas novas ciências como a arqueologia, por exemplo, ampliam o olhar à diversidade material produzida pelo ser humano. A cultura material passa a ser fonte histórica e meio para construir conhecimento histórico” [Carbonari, 2017, p.7]

A partir disto, podemos inferir que os estudos sobre a cultura material, os quais se ocupa a arqueologia, abrem uma nova perspectiva de trabalho em sala de aula no que concerne a produção deste conhecimento histórico. Podemos responder alguns questionamentos sobre como operacionalizar o conhecimento produzido na arqueologia em sala de aula, considerando as possibilidades de trabalho com a cultura material, e como relacionar estes artefatos com a documentação escrita, que na maioria das vezes é levada para ser trabalhada em sala de aula, devendo salientar, que ambos podem se complementar e não se excluir. No entanto devemos deixar bem claro como bem destaca a pesquisadora e doutora em educação Flávia Caimi, que:

“Não se trata de simplesmente reproduzir o debate da academia para a escola, mas de problematizar o uso dos artefatos e sua relação com a crítica ao documento escrito que a historiografia contemporânea desenvolve e na importância dos diálogos interdisciplinares entre história e arqueologia.” [Caimi, 2017, p.6].

O trabalho com a cultura material em sala de aula possibilita o contato do aluno com um elemento muitas vezes inédito para ele, despertando facilmente seu interesse e proporcionando que este tenha contato com informações que ampliam e revelam a experiência do passado de sociedades onde não havia escrita por exemplo, como ocorre com as sociedades pré-históricas, em que as fontes materiais abrem um leque de possibilidades para aprofundar e ampliar o conhecimento sobre estas populações. Outro ponto profícuo quando se trata deste diálogo é que esta aproximação contribui para a preservação do patrimônio histórico, pois estimula e incentiva o educando a olhar para alguns aspectos e elementos da sua realidade de forma mais construtiva e consciente. Entender que elementos do seu cotidiano, como por exemplo um prédio antigo da sua cidade, que poderia não fazer sentido para ele, começa a ser entendido como um elemento constitutivo da história do seu lugar, do seu povo e consequentemente da sua história.

Usando mais uma passagem de Carbonari, na qual fala magistralmente sobre as contribuições que o contato com o estudo da cultura material fornece ao ensino de história, aponta:

“O estudo da cultura material no ensino de história pode ser espaço fecundo para a construção de uma consciência histórica nos educandos, engendrando dois desdobramentos principais: a cultura material como fonte de conhecimento histórico à medida que não se torne mera ilustração ou complemento do documento escrito e sim objeto de investigação e interpretação propiciando ao educando ser agente de seu conhecimento, de outro lado, a cultura material não deve ser encarada como “simples coisas” uma vez que fazem parte de saberes e fazeres humanos, são meios de preservar a memória e reconstruir a história. Neste sentido, o estudo da cultura material poderá oferecer subsídios para a construção do conhecimento e a valorização e preservação do patrimônio cultural, arqueológico e histórico. ” [Carbonari, 2017, p. 1].
Através deste diálogo é possível criar um debate bastante fecundo sobre história local, que pode o considerar tanto como objeto do conhecimento, e/ou como referência para o conhecimento. O conhecimento arqueológico torna-se fundamental para trabalhar esta relação, pois muitas vezes, são objetos e construções presentes no lugar que o aluno ocupa, que fazem parte de sua realidade, do seu cotidiano, que são capazes de despertar neste, sua importância como elementos indispensáveis para a construção da história daquele lugar e da sua identidade, bem como da identidade daquela sociedade, estimulando a busca por conhecimentos que esclareçam a ou as histórias por trás daquele testemunho material do passado.

A Base Nacional Comum Curricular indica a importância de trabalhar a história local, ao discorrer sobre os conhecimentos e habilidades a serem desenvolvidos na disciplina de história no currículo da Educação Básica, orientando para trabalhar as particularidades da história local atrelada os conteúdos estudados em cada série [BNCC, 2019, p.429].

Flávia Caimi [2010] declara que os estudos de história local podem constituir o ponto de partida importante da aprendizagem histórica, uma vez que permitem a abordagem dos contextos mais próximos em que se inserem as relações sociais entre os professores, os estudantes e o meio. Sendo assim, assinala que, nessa perspectiva:

“O ensino-aprendizagem da história local configura-se como um espaço-tempo de reflexão crítica acerca da realidade social e, sobretudo, referência para o processo de construção das identidades destes sujeitos e de seus grupos de pertença. [...] os estudos de história local desenvolvem nos alunos a capacidade de analisar criticamente o seu entorno escolar e social, ao mesmo tempo em que cumprem o papel de facilitar a estruturação do pensamento histórico e de lhes fornecer um quadro de referências que os ajude a tomar consciência do lugar que ocupam no processo de evolução” [Caimi, 2010, p.69].

No momento em que é proporcionado o contato destes alunos com a cultura material de sociedades passadas, que podem ser entendidos como vestígios de um passado que é notado em muitos aspectos do nosso presente, como um prédio antigo, um trecho da cidade que seja tombado pelo IPHAN ou mesmo que não seja mas que constitui-se em importante componente da história aquele lugar, uma exposição arqueológica presente no museu da cidade, um sítio arqueológico presente na cidade ou mesmo artefatos antigos da família. Mostrar que estes elementos fazem parta da história do local em que vivem, evidenciar os porquês de terem sido tombados por exemplo, contribui no processo de modificação do modo de entender esses elementos materiais provocando conexões com o conteúdo de história estudado e também com o contexto social do aluno.

Nessas possibilidades de diálogos entre ensino de história, arqueologia e cultura material, merece destaque também o trabalho em museus, como nos orienta o historiador Marcos Silva ao falar da cultura material e da História do imediato, ao sublinhar:

“A cultura material, associada às outras problemáticas do conhecimento histórico, encontra múltiplos itens para reflexão em museus. Mesmo livros didáticos convencionais costumam apresentar fotografias e desenhos sobre alguns tópicos pertinentes à área, embora os explorem pouco. E o Patrimônio Histórico – edificado ou disperso em diferentes fazeres e saberes – contém inestimáveis elementos para a discussão daquele universo” [Silva, 2007, p.4].

Cabe aqui salientar que os artefatos que os seres humanos produzem, utilizam e consomem, dizem respeito não só à sua trajetória histórica como também à construção de sua identidade, bem como a identidade do local que ocuparam. Mostrar para os educandos que aqueles materiais que foram escolhidos para comporem uma coleção arqueológica por exemplo, que está presente em um museu, não foi escolhida atoa, mas porque constitui-se como elemento importante da história daquele lugar e daquele povo, este ponto ponde ser explorado de forma muito profícua no ensino de história. Neste sentido é possível inserir discussões sobre a construção identitária de grupos através de sua cultura material deixada, uma vez que estas possibilitam observar padrões em sua produção, e em seu uso por exemplo, nos revelando um mundo por trás da materialidade.

Outra possibilidade de operacionalizar o conhecimento advindo de informações arqueológicas e da cultura material as quais os educandos podem ter contato no ensino de história, é incentivar a produção de um material concreto que possibilite o contato com a dimensão prática do que foi estudado. A partir disto pode-se trabalhar com a produção de oficinas de material lítico por exemplo, quando a temática for pré-história, ou organizar a visita a museus e locais históricos da cidade, entre outras atividades que farão com que possam relacionar o conhecimento teórico com a dimensão prática. Com isso será possível ampliar e tentar se aproximar da realidade vivida pelos nossos antepassados, estimulando o aluno a conhecer melhor estas sociedades como também a perceber a proximidade entre o passado e o presente. Reafirmando tudo o que foi discutido até agora, reforçamos:
  
“Compreender que o artefato não se esgota em sua materialidade, mas pode ser entendido como um mediador de relações sociais em que se deve considerar os mais diversos aspectos: a escolha de matéria-prima, utilidade, a qual grupo poderia pertencer, entre outros. Tudo isto aproxima o aluno do cotidiano de sociedades passadas e que podem ser bem melhor compreendidas através de vestígios materiais deixados por elas, podendo entender, que assim como aprendemos a ler a palavra, temos que exercitar nossa capacidade de ler objetos [Carbonari, 2017, p.10].

Enquanto profissionais da história devemos saber que um dos caminhos mais importantes a seguir no sentido de relacionar cultura material e ensino de história, atribuindo mais significado a este ensino, é o que perpassa pela concepção de que é necessário e indispensável entender como se produziu e se produz o conhecimento histórico, como afirma os historiadores Margarida Dias de Oliveira e Itamar Freitas, ao falar que “é a teoria da História que fundamenta o ensino de História, logo, a compreensão [e transformação] da disciplina escolar perpassa a interlocução com a construção do conhecimento histórico’’ [Oliveira;Freitas, 2010, p.12]. Nesse sentido compreende-se que não é possível para um público especializado tratar de modo desconexo história do ensino de história e historiografia do ensino de história, e estabelecer relações como as que aqui se propõe contribui para este empreendimento.

Ao nos empenharmos para alcançar um ensino de história de fato renovado, devemos considerar todas as possibilidades de diálogos que nos são apresentadas, devendo entender a extrema importância de estabelecer diálogos com os mais diversos objetos que contribuem para construção do conhecimento junto ao aluno, como entre a cultura material e a arqueologia sempre almejando um ensino de história mais significativo. Dentro deste debate outros temas ganham relevância enriquecendo e ampliando o processo de construção do conhecimento histórico com a introdução de novos temas, como a necessidade de dar atenção a história local por exemplo, de explorar elementos da vivência do aluno como prédios antigos, por exemplo. Tudo isto contribui para um ensino de história mais fecundo e significativo que caminha para sua plena renovação, e estimular o diálogo entre profissionais da história e da arqueologia nos parece um caminho viável e necessário nesta trajetória.


REFERÊNCIAS

Gerlane do Nascimento Mendes é licenciada em História e mestranda em História pelo PPGH da universidade Federal do Rio Grande do Norte. Durante a graduação desenvolveu projetos e participou de diversas atividades junto ao Laboratório de Arqueologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte [LARQ/UFRN].

CAIMI, Flávia Eloisa. Meu lugar na história: de onde eu vejo o mundo? In:_____. OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de. Coleção explorando o ensino. V. 21. Brasília: Ministério da educação. 2010.
CARBONARI, Márcia. Arqueologia, História e cultura material no ensino de História. Seminário Internacional de Cultura Material e Arqueologia. Universidade de Passo Fundo. Vol. 1, 2017.
FUNARI, Pedro Paulo. Arqueologia. São Paulo: Contexto, 2010.
LIMA, Tania Andrade. Cultura material: a dimensão concreta das relações sociais. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas. v. 6, n. 1, p. 11-23, jan.-abr. 2011.
OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de. A História nas salas de aulas brasileiras In:_____. OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de [org.]. Coleção explorando o ensino. V.2. – Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2010.
SILVA, Roberto Airon; DUARTE, Camila Alves. Fontes materiais: as informações arqueológicas como recurso didático no ensino de história. In:_____. Carmen Margarida Oliveira Alveal; José Evangelista Fagundes [Org.]. Reflexões sobre História Local e produção de material didático. Natal: EDUFRN. 2017.
SILVA. Marcos. Além das coisas e do imediato: cultura material, História imediata e ensino de História. São Paulo. V.11, 2007.

8 comentários:

  1. Prezada Gerlane,
    Parabéns pelo seu texto! Ele foi muito elucidativo ao abordar os conceitos e práticas demandadas pela Arqueologia e História e suscitou reflexões pertinentes à diversificação de fontes para a análise e construção da História dentro e fora da escola, na educação formal e informal. Também gostei do fato de teres associado ambas as áreas citadas à museologia e seu papel na intermediação da construção da consciência histórica e identidade local, principalmente por meio das atividades com a comunidade, o que poderia ser caracterizado como a importante etapa de comunicação das instituições museológicas denominada Educação Patrimonial. Este não foi exatamente o conceito utilizado no seu texto, por isso gostaria de saber se as estratégias apresentadas enquadram-se na educação para o patrimônio, e quais outras atividades neste mesmo âmbito poderiam ser utilizadas não somente dentro de sala de aula, mas com toda região e moradores que convivem diariamente com o patrimônio cultural muitas vezes sem se dar conta.
    Agradeço pelas reflexões propostas e aguardo seu retorno!
    Abraços,
    Geovana Erlo.

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    1. Fico muito grata pelo seu comentário Geovana, sua pergunta foi muito pertinente e valiosa. Acredito que não mencionei o conceito de Educação Patrimonial pelo fato de ter me atentado prioritariamente ao diálogo entre o ensino de História e Arqueologia, o que já rende muita conversa. Mas sem dúvidas todas as estratégias apresentadas no texto se enquadram na Educação Patrimonial no momento que podem converter-se em projetos e ações conjuntas que envolvam toda a comunidade objetivando uma maior valorização e preservação do patrimônio cultural, sobretudo, a nível local. Saliento que um dos objetivos centrais de um ensino de história que dialogue com a arqueologia e a cultura material é justamente despertar para a importância de tratar esses temas, tanto em sala de aula, bem como fornecer subsídios para a educação para o patrimônio. Acredito que o conceito de Educação Patrimonial fornecido pelo IPHAN nos ajude a refletir sobre o seu apontamento, ao dizer que este “constitui-se de todos os processos educativos formais e não formais que têm como foco o patrimônio cultural, apropriado socialmente como recurso para a compreensão sócio-histórica das referências culturais em todas as suas manifestações, a fim de colaborar para seu reconhecimento, sua valorização e preservação. Considera-se, ainda, que os processos educativos devem primar pela construção coletiva e democrática do conhecimento, por meio da participação efetiva das comunidades detentoras e produtoras das referências culturais, onde convivem diversas noções de patrimônio cultural.” Existem várias atividades que podem ser pensadas com esse objetivo, que envolvem a comunidade escolar e a sociedade local, mas que requerem um interesse e diálogo de ambas as partes. Propiciar a uma turma da educação básica, por exemplo, uma visita a um museu presente na cidade, ou mesmo uma “caminhada histórica” pelo centro histórico da cidade, ou uma parte desta que possua prédios antigos que fazem parte da história daquele local, através de um projeto que envolva escola e comunidade local configura-se em um esforço da Educação Patrimonial, visto que a comunidade também é responsável pela preservação e conservação dos bens patrimoniais, mas que devem ter ações voltadas para despertar a importância e ações como esta. Para pensar neste tema, cito o exemplo de uma cidade localizada na Região Central no Rio Grande do Norte chamada Santa do Matos onde existem mais de 90 sítios arqueológicos catalogados, no qual tive o prazer de participar de projetos os envolvendo durante a graduação. Sobre este tema existem muitos trabalhos escritos, do professor Valdeci dos Santos Junior, que fez sua dissertação sobre os sítios de gravuras rupestres da região, e muitas outras atividades e projetos realizados na região pelo professor historiador e arqueólogo Roberto Airon Silva juntamente a UFRN, caso você queira saber mais. O professor Roberto Airon Silva, por exemplo, realizou um trabalho com os alunos das escolas básicas na região, onde estes iam visitar os sítios e ouviam explicações de professores que eram convidados a falar sobre o tema, estes projetos que envolvem o conhecimento sobre os sítios e os alunos, podem ser ampliados para abranger uma maior parte da sociedade local, incentivando o melhor conhecimento e a preservação dos bens culturais que fazem parte de sua história. No entanto, infelizmente muitas prefeituras dessas localidades, por exemplo, ainda não se interessam em incentivar e investir em projetos com este objetivo. Menciono este fato para mostrar que tudo deve ser feito através de muito diálogo e esforço tanto por parte da comunidade escolar como da sociedade local. Espero ter contemplado sua questão.

      Gerlane do Nascimento Mendes

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    2. Perfeitamente contemplada! Muito obrigada e, novamente, parabéns pelo excelente trabalho!
      Abraços,
      Geovana Erlo.

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    3. Fico muito feliz que tenha gostado do trabalho, e que tenha contemplado sua pergunta. Desejo sucesso em sua carreira e muito obrigada pelo comentário!
      Abraço!

      Gerlane do Nascimento Mendes

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  2. Olá Gerlane.

    Primeiramente quero parabenizá-la pelo texto instigante que muito bem articulou e promoveu um produtivo diálogo com diversas frentes do conhecimento, a saber a arqueologia, a cultura material, a museologia. Proporcionando refletir sobre o conhecimento histórico. Assim, minha pergunta, ou melhor, minha busca por uma ajuda, está diretamente ligada com a minha prática docente na Educação Básica como professor de História. Gostaria de obter algumas sugestões sobre atividades práticas para introduzir a arqueologia e suas reflexões na sala de aula (para estudantes do Ensino Fundamental e Médio). Obrigado.

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    1. Olá professor Fabian, grata pelo comentário e fico feliz que tenha gostado do texto. Como mencionei brevemente na resposta do comentário anterior, existem várias atividades que podem ser pensadas que envolvem as áreas da arqueologia, história e museologia, que podem envolver a comunidade escolar e a sociedade local. Muitas destas atividades se encaixam na educação patrimonial [veja definição no comentário anterior] e devemos considerar a participação de diversos agentes nestas atividades que podem ser desenvlvidas através de um projeto que envolva escola e comunidade local, visto que a comunidade também é responsável pela preservação e conservação dos bens patrimoniais. Propiciar a uma turma da educação básica, por exemplo, uma visita a um museu presente na cidade para terem contato com a cultura material presente naquele lugar, ou mesmo uma “caminhada histórica” pelo centro histórico da cidade, ou por uma parte desta que possua prédios antigos que fazem parte da história daquele local. Outra atividade possível é fazer simulações de oficinas com material cerâmico por exemplo, quando o assunto for as populações indígenas que ocuparam a região, mostrando que a cultura material produzida por aquele povo nos diz muito sobre como funcionava aquela sociedade. Existe um texto que é um relato de experiência sobre a aplicação de atividades que envolvem arqueologia em sala de aula chamado “A cultura material como recurso didático no ensino de história” de autoria das graduandas Micheli Gomes da Silva, Amanda Kelly Acioli Silva e da professora Helena Alves de Souza de Lucena Ribeiro, no qual você pode ter uma noção de como esses conhecimentos podem ser operacionalizados na prática [este texto você encontra facilmente ao pesquisar no google]. Outra dica é O capítulo 9, “Fontes materiais: as informações arqueológicas como recurso didático no ensino de história” do professor Roberto Airon Silva e Camila Alves Duarte, que está presente no livro “Reflexões sobre História Local e produção de material didático”, que menciono na bibliografia também pode te ajudar neste empreendimento. Quando possível dê uma lida nestas indicações, no mais, enquanto professores de história, devemos sempre buscar proporcionar estes diálogos com as diferentes áreas do conhecimento, o que torna a aula mais atrativa para o aluno e o processo de aprendizagem mais efetivo. Espero ter ajudado.

      Gerlane do Nascimento Mendes

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  3. Olá, Gerlane! Parabéns pelo teu texto e pela fluidez nos conceitos! Muito interessante e importante o debate que você fez a partir de tua produção.

    Como você mesma mencionou "o engajamento dos profissionais da História em romper com uma historiografia escolar que privilegiava fontes oficiais e escritas para produção do conhecimento historiográfico, se intensificou casa vez mais nos últimos anos, o que possibilitou o diálogo com diferentes fontes para a produção desse conhecimento em sala de aula proporcionando um conhecimento ampliado sobre a diversidade das experiências do passado". Dessa maneira, para aqui não fazer um questionamento e sim tecer um dialogo que intento fazer com colegas professores de História, gostaria de saber quais percepções tens, enquanto mestranda, das correlações possíveis de serem realizadas entre a acadêmia e a escola, quando por vezes, realidades socioculturais dificultam algumas práticas?

    Att,
    Tianey Weiss

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    1. Olá Tianey, fico muitíssimo grata pelo seu comentário e muito feliz que tenha gostado do texto. Acredito e defendo que enquanto professores de história é indispensável estabelecer diálogos que tratem dessa relação entre a academia e a escola, sobretudo porque esta última na grande maioria das vezes será, ou é, nosso campo de atuação profissional. Particularmente, em muitos momentos da minha graduação senti dificuldade para operacionalizar alguns conceitos e conhecimentos aprendidos na academia para aplicá-los em sala de aula, quando muitas vezes os alunos nem sequer sabiam para que servia estudar história. Diálogos como este que você mencionou são fundamentais para superarmos essas dificuldades e encará-las, porque de fato elas existem e são mais comum do que imaginamos. E como você enfatizou, muitas dificuldades socioculturais dificultam para que essa relação seja estabelecida, devemos buscar, em conjunto, maneiras de superar ou minimizar estas barreiras. Acredito que este deva ser um debate inicial: levar reflexões sobre a ciência histórica para a escola, fazendo com que o aluno entenda sua importância para sua formação enquanto sujeito crítico e autônomo. Mostrar que a história e a História tem conexão com sua realidade, que ela nos ajuda a compreender o meio em que vivemos, que o passado não é algo que “ficou para trás”, mas que faz parte do nosso presente. Acredito ainda que uma das questões centrais é também, tornar o conhecimento que adquirimos na universidade acessível quando o utilizamos na escola, isto perpassa por exemplo, em buscar adaptar nosso vocabulário para facilitar o entendimento de determinados conceitos e ideias que são mais complexas. O Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência, PIBID, que é financiado pela Capes e constitui-se em um programa que introduz alunos dos cursos de licenciatura plena das universidades, para que eles exerçam atividades pedagógicas em escolas públicas de ensino básico, é um bom exemplo dessa conexão entre a academia e a escola. Projetos semelhantes a este podem ser viáveis caso aja interesse da academia e de órgãos financiadores para atuar nas escolas de ensino básico, estreitando essa relação entre o espaço acadêmico e o escolar. No caso do tema do texto, buscar projetos e atividades que introduzam conhecimentos da arqueologia e de cultura material no ensino em uma aula de história indígena ou de pré-história por exemplo, já é um passo muito significativo neste estreitamento de laços entre estes contextos. Espero que tenha contemplado sua questão.
      Abraço!

      Gerlane do Nascimento Mendes

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