Dilza Pôrto Gonçalves


POR QUE PRECISAMOS DEBATER GÊNERO NAS AULAS DE HISTÓRIA? SUGESTÕES METODOLÓGICAS


Este texto foi construído com a intenção de fazermos uma reflexão sobre Ensino de História, teorias e metodologias que podem ser aplicadas nas aulas da Educação Básica. Propomos aqui fazer uma reflexão dos motivos porque precisamos discutir gênero na Educação Básica e trazemos algumas sugestões metodológicas que podem ser abordadas pelos [as] professores[as]. Mesmo sabendo de vários movimentos contrários ao debate dessa temática, a nossa reflexão é no sentido de pensarmos por que devemos debater gênero nas escolas da Educação Básica? E, como podemos fazer isso em tempos de Escola sem partido.

Começamos a reflexão apontando os altos índices de feminicídio no Brasil. Todos [as] sabemos que o feminicídio e a violência contra a mulher no Brasil são problemas gravíssimos e que exigem medidas imediatas de combate.  Só para termos uma ideia do tamanho do problema, em 2015, o Brasil sancionou a Lei 13.104/2015, que introduz uma qualificadora que aumenta a pena para autores de crimes de homicídio praticado contra mulheres. O que isso representou? Que na aplicação da qualificadora elevou a pena mínima deste crime de 6 [seis] para 12 [doze] anos e a pena máxima, de 20 [vinte] passou para 30 [trinta] anos. No entanto, mesmo com a mudança de tipologia criminal a taxa de feminicídios no Brasil ainda é a quinta mais alta do mundo. Segundo o Mapa de Violência 2015, o número de assassinatos chega a 4,8 para cada 100 mil mulheres. E, aponta que, entre 1980 e 2013, 106.093 pessoas morreram por serem mulheres. Ou seja, uma barbárie ainda está acontecendo no país.

Embora, os números anteriores sejam alarmantes, O Dossiê Feminicídio, apresentado pelo site Patrícia Galvão, destaca que no ano de 2010, se registravam 5 espancamentos a cada 2 minutos, em 2013 já se observava 1 feminicídio a cada 90 minutos e, em 2015, o serviço de denúncia, Ligue 180 registrou 179 relatos de agressão por dia. De acordo com o Dossiê Feminicídio, “é preciso conhecer sua dimensão e desnaturalizar práticas, enraizadas nas relações pessoais e nas instituições, que contribuem para a perpetuação de mortes anunciadas”.

Neste contexto, também é preciso considerar questões étnicas, que estão intimamente ligadas a questões sociais e econômicas. As mulheres negras infelizmente ainda são as maiores vítimas desse tipo de violência como mostra o quadro a seguir:

                     








                      Quadro 1: Mulheres vítimas de violência sexual

Fonte: Site da Unisinos [arte: Jonathan Camargo | IHU]

Ou seja, os dados são alarmantes sobre a violência contra as mulheres, e o ainda são mais cruéis quando analisamos a situação das mulheres negras. Embora os dados que apresentamos sejam de 2018, a situação das mulheres não melhorou em 2019 e já começou em 2020 com um aumento de notícias sobre feminicídio. A cultura patriarcal ainda está muito presente na sociedade brasileira, porém hoje o crescente processo de exacerbação da violência torna-se objeto de interesse social e de pesquisas sobre o assunto, além de ser noticiado como algo inaceitável. O que até bem pouco tempo era visto como algo natural hoje está sendo questionado e debatido, mesmo tendo movimentos conservadores contrários a estas discussões e debates.

A publicização das notícias sobre a violência contra a mulher, segundo Fernanda Vasconcelos [2019], em entrevista para IHU On-Line/Laboratório de Demografia e Estudos Populacionais da Universidade Federal de Juiz de Fora, vem acontecendo desde que entrou em vigor a Lei Maria da Penha em agosto de 2006. A mídia nacional começou a mostrar discursos que apontam para a ideia de que “é errado bater em mulher”, com a criação da figura jurídica do feminicídio em 2015, a possibilidade de nomear os homicídios de mulheres motivados pelo não cumprimento de expectativas de gênero deu a imprensa a chance de pautar esta violência de modo mais organizado. Para Fernanda Vasconcelos, a colocação da figura do feminicídio no nosso ordenamento jurídico permitiu dar uma maior visibilidade social a estas mortes, e não podemos negar que a imprensa tem um papel central neste processo.

O que as vítimas têm em comum?

Para Fernanda Vasconcelos, o que as vítimas tem em comum é que em algum momento de suas trajetórias pessoais, descumpriram alguma expectativa vinculada aos papéis sociais de gênero tradicionalmente atribuídos à mulher: boa esposa, boa mãe, boa dona de casa, possuidora de uma sexualidade “controlada”. De certa forma, não cumpriram o que o agressor esperava delas. De acordo com Vasconcelos, “não existe um padrão dessas vítimas. A violência está presente em todas as classes sociais: o que varia são as formas como o conflito costuma ser administrado pelas partes nele envolvidas”. 

Como a sociedade brasileira é resultado de uma tradição de colonização escravocrata e patriarcal, existem ainda resquícios de toda violência “comum” no processo colonizador. Por isso, segundo Fernanda Vasconcelos, é corriqueiro que os agressores tenham a necessidade de reafirmar outras expectativas de gênero, as quais estão fortemente relacionadas a uma percepção de que a masculinidade deve ser violenta, patriarcal, viril e honrada. As falas de mulheres em situação de violência sobre seus agressores costumam apontar abuso de álcool, desemprego, impossibilidade de manutenção econômica das partes envolvidas no conflito.

Para Vasconcelos os casos de violência exacerbada, que resultam em mortes, normalmente estão ligados à não aceitação por parte do companheiro/ex-companheiro da opção pelo término do relacionamento. E, a pior que a maioria expressiva das mulheres vítimas deste tipo de homicídios já havia procurado o sistema de justiça criminal em um momento anterior, seja em um primeiro contato buscando alguma resolutividade para o conflito através da punição do agressor ou não.  Porém, o conflito não foi resolvido demonstrando a dificuldade das instituições de segurança pública em atender a demanda por proteção de parte de sua clientela. Ou seja, nem mesmo as instituições de segurança pública conseguem resolver um problema que está engendrado na cultura brasileira. Devemos lembrar que a cultura só se modifica mudando as ações e pensamentos de uma comunidade e, uma das formas de se fazer isso é educando os indivíduos.

Além da violência contra a mulher temos que lembrar que a homofobia também apresenta números alarmantes da violência de gênero no Brasil. O site do Grupo Gay da Bahia [GGB] apresenta os dados da violência em relação a população LGBTs [é a sigla para Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros]. Em 2017, por exemplo, teve um aumento de 30% em relação a 2016, quando foram registrados 343 casos. Em 2015, foram 319 LGBTs assassinados, contra 320 em 2014 e 314 em 2013. O saldo de crimes violentos contra essa população em 2017 foi três vezes maior do que o observado há 10 anos, quando foram identificados 142 casos.

Sobre mortes com causas violentas, o site GGB aponta que das 445 mortes registradas em 2017, 194 eram gays, 191 eram pessoas trans, 43 eram lésbicas e cinco eram bissexuais. Em relação à maneira como eles foram mortos, 136 episódios envolveram o uso de armas de fogo, 111 foram com armas brancas, 58 foram suicídios, 32 ocorreram após espancamento e 22 foram mortos por asfixia. Há ainda registro de violências como o apedrejamento, degolamento e desfiguração do rosto.

São tantos os casos de violência de gênero no Brasil, que é impossível que os professores da Educação Básica possam ignorar o que está acontecendo. Mas, como podemos fazer esses enfrentamentos em tempos de movimentos da Escola sem Partido, que quer impedir que haja o debate nas escolas. Os defensores da Escola Sem Partido, movimento que ganha força desde 2015 incluiu em sua pauta a reivindicação

de impedir que professoras e professores transmitam, em sala de aula, qualquer conteúdo que seja contrário aos valores prezados pelos pais. O foco principal é a “ideologia de gênero”, mas a regra contempla também as posições políticas sobre outras questões e mesmo a teoria da evolução das espécies ou o heliocentrismo [Miguel, 2016, p.601].

A meta desse movimento é evitar qualquer questionamento da percepção naturalizada dos papéis sexuais. Desta forma, se impede o combate as formas recorrentes de violência ocasionada por gênero, dentro e fora da instituição escolar, culminando no feminicídio e no assassinato de gays, lésbicas e travestis. O grupo que apresenta a “Escola sem Partido” e sem “Ideologia de Gênero” defende a instituição familiar, a “base da sociedade”, é um objetivo que parece compensar tais problemas – que ficam completamente invisibilizados [Miguel, 2016, p.607].

Para fazermos esses enfrentamentos temos que estar embasados nos números e análise dos dados disponíveis em registros públicos sobre os casos ocorridos. Idealmente, a existência de dados públicos de qualidade ajudaria a viabilizar a criação de programas bem fundamentados de prevenção e conscientização, tanto pelo Estado quanto por iniciativa da sociedade civil. O que não podemos fazer é deixar esses debates de lado e cruzarmos os braços para uma questão tão importante.

Como as discussões sobre gênero nas aulas podem diminuir os feminicídios e a homofobia?

Os estudos de gênero em sala de aula, devem ser orientados tal como outro conteúdo qualquer, sempre com muito embasamento por parte do [a] professor [a]. Um dos primeiros pontos que apresentamos é problematização e a historicização do conceito de gênero de maneira que possam ser articulados ao cotidiano dos indivíduos. Aqui apresentamos exemplos de trabalho nas aulas de história nos anos finais do Ensino Fundamental ou Ensino Médio.

Como problematizar o conceito de gênero e provocar o debate?

Em primeiro lugar, sugerimos trazer comportamentos cotidianos que “diferenciam meninos e meninas” e a partir daí ir refletindo sobre como esses “comportamentos” se perpetuam como “naturais”. Depois das provocações, trazer à tona o conceito de gênero e suas transformações ao longo dos séculos XX e XXI. Mostrar para os [as] estudantes um breve histórico do uso da palavra gênero desde a publicação do livro O Segundo Sexo, de Simone de Beauvoir em 1949, que demonstrou que a “dominação masculina” é uma “construção social” até os usos atuais da palavra e seus mais diversos significados.
Optamos por um conceito que seja compreensível para o grupo de alunos [as]. Neste caso, o conceito elaborado Joan Scott,

o gênero é um elemento constitutivo de relações sociais baseadas nas diferenças percebidas entre os sexos e o gênero é uma forma primária de dar significado às relações de poder. As mudanças na organização das relações sociais correspondem sempre a mudanças nas representações do poder, mas a mudança não é unidirecional [Scott, 1995, p.86].

Neste sentido,  a expressão gênero está sendo empregada para compreensão das relações sociais baseadas nas diferenças entre os sexos, inicialmente, usadas para a diferença entre masculino/feminino, hoje, porém é usada de forma muito mais ampla, envolvendo orientações sexuais para além do masculino/feminino, do hetero/homossexual, homem/mulher, gay/lésbica, transexuais...

Além de usar autores consagrados para trazer à tona os conceitos vinculados aos estudos de gênero podemos também recorrer aos materiais produzidos com a finalidade de discutir essas questões produzidos pelos grupos LGBTI+ [lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, intersexuais e outras identidades de gênero e sexualidade não contempladas na atual sigla adotada, representadas pelo “+].

Esses manuais são importantes porque trazem discussões atualizadas e uma linguagem mais próxima dos [as] adolescentes. Tanto conceito de gênero como de sexualidade estão sujeitos a mudanças de acordo com as transformações culturais. Além de apresentar os conceitos e a historicidade destes é interessante trazermos questionamentos próximos a realidade escolar dos indivíduos, tais como:

A escola dá um tratamento igualitário para meninos e meninas, gays, lésbicas e transsexuais?

Desse questionamento podemos apontar para os[as] estudantes comportamentos esperados para cada gênero e a partir daí ir problematizando as discriminações e preconceitos evidentes no cotidiano escolar. Pense em alternativas que possam atenuar ou pelo menos diminuir as disparidades. Que tal pensarmos que igualitário não quer dizer que é igual, mas que tem os mesmos direitos civis, política e até mesmo moral, as pessoas são diferentes e, devem ser respeitadas nas suas diferenças. O princípio da alteridade deve reger nossas ações, ou seja, que tal se colocar no lugar do outro.

Neste sentido, Miskolci, nos sugere questionar o suposto olhar neutro no qual se baseou a educação até hoje como sendo uma perspectiva heterossexual.  Segundo o autor, todos [as] professores [as] trazem consigo uma bagagem cultural para nossas atividades profissionais.  Desta forma, educar nada tem de neutro, seus métodos e seus conteúdos têm objetivos interessados. O que temos é uma “ilusão de neutralidade é um cúmplice de um dos pressupostos fundamentais da vida social contemporânea, que é de todos são heterossexuais até prova em contrário” [Miskolci, 2017, p.14].

Questões de gênero são levadas em consideração na construção dos currículos escolares?

Sabemos que os currículos escolares não são neutros e vem reproduzindo valores presentes na sociedade e que estão longe de contemplar a diversidade de gênero e sexualidade que temos nas escolas. Pelo contrário, o currículo está fundamentado numa construção em que o “homem” é

[...] uma naturalização do patriarcalismo, é como se fosse o ser humano em sua totalidade, tão superior que é confundido – ou convertido – com a soma de todos os gêneros. A tendência quase universal de se reduzir a raça humana ao termo “o homem” é um exemplo excludente que ilustra um comportamento androcêntrico, intimamente ligado à noção de patriarcado, porém não se refere apenas ao privilégio dos homens, mas também da forma como as experiências masculinas são consideradas como as experiências de todos os seres humanos e tidas como uma norma universal tanto para homens quanto para mulheres, sem dar o reconhecimento completo e igualitário à sabedoria e experiência feminina. O seu oposto, relacionando-o com a mulher, para utilização posterior dos resultados como válidos para a generalidade dos indivíduos homens e mulheres designa-se por ginocentrismo [Couto & Cruz, 2017, p. 251].

As autoras destacam como o “homem” é posto como o sujeito universal, desta forma, está presente nos currículos. A construção patriarcal ainda coloca o “homem”, “sujeito universal” como hetero, branco e cristão. Ou seja, não são consideradas as diferenças de gênero, étnicas e religiosas, sem contar com também com as diferenças econômicas, sociais e culturais. Essas questões quando postas no currículo escolar não são somente um jogo de palavras, vão muito além.

Convém salientar que os elementos discriminadores afetam diferentes dimensões: o projeto político-pedagógico, o currículo explicito e oculto, a dinâmica relacional, as atividades de sala de aula, o material didático, as comemorações e festas, a avaliação e a forma de lidar com a disciplina, a linguagem oral e escrita [piadas, apelidos, os provérbios populares, etc.], os comportamentos não-verbais [olhares, gestos, etc.] e os jogos e brincadeiras [Couto & Cruz, 2017, p. 251].

É visível que o currículo afeta todas as atividades e comportamentos na escola e quando este não é construído coletivamente levando em consideração questões étnicas, de gênero, sociais, econômicas, culturais e religiosas a discriminação, a violência e os preconceitos passam a fazer parte do cotidiano escolar. É só pensarmos quantas vezes meninas têm de ouvir xingamentos devido a determinados comportamentos, enquanto para os meninos uma mesma conduta pode ser considerada normal. E, ainda quantas crianças e adolescentes passam por constrangimentos na escola por não se enquadrarem em padrões heteronormativos.

Segundo Miskolci, até mesmo gays e lésbicas normalizados, que aderem a um padrão heterossexual e passam a ser agentes da heteronormatividade. Para o autor não é por acaso que violências chamadas de homofobia não se dirigem igualmente a todos/as os/as homossexuais, mas a quem não se segue o padrão heteronormativo [Miskolci, 2017, p.15]. Por isso, os debates sobre gênero são fundamentais para a existência de uma política de prevenção de violências contra a mulher, gays, lésbicas, travestis, transsexuais... Uma das formas de mudarmos comportamentos é o debate profícuo baseado em experimentos científicos e, por isso, é importante que essa discussão esteja presente no espaço escolar.

Para Fernanda Vasconcelos [2017], questionar ou discutir os papéis tradicionais de gênero significa disputar poderes que estão historicamente atrelados ao masculino em nossa sociedade. É um questionamento que implica criticar estruturas sociais que colocam a mulher no polo da passividade, da domesticidade, da sexualidade controlada.

O que podemos fazer para superar os preconceitos e a violência?

A violência de gênero não é fácil de ser enfrentanda, são práticas arraigadas nos comportamentos. Mas devemos considerar que a escola é um dos espaços para fazer esses enfrentamentos, embora que uns venham dizendo o contrário. É preciso ter consciência do mundo que queremos e,

como alternativa pedagógica para despertar a “consciência no alunado” de que a história é construída por sujeitos, homens e mulheres, foi introduzida a abordagem crítica sobre a diversidade de “gênero e educação”, como uma construção social e histórica de corpos sexuados, o que vem juntamente com as questões de classe, étnico-racial, idade/geração, orientação sexual e religião (Couto & Cruz, 2017, p. 252].

Temos que lembrar que ao debatermos gênero outras questões ficam evidentes como classe, etnia/raça, sexualidade, religião. Por isso, que os movimentos contrários a questão de gênero também são contrários ao debate político na escola. Além do mais, podemos perceber que a heteronormatividade também é um problema para heterossexuais e, até mesmo para homossexuais, pois todos devem seguir um padrão esperado. Para Miskolci, “as normais sociais não escolhem sujeitos, elas se impõem a todos e todas, mesmo àqueles que jamais conseguiriam atendê-las, daí, nessa perspectiva se dissolver o paradoxo aparente de mulheres machistas, gays homofóbicos ou negros racistas” [2017, p. 47].

Os currículos escolares devem comtemplar as diferenças e não somente a diversidade. Pois, “tolerar é muito diferente de reconhecer o Outro, de valorizá-lo em sua especificidade, e conviver com a diversidade também não quer dizer aceitá-la[Miskolci, 2017, p.51]. Uma política da diferença nas escolas seria mais efetiva para transformar a cultura hegemônica.  Neste sentido, “a política da diferença afirma a necessidade de ir além da tolerância e da inclusão mudando a cultura como um todo por meio da incorporação da diferença, do reconhecimento do Outro como parte de todos nós” [Miskolci, 2017, p.52].

É preciso transformar a cultura, e segundo Miskolci, “reconhecer diferenças é um primeiro passo para questionar desigualdades, o que pode criar conflito, mas também consenso da necessidade de mudar as relações de poder em beneficio daqueles e daquelas que foram historicamente subalternizados [2017, p.54]. E, como nos aponta Chimamanda Ngozi Adiche, “somos seres sociais, afinal das contas, e internalizamos as ideias através da socialização” [2018, p.33]. Lembrando que “a cultura não faz as pessoas. As pessoas fazem a cultura. Se uma humanidade inteira de mulheres não faz parte da nossa cultura, então temos que mudar nossa cultura” [Adichie, 2018, p.48].

Algumas considerações

Com este texto queríamos deixar claro que a questão de gênero é muito importante também nas aulas de História. Além disso, debater gênero nas escolas é uma necessidade para evitar o feminicídio e a homofobia, além de construir uma sociedade mais justa e igualitária onde todos tenham direito de viver e manifestar-se.

Com o crescimento dos índices de violência é perceptível as limitações do sistema de justiça criminal de lidar com o problema e a permanência de características patriarcais e violentas da sociedade brasileira torna-se um dever da escola trazer o debate à tona. Confirmando isso, Fernanda Vasconcelos nos aponta que o ato de criminalizar uma conduta ou aumentar as penas previstas para outras já existentes tem se mostrado uma estratégia bastante ineficaz para a diminuição de violências e/ou crimes em contextos em que sua aplicação se dá de modo isolado.

O que nos resta é seguir o conselho de Chimamanda Adinche que é preciso construir um mundo diferente, mais justo e com pessoas felizes, que sejam autênticos consigo mesmos. “E é assim que devemos começar: precisamos criar nossas filhas de uma maneira diferente. Também precisamos criar nossos filhos de uma maneira diferente” [Adichie, 2018, p.28]. Precisamos continuar lutando e debatendo questões de gênero nas Educação Básica.

REFERÊNCIAS

Dilza Porto Gonçalves possui graduação em Licenciatura Plena em História pela Universidade Federal de Pelotas [1998], mestrado e doutorado em História Ibero-americana pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul [2008 e 2013]. Professora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e residente de pós doutorado na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais no Centro de Estudos e Pesquisas em História da Educação, vinculada ao projeto Pensar a Educação Pensar o Brasil [1822-2022]. Desenvolvendo a pesquisa Histórias e Memórias UEMT/UFMS [1969-2019]. Atua na área de como professora de Prática de Ensino em História, História Moderna, História da Educação no Brasil e Estudos de Gênero, com destaque para História do Feminismo.

AGÊNCIA PATRICIA GALVÃO. Dossiê feminicídio.
https://dossies.agenciapatriciagalvao.org.br/feminicidio/capitulos/o-que-e-feminicidio/
ADICHIE, Chimamanda Ngozi. Sejamos todos feministas. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
COUTO, Maria Aparecida Souza; CRUZ, Maria Helena Santana. Inserção de gênero no currículo de história e a formação para o trabalho docente.  Revista Tempos e Espaços em Educação, São Cristóvão, Sergipe, Brasil, v. 10, n. 23, p. 249-262, set./dez. 2017.
http://dx.doi.org/10.20952/revtee.v10i23.6764 | ISSN: 1983-6597 [versão impressa]; 2358-1425 [versão online].
MISKOLCI, Richard. Teoria Queer: Um Aprendizado Pelas Diferenças – Col. Cadernos da Diversidade. Belo Horizonte, Autêntica Editora, 2017.
RAGO, Margareth. Feminizar é preciso: por uma cultura filógina. São Paulo Perspect. vol.15 no.3 São Paulo July/Sept. 2001.
https://doi.org/10.1590/S0102-88392001000300009 
REIS, T., org. Manual de Comunicação LGBTI+. Curitiba: Aliança Nacional LGBTI / GayLatino, 2018.
VASCONCELOS, Fernanda. Sem debate franco sobre gênero, mulheres estão fadadas à violência doméstica. [Entrevista]. In.
http://www.ihu.unisinos.br/159-noticias/entrevistas/586182-sem-debate-franco-sobre-genero-mulheres-estao-fadadas-a-violencia-domestica-entrevista-especial-com-fernanda-de-vasconcellos, [19/02/2019].

68 comentários:

  1. Ótimo texto! Levando em consideração o que foi dito sobre nossa história colonial escravista e patriarcal justificar violências cometidas até os dia de hoje, não seria interessante ressaltar que uma maior valorização da história da América ajudaria no processo de mudança cultural? E sendo assim pensar em decolonização não faria parte também de um processo para a igualdade de gênero e respeito as diferenças?

    Jean Carlo De Oliveira Vieira

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    1. DILZA PORTO GONÇALVES18 de maio de 2020 às 18:55

      Jean Carlo, gostaria de agradecer pelo teu questionamento. As questões levantadas são importantes para o enriquecimento do debate e me permitem traz coisas que não dei conta pelo tamanho do texto.
      Certamente, Jean Carlo estudar história da América, de forma mais regular e aprofundada tornaria o debate mais profícuo desde que a temática de gênero permeie os conteúdos abordados. Ana Maria Coling, inclusive nos apresenta uma reflexão bem importante, "a história tem sido escrita por homens que o homem/masculino como o sujeito universal". Ao considerar o homem como sujeito universal está se pensando nesse homem como branco, heteronormativo e cristão. ou seja, desconsiderando uma gama de identidades e sujeitos que acabam ficando de fora desta visão de história. Por isso, que ao estudarmos a História da América, é muito importante, considerar questões de gênero, classe, etnia, religiosidades e tantas outras identidades para realmente acontecer a mudança cultural.
      Também acredito que pensar a decolonização pode nos trazer um debate interessante e nos ajudar a pensar fora da caixa da heteronormatividade e assim realmente fazer um ensino de história mais igualitário respeitando e aceitando as diferenças. Sugiro sempre que é preciso refletir sobre nossas ações como educadores. Temos que nos questionar sobre como, por que e pra quem fazemos história.
      Agradeço a tua participação e estou a disposição para responder outros questionamentos e reflexões.
      Dilza Porto Gonçalves

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  2. Bom dia

    Primeiramente gostaria de lhe parabenizar pelo ótimo texto publicado, foi uma ótima leitura sobre um assunto que infelizmente é evitado por muitas pessoas que acabam tentando impedir essa discussão que é muito importante para combater as desigualdades presentes na nossa sociedade em geral, incluindo o meio escolar.

    Eu gostaria de perguntar como poderíamos propôr de forma eficaz esta discussão em sala de aula tendo em vista essa resistência que parte da sociedade produz frente as questões de gênero? (que existem não apenas nas questões concernentes a gênero mas outras questões importantes como por exemplo as que envolvem a diversidade religiosa) pois, ao ser proposta uma atividade ou um currículo voltado a questões vistas como tabu em nossa sociedade,ainda vemos uma forte resistência por parte dos responsáveis contra a aplicação de atividades e conteúdos voltados para questões que envolvem a diversidade presente nos meios sociais, e que infelizmente acabam impedindo o prosseguimento das ações voltadas a essas questões.

    Renan Lopes Belo

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    1. Boa noite Renan. Em primeiro lugar, obrigada pelo teu questionamento.
      A minha resposta para teu questionamento, é que nenhuma dessas temáticas, tal como gênero e religiosidades não são fáceis de serem abordadas no atual contexto político e educacional. Porém, temos que ter coragem de fazê-lo. A minha sugestão é sempre pesquisar muito sobre a temática que vamos trabalhar e inclusive trazer a legislação, principalmente os artigos da constituição que determinam que esses temas podem e dever ser trabalhados na Educação Básica, e que não fazemos nada contra lei.
      Outra questão importante, além de dominar o conteúdo é ter sensibilidade em não fazer nenhuma abordagem ofensiva a ninguém. Por isso, eu adoto a máxima de Paulo Freire no livro Pedagogia da Autonomia, respeito e bom senso sempre.
      Agradeço a tua participação e estou a disposição para responder outros questionamentos e reflexões.
      Dilza Porto Gonçalves

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    2. Obrigado pela resposta Dilza :)

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  3. Primeiramente gostaria de parabenizar a professora Dilza Porto por seu engajamento nas questões que inspiram e auxiliam a "transgredir fronteiras", tanto nas formulações de pensamentos históricos dentro da sala de aula como para os enfrentamentos que estamos fadados a vivenciarmos. Por isso, partilho muito da necessidade de métodos para discutirmos sim assuntos de gênero nas aulas de história. Para além de uma pergunta, agradeço por esse escrito. E para uma pergunta, deixo aqui uma sugestão também, como engajar todos esses pensamentos que encontramos na sala de aula, tanto nas meninas quanto nos meninos, para utilizarmos ao favor da construção enquanto sujeitos históricos? O debate de gênero nos ajuda a termos esse olhar de sujeitos históricos? Entendo que tenha muito disso já colocado no seu texto... Nesse sentido, é possível acreditar que já temos isso em nossos debates? Apenas precisamos aflorar mais?
    Obrigada!
    Gabriela Vianna

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    1. Boa noite Gabriela. Obrigada pelas tuas considerações e questionamento.
      Gabriela sobre engajar os(as) estudantes é muito subjetivo. Eu já fiz aulas pensando que estava arrasando e na verdade não consegui que os(as) alunos(as) se sensibilizassem. Vai depender muito da linguagem que usamos e da identificação que temos com o público que estamos trabalhando. Uma das formas de conseguir engajar o grupo e debatermos a realidade que estão vivenciando, ou seja, o conteúdo tem que fazer sentido tanto para os(as) estudantes quanto para o professor, como nos sugere Morin.
      Ao problematizar as questões de gênero, tirando a centralidade da História do homem branco, heteronormativo e cristão trazemos a possibilidade de outros sujeitos entrarem na História. Por isso, o debate sobre gênero, etnicidade, grupo social, desigualdades sociais e econômicas é tanto importante na formação dos(as) sujeitos.
      Não podemos é desistir de fazer o debate. Embora, os tempos sejam difíceis temos que ter esperança que dias melhore virão. É essa esperança que precisamos partilhar para continuar lutando.
      Não sei se te respondi. Mas, se tiver mais questionamentos ou quiser aprofundar essas questões pode fazer contato novamente. Estarei a disposiçaõ.
      Dilza Porto Gonçalves.

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  4. Bom dia! O texto ficou muito bom e aborda questões realmente muito importantes. Tento falar sobre questões de gênero com meus estudantes em todas as aulas, porém algumas vezes encontrei problemas justamente pelo posicionamento dos pais, que eram contrários à abordagem de tais assuntos na escola.
    Nesse caso, há alguma indicação de como trabalhar as questões de gênero com os pais dos estudantes?
    Penso que seja algo realmente necessário fazer com as famílias compreendam o trabalho dos professores em sala de aula e tenham noção da importância de se abordar tais questões.

    Ana Paula Sanvido Lara

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    1. Boa noite Ana Paula. Obrigada pelas tuas reflexões e questionamentos.
      Acho importante tratar das questões de gênero, mas não precisamos entrar em embates se não quisermos. Uma das formas de fazer isso, é mostrar outros sujeitos históricos além do homem branco, heteronormativo e cristão. Temos uma variedade de sujeitos que foram invisibilizados. Aos trazermos essas questões para o debate estamos cumprindo nosso dever como formadores.
      Outra questão é chamar os pais para o debate e mostrar os índices de violência contra as mulheres e a população LGBTI+ e realmente fazer um trabalho de conscientização com essas famílias. Além disso, mostrar que estamos amparadas na legislação e que discutir essas questões fazem parte do nosso trabalho.
      Obviamente, que para fazermos essas discussões temos que ter sensibilidade, respeito e bom senso. Sugiro a leitura ou releitura de Paulo Freire, em Pedagogia da Autonomia, no qual ele nos sugere bom senso e respeito.
      Infelizmente, não temos receita pronta da melhor forma para trabalharmos essas questões mas é preciso reforçar que embasamento teórico, sensibilidade, respeito e bom senso sempre são bons princípios para tudo que fazemos.
      Agradeço a tua participação e estou a disposição para responder outros questionamentos e reflexões.
      Dilza Porto Gonçalves

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  5. Seu texto renova a esperança na educação como meio de transformação sócio-cultural. Mesmo em tempos complicados, em que as pessoas estão mais preocupadas com o embate do que com o diálogo, ele nos encoraja a refletir sobre gênero. Você demonstra com clareza como alunos e professores têm bagagens culturais que colaboram para a formação de seus posicionamentos. Pensando nisso gostaria de sua opinião sobre uma questão: por vezes pensamos na lida entre alunos e professores, mas como lidar com as diferenças de posicionamentos entre colegas, com professores que estão fortemente enraizados no espírito patriarcal?

    Mateus de Andrade Pacheco

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    1. Bom dia Mateus. Obrigada por participar do nosso simpósio.
      Teu questionamento é difícil de responder, pois para mim ainda é uma dificuldade lidar com as diferenças ideológicas entre os colegas. Mas, meu conselho é sempre fazer o bom debate com respeito a todos.
      Em uma das escolas que trabalhei, na qual tinha as reuniões de área, a partir do debate que fazíamos, uma professora muito conservadora mudou de postura e inclusive voltou a estudar. Nem todo mundo vai mudar. Mas continuamos tentando.
      Agradeço a tua participação e estou a disposição para responder outros questionamentos e reflexões.
      Dilza Porto Gonçalves

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    2. Bom dia. Agradeço pela resposta sincera. Realmente temos que continuar tentando com calma e serenidade para ganharmos espaço e conseguirmos trabalhar com temas que fazem total diferença na trajetória dos estudantes e nas carreiras dos professores. A efervescência desse debate sobre gênero nos mostra como o cotidiano é pontuado por movências, ressignificações, processos que inspiram questionamentos, uma postura crítica diante da vida. Seu texto contribui muito para que pensemos nessas questões. Obrigado.

      Mateus de Andrade Pacheco

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  6. Professora, muito bom seu texto. Sou professora da educação básica, estive fora da sala de aula por 3 anos (gestão escolar) e 2019 retornei. Enquanto professora de História tenho visto entre os meus estudantes uma abertura até maior quanto a questão de gênero e sexualidade. Noto também um ar de incômodo quando toco, por exemplo, sobre a trajetória das mulheres na História Antiga e Medieval. Gostaria de desenvolver um projeto mais intenso na questão. Nesse sentido, pensando em turmas de ensino médio, especialmente 1ºano, quais indicações textuais poderiam ser feitas a aguçar neles o debate que é fundamental? Patricia Lúcia do Nascimento (São Gabriel do Oeste, MS).

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    1. Olá Patrícia. Que bom que fizeste contato. Eu não sei muito sobre Antiga e Medieval, porque faz muitos anos que não trabalho com essas temporalidades. Tenho trabalhado com História Moderna. Mas, vou te passar o contato do professor Carlos Eduardo que é especialista nessa área. Segue o email dele carlos.campos@ufms.br.
      Patrícia obrigada por participar do nosso simpósio e se tiver mais contribuições e questionamentos podes nos enviar. Estamos a disposição.
      Dilza Porto Gonçalves.

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  7. situação nos últimos tempos tem mudado e cada vez mais um número maior de mulheres está saindo do lar e estão ingressando no mercado de trabalho, no entanto, as desigualdades ainda permanecem. Diferentes estudos mostram que em geral as mulheres ganham menos que os homens em todos os campos, e que as mulheres têm menos oportunidade,o feminicídio está ligado a mulher cada vez mais buscando seu lugar no mercado de trabalho

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    1. situação nos últimos tempos tem mudado e cada vez mais um número maior de mulheres está saindo do lar e estão ingressando no mercado de trabalho, no entanto, as desigualdades ainda permanecem. Diferentes estudos mostram que em geral as mulheres ganham menos que os homens em todos os campos, e que as mulheres têm menos oportunidade,o feminicídio está ligado a mulher cada vez mais buscando seu lugar no mercado de trabalho
      Viviane Schelles Martins de oliveira

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    2. Boa tarde Viviane. Obrigada pelo seu comentário.
      Infelizmente Viviane, as mulheres foram mudando, mas muitos homens ainda não. Por isso, é muito importante que forneçamos uma educação plural e mais igualitária para meninos e meninas. Assim, cada vez se torna mais importante discutirmos gênero na Educação Básica. Obrigada pela tua participação e se tivermos questionamentos estamos à disposição.
      Dilza Porto Gonçalves

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  8. Porque você precisa dar mais de duas opções em uma pergunta sobre gênero?
    com tantas mudanças, tornou-se difícil para a sociedade entender a necessidade de coletar dados valiosos precisamos de uma metodologia clara pra levar em sala de aula?
    viviane Schelles martins de oliveira

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    1. Viviane cada vez mais temos que estudar. Todo conteúdo que formos trabalhar deverá ser previamente estudado assim como metodologias para melhorar aprendizagem. Não temos fórmulas prontas porque os indivíduos e os grupos tem suas especificidades e às vezes o que serve para um grupo não serve para outro. Na verdade, quanto mais próximas estivermos da linguagem dos estudantes mas facilmente teremos exito em nosso trabalho. Isso serve para trabalhar gênero e qualquer outra temática. Como já dizia Paulo Freire, respeito e bom senso são sempre importantes no trabalho pedagógico.
      Obrigada pela sua participação.
      Dilza Porto Gonçalves

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  9. Nessa perspectiva, é notório que muitos dos alunos já tenham uma heteronormatividade enraizada, seja por inúmeros motivos (família, amigos, religião). Dessa forma, além de trazer o aluno para debate/diálogo, de que forma o professor pode atuar para levar o tema ao meio familiar minimizando conflitos?

    John Keith Gaskin Briglia

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    1. Boa tarde John. Obrigada pela sua participação em nosso simpósio.
      A tua pergunta não é fácil de responder, porque cada situação é diferente da outra. Mas, talvez chamar as famílias para conversar seja uma das formas de se conseguir algum êxito. No entanto, vai sempre depender do outro querer sentar para conversar, às vezes mesmo fazendo nossa parte não conseguimos isso. Com frequência nosso contato com a família será mesmo através do estudante. Por isso, essas temáticas devem ser tratadas em aula.
      Agradeço a tua participação e estou a disposição para responder outros questionamentos e reflexões.
      Dilza Porto Gonçalves

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  10. Géssica Cristiane Ferreira Pinto18 de maio de 2020 às 23:26

    Boa Noite! Parabéns pelo texto, muito relevante essa temática do debate de gênero nas aulas de história. A sugestão que eu deixo para trabalhar com os alunos e foi gratificante é mostrar figuras históricas (Maria antonieta, Alexandre o grande entre outros) que muitos alunos desconhecem que era comum naquele período e que sempre existiu (LGBT). E que é necessário reconhecer o outro e respeitar.É preciso conversar com os alunos, orientadora pedagógica se concordar com a aula. As vezes os alunos aderem a ideia mais os pais não gostam e causa certos empecilhos. O que quero deixar claro é que vale a pena fazer essa "curiosidade histórica". Não estou doutrinando seu filho(a) eu só quero que ele compreenda e entenda que todos tem o direito de se manifestar e viver como quiser.
    Outra questão levanta pela autora é a violência contra a mulher de ser tratado como algo normal e infelizmente mesmo com a mídia muitas famílias aceitam ou dizem que é normal. Crianças dizendo que é certo quando uma dia se casar apanhar do esposo, a escola deve mostrar que não é correto, debater, conversar com a família. E a pergunta ou reflexão que eu deixo é como fazer uma instituição educar seu filho(a)para ser um bom cidadão, se os próprios pais(uma parcela)não querem complementar esse papel?

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    1. Boa tarde Géssica. Obrigada por participar do nosso simpósio.
      A tua questão não é fácil de ser resolvida. Mas, não podemos é desistir de fazer o debate com as escolas e com as famílias. Embora, os tempos sejam difíceis temos que ter esperança que dias melhores virão. É essa esperança que precisamos partilhar para continuar questionando também as instituições escolares.
      Não sei se te respondi. Mas, se tiver mais questionamentos ou quiser aprofundar essas questões pode fazer contato novamente. Estarei a disposição.
      Dilza Porto Gonçalves

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  11. Ótimo texto. Todos os aspectos apresentados, e a maneira de se introduzir os estudos de gênero que foram propostos são extremamente coerentes. Contudo, a sociedade é em geral demasiadamente presa nas construções da heteronormatividade, e os pais de alunos de uma maneira geral, não fogem do padrão. Nas escolas onde tive contato durante minha vida inteira, sempre existiu uma repressão dos responsáveis a determinados assuntos, mesmo em momentos sem a escola sem partido. Como desviar dessas repressões, principalmente no meio do ensino privado, onde a escola sempre atende aos pais pela questão financeira?
    Rodrigo de Souza Coelho Silvestre do Rêgo

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    1. Boa tarde Rodrigo. Obrigada pela tua participação.
      Nem sempre é fácil discutir essas questões em escola particular e não posso dizer para uma pessoa que depende do emprego para sobrevivência que faça enfrentamentos. Por isso, não tenho uma resposta objetiva. Cada faz o que é possível dentro das suas necessidades. Talvez uma forma seja tratar o assunto dentro dos conteúdos trazendo a tona sujeitos históricos invisíveis até então. Mas, tentar fazer isso de forma mais sútil e sem enfrentamentos diretos, talvez seja uma alternativa plausível dentro desse contexto apresentado.
      Estou a disposição para outras considerações e questionamentos.
      Dilza Porto Gonçalves

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    2. Obrigado pela resposta. Mesmo não sendo objetiva achei interessante a ideia de utilizar sujeitos históricos invisíveis ao senso comum, assim acredito não haver tantas repressões por parte dos responsáveis. Novamente, muito grato pelo texto e pela resposta.
      Rodrigo de Souza Coelho Silvestre do Rêgo

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  12. Adorei o texto. Obrigada pelas reflexões, lembrei das aulas presencias e dos alunos debatendo. Vejo que essa geração é um pouco mais aberta à esse assunto.
    A minha pergunta talvez já tenha sido feita: a dificuldade é como trabalhar essas questões com os colegas? Vejo as colegas da área da pedagogia pouco instrumentalizadas sobre o assunto. Entendo os motivos sobre a formação inicial. Porém, você teria alguma sugestão sobre como incentivar esse assunto em formações para os profs? Ou alguma sugestão de como sensibilizar a gestão escolar para a relevância de se debater gênero?
    Obrigada,
    Paola Rezende Schettert

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    1. Boa tarde Paola. Obrigada pelas tuas considerações.
      Vou te responder de forma semelhante a um questionamento anterior sobre esse assunto. Teu questionamento é difícil de responder, pois para mim ainda é uma dificuldade lidar com as diferenças ideológicas entre os colegas e os gestores. Mas, meu conselho é sempre fazer o bom debate com respeito a todos.
      Em uma das escolas que trabalhei, na qual tinha as reuniões de área, a partir do debate que fazíamos, uma professora muito conservadora mudou de postura e inclusive voltou a estudar influenciada pelos textos que trazíamos. Nem todo mundo vai mudar. Mas continuamos tentando.
      Agradeço a tua participação e estou a disposição para responder outros questionamentos e reflexões.
      Dilza Porto Gonçalves

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  13. Boa noite. Texto cativante e didático. (...) “Para Fernanda Vasconcelos, a colocação da figura do feminicídio no nosso ordenamento jurídico permitiu dar uma maior visibilidade social a estas mortes, e não podemos negar que a imprensa tem um papel central neste processo.” (...)
    Professora ao descrever (...) “As falas de mulheres em situação de violência sobre seus agressores costumam apontar abuso de álcool, desemprego, impossibilidade de manutenção econômica das partes envolvidas no conflito.” (...), a senhora queria ou quer dizer que há coculpabilidade sugestiva, uma vez que o prefixo “co” indica ligação, concomitância, e a representa o grau de reprovabilidade que deverá incidir sobre uma determinada conduta típica e ilícita perpetrada pelo agente ou delinquente. Desta forma, conclui-se que o vocábulo deve ser compreendido como a concomitância de culpas, responsabilidades entre o agente delitivo e o Estado.

    Gostaria de sua justificativa.

    Franrobson Rodrigues Ribeiro – Manaus/AM.

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  14. Boa noite! Gostaria de te parabenizar pelo excelente artigo, acredito que é uma alegria encontrar profissionais tão sensatos e que escrevem temas tão importantes como a questão de gênero. Minha pergunta é a seguinte: Como é possível discutir em sala de aula questões de gênero em tempos de tanta intolerância e censura aos professores. Como se comportar diantes dos embates principalmente do público religioso? Agradeço a atenção e aguardo a resposta.
    Eduardo Ribeiro Xavier.

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    1. Boa tarde Eduardo. Obrigada pela tua participação em nosso simpósio e comentários sobre o meu texto.
      Minha resposta para teu questionamento é semelhante a uma resposta que dei anteriormente.
      Nenhuma dessas temáticas, tal como gênero e religiosidades não são fáceis de serem abordadas no atual contexto político e educacional. Porém, temos que ter coragem de fazê-lo. A minha sugestão é sempre pesquisar muito sobre a temática que vamos trabalhar e inclusive trazer a legislação, principalmente os artigos da constituição que determinam que esses temas podem e dever ser trabalhados na Educação Básica, e que não fazemos nada contra lei.
      Outra questão importante, além de dominar o conteúdo é ter sensibilidade em não fazer nenhuma abordagem ofensiva a ninguém. Por isso, eu adoto a máxima de Paulo Freire no livro Pedagogia da Autonomia, respeito e bom senso sempre.
      Agradeço a tua participação e estou a disposição para responder outros questionamentos e reflexões.
      Dilza Porto Gonçalves

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  15. O FEMINICÍDEO NO BRASIL NÃO AUMENTOU AÓS A CRIAÇÃO DA LEI MARIA DA PENHA. NO MEU PONTO DE VISTA O FEMINICÍDEO SEMPRE OCORREU SÓ QUE ERA POUCO DIVULGADO OU NÃO INFORMADO. AGRESSÕES CONTRA MULHERES TAMBÉM SEMPRE OCORREU, MAS COMO NÃO HAVIA UMA LEI NADA ERA FEITO. AS AGRESSÕES CONTRA MULHERES MUITAS VEZES SÃO REGISTRADAS NAS DELEGACIAS DE POLÍCIA E NO MOMENTO DA AUDIÊNCIA ELA RETORNA PARA CASA COM A PROMESSA DE QUE NÃO VAI OCORRER NOVAMENTE. O QUE OCORRE? MITAS VEZES É PIOR. DEVERIA TER UMA PENA MAIS DURA CONTRA ESSES AGRESSORES, TIRANDO A LIBERDADE DOS INDIVÍDUOS E QUE AS MULHERES NO MOMENTO DO REGISTRO NÃO PODERIAM VOLTAR ATRAS. CONCORDA COMIGO?
    HEINZ DITMAR NYLAND

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    1. Boa tarde Heinz. Obrigada por participar do nosso simpósio e trazer questionamentos.
      Em primeiro lugar, não afirmei que houve aumento de feminicídios, mas que houve o aumento de registros desses depois que a Lei Maria da Penha entrou em vigor.
      Segundo, não sei se apenas o endurecimento da pena resolveria. Pois, muitas vezes no momento do registro da ocorrência as vítimas são desrespeitadas. Ou seja, não é uma questão tão simples.
      Outra questão a considerar, nem sempre as mulheres que são vítimas de violência conseguem se libertar de seus agressores, pois muito além da dependência econômica existe a dependência afetiva e psicológica de seus agressores.
      O que temos é que aumentar as redes de acolhimento para essas mulheres e crianças não precisem retornar a casa com seus agressores.
      Na verdade precisamos ampliar esse debate na sociedade civil e nas escolas.
      Agradeço a tua participação e estou a disposição para responder outros questionamentos e reflexões.
      Dilza Porto Gonçalves

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  16. SOBRE AS QUESTÕES DE GÊNERO DEVERIA SE DEBATIDO PRIMEIRAMENTE COM OS PAIS PARA DEPOIS SER DEBATIDO EM SALA DE AULA. POR QUE COM OS PAÍS? EXISTEM MUITOS PAIS QUE NÃO ACEITAM ESSE TIPO DE DEBATE EM SALA DE AULA E TAMBÉM NÃO IRIAM CONCORDAR. UMA REUNIÃO SERIA IDEAL PARA MOSTRAR O ASSUNTO PARA OS PAÍS. CONCORDA COMIGO?
    HEINZ DITMAR NYLAND

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    1. Cada situação é diferente da outra, talvez chamar as famílias para conversar seja uma das formas de se conseguir algum êxito. No entanto, vai sempre depender do outro querer sentar para conversar, às vezes mesmo fazendo nossa parte não conseguimos isso. Com frequência nosso contato com a família será mesmo através do estudante. Por isso, essas temáticas devem ser tratadas em aula.
      Agradeço a tua participação e estou a disposição para responder outros questionamentos e reflexões.
      Dilza Porto Gonçalves

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  17. Primeiramente gostaria de parabenizar a autora pelo texto e pela temática escolhida. Apesar de não ser um ponto central do seu texto, mas que tangencia a discussão, eu gostaria de saber, a partir da sua opinião e de seus estudos, uma avaliação sua sobre a existência de um paralelo entre a misogenia e a violência contra a mulher e a homo(trans)fobias. Pelo segundo grupo se apresentar próximo ao primeiro, na sua opinião, isso é um fator desperta mais a violência para os grupos homo e trans?
    E em termos teóricos, se pensarmos que as mulheres e os grupos LGBTTIQA+ só começaram a figurar com força na historiografia a partir dos anos 1980 e 1990, e ainda hoje enfrentam algumas dificuldades na academia, isso, de acordo com a sua compreensão, reverberou também nesse quadro de violência e de tabu para tratar dos assuntos em sala de aula?

    Agradeço desde já a atenção dispensada!

    Caio Corrêa Derossi

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    1. Boa tarde Caio. Agradeço desde já tua participação no nosso simpósio.
      Como não sou especialista nos estudos sobre grupos LGBTTIQA+ seria imprudente eu te dar uma resposta mais objetiva. Eu acredito que os preconceitos e violências tanto as mulheres e os grupos LGBTTIQA+ estão vinculados a perpetuação dessa cultura machista vinculada ao homem branco heteronormativo e cristão que existe na nossa sociedade.
      E respondendo ao teu segundo questionamento, sim os estudos sobre gênero e sexualidade, que inclui mulheres e grupos LGBTTIQA+ são muito recentes e ainda muito incipientes. Inclusive muitos professores da educação básica nem discutiram esses temas em sua formação docente e, provavelmente também seja um dificultador nesses debate.
      Eu torço que o ampliação do debate na acadêmia também se amplie o debate na Educação Básica e na sociedade civil.
      Continuemos na luta promovendo o debate.
      Não sei se te respondi. Estou a disposição para ampliação do debate e para responder outros questionamentos.
      Dilza Porto Gonçalves.

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  18. Ótimo texto! Visto que debater questões sobre gênero nas escolas é um meio de mudar uma sociedade escravocrata e patriarcal. Uma escola que não discute gênero com seus alunos esta livre dessas questões?

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    1. Luadne, infelizmente se a escola não fizer o bom debate sobre essas questões a tendência é ter mais problemas e ainda perpetuar preconceitos.

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  19. Parabéns pelo texto! ótimas considerações. Como professora, sempre introduzo nos conteúdos questões que discutam gênero e história das mulheres. Hoje ja podemos contar com um mínimo de suporte de alguns livros didáticos, mas a lacuna ainda é grande. o nosso desafio é grande!

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    1. Luciane é verdade, os livros didáticos melhoraram um pouco, mas estão muito longe do ideal. Mas seguimos na luta. Abraços.

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  20. saudações!
    primeiro gostaria de parabeniza-la pelo excelente texto, muito enriquecedor, claro e pontual.

    Em minhas experiencias docentes sempre que possível busco trabalhar as questões de gênero com meus alunos, seja com aulas especiais, voltadas apenas para o debate sobre as questões de gênero e raça, assim como, em debates transversais.
    Entretanto, ainda sinto que ainda não consigo alcançar a todos, perincipalmente quando observo práticas cotidianas dos alunos, como as piadas, provérbios e afins, o que de certa forma, me deixa um tanto frustrado.
    minha pergunta então é, a senhora consegue enxergar outros meios além do do debate e da conscientização em sala de aula para uma mudança de práticas patriarcais em nossa sociedade ?

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    1. Boa noite Paulo. Tu já apontaste um ponto interessante a ser questionado, as piadas. Eu tenho um adolescente em casa que adora comédias stand-up, que geralmente são carregadas de preconceitos. Toda vez que vejo as piadas com ele sempre problematizo as questões que aparecem nas piadas que muitas vezes são machistas, racistas, homofóbicas, entre tantos outros preconceitos. Faço sempre ele se dar conta do que vem significam essas piadas que não tem nada de engraçadas ou ingênuas. Também sempre questiono as piadas que recebo em grupos de watsapp quando vem carregadas de preconceitos. Eu sei que isso não é muito, mas de alguma forma tento fazer as pessoas refletirem um pouco. Tomara que tenha algum resultado. Mas, a luta continua em todos os ambientes, inclusive nos virtuais.
      Obrigada por suas considerações.

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  21. Boa noite Dilza, levando em conta o Movimento Escola Sem Partido que tem caráter conservador e uma organização em nível nacional e com pautas bem alinhadas, chegamos a essa constatação nas atuação que os mesmos tiveram nas câmaras municipais e assembleias legislativas por todo Brasil para intervirem nos planos de educação, e quase sempre com apoio e representação parlamentar, ou seja os mesmos já formulam politicas e disputam dentro da estrutura do estado com pautas conservadores das mais diversas, uma delas em especial o debate de gênero nas escolas, como você analisa esse cenário crescente do conservadorismos articulado nacionalmente e o nosso papel de educadores na construção de uma educação emancipadora?
    Guilherme Aurélio Crestani Magalhães.

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    1. Boa noite Guilherme.
      Esses movimentos conservadores estão crescendo não só no Brasil, mas mundialmente. Acredito que tenha muitas coisas a serem levadas em conta, mas a ampliação dos direitos sociais e a crise do capitalismo talvez sejam alguns dos motivos a considerar. O nosso papel como educadores nesse contexto continua sendo importante. Não podemos deixar de fazer os enfrentamentos.É difícil, mas temos que continuar na luta. Além disso, o STF considerou insconstitucional "a escola sem partido" por isso acredito que os legislativos municipais e estaduais vão deixar a pauta um pouco de lado. Pois, estão perdendo a batalha para os educadores que continuam na luta. No entanto, não podemos baixar a guarda e ficarmos sempre atentos.
      Obrigada pela tua participação.

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  22. Bom dia Dilza. Parabéns, seu texto é excelente, muito importante e esclarecedor. As questões de gênero deveriam ter um espaço muito grande nos livros didáticos, na bncc e no currículo dasescolas, publicas e privadas, mas esta é uma realidade que parece um pouco distante. Esse debate deve portanto ser realizado. Como seria possível fazê lo de maneira que englobasse a comunidade não só escolar, mas também as familias do alunos e as comunidades locais?

    Diaciz Alves de Oliveira

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    1. Boa noite Diaciz. Obrigada por participar do nosso simpósio.
      Vou te sugerir o mesmo que sugeri em outro comentário anteriormenteCada situação é diferente da outra, talvez chamar as famílias para conversar seja uma das formas de se conseguir algum êxito. No entanto, vai sempre depender do outro querer sentar para conversar, às vezes mesmo fazendo nossa parte não conseguimos isso. Com frequência nosso contato com a família será mesmo através do estudante. Por isso, essas temáticas devem ser tratadas em aula e sempre que possível fazer atividades como palestras e reuniões para as famílias também.
      Agradeço tua participação.
      Dilza Porto Gonçalves

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  23. Bom dia Dilza. Parabéns, seu texto é excelente, muito importante e esclarecedor. As questões de gênero deveriam ter um espaço muito grande nos livros didáticos, na bncc e no currículo dasescolas, publicas e privadas, mas esta é uma realidade que parece um pouco distante. Esse debate deve portanto ser realizado. Como seria possível fazê lo de maneira que englobasse a comunidade não só escolar, mas também as familias do alunos e as comunidades locais?

    Diaciz Alves de Oliveira

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  24. Bom dia Dilza. Parabéns, seu texto é excelente, muito importante e esclarecedor. As questões de gênero deveriam ter um espaço muito grande nos livros didáticos, na bncc e no currículo dasescolas, publicas e privadas, mas esta é uma realidade que parece um pouco distante. Esse debate deve portanto ser realizado. Como seria possível fazê lo de maneira que englobasse a comunidade não só escolar, mas também as familias do alunos e as comunidades locais?

    Diaciz Alves de Oliveira

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  25. Boa tarde (desde a Península Ibérica),
    Antes de mais, aproveito para enviar os meus parabéns por colocar esta questão e abrir um debate tão necessário sobre um assunto tão pouco tratado entre os colegas historiadores.
    Dito isto, gostava de refletir consigo (convosco) sobre as dimensões do seu estudo. Obviamente, o congresso refere principalmente o Brasil, mas, tendo tido a oportunidade de participar (não sei se me permitem dizer que graças à situação de confinamento), sublinharia a dimensão internacional do problema. Aqui, na Europa do século XXI, a questão do género é igualmente necessária, quer de ser definida, quer de ser debatida. No entanto, entre os colegas, a nível de investigação da história que depois deriva em produção de manuais para escolas e estudos universitários, encontro muitas vezes uma certa "ghettização", ficando aquelas que estudam e investigam o género nos processos históricos como grupos quase fechados e com um ponto de vista talvez demasiado "pro". Estou a falar nisso porque uma postura radical na defesa da visão de género (e aqui vai uma pergunta) talvez acabe por provocar o efeito contrário.
    Segunda reflexão: acho também urgente ligar o tema do género com uma dimensão mais abrangente como é o tema dos direitos humanos. De facto, se já há alguns avanços na linguagem (portanto, comunicação) neste sentido, como a professora salienta no texto ao referirmos à dicotomia "homem/mulher", é o momento para colocar a utilização de "seres humanos" (mesmo se a expressão é longa e portanto pouco operativa a priori) e de "justiça" como eixos da construção de discursos sobre o género.
    Espero que a minhas questões e reflexões sejam o suficientamente claras.
    Muito obrigado.
    Francisco J. D. Marcilla
    U. Nova de Lisboa

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    1. Bom dia Francisco. Grata por tua participação em nosso simpósio. Não esperávamos que nosso simpósio chegasse tão longe.
      Sobre a tua primeira reflexão, eu acho importante salientar que há uma diversidade de opiniões entre as pessoas que pesquisam gênero. Eu certamente, não me incluo entre as pessoas que não aceitam que os homens pesquisem a história das mulheres. No entanto, acho importante salientar que homens e mulheres "podem" ter visões de mundo diferentes. E, ao longo da história, ao reforçarmos o "homem" como sujeito universal temos mostrado somente uma versão da história. Por isso, acredito que a diversidade dessas ideias são importantes para nos trazer exatamente isso, as reflexões.
      Na tua segunda reflexão, trazes à tona a questão dos direitos humanos para debatermos à violência contra mulher, acho válido e importante, lembrarmos que as mulheres são humanas. Porém, ao usarmos somente a bandeira dos direitos humanos, acabamos novamente caindo na universalidade do homem, no caso do Brasil do homem branco, heterossexual e cristão. E, assim as mulheres e suas ideias continuam invisíveis.
      Não sei se te respondi adequadamente e agradeço tua participação.
      Estou a disposição para ampliarmos o debate.
      Dilza Porto Gonçalves

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  26. Karine Aparecida Lopatko21 de maio de 2020 às 15:19

    Olá!
    Parabéns por abraçar o desafio de tratar gênero dentro do contexto escolar principalmente atrelando o conhecimento histórico a uma reflexão da atualidade. Neste sentido entendo que estamos vivendo um período de ataque verticalizado às ciências humanas como um todo, o que torna ainda maior o desafio –e a necessidade – de trabalhar este tema com os estudantes, mas, ao mesmo tempo, nem sempre temos amparo da equipe diretiva da escola para adentrarmos em assuntos polêmicos (que não deveriam ser polêmicos).

    Sei que meu questionamento é ao mesmo tempo uma provocação, mas como lidar com essas situações juntamente com a equipe diretiva, principalmente quando ela se mostra contrária à promoção de debates sobre gênero e sexualidade? Entendo que abandonar o assunto não seja a postura ideal de um professor de história, mas há outros caminhos? E quais seriam?

    Karine Aparecida Lopatko

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    Respostas
    1. Boa noite Karine.
      A minha resposta para teu questionamento, é que nenhuma dessas temáticas, tal como gênero e sexualidades não são fáceis de serem abordadas no atual contexto político e educacional. Porém, temos que ter coragem de fazê-lo.
      A minha sugestão é sempre pesquisar muito sobre a temática e trazer a pauta para as reuniões de professores. Inclusive trazer a legislação, principalmente os artigos da constituição que determinam que esses temas podem e dever ser trabalhados na Educação Básica, e que não fazemos nada contra lei.
      Outra questão importante, além de dominar o conteúdo é ter sensibilidade em não fazer nenhuma abordagem ofensiva a ninguém. Por isso, eu adoto a máxima de Paulo Freire no livro Pedagogia da Autonomia, respeito e bom senso sempre.
      Obrigada pela tua participação.
      Dilza Porto Gonçalves

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    2. Karine Aparecida Lopatko21 de maio de 2020 às 22:25

      Obrigada pela resposta, foi muito motivadora. Coragem é a palavra chave. Seguimos na luta por uma educação crítica.

      Abraços!

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  27. O que limita o sistema de justiça criminal atualmente para tomar as medidas necessárias e impedir a violência contra a mulher e contra os homossexuais por exemplo?
    At. Marcia de Oliveira Pinto

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    1. Bom dia Márcia. Para responder teu questionamento de forma mais adequada teria que ter um estudo mais aprofundado. Porém, é evidente que o machismo e a homofobia enraizados em nossa sociedade estão presentes em nossos sistemas policial e judiciário. Embora existam pessoas bem intencionadas em ambos, não podemos dizer que todos(as) estão preocupados em resolver os problemas da violência contra a mulher a população LGBTI+.
      Agradeço tua participação em nosso simpósio.
      Dilza Porto Gonçalves.

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  28. Na sua opinião, por que o percentual de violência contra a mulher negra é ainda maior? Seria um racismo estrutural além do machismo?
    At. Marcia de Oliveira Pinto

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    1. Márcia certamente o racismo estrutural ainda é muito evidente no Brasil, e por consequência a situação de violência contra a mulher negra é muito pior. E, ainda acentua a questão uma imagem que se criou da sexualidade da mulher negra associada ao machismo e ao racismo as deixas mais vulneráveis a violência. Por isso, o machismo e o racismo precisam ser combatidos juntos.
      E, o papel da educação é fazer esse debate para termos uma sociedade mais justa, igualitária e evitarmos essas atrocidades.
      Agradeço tua participação.
      Dilza Porto Gonçalves

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  30. como podemos trazer o debate das questões de gênero em sala de aula para aulunos de ensino fundamental ? Quais estratégias os futuros professores podem apresentar ?
    Como esses professores podem contribuir para desconstruir um pensamento machista a qual já se foi pregado aos alunos, sendo eles crianças?
    Como podemos (professores) orientar os alunos que passaram por homofobia na escola onde estudam? E como podemos orientar o aluno que cometeu a homofobia, como ajuda lo a respeita e reconhecer as diferenças?

    vanessa dos santos neves

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    1. Bom dia Vanessa.
      Para debater essa questões na educação básica Vai depender muito da linguagem que usamos e da identificação que temos com o público que estamos trabalhando. Uma das formas de conseguir engajar o grupo e debatermos a realidade que estão vivenciando, ou seja, o conteúdo tem que fazer sentido tanto para os(as) estudantes quanto para o professor, como nos sugere Morin.
      Ao problematizar as questões de gênero, tirando a centralidade da História do homem branco, heteronormativo e cristão trazemos a possibilidade de outros sujeitos entrarem na História. Por isso, o debate sobre gênero, etnicidade, grupo social, desigualdades sociais e econômicas é tanto importante na formação dos(as) sujeitos.
      Os alunos que sofreram a homofobia precisam de atendimento especializado de psicólogos(as) e orientadores(as) além do acolhimento do(a) professora. Para quem é homofóbico a solução sempre a conversa e uma formação mostrando porque aquele indivíduo está agindo de forma errada ao maltratar os outros.
      Não podemos é desistir de fazer o debate. Embora, os tempos sejam difíceis temos que ter esperança que dias melhore virão. É essa esperança que precisamos partilhar para continuar lutando.
      Agradeço tua participação em nosso simpósio.
      Dilza Porto Gonçalves

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  31. Ana Cecília Moreira22 de maio de 2020 às 17:02

    Parabéns pelo ótimo texto publicado
    Sabemos que o mundo se encontra sempre em contantes mudanças principalmente quando o assunto é conhecimento.qual é a maneira correta de se discutir com os alunos as questões de gênero e como se comporta diante desses assuntos principalmente religioso ?

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  32. Estimada Profa,
    Em nome da Mesa de Ensino de História: Teorias e Metodologias, gostaria de agradecer por compartilhar o seu conhecimento conosco. O seu trabalho foi um diferencial em nosso evento. É perceptível o quanto as suas reflexões motivaram e incentivaram os leitores. Obrigado!

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