O USO DA HISTÓRIA
COMPARADA COMO METODOLOGIA DE ENSINO E APRENDIZAGEM PARA ALUNOS DO NÍVEL BÁSICO
O presente artigo
visa debater um dos ramos da historiografia, que mais vendo sendo utilizado nos
últimos tempo, trata-se da utilização dos instrumentos de investigação da
História Comparada. Nesse trabalho será compreendido algumas pontuações
teóricas que explicam determinados conceitos sobre tal campo historiográfico,
bem como a problematização de questões que refletem a importância do “fazer comparativo”
no processo de assimilação de conteúdos com nível de abstração complexa, para
alunos do nível básico, mais especificamente, para o terceiro ano do ensino
médio. O objetivo central desta proposta pedagógica é produzir um arcabouço
teórico/metodológico que permita a construção de aulas inovadoras e acessíveis,
tendo como característica central, o uso de debates acadêmicos didaticamente
dinamizados nas salas de aulas. No final da apresentação, será exposto um micro plano de aula, com o
intuito de melhor elucidar as intenções do presente artigo. Esse trabalho será
metodologicamente exemplificado com temáticas relacionadas sobre os casos do
governo ditatorial brasileiro de 1964 a 1985, e do regime autoritário Estado
Novista, em Portugal, entre os anos de 1933 a 1974.
Vale ressaltar que este recorte temático não é
alheio à análise do presenta artigo. A própria produção deste material
pedagógico é uma adaptação de um projeto de iniciação científica, da
Universidade Estadual do Maranhão [UEMA], fomentado pela Fundação de Amparo ao
Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão [FAPEMA], do ano de 2019,
com o título: “A cobertura dos jornais Jornal
do Brasil, O Estado do Maranhão e Diário de Lisboa sobre os movimentos
rurais luso-brasileiros: os casos da Revolução Agrária do Alentejo e da
Guerrilha do Araguaia [1972-1976]” de autoria própria, e orientado pela Profa.
Dra. Monica Piccolo [UEMA].
O experimento da comparação: Uma breve
explanação sobre o uso da História Comparada.
Será com as
experiências traumáticas da primeira e da segunda guerra mundial que se seguirá
um certo “mal estar” dos historiadores, perante a devastação humana cometida
pela construção de narrativas ultra nacionalistas [BARROS, 2007]. Com a
intenção de fugir dessa cólera exposta, profissionais da história buscaram
saídas que ultrapassassem essa fronteira. Nessas circunstâncias, historiadores
e sociólogos começaram a introduzir em seus estudos, uma metodologia de análise
voltada para o olhar crítico de múltiplas sociedades, buscando não só as
similitudes, como também as diferenças:
“Comparar, era de
algum modo abrir-se para o diálogo, romper o isolamento, contrapor um elemento
de ‘humanidade’ ao mero orgulho nacional, e, por fim, questionar a intolerância
recíproca entre os homens – esta que logo seria coroada com a explosão da
primeira bomba atômica” [BARROS, 2007, p. 9].
Com Marc Bloch
[1930], Febvre [1930] e tantos outros, serão postulados os traços
epistemológicos da História Comparada, que acabaram por denotar as diferenças entre
essa singular metodologia de se pensar múltiplas questões políticas, econômicas
e sociais, daquilo que é posto como um tipo de “comparativismo histórico”,
sendo este um instrumento que é utilizado no campo da História Comparada, já
que o uso da comparação faz parte das estruturas investigativas de todo
historiador. Assim sendo, para pensar tal metodologia faz-se necessário
utilizar um organizado modelo de análise comparativa, que vá para além do
intuitivo, com rigidez nos modos de observação dos acontecimentos, e com
objetivos bem definidos, tratando-se, assim, não somente de instrumentalização
investigativa, mas, sim, da especificação de uma área própria da
historiografia.
Como salienta
José D’ Assunção Barros, “[...] a História Comparada, antes do mais, seria uma
modalidade historiográfica que atua de forma simultânea e integradora sobre
campos de observação diferenciados e bem delimitados – campos, a bem dizer, que
ela mesma constitui e delineia” [BARROS, 2007, pp. 12-13].
Barros [2007]
afirma que o Comparativismo Histórico é um método historiográfico que se torna
muito importante para o trabalho no campo da História Comparada, sendo esta
última, considerada uma modalidade exclusiva da história. O autor salienta que
o comparativismo surgiu como necessidade para que as fontes fossem melhor
problematizadas. Sendo tais ausentes, também poderiam ser supridas pelo método
análogo do historiador. O uso da comparação, portanto, é intrínseco ao fazer
historiográfico, visto que, mesmo ao lendo um texto, e analisando uma fonte, já
estamos indiretamente comparando-os com outros que nos permitam a melhor
compreensão de suas significações: “A analogia mostra-se aqui uma faca de dois
gumes: se por um lado pode levar o historiador ao erro do anacronismo nos casos
em que este se vê tentado a comparar o incomparável, por outro lado, sem ela
não vive o fazer historiográfico” [BARROS, 2017, p. 16].
Além disso, o
autor enfatiza que a estrutura das escalas de observação é de suma importância
para o desdobramento do método da história comparada. Faz-se necessário definir
os limites da investigação, ou seja, [...] o homem como microcosmo, a família,
a vizinhança, o local, o regional, o nacional, a civilização, a rede de
relações internacionalizadas ou mundializadas” [BARROS, 2007, p. 16.]. Estes pontos culminam na organização de
informações que permitem a análise de dados adquiridos entre dois ou mais
planos.
Por fim, será
explanado o modelo de observação que se seguirá no processo de análise para a
construção do micro plano de aula já mencionado. Barros [2007] cita um dos
principais métodos de observação propostos desde a primeira perspectiva
organizada por Bloch: o modelo de comparação de Charles Tilly.
O modelo de Observação e Comparação de
Charles Tilly [1966;1975]
O modelo de
observação de Charles Tilly [1966; 1975] para a História Comparada consiste na
organização de um encadeamento de pontos, postos em quatro abordagens
comparativas distintas, e conectadas, sendo elas: (i) a Individualizadora, que consiste na identificação de singularidades
políticas, sociais, culturais, econômicas, etc., através da busca minuciosa por fatores
histórico-sociais comuns; (ii) a abordagem Diferenciadora,
que enfatiza na manipulação do historiador ao colocar um certo conjunto de variáveis,
sendo estas, pontos de acessos que sirvam para a gerência da comparação. Nesse
momento se fará conclusões sobre as diferenças de cada uma, de acordo com as
pontuações já estabelecidas; (iii) na análise universalizadora, propõe-se encontrar os elementos comuns entre
todos os dados alcançados. Exemplificando: ao investigar momentos
revolucionários, tenta-se enquadrá-los em uma mesma perspectiva grupal, a fim
de encontrar as condições necessárias e suficientes que os levaram a
condicionar tal revolução como meio necessário
perante as circunstâncias próprias de suas sociedades. Dessa forma, o
fracasso de outros processos revolucionários também se encaixa para a
reafirmação de tais hipóteses. (iv) Por fim, tem-se a globalizadora, que coloca vários casos em uma mesma estrutura de
análise para que seja possível compreendê-los, dando-lhes sentido. A exemplo
desta estrutura tem-se a identificação dos modos de produção postulados pelo
Materialismo Histórico [TILLY, 1966;1975, apud
BARROS, 2016].
A seguir, um esquema
sobre as perspectivas comparativas de Charles Tilly:
Fonte:
BARROS, José d’
Assunção. “História Comparada. um
novo modo de ver e fazer a história”. In Revista de História Comparada, vol. 1,
n.º 1, 2007,p. 19.
Colocando em prática: Comparando a
ditadura brasileira e o regime estado novista.
Para que seja
possível o uso do método comparativo acerca das tuas temáticas citadas
anteriormente, é preciso entender os processos históricos de cada evento
político-social, no Brasil e em Portugal. Obviamente que não será possível
explanar de forma totalizante os pormenores de cada contexto, mas, será através
da explanação a seguir que será introduzido o método de Charles Tilly e, por
fim, colocado em prática de forma didático-pedagógica para alunos do ensino
médio. A seguir, uma breve contextualização dos processos ditatoriais
luso-brasileiro.
Contextualizando o regime do Estado
Novo, em Portugal, de 1933 a 1974
Em 1926, Portugal
passava por uma das piores crises políticas, econômicas e sociais da história
de sua república. Os pressupostos constitucionais, e as dinâmicas legais do
parlamento português eram sumariamente bombardeados por dúvidas sobre a sua
real legitimidade enquanto instituição que alicerçava os instrumentos legais
republicanos. No dia 28 de maio, o
general Gomes da Costa consumou o golpe militar de “libertação da pátria”,
iniciando assim, o novo momento político do país, baseado no fechamento do
parlamento e orquestrando o novo regime autoritário [ROSAS, 2001].
Durante os anos
de 1928 a 1930, Antônio Oliveira Salazar, chegou à liderança do ministério das
finanças. O ex professor catedrático de Economia Social da Universidade de
Coimbra, ganhou importante prestígio durante seu mandato ministerial, chegando
a ser ovacionado como “salvador das finanças” portuguesas, pelo seu idealismo
estadista nacionalista, baseado na corrente corporativista e protecionista. Em
1932, Salazar recebe as titulações da grã-cruz da Ordem do Império Colonial e a
grã-cruz da Ordem Militar da Torre e espada, do Valor, Lealdade e Mérito,
transformando-se em uma personalidade respeitada perante a comunidade militar,
cristã e da grande maioria da população lusa. Nesse mesmo ano é publicado o projeto de uma nova constituição,
que fora aprovada em 1933. A partir de
tal Constituição, Salazar funda o Estado Novista português, baseado no
corporativismo, com ideologia vinculada ao conservadorismo católico-cristão.
Nessas circunstâncias, o Parlamento tem seus instrumentos legislativos
limitados, e subjugados pelo poder executivo, norteado pela liderança de
Salazar. Dessa forma, como assinala Pinto [2010]:
“Se em termos de
princípios constitucionais o salazarismo se pretendeu não ditatorial, porque
respeitador da diversidade de poderes e partidário do controlo constitucional do
Executivo, na prática, o Estado Novo passou da subordinação excessiva do
Governo ao Parlamento, cujos efeitos negativos a Primeira República demonstrara
à sociedade, para o endeusamento do Governo e da figura do seu presidente”
[PINTO, 2010, p 34].
Com toda essa base constitucional e de apoio
social, somado às negociações com determinadas frações burguesas dominantes [o
apoio dos proprietários de terra será de suma importância para a mecânica de
seu mandato, devido a essencialidade rural do país], o governo instaurou os
programas de vigilância e monitoramento das ações subversivas, que puderiam
ameaçar a hegemonia do regime salazarista. O órgão da Polícia de Vigilância e
Defesa do Estado [PVDE], rebatizado em 1945 como Polícia Internacional de
Defesa do Estado [PIDE], tinha um aparato repressivo extremamente organizado e
bem delineado para que nenhuma movimentação contrarrevolucionária entrasse em
vigor.
Em 1968, Salazar
sofre um acidente doméstico, e logo vem a falecer, dando fim ao seu governo,
porém, sem interromper as estruturas opressoras do Estado Novo. Nesse mesmo
ano, Marcelo Caetano assume o poder executivo e chega como promessa para a
implantação de uma reforma econômica de cunho liberal, bem como, acreditava-se
no aumento dos direitos constitucionais de parte da oposição, quando foram lhes
concedido chances para concorrer às eleições legislativas de 1969. No entanto,
a comunidade do empresariado conservador logo interrompe qualquer tipo de
abertura da economia nacional, e as próprias chances dos partidos
oposicionistas foram abafadas pela não permissão de suas participações na
construção de novas diretrizes e decretos legislativos. A opressão e censura
continuaram sendo um dos “carros-chefes” do governo, com a única mudança de
nomenclaturas, como a nova nomeação para a polícia política, de Polícia
Internacional de Defesa do Estado [PIDE], para Direção Geral de Segurança
[DGS].
No dia 25 de
Abril de 1974, acontece a famosa Primavera dos Cravos, dia histórico que pôs
fim à ditadura Estado Novista. De acordo com Pinto [2010], parte dos organismo
governativos que sustentavam o controle político e social do regime estavam
quase desfragmentados, o exército começara a pluralizar o oficialato, a partir
de novos líderes militares que tinham uma visão da realidade nacional
completamente diferente da geração mais antiga que ocupava os comandos
superiores. E, por fim, a mais importante de todas as esferas que se opôs ao
Estado Novo; a onda revolucionária da
população que já não aguentava mais o autoritarismo vigente. O Partido
Comunista Português [PCP] [partido brutalmente perseguido pelo regime],
juntamente com o Movimento das Forças Armadas [MFA] transformaram-se em duas
grandes balizas para o restabelecimento democrático. Aqueles que torturaram e
destituíram o Estado de Direito, foram punidos. E os presos políticos que
estavam no exilio retornaram à sua terra natal.
Contextualizando o governo ditatorial
brasileiro, de 1964 a 1985.
Em 1961, com a
renúncia de Jânio Quadros, João Goulart [“Jango”] assume a presidência do
Brasil. No entanto, a personalidade de “Jango” contrastava com os interesses do
empresariado brasileiro, que eram contra as reformas de base. Estas tinham como
intenção, reduzir a concentração de renda e de terras, de uma minoria de grandes
latifundiários do país. Além disso, uma das justificativas infundadas sobre a
instalação do regime autoritário, foi uma provável “ameaça” comunista, que era
enaltecida devido as propostas do governo janguista, já mencionadas, e de
certas aproximações políticas com Cuba e a União Soviética. Essa narrativa era
intensificada devido o processo de bipolarização político-econômica que o mundo
estava passando, no qual Estados Unidos e a União Soviética consolidavam-se
como as nações mais poderosas do globo.
Dessa forma, para combater os
subversivos, a ditadura acabou por consolidar um aparato repressivo e
informativo de alta tecnologia. A
coleta de informação e os estudos avançados sobre o sistema político-econômico
do Brasil no antes e durante do regime são oriundos de uma articulação da
Doutrina de Segurança Nacional e Desenvolvimento [DSND], tendo como sua
formuladora a Escola Superior de Guerras [ESG] que juntamente aos Instituto de
Pesquisa e Estados Sociais [IPES] e Instituto Brasileiro de Ação Democrática [IBAD]
desenvolveram “[...] o estabelecimento e avaliação dos comportamentos
estruturais do Estado, fornecendo elementos para o desenvolvimento de metas e
planejamento administrativos periódicos.” [ALVES, 1984, p. 35].
Além
destes, o Serviço Nacional de Informação [SNI] foi criado dentro do ideário
ideológico da Segurança Nacional, e tinha como pressuposto primordial o
fornecimento de informações para o poder executivo do país, e posteriormente,
para um amontoado de órgãos espalhados por todas as esferas burocráticas do
regime.
Com
o passar do tempo fez-se necessária uma estruturação mais complexa do aparato
informativo, que agora precisava de uma conexão com os complexos do
aparelhamento repressivo [FICO, 2001]. A partir de 1970, criou-se o SISNI
[Sistema Nacional de Informação], tendo o SNI como seu principal órgão
sistêmico. Desta forma, com o aprimoramento de tal aparato consolidou-se a
possibilidade de um sistema que comportasse dentro de si todos os órgãos de
informação que funcionavam em todo o território nacional.
Além da complexa teia de
informações, os ditadores criaram os Centro de Operações de Defesa Interna
[CODI] e Destacamento de Operações Internas [DOI], tornando-se órgãos nucleares
do Sistema de Segurança Interna Nacional [SISSEGIN]. Com isso, “ambos os
sistemas estruturavam-se numa profusão de siglas e cadeias hierárquicas, que
carregavam para si elevados investimentos governamentais na forma de recursos
materiais e humanos, liberdade de ação e poder decisório”. [BORGES e BARRETO, 2016, p. 118].
Todos esses
fatores que possibilitaram a estruturação do consenso na sociedade civil [a
ideia de uma ditadura necessária para o desenvolvimento político-econômico do
país], começam a passar por uma transição “lenta, gradual e segura” a partir de 1974, graças
a um novo momento político que surgiu no Brasil, derivado de algumas questões
que, segundo o autor Francisco Carlos Teixeira da Silva [2003], seriam; i] a
pressão política internacional, oriunda da ação do então presidente
norte-americano Jimmy Carter, eleito em 1979, de colocar em sua pauta
governamental questões como a defesa dos direitos humanos, quebrando então, um
apoio histórico dos Estados Unidos para várias ditaduras na América Latina; ii]
em uma conjuntura interna, o projeto de implantar no Brasil a volta do Estado
de Direito, derivado das ações dos Generais Geisel e Golbery e, iii] o momento
de maior intensificação organizacional da oposição ainda consentida,
representada pelo Movimento Democrático Brasileiro [MDB] [SILVA, 2003, p.247].
Dessa forma,
o processo de abertura política da ditadura foi totalmente pactuado, e aqueles
que torturaram, mataram em nome do Estado, acabaram sendo perdoados pela Lei de
Anistia, de 1979, que perdoou parte dos presos políticos, e a quase totalidade
dos agentes torturadores. Construindo, mais do que uma redemocratização, uma
grande nuvem de silenciamento e esquecimento.
Juntando os pontos: Micro plano de aula, a partir da
metodologia de análise comparativa de Charles Tilly.
Para o
desenvolvimento do plano de aula, tem-se, para além do conteúdo sobre os dois
regimes ditatoriais, objetivos que permitam ao aluno: i] discutir questões que
envolvam os conceitos de democracia e ditadura; ii] analisar criticamente as
estruturas repressivas e informativas dos dois regimes; iii] trabalhar
comparativamente os processos de
abertura política; iv] perceber as narrativas que justificaram as instaurações
das duas ditaduras; v] identificar classes, sujeitos, instituições, e movimentos
sociais que apoiaram os ditadores.
A metodologia tem
como plano norteador as perspectivas comparativas de Charles Tilly [1966; 1975]. Dessa forma, a aula será
dividida a partir das seguintes etapas; a] “Individualizadora”, no qual será
questionado aos alunos, quais são os pontos em comum dos dois regimes [ex: a
criação de uma justificativa anticomunista para implantação do regime, bem
como, a elaboração de aparatos repressivos e informativos para a manutenção das
ditaduras, etc.]. A partir desse momento, o aluno conseguirá observar, através
das similitudes já problematizadas, questões que diferenciem os dois regimes
autoritários. Assim sendo, a etapa b] “diferenciadora”, servirá para o
apontamento de questões que permitam ao
alunos assimilar os dois processos históricos, através de variáveis organizadas
pelo professor [ex: como foram os processos de abertura política de ambas as
ditaduras?; quem se beneficiou com o fechamento das duas estruturas
ditatoriais?, entre outros]. Na etapa c] “universalizadora”, o professor
explicitará questões que globalizem ambas as esferas político-sociais
analisadas [ex: o contexto político-econômico dos dois países, que passavam, na
época, por um grande atraso industrial, derivado de suas essencialidades
rurais. Logo, os proprietários de terras, tornavam-se as grandes figuras que
impulsionaram e manusearam as ditaduras].
Considerações finais
Este trabalho foi
desenvolvido para o enriquecimento de análises pedagógicas acerca da disciplina
de história, visando alcançar a comunidade docente que tanto sofre com o
crescente desmantelamento da educação, derivado do atual momento político-social brasileiro. Sabe-se o
quão difícil é para os professores [as] da rede básica de ensino, manterem-se
atualizados [as] cientificamente dos debates academicistas, diante da rotina,
ás vezes, desumana, nas escolas públicas e particulares brasileiras, juntamente
com o baixíssimo salário que lhes são oferecidos. Dessa forma, além de tentar
problematizar um ramo bastante polêmico, e muito discutido atualmente nos
grandes centros acadêmicos, proponho um debate voltado para dois processos
históricos traumáticos de duas democracias bombardeadas durante o século XX.
Trata-se de um trabalho que visa analisar duas ditaduras sangrentas, na
intenção de compara-las, e problematizar aspectos ainda velados no seio do
senso comum.
Referências
Victor Gabriel de Jesus Santos David
Costa é graduando do curso de Licenciatura em História pela Universidade
Estadual do Maranhão [UEMA]. Membro do Núcleo de Pesquisa em História
Contemporânea [NUPEHIC]. Estagiário do Centro de Referência e Vivência Casa do
Tambor de Crioula. Orientando da Profa. Dra. Monica Piccolo.
ALVES,
Maria Helena Moreira. “Estado e
oposição no Brasil (1964-1984)”. Petrópolis: Editora Vozes, 1984.
BARROS,
José d’ Assunção. “História
Comparada. um novo modo de ver e fazer a história”. In Revista de História
Comparada, vol. 1, n.º 1, 2007.
FICO,
Carlos. “Como Eles Agiam – os subterrâneos da ditadura militar: espionagem e
polícia política”. Rio de Janeiro:
Record, 2001.
PINTO, Dora
Marisa Gomes. “Ensaio sobre a evolução política do Estado Novo”. Dissertação de
mestrado. Porto. 2010.
ROSAS, Fernando.
“O salazarismo e o homem novo: ensaio sobre o Estado Novo e a questão do
totalitarismo”. in Análise Social, vol. XXXV (157), 2001. disponível em: http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos.
[Consultado em 13-08-2019].
PINTO, Dora
Marisa Gomes. “Ensaio sobre a evolução política do Estado Novo”. Dissertação de
mestrado. Porto. 2010.
TILLY, Charles.
“Coerção, capital e estados europeus”. São Paulo: EDUSP, 1996.
TILLY, Charles. “The Formation of
National States”. in Western Europe. Princeton:
Princeton University Press, 1975.
Boa noite, Victor. Muito boa sua proposta. No que diz respeito ao uso das fontes que fundamentarão (juntamente com o tratamento teórico-metodológico dispensado à elas) seu micro-plano de aula, qual será o corpus documental utilizado? Pensou também em que tipos de questão para avaliar se seus objetivos foram atingidos?
ResponderExcluirLeonardo Leal Chaves
Olá, Leonardo, suas perguntas são muito pertinentes na medida em que questionam apontamentos que não foram possíveis de serem colocados no corpo do texto, devido a limitação de caracteres estipulada pela organização do evento.
ExcluirRespondendo: 1) as fontes serão diversificadas entre o uso de jornais de cada localidade do período dos acontecimentos históricos, e através de fontes oficiais disponibilizadas pelo arquivo público do Brasil, ou, por organizações de pesquisas que viabilizem tal acesso. Temos, dessa forma, os jornais sobre a ditadura no Brasil: “Jornal do Brasil”, “A Classe Operária” e “O Estado do Maranhão”. E acerca do regime Estado Novista de Portugal: “Diário do Alentejo” e “Diário de Lisboa”. Bem como da disponibilização dos dossiês do Serviço Nacional de Informação (SNI), órgão central do Sistema Nacional de Informação (SISNI) da Ditadura brasileira.
Assim sendo, o uso da imprensa poderá ser dinamizado através de questionamentos sobre os tipos de discursos emanados em cada periódico, analisando quais eram os interesses privados atrelados a cada noticiário, fazendo o estudante compreender a funcionalidade de tais aparelhos na construção de consenso na sociedade. Já os dossiês dos próprios ditadores brasileiros poderão ser usados para que os alunos possam entender de forma prática o elevado nível do complexo de espionagem da ditadura. Vale ressaltar que essa proposta, com o uso das fontes, só terá condições pedagógicas para serem aplicadas se houver um estudo já organizado e delimitado pelo professor sobre as mesmas. Ou seja, estipular as manchetes centrais que serão usadas, e colocar um objetivo claro de análise para os estudantes, sem privá-los de debater sobre outras questões encontradas. O mesmo se deve fazer com os dossiês. Os conceitos para entender os usos e abusos da imprensa precisarão ser diluídos em uma linguagem que o estudante possa alcançar e problematizar, bem como, a explicação das ações de espionagem precisará ser acompanhada de fontes bibliográficas para que tudo possa ser bem enquadrado dentro da realidade cognitiva dos estudantes. Nesse caso, o trabalho e o debate em grupo serão essenciais para que as dúvidas possam tomar proporções problematizantes.
2) O próprio uso das fontes poderá ser um recurso metodológico para verificar a compreensão dos estudantes. Por exemplo: sobre a perspectiva “individualizadora”, ao colocar duas manchetes que mencionem as ações dos partidos comunistas do Brasil e de Portugal, poderá ser questionado a forma como foram escritas as reportagens acerca de tal temática e, a partir de um debate grupal, solicitar que os estudantes descrevam pontos em comum entre as narrativas que deram base para a implantação dos regimes autoritários no Brasil e em Portugal (o anticomunismo, por exemplo), e questionando a importância da imprensa nesse processo. Essa análise será mediada pelo professor que deverá fazer provocações aos estudantes, com o intuito de estimular as concordâncias ou discordâncias dos mesmos sobre os periódicos analisados. Nesse sentido, o debate irá acontecer com essa mesma linha metodológica ao longo das etapas da aula já mencionadas no artigo.
Agradeço imensamente sua participação.
Att, Victor Gabriel de Jesus Santos David Costa