Fernando Roque Fernandes


O INDIVÍDUO E A NOVA HISTÓRIA: REFLEXÕES SOBRE O MODELO BIOGRÁFICO NA HISTORIOGRAFIA


Introdução
Há algo de intrigante no ofício do historiador. A busca incessante pela veracidade histórica lhe possibilita ver o mundo com outros olhos, com olhos de inquieta e admirável observação sobre o passado. Antes de mais nada, é necessário reconhecer que esse olhar em direção ao passado ocorre a partir de intensas observações e questionamentos que partem e resultam das relações desencadeadas no presente. Tais questionamentos e percepções de mundo, aliados a teorias fundamentadas pela conexão com a realidade vivida, possibilitam aos historiadores adentrar no mundo das narrativas e a partir dele apontar caminhos e rascunhar interpretações para a compreensão do passado através da produção de novas alternativas historiográficas.

Se há no historiador-pesquisador uma inquietação sobre o fazer história, se há para ele uma indagação sobre a teoria na qual poderá se apoiar na busca pela compreensão desses passados, é preciso também considerar que a forma como vai representar esse passado, no presente, se coloca como questão de primeira ordem. Não se pode, por exemplo, considerar um exaustivo levantamento bibliográfico, um arcabouço metodológico e nem uma busca cansativa pelas fontes aliadas à reflexões profundas sobre a construção das memórias nelas impressas, sem o domínio dos meios necessários para apresentar, através da escrita, o resultado de uma pesquisa. Se a proposta de uma história escrita se apresenta como a forma legítima de registrar os fatos históricos, o historiador-pesquisador deve, por ofício, dominar os mecanismos de escrita que lhe possibilite desenvolver suas narrativas.

No interior do movimento dos Annales, por exemplo, houve uma intensa busca por novas formas de se pensar e escrever a história. Seus mais influentes membros contribuíram de forma significativa para a renovação da historiografia. O diálogo interdisciplinar e a apropriação de conceitos de outros campos disciplinares, aliados à crítica sobre as fontes e o reconhecimento da subjetividade de quem escreve, possibilitaram o surgimento de novas problemáticas. A crítica ao modelo positivista que enfatizava uma narrativa “literal” dos acontecimentos, registrados em documentos oficiais, assim como a crítica sobre a noção de “neutralidade” do pesquisador e ao modelo de narrativa que exaltava indivíduos tidos como excepcionais, foi e ainda hoje permanece uma constante nesse movimento.

Mesmo apesar das inúmeras críticas em direção ao positivismo do século XIX, parecia que se poderia salvar alguma coisa daquela tradição. Não se abriu mão dos documentos escritos, mas passou-se a lançar sobre eles um olhar crítico como se o questionador almejasse dialogar com as fontes disponíveis, esperando respostas para as omissões das ações mais significativas do individual e da coletividade. Também se ampliou a noção de fontes históricas. Não houve repressão à ideia de neutralidade do historiador (Já que esta nunca existiu!), mas o reconhecimento da interferência do sujeito na escrita da História.

Assim como os documentos escritos, outro elemento apropriado foi o modelo narrativo biográfico. Este não foi excluído do leque de possibilidades inovadoras e teve seu lugar preservado como modelo de escrita da história. Por outro lado, foram necessárias uma série de transformações metodológicas que permitissem o enquadramento desse modelo de narrativa nas pretensões do movimento dos Annales. Algumas dessas transformações no modo de escrever biografias serão elencadas ao longo deste texto. Dentre elas, a interdependência entre indivíduo e sociedade merece destaque.

Os membros mais conhecidos dos Annales escreveram biografias e demonstraram que a partir de uma trajetória individual seria possível desenhar um cenário que representasse o “espírito de uma época”. Dentre alguns trabalhos podemos citar: 1. Os reis taumaturgos: o caráter sobrenatural do poder régio, França e Inglaterra, de Marc Bloch ([1924] 1993); 2. Martinho Lutero: um destino, de Lucien Febvre ([1928] 2012); 3. Guilherme Marechal ou o melhor cavaleiro do mundo, escrito por Georges Duby (1987); 4. Carlos V e Felipe II in Reflexões sobre a História, de Fernand Braudel ([1992] 2002) e 5. São Luís: biografia, de Jacques Le Goff ([1996] 1999). Apesar das perspectivas que diferenciam os trabalhos de cada historiador citado (religiosidade, política, geografia, economia e cultura), o foco destas narrativas biográficas é o indivíduo e a relação que estabeleceram com a sociedade em que vive.

De acordo com historiadores que consideram a biografia uma abordagem promissora, através da inter-relação indivíduo-sociedade, tal abordagem possibilita uma aproximação entre o tempo presente e passados longínquos, traçando perfis de sociedades a partir de “trajetórias individuais” nas quais os biografados estiveram inseridos. Apesar das críticas que vem sofrendo por parte de alguns historiadores contemporâneos – que acreditam ser a escrita biográfica um retorno desnecessário a velhas temáticas – o gênero biográfico têm demonstrado ser uma proposta interessante de escrita que proporciona aos leitores uma visão menos superficial sobre as trajetórias de vida de indivíduos de uma determinada época e da conjuntura da qual fizeram ou fazem parte.

Conforme demonstraremos mais adiante, as propostas de biografia historiográfica visam, a partir do indivíduo, apresentar aspectos estruturais e conjunturais da sociedade que o cerca, estando repleta de costumes, símbolos e discursos fundamentados em estruturas políticas, econômicas e religiosas. Essas estruturas impactam direta ou indiretamente no indivíduo e na própria sociedade. Nesse sentido, a proposta deste texto é apresentar breves considerações sobre a utilização das biografias como proposta de narrativa historiográfica.

A biografia: um discurso historiográfico?
Muito já se discutiu sobre a escrita da História, sobre a fórmula que melhor se adapta ao rigor metodológico buscado pelos historiadores na tentativa de apresentar uma maior qualidade científica nos resultados de suas pesquisas e, ao mesmo tempo, possibilitar aos leitores a recepção de suas mensagens. Aqui também se deve considerar os caminhos e razões da escrita historiográfica: se queremos alcançar os objetivos da História como uma área de conhecimento que se propõe a pensar o passado a partir do presente e identificar aspectos que nos possibilite compreender nossa própria realidade, precisamos flexibilizar os limites impostos pela escrita acadêmica e o mundo intelectual. O discurso historiográfico precisa se renovar e, para tanto, inovar em suas possibilidades de narrativa sem negligenciar o rigor metodológico de suas análises, ainda que para isso, precise acionar modelos de escrita considerados, por alguns como ultrapassados.

Com certeza, essa não é uma discussão nova. Mas, o que se propõe aqui é uma reflexão em torno de como desenvolver uma narrativa biográfica que permita a manutenção do rigor acadêmico e dos modelos de escrita; de modelos que possibilitem a clareza das ideias apresentadas pelos historiadores a partir de suas representações sobre o passado. Por isso se faz necessária uma reflexão sobre a escrita da história no espaço acadêmico e suas formas de representação do passado e compreensão do tempo presente.

Apesar de ser criticada pela ênfase que dá ao indivíduo e de seu papel de destaque na narrativa, o modelo biográfico tem suas pretensões à legitimidade histórica. Cabe aqui a observação de que o modelo apresentado pelo Nova História não se confunde com um retorno ao modelo de biografia tradicional, mas se caracteriza como proposta que se baseia em metodologias de pesquisa que possibilitem a renovação da forma de se escrever biografias.

No modelo de biografia clássica se pressupõe que a trajetória de vida de um indivíduo, de preferência de uma pessoa ilustre, pode representar todo o espírito de uma época e ser considerado como modelo de estilos de vida de determinada época e sociedade. Na biografia tradicional as análises em torno das ações dos grandes homens os colocam no epicentro da narrativa o que acaba por ofuscar a complexidade das relações de interdependência entre os indivíduos e os meios que os cercam.

Nas análises desenvolvidas por Eliane Misiak (2012), no trabalho intitulado O retorno do indivíduo como objeto da história: reflexões à luz da teoria semiótica, existe uma diferenciação dessas abordagens, donde a biografia tradicional pode ser considerada a partir de processos de fechamento e triagem, tendo como suas figuras o distinto  e o absoluto. Já o modelo proposto pela Nova História, especialmente a partir dos anos 1970, se caracteriza pela seleção e combinação de elementos de abertura e de mistura, tendo como inovação a figura do comum e do disparatado. Nas palavras de Misiak (2012, p. 64):

“Retornando às grandezas enuncivas presentes no discurso biográfico histórico, tem-se que, de modo geral, os termos que marcam a oposição entre os dois modelos são, para a biografia tradicional, “o grande homem”, “o homem distinto”, “o conhecido”, enquanto que para a biografia que caracteriza parte da produção a partir dos anos 1970, resultante dos questionamentos epistemológicos que marcaram o período, aparecem como figuras “o homem qualquer”, “o homem ordinário”, “o desconhecido”, “o marginal”.

Por outro lado, devemos reconhecer que a escrita biográfica tem suas fragilidades. Por isso muitos teóricos da historiografia atual têm criticado esse modelo de escrita. Pois, nos últimos anos, tem crescido o debate sobre os modelos próprios da narrativa. A polêmica dessas discussões vem à tona principalmente quando os debates giram em torno das diferenças e semelhanças entre a narrativa historiográfica e a narrativa literária. Exemplos de intensos debates sobre a narrativa literária e a narrativa histórica bem como as concepções de veracidade e verossimilhança histórica podem ser evidenciados nos trabalhos desenvolvidos pelo historiador estadunidense Hayden White e o historiador italiano Carlo Ginzburg. O primeiro tem lançado duras críticas sobre a escrita da História e sua complexidade considerando a escrita literária como uma possibilidade de saber histórico. O segundo se empenha em refletir sobre os caminhos e metodologias que legitimam o fazer história através de uma escrita fundamentada no rigor da análise das fontes. Para uma reflexão inicial sobre suas discussões, conferir o artigo de Hayden White intitulado Enredo e verdade na escrita da história, bem como o artigo de Carlo Ginzburg intitulado O extermínio dos judeus e o princípio da realidade, ambos publicados na coletânea organizada por Jurandir Malerba (2006), intitulada A História Escrita: teoria e história da historiografia.

Apesar das fragilidades, o modelo biográfico de narrativa acaba por se destacar nesses debates justamente por transitar entre História e Literatura. Para muitos historiadores é inquietante observar que o público leitor, ao se deparar com um livro de História e outro de Literatura opte, na maioria das vezes, pela obra literária. Vale aqui a ressalva de que não é nossa intenção diminuir a importância da narrativa literária, mas apenas observar que, apesar das semelhanças, existem algumas diferenças entre esta e a narrativa historiográfica, principalmente no que diz respeito ao trato com as fontes históricas. Por outro lado, é preciso reconhecer o papel da literatura na construção de discursos e memórias passíveis de verossimilhança histórica com determinadas épocas. Enfim, há de se considerar também a importância de muitas obras literárias, de cunho político, as quais se apresentam como uma espécie de crítica moral à sociedade e que, por isso, são legítimas na construção dos modos de pensar criticamente o meio social.

Exemplo disso são os vários manuscritos que circularam em Minas Gerais no ano de 1785 conhecidos como Cartas Chilenas e que foram atribuídos, em 1940, a Tomás Antônio Gonzaga, jurista, poeta, ativista político e partícipe da Conjuração Mineira, em 1789. De acordo com Márcia Abreu (2011, p. 131), as Cartas Chilenas:

“[…] inserem-se numa tradição de crítica às autoridades por meio de manuscritos anônimos […]. Criando o artifício de uma troca de cartas entre Critilo e Doroteu, são compostas epístolas em versos brancos, que tomam por alvo o governador de Minas, Luís da Cunha Menezes, aludido no poema, sob a roupagem do Fanfarrão Minésio, fictício governador do Chile sob o domínio colonial espanhol.”
        
Tomando este exemplo, podemos considerar que certas escritas biográficas, ainda que de cunho literário, são narrativas que podem ser utilizadas como modelos geradores de reflexões sobre determinados contextos históricos. Conforme observou Alexandre de Sá Avelar (2010, p. 161), “[...] a biografia provoca um polêmico questionamento à absoluta distinção entre um gênero verdadeiramente literário e uma dimensão puramente científica, suscitando tanto as tensões como as convivências existentes entre literatura e Ciências Humanas”. Dessa forma, é preciso considerar que a biografia tem sido importante veículo de comunicação sobre uma época na medida que estabelece relações entre o indivíduo e a sociedade do qual faz parte. Nesse ponto, tanto a Literatura quanto a História têm produzido importantes contribuições biográficas.

Caminhos da biografia: entre o indivíduo e a sociedade
Para Avelar (2010, p. 159), o movimento dos Annales delimitou, através de uma perspectiva totalizante a escrita biográfica a partir de dois modelos: a biografia representativa e o estudo de casos. No primeiro modelo, o indivíduo não seria destacado por aquilo que teria de individual e autêntico, mas pela habilidade de representar outras vidas e modos através da sua própria, “por servir de passagem para a apreensão de marcos mais amplos”. No segundo modelo, a biografia dá ênfase às trajetórias individuais sem deixar de analisar as estruturas e as conjunturas. O indivíduo reflete a moral e os costumes de uma época. Observa-se que nos dois modelos biográficos indivíduo e sociedade são partes que compõem o social. Apesar da ênfase sobre cada abordagem, não se exime a importância do ser e da sociedade como elementos sobrepostos na construção da narrativa biográfica informada pela historiografia dos Annales.

Conforme observou Carlos Antonio Aguirre Rojas (2003, p. 10), oscilando nas análises que evidenciam o indivíduo, o contexto de sua época e o meio no qual se relaciona com outros indivíduos “o gênero biográfico sofreu, bem como a história e a historiografia em seu conjunto, os impactos das grandes viradas históricas”. E essas viradas tiveram êxito significativo no que diz respeito ao lugar do indivíduo na sociedade e dos aspectos sociais nas trajetórias individuais, principalmente a partir do desenvolvimento da noção de indivíduo que tomou forma no período moderno. É, portanto, nesse sentido que devemos considerar a análise das conjunturas como aspecto fundamental para a escrita de um trabalho biográfico. É também por conta da individualização do ser, sem esquecer-se da perspectiva totalizante – aspecto evidenciado nos modos de pensar a história na perspectiva da Escola do Annales – que o modelo biográfico como proposta de narrativa histórica deve ser reconhecido como um dos modos estratégicos de escrita da Nova História.

No entanto, a narrativa biográfica histórica não está isenta de fragilidades e, por isso, críticas epistemológicas são lançadas em sua direção. Para Avelar (2010, p. 161), “o campo da escrita biográfica é certamente um palco privilegiado de experimentação para o historiador, que pode avaliar o caráter ambivalente da epistemologia do seu ofício, inevitavelmente tenso entre seu polo científico e seu polo ficcional”. Para Aguirre Rojas (2003, p. 8), a complexidade desse modelo de escrita é uma realidade desde o seu surgimento “nos tempos remotos da antiga Grécia, quando a biografia é concebida como algo essencialmente diferente da história”. Entende ainda que, fundamentalmente, o problema básico e geral não só desse modelo de escrita, mas de toda concepção histórica possível, ainda seria a “complexa relação entre o indivíduo e a sociedade”.

Para ampliar o alcance das metodologias de análise e aproximar a narrativa da veracidade histórica é preciso saber localizar o indivíduo e detectar a sua relação com a sociedade em que vive, pois há, na escrita biográfica, o perigo levar o leitor a crer que o indivíduo destacado representa, genericamente, os modos de pensar, perceber e agir na sociedade. Assim, quando não se tem o cuidado de esclarecer a complexidade do meio e da relação do indivíduo com este, a biografia pode acabar fomentando a ideia de que aspectos generalizantes podem refletir costumes e representações sociais de uma época. Além disso, não se pode considerar a sociedade sem fazer conexões entre as ações individuais e coletivas nela existentes. enfim, se faz necessário identificar particularidades sem negligenciar dimensões generalizantes que podem esvaziar a narrativa biográfica.

O cuidado com a escrita biográfica, no que diz respeito a não enfatizar o individual em detrimento do meio e vice-versa, serve para evitar que a ênfase na parcialidade seja tomada como regra. Nesses termos, o indivíduo deve ser tomado como um caminho para se chegar ao todo e as estruturas e conjunturas como ferramentas para a compreensão dos acontecimentos e das ações humanas. O indivíduo deve ser percebido através de sua agência, mas também através de sua passividade frente a forças maiores e acontecimentos significativos de sua época. Aqui também se deve estar atento às mudanças ocorridas paralelamente às trajetórias individuais e, a partir disso, perceber as mudanças na trajetória do indivíduo. Conforme observou Aguirre Rojas (2003, p. 8):

“[...] assumir como historiador o tema da biografia de determinado personagem é aproximar-se da reconstrução global dessa complexa tensão que, na dialética progressiva/regressiva das diversas “escolhas” do personagem histórico, desdobradas dentro do particular “campo dos possíveis” estabelecido por sua época e seu meio, terminam por definir a singularidade das condições e o itinerário do “projeto” desse mesmo personagem, mas igualmente o impacto real e as consequências concretas desse mesmo projeto sobre o referido contexto de época e do meio correspondente”.

Considerações pontuais
Conforme observado, a construção de uma narrativa biográfica que forneça um rigor científico e uma aproximação com o fato histórico requer uma busca incessante pela compreensão do todo. Mas é preciso considerar que não há solução clara quanto aos problemas da narrativa, seja ela historiográfica ou literária, biográfica ou não. Cabe ao historiador-pesquisador aliar suas reflexões sobre o objeto às fontes que lhe permitam fundamentar suas hipóteses, evitando sempre que possível incorrer em generalizações e/ou simplificações. Enfim, os indícios nos permitem considerar que, apesar da alcunha de abordagem tradicional, o modelo biográfico, considerando novas perspectivas de análise, pode se constituir em importante ferramenta de produção historiográfica na medida em que privilegia a relação estabelecida entre os indivíduos e as sociedades da qual fazem parte.

Referências
Fernando Roque Fernandes é Professor de História Regional do Brasil pela Universidade Federal de Rondônia (UNIR) e doutorando do Programa de Pós-graduação em História Social da Amazônia pela Universidade Federal do Pará (UFPA).
Lattes: http://lattes.cnpq.br/1923237260647754.

ABREU, Marcia Azevedo. As memórias do outro – debate do texto “O passado no presente. Ficção, história e memória”. In CASTRO ROCHA, João Cezar de (Org.). Roger Chartier – a força das representações: história e ficção. Chapecó, SC; Argos, 2011.
BLOCH, Marc Leopold Benjamin. Os reis taumaturgos: o caráter sobrenatural do poder régio, França e Inglaterra. Companhia das Letras, 1993.
AGUIRRE ROJAS, Carlos Antonio. Braudel, o mundo e o Brasil. Tradução de Sandra Trabucco Valenzuela - São Paulo: Cortez, 2003.
AVELAR, Alexandre de Sá. A biografia como escrita da História: possibilidades, limites, tensões. Dimensões. Revista de História da Ufes. Dossiê: Formas da História, sentidos da historiografia. Nº 24; 2010, p. 157-172. Disponível em: http://periodicos.ufes.br/dimensoes/issue/view/221.
BRAUDEL, Fernand. Reflexões sobre a História. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
DUBY, Georges. Guilherme Marechal ou o melhor cavaleiro do mundo. Rio de Janeiro: Graal, 1987.
FEBVRE, Lucien. Marinho Lutero: um destino. São Paulo: Três Estrelas, 2012.
LE GOFF, Jacques. São Luís. Biografia. Rio de Janeiro: Record, 1999.
MALERBA, Jurandir (Org.). A história escrita: teoria e história da historiografia. São Paulo; Contexto, 2006.
MISIAK, Eliane. O retorno do indivíduo como objeto da história: reflexões à luz da teoria semiótica. História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, v. 5, n. 9, p. 57-71, 23 jun. 2012. Disponível em:
https://www.historiadahistoriografia.com.br/revista/article/view/403; Acesso em: 27 mar. 2020.

19 comentários:

  1. Prezado autor,
    Talvez você tenha discutido essa minha dúvida no texto, mas eu não consegui assimilar bem. Em que se perde uma biografia que é feita muito anos após a morte do indivíduo a ser biografado, no sentido em que o autor não viveu a época e não teve o esforço de fazer um levantamento histórico do determinado contexto, ou mesmo não teve essa percepção? Quais elementos de rigor acadêmico que não estejam presentes nessas biografia podem empobrecer e descredibilizar tal escrita como uma fonte confiável e mais próximo de uma verdade, que possa ser usada como fonte histórica?
    Teria um descredito nessa fonte, na perspectiva de autores que não são historiadores, caiam em vícios que são abominados pela história, como criar uma narrativa que favoreça a pessoa ilustre a ser biografada, na medida que o autor possa deixar de lado os atos falhos desse individuo, e privilegiar apenas grandes feitos dele, tal como também privilegiar uma narrativa que só destaque as elites da qual faziam parte e não se discuta a como era o cotidiano dos menos favorecidos? Como desviar dessas narrativas sem rigor historiográfico?
    Lucas Pereira de Moraes

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    1. Caro Lucas Pereira, saudações cordiais!
      Primeiramente, agradeço pela leitura desta breve contribuição. Em seguida, agradeço pelos questionamentos levantados.
      Nesse sentido, tentarei responder por partes...

      1. A primeira questão que devemos levar em consideração, no que diz respeito ao texto apresentado, é que mais do que privilegiar os elementos relacionados à biografia feita sobre um determinado sujeito, devemos verificar como certas biografias podem trazer à tona informações que dizem muito mais respeito à sociedade e o momento em que o sujeito biografado viveu do que propriamente a trajetória individual do sujeito. Nesse sentido, é importante considerar que apesar da biografia ser um método de narrativa historiográfica que toma o indivíduo como protagonista, seu uso se diferencia a depender da perspectiva historiográfica que a produz. Por exemplo, se a historiografia tida como "Tradicional" propõe um modelo de narrativa biográfica que privilegia sujeitos considerados excepcionais capazes de modificar os rumos da sociedade em que vive ou viveu, a narrativa biográfica apropriada pelas novas abordagens historiográficas, mesmo entendendo determinado sujeito como elemento importante, está mais preocupada em refletir sobre a sociedade em que o sujeito está inserido, ou seja, as abordagens desenvolvidas pela Nova História, especialmente francesa e italiana, parte do sujeito para a compreensão da sociedade, entendendo-o como parte dela. Já para as abordagens tradicionais, as narrativas onde sujeitos são os protagonistas privilegia as ações individuais em detrimento das estruturas sociais, políticas, econômicas e culturais das quais é dependente;

      2. Quando falamos das perdas e fragilidades no processo de biografar determinado sujeito partícipe de outro espaço temporal, a situação é muito semelhante ao que pode ocorrer com uma situação em que se biográfica um sujeito contemporâneo ao historiador. Sempre haverá perdas! Nesse sentido, acredito que o ponto importante aqui é a habilidade e cuidado que deve ter o historiador em basear a biografia a ser desenvolvida nas fontes acessíveis. Esse é o elemento importante de uma abordagem historiográfica: ela sempre deverá se basear em fontes. E isso ocorre, justamente, porque independente do sujeito ou recorte temporal, sempre haverá perdas. Já no que diz respeito à situação em que o historiador não viveu ou vive no mesmo recorte espacial do biografado é preciso ter mais atenção ainda para não cair em armadilhas anacronistas. Ou seja, entender o contexto social do biografado tomando como base o contexto social daquele que produz a biografia;

      3. No que diz respeito à credibilidade da biografia, a única saída para se evitar o empobrecimento da narrativa é se basear, sempre, nas fontes acessíveis. Pois, toda afirmação que não está baseada em fonte é passível de crítica e representa fragilidades na análise. As fontes devem fundamentar a narrativa. Enfim, mesmo baseada em métodos, conceitos e dados, considero que toda verdade científica é parcial. Nesse sentido, o máximo que qualquer estudo historiográfico pode alcançar é uma espécie de verossimilhança com o objeto pesquisado;

      4. Sobre a questão de autores que não são historiadores, não há muito a ser dito: Independente de ser historiador ou não, é preciso se utilizar dos métodos de pesquisa historiográfica, caso contrário, a narrativa não é historiográfica;

      5. Enfim, existem vários tipos de biografia. Elas podem se forte abraço!

      Fernando Roque Fernandes
      Universidade Federal de Rondônia (UNIR).undamentar numa perspectiva tradicional ou não. Elas podem ser encomendadas. Podem ser parcializadas. Podem ser desenvolvidas com o intuito de privilegiar ou desmerecer o sujeito biografado. Dessa forma, antes de fomentar qualquer julgamento sobre uma biografia se faz necessário problematizá-la com base nos critérios historiográficos.

      Espero ter respondido minimamente suas indagações.

      Forte abraço!

      Fernando Roque Fernandes
      Universidade Federal de Rondônia (UNIR).

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    2. Caro Lucas, houve um erro de digitação no final da mensagem. Nesse sentido, a partir do item 5, leia da seguinte forma:

      5. Enfim, existem vários tipos de biografia. Elas podem se fundamentar numa perspectiva tradicional ou não. Elas podem ser encomendadas. Podem ser parcializadas. Podem ser desenvolvidas com o intuito de privilegiar ou desmerecer o sujeito biografado. Dessa forma, antes de fomentar qualquer julgamento sobre uma biografia se faz necessário problematizá-la com base nos critérios historiográficos, verificando os elementos de sua produção.

      Espero ter respondido minimamente suas indagações.

      Forte abraço!

      Fernando Roque Fernandes
      Universidade Federal de Rondônia (UNIR)

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  2. O que o pesquisador deve ter em mente antes de fazer uso de uma biografia como fonte histórica? Quais principais elementos que obrigatoriamente o pesquisador-historiador deve analisar para que uma biografia possa ser considerada de caráter científico que sirva como uma fonte histórica para se entender uma determinada conjuntura, análise e aproximar a narrativa da veracidade histórica? Qual o método para evitar erros que possam por em descrédito a fonte biográfica?
    Lucas Pereira de Moraes

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    1. Caro Lucas Pereira, agradeço mais uma vez pela contribuição! Dessa forma, seguem algumas reflexões:

      1. Uma das coisas que considero muito interessantes no âmbito da historiografia é o processo de aperfeiçoamento do pesquisa que, à medida em que vai se familiarizando com as metodologias de análise, desenvolve a habilidade de identificar quando uma determinada bibliografia pode ser utilizada como parâmetro para fundamentar suas afirmações e quando ela pode ser utilizada como uma fonte histórica. Nesse sentido, considero que toda bibliografia, inclusive as biografias, podem ser utilizadas como parâmetro e/ou como fonte. O segredo dessa reflexão é o processo de problematização que envolve as metodologias de análise historiográfica. Nesse sentido, acredito que antes de se utilizar de uma determinada biografia como fonte histórica, o pesquisador deve ter clareza sobre os objetivos da pesquisa que está desenvolvendo;

      2. Obrigatoriamente, o pesquisador historiador deve ter clareza onde quer chegar e os limites que estabelece para se manter focado no alcance dos objetivos propostos inicialmente ou aperfeiçoados ao longo da pesquisa. Nesse sentido, independente de qualquer questão referente ao cientificismo ou não de uma biografia devemos ter coerência no alinhamento entre a questão proposta e os objetivos a serem alcançados com a biografia;

      3. É importante termos em mente que, independente do fato de uma biografia ser considerada tradicional, não há fundamento para desconsiderá-la como historiográfica. A diferença que separa uma abordagem tradicional e aquela baseada na tradição dos Analles são os métodos utilizados para o desenvolvimento destas narrativas e os objetivos segundo os quais elas foram criadas. Ou seja, quem considera as abordagens tradicionais ultrapassadas são aqueles que defendem novas abordagens. mas isto não significa que por ser tradicional ela seja não-histórica. Sei que sua questão não enveredou por este caminho, mas é importante que tenhamos clareza sobre esta questão tão negligenciada em nosso cotidiano acadêmico;

      4. Na escrita da História quanto maior for a quantidade e tipos de fontes com as quais estabelecermos relações para fundamentar nossas narrativas, menos será a possibilidade de afirmarmos coisas sem saber do que estamos falando. Ou seja, o segredo da veracidade histórica está na interrelação que estabelecemos com o maior número de fontes sobre determinada questão

      Mais uma vez, agradeço pele leitura atenta deste texto e pelas considerações apresentadas.

      Forte abraço!

      Fernando Roque Fernandes
      Universidade Federal de Rondônia (UNIR)

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  3. Olá Fernando, em relação a biografia no contexto historiográfico penso que a obra sobre a trajetória de alguém poderá omitir fatos assim como as fontes oficiais, uma vez que, se é escrito sobre sua vida aquilo que lhe convém? O que você acha?
    Lidiane Álvares Mendes

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    1. Cara Lidiane Álvares, saudações cordiais!

      Agradeço pela contribuição. Seguem algumas reflexões sobre a questão colocada:

      1. Concordo absolutamente com você. Alias, para além da biografia, considero que qualquer abordagem desenvolvida historiograficamente tem suas lacunas e não consegue dar conta da apresentação de todos os fatos ocorridos.

      2. Precisamos, enquanto historiadores, ter clareza de que mesmo as abordagens historiográficas, desenvolvidas com base na utilização de fontes, metodologias de levantamento e análise, utilização de conceitos teóricos e o estabelecimento de diálogos com outras ciências não é suficiente para representar o fato tal qual ele ocorreu.

      3. Quando você menciona sobre a conveniência de quem é biografado, se refere a apenas uma das abordagens biográficas. Especificamente àquela que é desenvolvida com interesses particulares e pode acabar, na maioria dos casos, favorecendo o biografado mesmo quando suas decisões e práticas não se refletem na narrativa desenvolvida sobre ele. Para além desta, existem outras formas de biografia que, em alguma medida, apesar de biografar o indivíduo, detém a intenção de evidenciar o tempo em que viveu este indivíduo. Também existem outras abordagens biográficas que desenvolvem uma narrativa sobre determinado sujeito com a intenção de denegrir sua imagem. Nesse sentido, acredito que antes de mais nada, se faz necessário analisar as biografias a partir dos elementos que informa suas produções. Somente após essas análises é que parece razoável verificar se os elementos que as constituem refletem uma abordagem que privilegia o sujeito, a sociedade e mesmo àquele que a propõe.

      Espero ter respondido minimamente às suas indagações...

      Forte abraço!

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    2. Fernando Roque Fernandes
      Universidade Federal de Rondônia (UNIR)

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  4. Ótimo trabalho, bem didático e objetivo.
    Minha questão está relacionada ao uso de outras fontes que possam dialogar com o modelo biográfico, considerando a Nova História como ocorre esse dialógo,por exemplo, com o Jornal e a fotográfia?

    Girlane Santos da Silva

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    1. Cara Gislane Santos, saudações cordiais...
      Agradeço pela cordialidade!

      Sobre sua questão, fico feliz que tenhas tocado no assunto das possibilidades documentais. Pois, durante muito tempo e ainda hoje, especialmente nas abordagens tidas como tradicionais, existem determinadas preferências em relação às entrevistas com os biografados, assim como com seus parentes e/ou descendentes. Também se privilegia testamentos, cartas, registros cartoriais e estórias locais de coragem, bravura e imponência, assim como monumentos públicos levantados nas praças como fontes potenciais de "heroicização" do biografado. Além disso, há uma profunda preocupação em evitar informações que ponham em xeque a "pureza" presente na trajetória de vida da personagem central da narrativa e/ou de sua família.

      Nesse sentido, ao ampliar o leque de possibilidades documentais, as narrativas desenvolvidas sob a roupagem de Nova História evidenciam elementos insuspeitos sobre a vida do biografado. Para ficarmos nos exemplos mencionados por você, a utilização de jornais e periódicos como fontes evidencia representações que informam a tentativa de manipulação da opinião pública representada pelos editoriais jornalísticos, assim como traz a tona a necessidade de informações demandadas pela sociedade sobre determinados sujeitos. Ou seja, ao incluir os periódicos no rol de fontes de informação, o historiador enriquece sua narrativa e possibilita a ampliação de nossas percepções sobre o biografado. Também no caso das fotografias relacionadas ao biografado, estas possibilitam compreensões sobre o contexto em que viveu e informa sobre procedimentos de análises que acionam representações que informa o período em que o biografado viveu. Obviamente, quem está mais antenado nas metodologias de utilização destas fontes poderá apresentar elementos muito mais enriquecedores sobre o que mencionei aqui...

      Espero ter sido minimamente aceitável nestas considerações...

      Forte abraço e saúde à família!

      Fernando Roque Fernandes
      Universidade Federal de Rondônia (UNIR)

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  6. Parabéns! Ótimo texto, de escrita clara e objetiva, muito didático e introdutório para quem está começando a pesquisar sobre o assunto.

    Uma coisa que me chamou muita atenção ao longo do texto foi a relação biografia x literatura, e o fato das pessoas optarem pela leitura de textos literários para conhecer um determinado personagem. Diferente de um literato, o historiador é preso a metodologias e regras tendo a finalidade de aproximar-se da verossimilidade histórica. A escola positivista teve fortes críticas relativas ao modo de se escrever história, sendo que esta deve estar fortemente pautada nas fontes e alinhada rigorosamente ao método científico. Neste caso, a história é ciência, as fontes são a reprodução do que ocorreu no passado, e a história que não obedece as regras, a "história envolvente", é considerada literatura.
    Hoje em dia, vários historiadores recorrem à recursos literários para escrever e enriquecer a história. Em sua opinião, até que ponto convêm ao historiador apropiar-se destes recursos? qual o resultado prático disto na produção acadêmica?
    Eu acho fantástico o historiador explorar as possibilidades e criar narrativas dentro de sua produção acadêmica, sendo esta também uma forma de atrair outros tipos de leitores e tornar a história mais envolvente, com um texto mais fluído, e creio que isso não traga "prejuízos" ao texto, mas sim, acaba o tornando mais rico, ao apresentar diversos quadros do que poderia ter acontecido em um determinado período/classe/local/sociedade/conjuntura.


    Att, Nycole Schmitt Andrade.

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    1. Cara Nycole Schmitt, ola!

      Agradeço pelos elogios e participação...

      Gostaria de pontuar algumas questões que apresentas:

      1. Metodologias e Regras, assim como fontes passíveis de análises historiográficas não nos aprisionam. Na verdade, elas nos permitem ser, enquanto historiadores, um tipo de cientista com conhecimento específico, baseados em procedimentos de análise que privilegiam as ações dos seres humanos no tempo.

      2. A verossimilhança histórica não deve ser entendida como uma fragilidade das narrativas historiográficas. Muito ao contrário, ela deve ser o reflexo do reconhecimento e da consciência que temos, enquanto historiadores, de que o conhecimento científico tem suas limitações epistemológicas.

      3. Hoje, vivemos um momento de intensos conflitos epistemológicos. As críticas sobre o papel da História vem de todos os lados. Além, existe um embate interno entre as abordagens tradicionais (muito mais estáticas, por sinal. Com características metodológicas criadas até o século XIX) e as abordagens desenvolvidas a partir da primeira metade do século XX, na França, e familiarizados no Brasil a partir dos anos 1960, as quais tem se fragmentado desde então e provocado rachas dentro da própria historiografia.

      4. História é História e Literatura é Literatura. Existe uma crítica literária importante sobre a historiografia. Ela desempenhou um papel basilar no renascimento da historiografia desenvolvida a partir dos anos 1990.

      5. Todo produto da ação humana é fonte histórica. Se a Literatura é um produto humano...

      6. A narrativa, tanto histórica quanto literária é um paradigma criado pela linguística. Nesse sentido, assim como os historiadores se apropriam do modelo narrativo literário, os literatos só teriam a ganhar com o modelo narrativo historiográfico. Além disso, independente do modelo narrativo, é preciso ter conhecimento do público para o qual a pesquisa desenvolvida se direciona, pois é ela que informa qual o melhor modelo narrativo a ser utilizado.

      Espero ter alcançado suas expectativas. Fico feliz, pois refleti mais sobre a temática... Forte abraço.

      Fernando Roque Fernandes
      Universidade Federal de Rondônia (UNIR)

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  7. Caríssimo Fernando Fernandes, parabéns pelo texto objetivo e sucinto, traz reflexões muito inquietantes sobre a historiografia e também sobre a biografia…

    Gostei muito da sua colocação junto aos autores em que se referencia, os quais dialogam que o indivíduo de forma alguma está dissociado da sociedade e que isso fortalece a questão das trajetórias individuais para a Nova História, porque traz uma perspectiva de dentro pra fora, analisa o micro para analisar o macro.
    Desse modo, gostaria de saber se esse tipo de análise também pode ser feita ao estudar História na Educação Básica ou por ser algo complexo, até mesmo para historiadores e literatos dialogarem, não seria uma metodologia viável para esse nível de educação?

    Grata!

    Beatriz da Silva Mello

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    1. Olá, meu amor!

      Fico feliz que tenhas gostado do enredo...

      Sobre a questão, penso que seja por esse caminho mesmo. Uma abordagem biográfica que privilegia as perspectivas apresentadas por aquilo que temos denominado de Nova História se fundamenta em referenciais sociológicos do final do século XIX e iníco do século XX. Especialmente naquilo que diz respeito às relações que envolvem o indivíduo e a sociedade.

      Em relação às perspectivas de micro-análise, você aponta outro ponto interessante ao evidenciar que as novas abordagens biográficas problematizadas pela historiografia de tradição francesa, ao privilegiar determinadas questões mais específicas, acabam por se utilizar das influencias italianas, como no caso das reflexões apresentadas por Giovanni Levi sobre biografia e micro-história.

      Enfim, no que se refere à dimensão educacional, se faz sempre necessário dialogar com outras áreas científicas, como no caso da pedagogia, psicologia e psicopedagogia, de modo que estas possam auxliar na identificação da melhor abordagem para trabalhar a temática da biografia com determinados níveis de desenvolvimentos etários e/ou cognitivos...

      Espero ter contribuído de algum modo...

      Beijos...

      Fernando Roque Fernandes
      Universidade Federal de Rondônia (UNIR)

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  8. Fernando, Tudo bacana?
    Primeiro, parabenizo-o pelo belo artigo. E apresento um comentário e uma questão:
    1. Vejo como eficaz tecer um "esboço biográfico" a partir da produção literária de um escritor, por exemplo. Assim, partindo do tempo do enunciado de seus romances, novelas, contos, poemas, depois, relacionando com o tempo histórico da publicação dos mesmos, entretecendo tais temporalidades. Esse é um caminho árduo. porém, válido.
    2. Como o teu artigo propõe uma discussão teórica eu tomo a liberdade de te fazer uma provocação, através das palavras de um autor que você não menciona do texto, porém, é fundamental, penso, para se pensar os limites de toda e qualquer narrativa biográfica:“[...], tratar a vida como uma história, isto é, como o relato coerente de uma sequência de acontecimento com significados e direção, talvez seja conformar-se com uma ilusão teórica, uma representação comum da existência [...]? ponho assim a interrogação no final dessa afirmação de Pierre Bourdieu (2016, p. 10), retirada do artigo "A ilusão Biográfica", na perspectiva de verificar qual é o teu posicionamento, claro, se você quiser.
    Abraço fraterno

    Arcângelo da Silva Ferreira

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    1. Meu querido Professor e amigo Dom Arcângelo Ferreira, saudações cordiais!

      Fico feliz com sua presenta nesta página, obrigado!

      Sobre suas indagações, seguimos:

      1. Agradeço, especialmente, pelas considerações sobre a literatura como forma de representação do real, assim como os usos da literatura enquanto fonte histórica!

      2. Fantástico! Ousaria dizer que não apenas a biografia, mas toda forma de manifestação historiográfica tem um "quê" de inconsistências que jamais serão fundamentadas. Dito de outro modo, no caleidoscópio das representações historiográficas, jamais poderíamos, ainda que na eternidade, preencher as lacunas de possibilidades de acontecimentos que permeiam o fato acontecido e pretensamente imaginado...

      3. Ousaria dizer que o intitulado "Esboço de uma auto-análise" é, sem sombra de dúvidas o elemento pós-contemporâneo que informa uma ínfima possibilidade possível de apreensão da trajetória de determinados sujeitos que têm se constituído em metodologia de análise que privilegia a História das Ideais e, por isso mesmo, informa uma metodologia capaz de diminuir as possibilidades de desvios de análises. Ou seja, a produção de uma espécie de "biografia intelectual" de determinado sujeito pode sim, ser tomado como caminho possível para se evitar possíveis desvios de metodologia de análise científica.

      Enfim, meu querido Professor, acredito que nossa experiência naquelas reflexões sobre a Questão Biográfica tenha despertado em nós aquilo que poderíamos denominar como "campo de possibilidades"!

      Forte abraço!

      Fernando Roque Fernandes
      Universidade Federal de Rondônia (UNIR).

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  9. Prezado Fernando, parabéns pelo texto! Claro, didático e extremamente reflexivo a respeito do, ainda, polêmico “retorno” da biografia como objeto de produção acadêmica. Vou guardar esse artigo para ler mais vezes, pois tenho especial interesse no debate sobre os procedimentos metodológicos aplicados no estudo de trajetórias individuais.

    Embora seja bastante criticado no mundo acadêmico, o modelo biográfico tradicional, que privilegia o estudo sobre indivíduos ilustres, geralmente integrantes do campo político formal, em uma narrativa que destaca os aspectos psicologizantes, as curiosidades e a “jornada do herói”, do biografado – conforme explanado no seu texto –, ainda é bastante consumido pelo “público” (entre aspas, pois sabemos que os leitores são uma minoria se comparados com a totalidade da população brasileira) mais geral, isto é, não-acadêmico. Assim, a inclinação dos historiadores das últimas gerações dos Annales, e, mais recentemente, daqueles que se agruparam ao redor do que se convencionou chamar de Micro-História, em tornar a escrita historiográfica mais próxima de um artefato literário não seria parte de um projeto para, além de renovar epistemologicamente a História enquanto disciplina, também, popularizar a produção científica para além do campo acadêmico, utilizando para tanto um gênero literário popular, como a biografia?

    Vitor Luiz Soares Figueiredo

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    1. Caro Vitor Luiz Soares Figueiredo, saudações!

      Agradeço pelos elogios e fico honrado com seu interesse sobre o tema...

      No que diz respeito à sua questão respondo: Absolutamente!

      Penso de Peter Burke, o qual tem pesquisado nos últimos anos sobre a História da Leitura, poderia ser uma melhor indicação para ampliar reflexões sobre a indagação que você apresenta.

      No entanto, pelo que temos acessado, realmente, o Movimento dos Annales, percebeu que teria se desenvolvido, nas primeiras décadas do século XX francês, uma espécie de cultura letrada citadina. Parece que uma das estratégias criadas por este grupo foi a produção de modelos narrativos historiográficos que pudesses dialogar melhor com as linguagens e anseios dos leitores. Nesse sentido, o uso de narrativas biográficas, na França daquele período, parece ter sido uma estratégia editorial criada para alcançar a maior quantidade de leitores informais possíveis. Para tanto, se fazia necessário criar elementos que possibilitassem um melhor diálogo entre a realidade vivida e a narrativa contada em obras vendidas em bancas de jornais, por exemplo.

      Emfim, não acredito que haja impedimento para a apropriação do modelo narrativo literário pela História. Mesmo porque os modelos narrativos são elementos da Linguística. Ou seja, tanto o modelo narrativo historiográfico quando o modelos narrativo literário são produtos da Linguísticas.

      De todo modo, sou plenamente à favor da utilização de elementos literários na produção do enredo narrativo historiográfico...

      Espero ter conseguido, de algum modo, contribuir com a problematização feita... Abraço!

      Fernando Roque Fernandes
      Universidade Federal de Rondônia (UNIR).

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