Maria Beatriz de Almeida Mello e Marisa Noda


O ESTÁGIO SUPERVISIONADO COMO MOMENTO DE REFLEXÃO


O presente texto busca apresentar um relato acerca das experiências vividas durante o estágio supervisionado do curso de História da Universidade Estadual do Norte do Paraná [UENP], desenvolvido durante o ano de 2018. A vivência aqui descrita foi realizada com turmas do Ensino Fundamental II em dois momentos, em instituições distintas. Algumas questões apresentam-se como norteadoras das reflexões deste texto: qual a importância da realização do estágio na graduação? Quais suas contribuições para a formação do futuro professor? Quais as dificuldades enfrentadas?
                                        
O estágio obrigatório do curso de História da UENP possui dois anos de duração, sendo obrigatório o cumprimento de 200 horas no terceiro e quarto ano da graduação, respectivamente. A distribuição da carga horária pode ser dividida em diferentes atividades, como por exemplo: observação da sala de aula e do contexto escolar e participação das atividades pedagógicas, orientadas pelo professor da turma, planejamento e direção de aulas, execução de projetos de ensino. É proposto pela supervisora de estágio que seja realizada ao menos duas regências [uma por semestre] nas escolas, e em turmas diferentes. Anteriormente ao desenvolvimento destas aulas nas escolas, o conteúdo é apresentado a ela, que avalia e fornece sugestões.

Assim sendo, as experiências aqui relatadas foram realizadas durante o 3º ano da graduação, no ano de 2018, em dois lugares diferentes, sendo eles a Escola Estadual Imaculada Conceição Ensino Fundamental e o Colégio Estadual Rui Barbosa Ensino Fundamental, Médio e Profissional, situados no município de Jacarezinho, no estado do Paraná.

A oportunidade de observar e atuar em estabelecimentos de ensino distintos constituiu uma experiência enriquecedora, no sentido de constatar as divergências e confluências de ambas as entidades, que apesar de estarem apenas duas quadras de distância uma da outra, possuem suas próprias características e particularidades.

Refletindo sobre o estágio

Existe um entendimento do senso comum ao se pensar no estágio dos cursos de licenciatura como um momento de “colocar em prática o que foi aprendido na teoria”, indicando uma separação entre ambas.  Além disso, existe outra dicotomia apontada por Márcia Elisa Teté Ramos e Marlene Rosa Cainelli [2014], as autoras identificam alguns pontos chave que separam o ensino [enquanto prática docente] e pesquisa. Assim sendo, há uma visão hegemônica existente na área de formação de professores de história, em que o professor é visto como aquele que domina os métodos de ensino, os planejamentos de aula, as formas de avaliação e sabe selecionar os conteúdos, não sabendo, entretanto, como funciona o processo de produção do conhecimento científico [Cainelli; Ramos, 2014].

Diante de tais paradigmas, de que forma o estágio supervisionado pode contribuir para que o professor em formação protagonize a produção do conhecimento histórico, tenha uma graduação mais completa, que o prepare para o cotidiano escolar?

As autoras apontam para uma saída no sentido de que o estágio deve ser compreendido como uma maneira de aproximar o graduando do dia a dia no qual atuará, constituindo um momento de reflexão em que a realidade deve ser lida a partir das teorias apreendidas [Pimenta; Lima, 2004]. Segundo Pimenta e Lima [2004], o estágio:

“ao contrário do que se propugnava, não é a atividade prática, mas teórica, instrumentalizadora da prática docente, entendida esta como atividade de transformação da realidade” [Pimenta; Lima, 2004, p. 45].

As autoras direcionam para a necessidade de realizar o estágio de maneira orgânica à pesquisa, em que o graduando deve assumir uma postura investigativa acerca da realidade que a escola está inserida. O trabalho docente se caracteriza como coletivo:

“uma vez que o ensino não é um assunto individual do professor, pois a tarefa escolar é resultado das ações coletivas dos professores e das práticas institucionais, situadas em contextos sociais, históricos e culturais” [Pimenta; Lima, 2004, p. 56].

Partindo da premissa de que o estágio deve ser realizado como pesquisa, este texto faz parte deste movimento de repensar a prática realizada durante o estágio. Tem alguns pontos de partida, como o cotidiano escolar, as particularidades e dificuldades que permeiam a prática docente; as características próprias dos alunos e das escolas, que devem ser analisadas segundo o contexto histórico, social e cultural em que estão inseridos.

Uma experiência a partir de duas perspectivas

O estágio no primeiro semestre foi realizado no Colégio Estadual Imaculada Conceição – Ensino Fundamental, no município de Jacarezinho [PR]. Teve seu início no mês de março de 2018, com algumas observações em campo e também com a leitura do Projeto Político Pedagógico da escola, uma ferramenta que oferece muitos aspectos sobre a entidade de ensino. Consta no Projeto que o Colégio foi fundado em 1930, pelas Irmãs Filhas da Caridade de São Vicente de Paula da Província do Rio de Janeiro. Caracteriza-se por ser um colégio tradicional da cidade, tendo como diretora uma freira, pertencente à irmandade fundadora. Está localizado no centro de Jacarezinho e a comunidade escolar atendida mora nos bairros próximos. Os pais dos alunos que frequentam a instituição são, em sua maioria, trabalhadores do comércio, do setor de prestação de serviços, profissionais liberais e funcionários públicos, que possuem uma renda de 1 até 3 salários mínimos [Paraná, 2012].

Quanto a metodologia utilizada nas aulas de História observadas, a professora costumava seguir os temas do livro didático em seu programa de ensino. O livro utilizado era o Projeto Araribá, da editora Moderna. Entretanto, ela buscava ir além levando para a sala de aula textos diferentes, os quais passava na lousa para que os estudantes pudessem copiar. Na maioria das vezes, as perguntas também eram elaboradas por ela, que pedia que os alunos respondessem em uma folha própria ou no caderno. Era frequente a utilização de vídeos disponíveis na internet como recurso didático, os quais eram transmitidos através das televisões presentes em cada sala.

Foram observadas duas turmas de 7º ano e uma de 8º ano, cada uma com 35 alunos. As turmas variavam entre elas, possuindo características próprias que as distinguiam. Apresentavam comportamentos típicos de indisciplina em sala de aula, variando os graus entre as turmas. Enquanto uma era mais participativa, outra era menos. Dentre as causas para a indisciplina ou indiferença, a professora identificava problemas familiares enfrentados pelos alunos ou casos de laudos médicos atestando algum tipo de deficiência cognitiva ou hiperatividade. Esses mesmos alunos muitas vezes estavam cursando a mesma série pela segunda vez.

A questão da indisciplina era um desafio enfrentado pela professora em todas as aulas. Por conta do comportamento e desinteresse dos alunos, por  fatores já apontados anteriormente, muitas vezes era difícil ministrar as aulas. Um desabafo recorrente por parte da professora era que tinha que cumprir diferentes papéis como de psicóloga, assistente social e até mesmo mãe. Claramente ela não exercia estas funções por não estar apta e autorizada, mas era uma forma de dizer que os alunos levam muitas questões para dentro da sala de aula que estão para além da alçada de “apenas” ensinar História.

Apesar disso, algumas turmas eram participativas e possuíam um comportamento relativamente calmo. Realizavam as atividades propostas, interagiam com as aulas através de questionamentos sobre os temas estudados e respondiam a eventuais perguntas.

Uma característica comum em todas as turmas era o hábito de perguntar à professora em que página do livro estava a resposta das questões que estavam resolvendo, para que desse modo eles pudessem copiar. Esta, por sua vez, solicitava e estimulava que as respostas fossem elaboradas com suas próprias palavras, o que era visto com muita resistência pelos alunos. O medo de errar, e até mesmo a apatia de pensarem sobre o assunto parecia ser maior.

A regência nesta escola foi realizada com a turma de 9º ano, e o tema trabalhado foi indicado pela professora, sendo ele Cultura e Semana de Arte Moderna de 1922 na Primeira República. Estava presente no livro didático utilizado e não interrompeu o planejamento anual da professora. Buscou-se trabalhar o conceito de cultura em seus diferentes aspectos durante o período delimitado. Um dos objetivos foi apresentar a cultura popular e a erudita, e de que modo elas podem ser percebidas na sociedade brasileira daquele momento, empenhando-se para construir uma ligação com a realidade atual. Ao estimular o debate entre os alunos, eles chegaram a uma reflexão sobre o gênero musical funk. Alguns alegaram que o funk não poderia ser classificado como cultura, enquanto outros rebateram. Após desenvolver um pouco melhor o conceito de cultura, demonstrando que não pode ser considerada como superior a outra, foi retomada a discussão, fazendo os alunos refletirem novamente sobre o assunto sob uma nova perspectiva.

Os outros objetivos da aula buscaram apresentar aos alunos o que foi a Semana de Arte Moderna, bem como suas propostas e principais envolvidos. Além disso, abordou-se o início do desenvolvimento do samba tal qual o conhecemos atualmente, e por fim, falou-se sobre os romances-folhetim mais conhecidos do período e da literatura de cordel. Ao final, foi solicitado que os alunos respondessem a algumas questões sobre o que havia sido discutido na aula, de forma escrita e individual.

Durante a realização da atividade, eles solicitaram constantemente a ajuda da estagiária. Em algumas respostas, foi possível perceber que houve alguns casos de cópia entre os colegas, mas, num geral, a adesão foi boa. A atividade foi utilizada pela professora para atribuir parte da nota trimestral aos estudantes.

Após a realização desta regência, a estagiária passou a integrar o programa Residência Pedagógica [Subprojeto História/ UENP], fomentado pela CAPES, que desenvolve suas atividades em outra instituição da cidade, o Colégio Estadual Rui Barbosa Ensino Fundamental, Médio e Profissional. Por conta da dinâmica própria do programa, este segundo momento do estágio se deu de maneira diferente, possibilitando mais atuação direta dentro da sala de aula.

O Colégio Rui Barbosa se localiza a uma quadra de distância da Escola Imaculada Conceição, constituindo, portanto, uma outra importante instituição educativa da cidade. Também iniciou suas atividades na década de 1930, entretanto, como Escola Normal, voltada para a formação de professores primários.

Os alunos atendidos pela escola pertencem à classe média e baixa, e são provenientes do centro da cidade, dos bairros e vilas mais afastadas e também da zona rural. Diferentemente da Escola Imaculada Conceição, o Rui Barbosa oferece ensino no período noturno. Dessa forma, os discentes que frequentam a escola são predominantemente jovens que trabalham durante o dia e buscam completar o ensino médio ou então se qualificarem para o mercado de trabalho através dos cursos técnicos oferecidos pelo colégio – enfermagem, recursos humanos, administração, segurança do trabalho e agente comunitário da saúde [Paraná, 2018]. É um colégio que atende uma grande demanda de estudantes. Segundo o Projeto Político Pedagógico de 2018, a instituição possuía 166 funcionários, sendo 112 professores. 

Através das observações realizadas, foi possível constatar alguns aspectos sobre a cultura escolar da instituição. Os estudantes parecem se identificar com os espaços da escola, ocupando-os sempre que possível. Eles demonstram ter uma boa relação com os professores, baseadas no respeito. Aqueles que demandam maior atenção são de conhecimento de todos os professores, o que mostra uma ação conjunta de toda a equipe escolar frente as diferentes dificuldades do cotidiano escolar. De um modo geral, a direção da escola se coloca sempre disponível à comunidade escolar num todo, sempre atendendo alunos, funcionários, professores, estagiários e pais de alunos.

Foram observadas no total quatro turmas, sendo três de sexto ano e uma de sétimo. O professor realizava uma aula expositiva sobre o tema, escrevendo os tópicos mais importantes na lousa e depois utilizava o livro didático para realizar leituras conjuntas com a turma. Todas as atividades desenvolvidas eram do livro, que não podia ser levado para casa. As salas de 6º ano apresentavam um bom comportamento no geral. A que possuía o maior número de alunos repetentes e com laudo médico era a que apresentava maior dificuldade na aprendizagem, assim como observado no outro colégio.

A regência realizada neste colégio foi em uma turma de 6º ano, com o tema de China Antiga. Os objetivos da aula foram apresentar aos estudantes que os chineses desenvolveram umas das civilizações mais antigas do mundo; identificar que a muralha da China começou a ser construída na Antiguidade com o intuito de proteger o território chinês de ataques inimigos; compreender que a Rota da Seda possibilitou as relações comerciais e intercâmbios culturais entre chineses e diferentes povos do mundo antigo e perceber que muitas invenções dos antigos chineses ainda são utilizados no nosso cotidiano. No início da aula, foi lido para a turma um mito chinês que diz respeito a criação do mundo, mobilizando conhecimentos para compreensão do conceito de mito.

Buscou-se estimular a participação da turma nos debates em sala através de questionamentos. Foi possível perceber que os alunos possuíam maior dificuldade nos momentos que exigiam maior abstração por parte deles, devido à falta de conhecimento de alguns conceitos históricos como dinastia e império, e de noções geográficas e temporais.

Para além da regência, outras tarefas também foram desenvolvidas nas diferentes turmas de 6º ano neste colégio. Elas consistiam em apresentar brevemente as especificidades de temas estudados. Por exemplo, no caso de assuntos como Grécia e Roma Antiga, foram desenvolvidos exercícios sobre as condições de vida das mulheres daquele período, as artes, filosofia, esportes, lazer, etc. Na maioria das vezes, a principal ferramenta utilizada como suporte foi o livro didático, visto que as salas não possuíam televisões ou Datashow, por exemplo.

A estagiária se envolveu em outras ações fora da sala de aula, como participação no conselho de classe das turmas e observação nos dias de avaliação, bem como de suas correções.

Conclusão

A execução do estágio em duas instituições distintas possibilitou perceber algumas diferenças e semelhanças no cotidiano escolar. O fato principal é o processo educacional estar inserido em um contexto que é responsável por determinar algumas situações, e por isso, deve ser levado em consideração no momento de planejamento de diferentes ações. Importante salientar que estas apreensões específicas acerca do cotidiano escolar só são possíveis através do contato com a realidade da escola, realizada durante o estágio. Desse modo, ao compreender este aspecto, o estagiário fortalece sua formação.

Através da participação em diversas atividades da escola foi possível perceber o caráter coletivo da prática educativa, e que, portanto, ela deve ser desenvolvida de maneira integrada com toda comunidade escolar e pais de alunos.

A observação das aulas de dois professores diferentes demonstrou que cada um organiza sua aula de maneira própria, levando em consideração suas afinidades e condições oferecidas pela escola. Por exemplo, o maior uso de certos recursos, como vídeos ou livro didático. Isso indica que cada professor se apropria do conhecimento histórico de seu jeito, criando um saber próprio.

Essa questão também pôde ser percebida durante o processo de preparação das aulas por parte da estagiária, no momento que se faz necessário selecionar e recortar o que será estudado nas aulas.  Além disso, durante este processo, procurou-se considerar a cultura histórica dos alunos, ou seja, refletir sobre o que eles já poderiam conhecer sobre o assunto devido aos diferentes meios que veiculam o conhecimento histórico [filmes, programas de tv, livros, desenhos, museus, revistas].

Outro indício que confirma que algumas condições do contexto em que a escola está inserida determina situações escolares diz respeito ao fato de que o professor realiza sua aula de acordo com os recursos oferecidos pela instituição de ensino. No primeiro caso observado, a professora detinha a possibilidade de utilizar a TV, já que cada sala possuía uma. No segundo, a TV deveria ser transportada para a sala que necessitasse seu uso. Assim sendo, acabava-se optando por utilizar como ferramenta principal o livro didático, pois, seu acesso era o mais fácil [eles ficavam dentro das salas].

Entrar em contato com a realidade escolar de maneira conjunta com a disciplina de estágio supervisionado da graduação possibilita que a prática seja orientada pela teoria, formando um movimento dialético. O estagiário, ao assumir uma postura de pesquisador, consegue compreender este movimento.

Este movimento se traduz nas etapas de realização do estágio. Primeiro é realizada a observação da escola. Com base nela, é feito o planejamento das aulas e atividades a serem realizadas naquele espaço, em conjunto com a orientadora de estágio na IES e com os outros estagiários que estão na mesma etapa. Após, é executada as intervenções na escola. Por fim, é realizado um evento, denominado Seminário de Estágio Supervisionado em História da UENP, que tem como objetivo revisitar a prática de estágio e discuti-la em grupo. O evento é organizado para que todos os alunos que estiveram envolvidos com o estágio ou até mesmo com programas de incentivo a formação de professores, como PIBID e Residência Pedagógica, possam compartilhar suas experiências no ambiente escolar. Muitas vezes, os professores das escolas em que estes estagiários e bolsistas atuaram, também participam deste momento.

Dessa forma, o estágio é colocado como objeto de estudo, em que futuros professores, professores das escolas e da IES possam juntos discutir questões relacionadas a formação, ao ensino de história, e ao cotidiano da profissão docente.

A execução do estágio é feita como uma atividade teórica instrumentalizadora da prática docente, e assim, permite contestar a visão dicotômica entre teoria e prática, contribuindo para que seja formado um professor pesquisador, que tenha o cotidiano escolar como um objeto de constante pesquisa.

REFERÊNCIAS
Maria Beatriz de Almeida Mello é graduanda do curso de História da Universidade Estadual do Norte do Paraná. Texto realizado sob orientação da prof.ª Dr.ª Marisa Noda, adjunta do colegiado de História da Universidade Estadual do Norte do Paraná, onde exerce a função de coordenadora de Estágio Supervisionado.

CAINELLI, M. R.; RAMOS, M. E. T. A relação entre teoria e prática na formação de professores de História. História e Perspectivas, Uberlândia [50]: 227-260, jan./jun. 2014.

PARANÁ, Secretária do Estado da Educação do. Projeto Político Pedagógico: proposta pedagógica curricular – Escola Estadual Imaculada Conceição – EF, 2012.

PARANÁ, Secretária do Estado da Educação do. Projeto Político Pedagógico: proposta pedagógica curricular – Colégio Estadual Rui Barbosa, 2018.

PIMENTA, S. G.; LIMA, M. S. L. Estágio e Docência. São Paulo: Editora Cortez, 2004.

24 comentários:

  1. Oi Maria e Marisa, parabéns pelo texto e pela atenção à temática do estágio. Primeiro gostaria de enaltecer o parágrafo em que há a menção da dicotomia entre o professor pesquisador e professor reprodutor do conhecimento conforme as palavras de Cainelli e Ramos, discussão essa que acalora muitos diálogos entre os bacharéis e licenciados, que pude experimentar durante minha primeira graduação e a marginalização, nesse caso, dos que escolhem a licenciatura; esta lembrança desse embate foi bastante necessária. O texto se desenvolve com maestria e percebe-se que o estágio permitiu uma experiência enriquecedora ao ser realizado em duas escolas, cada qual com suas especificidades; vocês consideram, que o momento de efetivação do estágio pode ser uma oportunidade para perceber o abismo que há entre a teoria acadêmica e a prática escolar (muitas vezes os professores dessa disciplina projetam nos graduandos uma visão romântica do ensino nas escolas (escolas sem problemas, alunos disciplinados e interessados, abundância de materiais didáticos) e quando estes chegam para o estágio chocam-se com uma realidade bastante avessa a qual imaginavam encontrar (indisciplina, violência, tráfico, estrutura inadequada, superlotação das salas, falta de coleguismo))?
    Obrigada, Talita Seniuk.

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  2. Boa tarde, Talita. Muito obrigada pelas considerações.

    Em relação ao seu questionamento, entendemos que o momento do estágio é uma oportunidade para compreender o contexto escolar a partir do estudo das teorias abordadas no espaço acadêmico. Deste modo, o estágio supervisionado em História na UENP é realizado em etapas que possibilitem um movimento dialético entre teoria e prática.
    A realização do estágio e a escola se caracterizam como objeto de pesquisa dos estudantes em formação. Para que isso ocorra, num primeiro momento, são realizadas observações nas escolas, e posteriormente, as regências são planejadas sob orientação da supervisora de estágio, com base nos dados levantados na etapa de observação. Assim, no lugar de simplesmente “aplicar” teorias acadêmicas no espaço escolar, este é estudado pelos estagiários e as aulas são planejadas de acordo com as especificidades de cada escola e turma. Nesta perspectiva, a ideia de que a escola é um espaço em que o conhecimento aprendido e produzido na universidade deve ser simplesmente depositado nos alunos é superada. Cada intervenção no espaço escolar é pensada de maneira coletiva, levando em consideração o contexto de cada turma. Os resultados também são analisados, de um modo em que o movimento teoria-prática-teoria seja sempre atualizado, e o estágio se caracterize como uma atividade teórica instrumentalizadora da prática docente, como propõem Pimenta e Lima (2004).
    Além disso, a etapa de observação que é realizada no estágio supervisionado também permite que os alunos conheçam a realidade escolar de maneira concreta, sem idealismos. Coletando essas informações acerca da realidade escolar, através da observação, os professores de Prática de Ensino incentivam os estagiários a planejarem suas aulas levando em consideração todas essas questões encontradas no cotidiano escolar – indisciplina, estrutura inadequada, superlotação, dificuldade de aprendizagem, entre outros. Por isso, a observação é um critério fundamental para o planejamento da aula. Se durante a observação constata-se que a escola não possui estrutura para uma atividade envolvendo áudio visual, por exemplo, é estimulado que os estagiários encontrem outras possibilidades didáticas e metodológicas, preparando os futuros professores para as adversidades que serão encontradas no cotidiano profissional.
    Mais uma vez, agradecemos as contribuições e o questionamento.
    Maria Beatriz de Almeida Mello e Marisa Noda

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    1. Olá Maria e Marisa, obrigada pelas considerações!
      Espero ter contribuído com o debate e tenham certeza de que aprendi com as palavras de vocês ao perceber outra realidade acadêmica! =)

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  3. Em primeiro lugar gostaria de parabeniza-las pelo texto e pela escolha da temática. Gostaria de saber qual a opinião de vocês sobre a importância que programas como, a Residência Pedagógica e o Pibid exercem na formação dos futuros professores.
    Desde já agradeço.
    Maria Paula Costa

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    1. Maria Paula, obrigada pela contribuição.
      Aqui na UENP o PIBID e a Residência Pedagógica são programas que oportunizam uma maior aproximação dos cursos de licenciaturas com a rede de Ensino Básico, passamos a perceber melhor o cotidiano das escolas e isso levou a uma valorização do trabalho realizado nestas instituições. Outro ponto que nos chamou a atenção no curso de História foi o envolvimento dos bolsistas com o próprio curso, professores das outras áreas nos relataram como alguns alunos passaram a se interessar pelas aulas, o volume de leituras aumentou, notamos graduandos mais comprometidos como sua formação. As propostas desenvolvidas pelos docentes responsáveis pelos Programas também tiveram destaques, várias escolas se interessaram pelos projetos. A experiência dos alunos bolsistas contribuiu em geral para as aulas de Prática de Ensino e Estágio Supervisionado. Um ponto que ficamos atentos é para que não houvesse uma separação entre alunos bolsista e não bolsistas durante a realização do Estágio, para isto projetos de Estágio Supervisionados próximos aos projetos dos Programas foram desenvolvidos.
      Maria Beatriz de almeida Mello e Marisa Noda.

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    2. Obrigada pelo retorno e mais uma vez parabéns pelo trabalho.

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  4. Mariana Conceição19 de maio de 2020 às 10:36

    Olá, parabéns pelo texto! Como vocês observam as práticas de ensino de história nas escolas, a partir da experiência tida com o estágio? Visto que “A execução do estágio é feita como uma atividade teórica instrumentalizadora da prática docente”, vocês passaram por situações que de algum modo geraram incômodos ou reflexões acerca da realidade escolar quando postas em contraponto às teorias estudadas/ideais? Caso sim, como lidaram?
    Mariana Silva da Conceição

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    1. Oi Mariana, agradecemos a questão.
      As escolas em que o Estágio Supervisionado da UENP são realizadas trazem disparidades e díspares também são os professores que recebem estagiários, alguns têm práticas próximas aos projetos de estágio supervisionados que propomos, com o uso das fontes diversas para a aprendizagem da História, em outros, o livro didático é protagonista, alguns trabalham com a aula expositiva como principal ferramenta pedagógica.
      Já experienciamos situações de contraponto com as propostas teóricas que estávamos evidenciando, quando acontecido a discussão como alunos ou professores foi realizada, nem sempre as partes se entendem, mas entendemos que o conflito esclarece, para os alunos do ensino básico é importante na medida em que percebem que há formas diferentes de interpretar o mundo.

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    2. Oi Mariana, agradecemos a questão.
      As escolas em que o Estágio Supervisionado da UENP são realizadas trazem disparidades e díspares também são os professores que recebem estagiários, alguns têm práticas próximas aos projetos de estágio supervisionados que propomos, com o uso das fontes diversas para a aprendizagem da História, em outros, o livro didático é protagonista, alguns trabalham com a aula expositiva como principal ferramenta pedagógica.
      Já experienciamos situações de contraponto com as propostas teóricas que estávamos evidenciando, quando acontecido a discussão como alunos ou professores foi realizada, nem sempre as partes se entendem, mas entendemos que o conflito esclarece, para os alunos do ensino básico é importante na medida em que percebem que há formas diferentes de interpretar o mundo.
      Maria Beatriz de Almeida Mello e Marisa Noda

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  5. Bom dia! Extremamente relevante abrir espaços de discussões para esse momento tão caro da vida dos discentes: o estágio supervisionado. É um momento de inquietações, porém também de muitas descobertas. Assim, parabenizo. No texto vocês colocam a necessidade de considerar a cultura do aluno. Gostaria de saber mais sobre quais os instrumentos utilizaram nesse processo de aproximação e identificação dessa cultura. Houve uma centralidade dessa cultura histórica dos alunos no processo de planejamento e execução das aulas? obrigada

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    1. Olá Sandra, agradecemos as considerações.
      Quanto a sua questão, as informações referente a cultura escolar dos alunos eram coletadas através das observações realizadas durante o estágio supervisionado. Durante as observações, os estagiários são incentivados a tomarem notas sobre o comportamento dos alunos, o modo como eles interagem com os professores, os colegas e o próprio espaço escolar, percebendo o conteúdo dos diálogos. Além disso, os estagiários também fazem um esforço de compreender as características da comunidade escolar como um todo, através da leitura do Plano Político Pedagógico da escola, conversando com os professores, alunos e funcionários da instituição. No momento de planejamento da aula que será realizada na escola todas essas informações são levadas em consideração.
      Maria Beatriz de Almeida Mello e Marisa Noda

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    2. Obrigada pelo retorno. Acredito que existe uma potência de aprendizagens significativas durante as observações

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  6. Bom dia, Maria Beatriz de Almeida Mello e Marisa Noda. Excelente texto. Parabéns. Embora tenha percebido em alguns momentos no texto, gostaria de perguntar a vocês o seguinte: 1) Qual é a carga horária da regência do estágio realizado?; 2) Quais foram os desafios que a estagiária enfrentou em sala de aula na lida com os alunos?; e, 3) E diante desses desafios, quais foram as estratégias adotadas?

    Por: Raimundo Nonato Santos de Sousa

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    1. Boa tarde, Raimundo. Agradecemos as questões.
      1) Qual é a carga horária da regência do estágio realizado?; 2) Quais foram os desafios que a estagiária enfrentou em sala de aula na lida com os alunos?; e, 3) E diante desses desafios, quais foram as estratégias adotadas?

      A carga horária do estágio supervisionado em História na UENP é 200 horas em cada um dos dois ultimos anos finais do curso. Pelo menos 50% dessa carga horária deve ser realizada através de atividades que envolvem observação, participação e direção de aulas. O restante é desenvolvido na Instituição de Ensino Superior, através de orientações da surpervisora de estágio.
      Os desafios enfrentados durante o estágio são diversos: falta de estrutura das escolas, indisciplina e dificuldade de aprendizagem dos alunos, falta de experiência e prática para desenvolver a aula. Entretanto, entede-se que o estágio é o momento para que essas experiências ocorram, para que diante delas, num movimento de repensar a prática, os estagiários possam refletir sobre o que poderiam melhorar ou fazer diferente, conhecendo desse modo os desafios da carreira docente.
      Maria Beatriz de Almeida Mello e Marisa Noda

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  7. Olá Maria e Mariza.
    Parabéns pela discussão apresentada aqui, o estágio supervisionado é algo que assusta, digo isso porque antes do inicio da pandemia eu e minha turma do polo UAB de Jaguaribe, estávamos em incio de estágio. a partir de tudo lhe pergunto como uma estagiaria consegue enfrentar os desáfios em sala de aula? Qual o caminho a seguir?

    Maria Evilene de Aquino......

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  8. Boa tarde, Maria Evilene. Agradecemos a questão.
    O momento do estágio pode ser um dos mais enriquecedores durante o curso de licenciatura. É quando os estagiários, em conjunto com o supervisor de estágio e professor da rede, podem pensar sobre o espaço escolar, experimentando abordagens diferentes nas aulas e na prática docente. Um bom caminho a ser seguido é pensá-lo e discuti-lo de maneira coletiva, expondo as dificuldades e buscando soluções juntos.
    Maria Beatriz de Almeida Mello e Marisa Noda

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  9. Inicialmente, meus parabéns pelas ótimas considerações feitas no texto.
    Muitas vezes a realidade de um estágio é bem diferente da que perpassava na cabeça do graduando. No qual, neste momento de participação ativa do estagiário como um pesquisador no cotidiano escolar, se fazem presentes alguns percalços. Por exemplo, os que foram destacados no texto, tal como​ a indisciplina por parte de alguns alunos, ademais, a ausência de recursos didáticos os quais poderiam contribuir para que as aulas se tornassem mais diversificadas, dentre outros.
    Portanto, tendo em vista uma instituição que dispõe poucos recursos didáticos, quais métodos e recursos (além dos livros) podem ser utilizados para tentar tornar as aulas mais dinâmicas e atrativas para que assim seja possível haver a participação ativa e contribuição dos alunos no processo de ensino-aprendizagem?
    Grata,
    Eugênia de Jesus Sá.

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    1. Agradecemos a questão, Eugênia.
      Essa é uma questão que constantemente trabalhamos no desenvolvimento do estágio. Uma das estratégias adotadas era planejar aulas que tivessem significado para o aluno, fazendo o possível para aproximar o conhecimento histórico das questões atuais que são pertinentes à vida e à realidade dos estudantes. Para isso, buscávamos iniciar a aula partindo dos conhecimentos prévios dos alunos, estimulando que os mesmos participassem das aulas fazendo suas contribuições e expondo suas percepções sobre o assunto.
      Outra estratégia adotada era o trabalho com fontes históricas. A aula que tem como objetivo a análise da fonte junto com os alunos pode ser mais interativa, pois, requer a participação dos educandos para seu pleno desenvolvimento. Quando não havia estrutura para projetar um texto, imagem ou vídeo em sala de aula, outras maneiras eram adotadas. Levar o material impresso, o notebook de algum estagiário ou até mesmo em cartazes e cartolinas eram saídas encontradas.
      Maria Beatriz de Almeida Mello e Marisa Noda.

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  10. Boa noite Maria e Mariza. Excelente texto!
    Como voces percebem a atuação do estagiário de história lhe dando com essas limitações que são apresentadas pela escola,em questão de recursos, quando o mesmo quer traçar um projeto que exige materiais e uma boa estrutura disponível? e aqui mais uma curiosidade do que uma pergunta; voces encontraram alguma resistência por parte do corpo docente em desenvolver algum projeto ou qualquer intervenção que seja?
    grata.
    ass: Ranna Kete Neri Carvalho

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    1. Obrigada pela questão, Ranna.
      A etapa de observação, realizada durante o estágio supervisionado, é fundamental para lidar com questões referentes às limitações apresentadas pela escola, em relação aos recursos. Qualquer projeto que fosse planejado pelos estagiários, professores e supervisores de estágio, só era desenvolvido levando em consideração as condições existentes nas escolas. É justamente na etapa de observação que estas informações são levantadas.
      Já ocorreu de haver resistências por parte do corpo docente com o desenvolvimento de alguma aula, mas, essa é uma situação mais rara. Nas escolas onde a universidade está localizada, principalmente, o estágio era desenvolvido sem maiores problemas e dificuldades por já haver um trabalho de parceria entre as instituições há algum tempo. Isso demonstra como o estágio pode ser uma ferramenta de aproximação e fortalecimento dos laços entre a universidade e a rede básica.
      Maria Beatriz de Almeida Mello e Marisa Noda.

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  11. Ótimo texto, parabéns!
    O estágio supervisionado, o mais esperado é temido entre os discentes.
    Sabemos que a realidade em sala de aula é completamente diferente das aulas teóricas. As dificuldades existem e estão aí no cotidianos de muitos professores.
    Gostaria de saber quais foram os desafios e em destaque o mais preocupante que o estagiário se depara quando inserido em sala de aula e qual sua posição diante das dificuldades enfrentadas?

    Tatiana da Silva Benigno

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  12. Obrigada pela questão, Tatiana.
    Os estagiários enfrentam muitos desafios quando inseridos na sala de aula. Acredito que o que o medo compartilhado pela maioria dos estagiários é a falta de experiência, que pode se expressar não sabendo todo o conteúdo a ser ministrado ou ter que lidar com alguma situação em sala de aula que fuja do seu alcance ou controle. Entretanto, entendemos que o estágio se caracteriza por ser um momento em que o graduando possa se permitir errar, para poder repensar sua prática e adquirir um pouco de experiência e conhecimento sobre a realidade que o espera quando se tornar professor.
    Maria Beatriz de Almeida Mello e Marisa Noda

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