O CONCEITO DE
IDENTIDADE EM JÖRN RÜSEN E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA AS PESQUISAS SOBRE A
FORMAÇÃO DOCENTE EM HISTÓRIA NA PERSPECTIVA DA DIDÁTICA DA HISTÓRIA
O presente texto tem por objetivo apresentar o
conceito de Identidade proposto pelo historiador alemão Jörn Rüsen e apontar as
suas contribuições para o desenvolvimento de pesquisas que abordam a formação
docente em História. É importante salientar que parte das discussões
apresentadas a seguir constam em nossa tese de doutorado intitulado “Identidade
e Consciência histórica: um estudo com professores de História que atuam na
Educação de Jovens e Adultos em Guarapuava, PR” defendida junto ao Programa de
Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Mato Grosso [UFMT] em
2019.
A investigação sobre a formação docente em História
perpassa o aspecto da identidade que é dinâmica, composta por questões sociais,
políticas, econômicas e culturais, por conflitos, contradições, lutas de
classe, dentre outras, que exercem influência sobre a vida cotidiana do
professor, inclusive em sua prática em sala de aula. O ser humano é incompleto,
vive em constante formação e transformação. No que tange à identidade docente,
entende-se que ela não é apenas uma etapa, mas sim, um processo contínuo ao
longo da vida, muito além do âmbito universitário. [Zamboni, 2001; Cerezer,
2007]
A construção da identidade possui uma estreita
ligação com a sociedade, o lugar, o espaço vivido. A identidade não é única,
mas sim mutável. Acontece no terreno do intersubjetivo e se caracteriza como um
processo de interpretação de si mesmo, enquanto indivíduo, em um determinado
contexto social. Silva Junior enfatiza que,
“[...] à medida que sujeito interage com o seu “eu”
e a sociedade, vai sofrendo influências de outras pessoas, valores, símbolos e
outras identidades que esse ambiente lhe oferece, modificando a sua própria
identidade”. [Silva Junior, 2012, p.191].
Desse modo, concebemos que a
identidade – pessoal e profissional – é um processo de construção efetivado
pelo próprio indivíduo ao longo de sua existência na sociedade. Todavia,
algumas questões são relevantes: de que forma ocorre o processo de formação da
identidade? Quais são os elementos que estão imbricados na constituição da
identidade do ser humano? Qual é a importância da alteridade? Como se constitui
a identidade dos professores de História?
Identidade e Didática da História
Existem múltiplas formas de abordar essas questões
e o próprio conceito de identidade não é homogêneo no campo das ciências
humanas e sociais, e configura-se numa temática complexa. Para responder as
indagações elencadas anteriormente, buscaremos, a partir de agora, uma
ancoragem, primeiramente, nas elaborações teóricas de Jörn Rüsen, cujo conceito
de identidade tem sido uma de suas preocupações conceituais. No livro
intitulado Teoria da História: Uma Teoria
da História como Ciência, Rüsen dedica uma parte específica para o tema da
identidade e elabora uma crítica às concepções que colocam a identidade,
exclusivamente, na subjetividade e, também, aquelas concepções que reduzem os
sujeitos a meros reflexos do coletivo.
A concepção de identidade para Rüsen está
articulada, de modo indissociável, ao pensamento histórico e à narrativa. Nos
processos mentais em que o sujeito obtém a certeza de si, para além de todas as
mudanças temporais de sua vida, não há como responder à pergunta “quem sou eu”,
sem contar uma história sobre a própria vida. A identidade pessoal está conexa
com a consciência de assumir conscientemente a própria biografia, de vivê-la e
de poder contá-la. Esse processo mental, no qual o ser humano constitui a
relação a si mesmo, é denominado de subjetividade. Nessa direção, o autor aponta que
“O sujeito humano relaciona-se sempre com algo fora
de si [em termos psicológicos, chamado usualmente de “objeto”]. Isso pode
ocorrer de diversas formas. Uma forma de relacionamento pode consistir em identificar-se
com algo que não se é, apropriando-se dele. Com essa apropriação [em termos
psicológicos chamada também de “introjeção”], o eu ganha perfil, forja suas
características individuais. [...] A subjetividade humana forma-se em uma
miríade de diferentes identificações, com intensidade diversa e alto grau de
variação. Ela se constitui, por assim dizer, em inúmeras identificações pelo
mundo afora” [Rüsen, 2015, p.261].
A grande questão apontada
por Rüsen é que os seres humanos, embora possuam inúmeros tipos de
identificações, criem diferentes identidades ao longo do tempo, nas sociedades,
ele não está apenas a mercê destes reflexos. É nesta direção que Gertrud
Nunner-Winkler [2011] corrobora o posicionamento de Rüsen afirmando que as
teses pós-modernas sobre a identidade estão sofrendo críticas, isto porque elas apresentam os indivíduos
como sendo aqueles que necessitam de orientação, ação e relacionamentos (porém
que nunca as encontram), ou mesmo como alguém muito doente, esquizofrênico com
múltiplas perturbações de personalidade devido às muitas identidades
possíveis.
Para Nunner-Winkler [2011],
é primordial que haja um sentimento de unidade, não apenas para o bem-estar
psíquico do indivíduo, mas também para a manutenção de sua saúde. Desse modo, a
solução para a constituição da identidade pessoal encontra-se na competência narrativa pela qual o
indivíduo atribui sentido e significado à sua vivência por meio do ato
narrativo, biográfico, autorrelato. Trata-se de uma unidade coerente, porém
continuamente revisada a partir da contingência vivenciada, unindo diferentes,
heterogêneos, dentro de uma figura uníssona.
Rüsen desenvolveu a noção de identidade histórica [o “eu” no fluxo do tempo] para
abordar a formação dos seres humanos. A identidade histórica é o suprassumo de
uma diversidade de identificações articulada coerentemente em perspectiva
temporal. Ela integra acontecimentos, pessoas e fatos do passado na relação de
um sujeito pessoal ou social para consigo mesmo. O critério dessa coerência é uma
concepção do tempo que viabilize a consciência e a vida do eu humano em sua
extensão temporal. Na perspectiva do autor, o que produz a síntese entre o
presente de um sujeito com seus respectivos projetos de futuro é a narração de histórias.
Rüsen [2015] ressalta que as narrativas históricas
da formação de identidade produzem uma expansão temporal do horizonte do ser
humano. Contudo, a formação histórica da identidade está imbuída das relações
de poder e representa, para o horizonte cultural da vida humana, um foco
constante de inquietações. Nas palavras
do autor
“A identidade não surge assim, do nada. Ela requer
esforços ingentes, de modo a poder ser vivida e ser eficiente no relacionamento
[individual] de cada pessoa e de cada sociedade, assim como na relação [social]
de uma sociedade a outra. É nela que se ancoram as relações previamente
presentes na vida, a serem interpretadas na profundeza da subjetividade humana
mesma. Nesse “aprofundamento”, tais relações carregam consigo seu potencial de
conflito e lidam com ele na formação do eu humano”. [ Rüsen, 2015, p.261]
Nessa perspectiva, compreendemos que o
entrelaçamento de aspectos individuais e coletivos, no processo de constituição
da identidade, ocorre mediante um discurso coerente que o indivíduo faz a
respeito de si mesmo, no tempo e no espaço. O sujeito, ao narrar a sua vida,
inventa-se e institui o seu pertencimento no mundo. Pela narrativa, o sujeito
procura manter uma personalidade coerente de sua vida, mas também uma
continuidade experiencial, uma vez que cria continuidade nas diferentes fases
de sua vida.
Geyso Germinari [2011], ao refletir sobre as
questões da identidade, inclusive essa proposta de Rüsen, afirma que é possível
considerar a identidade como o lugar onde o indivíduo se forja pela narrativa.
Cria-se um sentimento de continuidade no tempo e um sentimento de coerência
interna, que permite o indivíduo interpretar a si mesmo narrativamente, como
sendo um indivíduo singular, porém imbuído e influenciado por elementos sociais
e culturais e, acrescente-se aqui, pelo outro.
Os seres humanos criam as suas próprias identidades
por meio do exercício narrativo de identificar a sua vida, a si mesmo, no fluxo
do tempo. Todavia, a experiência do tempo é sempre uma experiência de perda
iminente da identidade, cuja experiência mais radical é a morte. A capacidade
dos seres humanos de agir depende da aptidão de fazerem valer a si próprios, a
sua subjetividade, nas relações com os outros, como permanentes, ao longo do
tempo. Rüsen [2001] enfatiza que é necessário que o indivíduo interprete o
tempo e as suas mudanças, a fim de continuar seguro de si e não se perder no
fluxo temporal.
É interessante pontuar que os estudos sobre
identidade, proposta por Rüsen, inserem-se no âmbito das discussões sobre a
Didática da História e que tendem a contribuir para elucidar os processos
formativos identitários de professores e estudantes.
A
Didática da História tem sido considerada como um novo paradigma no que diz
respeito ao ensino de História. Klaus
Bergmann [1990], com seu texto História
na Reflexão Didática, é considerado o primeiro autor a apresentar, no
Brasil, uma definição sobre Didática da História, não como um campo vinculado à
Pedagogia, mas como uma disciplina que investiga o caráter efetivo, possível e
necessário dos processos de ensino e aprendizagem da História. Além disso,
existe uma preocupação com a formação, o conteúdo e os efeitos da consciência
histórica na sociedade.
Conforme
Bergmann, a Didática da História direciona o seu olhar para todas as formas
imagináveis de História na sociedade, isto é, aquela vivida e experimentada no
cotidiano, as formas transmitidas cientificamente ou não e a História
apresentada necessariamente pela ciência histórica, com suas problemáticas,
teorias, métodos e resultados.
O ponto de partida e a
extensão da Didática da História são os processos de aprendizado necessários
para a vida prática, isto é, onde as experiências do passado são internalizadas
como orientação da vida prática. Desse modo, o passado é elevado à consciência
e transformado em modo interpretativo para o tempo presente [Bonete, Freitas,
2015].
Rüsen [2012] aponta que, com
essa expansão da área de competência do ensino de História para a análise de
todas as formas e funções da consciência histórica, a Didática da História
desenvolveu um autoentendimento com o qual ela se apresenta com métodos e
funções próprias. Isso, por sua vez, ocorre devido à função de orientação que o
conhecimento histórico exerce na vida prática humana.
Bodo Von Borries [2016]
corrobora as afirmações de Rüsen destacando que a História corresponde a um
modo distinto de pensamento que fornece ferramentas para a compreensão do mundo
a partir da decodificação de fenômenos e orientações no presente e no futuro.
Além disso, pelo estudo da História é possível examinar, [des] construir
versões históricas já apresentadas como verdades. Neste caso, a Didática da
História pode contribuir com as suas análises e investigações para controlar
essa função.
Rüsen [2012] destaca que mediante a consciência
histórica, é possível trazer o lado subjetivo dos professores e identificar os
processos de individualização e de socialização que implicam diretamente na
formação de suas identidades, por meio de diferentes experiências históricas e
de uma apropriação significativa da História.
A identidade histórica na prática
Nesse momento apresentamos brevemente alguns
resultados de nossa tese de doutorado que dialogou com o conceito de identidade
histórica proposta por Rüsen. O estudo teve por objetivo analisar o processo de
formação da identidade e consciência histórica de 5 [cinco] professores de
História que atuavam na EJA, nas cidades de Guarapuava, Pitanga e Londrina, no
estado do Paraná. É importante pontuar que, nesse processo, a História Oral nos
forneceu referencias metodológicos que nos permitiram registrar as vozes dos
professores e pudemos, assim, captar detalhes sobre as suas trajetórias
acadêmicas, as suas opções e as suas escolhas quanto ao curso de História e a
carreira profissional, as suas primeiras experiências no magistério, o ingresso
na EJA, as dificuldades e os desafios de se trabalhar nessa modalidade.
Cada um dos professores nos relatou histórias de
superação, de angústias provenientes de um tempo de incertezas políticas e
instabilidades financeiras. Todos os professores precisaram conciliar os
estudos com o trabalho. Todos, também, não haviam planejado ingressar na
carreira do magistério. Desse modo, constatamos que foram as demandas da vida
cotidiana que os encaminharam para a docência e foi na prática diária que
desenvolveram o gosto pelo magistério e construíram a sua identidade docente.
No último capítulo do estudo, abordamos os
significados do ensino de História na formação da identidade e consciência
histórica docente. Inicialmente buscamos perceber como os professores concebiam
a importância da História para a vida prática e a importância do ensino de
História para a vida dos alunos jovens e adultos, e obtivemos diferentes
narrativas. De maneira geral, os professores pontuaram que a História é um
fator que propicia a compreensão do ser humano como sujeito histórico e
produtor de cultura. Além disso, através da História é possível desenvolver uma
compreensão acerca das noções de cidadania, política e de cultura e que todo o
conhecimento histórico produzido pode auxiliar na ampliação da visão de mundo.
A análise das narrativas nos levou a constatar que,
ao professor, não basta apenas realizar um planejamento pedagógico [engessado],
adentrar a sala de aula e desenvolver o ensino de História tal como é feito com
crianças ou adolescentes do Ensino Fundamental e Médio. Ser professor de
História na EJA é um processo que exige uma tomada de consciência acerca da
organização dessa modalidade e das particularidades que envolvem os alunos
jovens e adultos. Na relação com a cultura escolar o professor tem a
oportunidade de conhecer um pouco da realidade e as vivências dos alunos,
entender quais são os saberes históricos que eles possuem e identificar os
sentidos que eles atribuem ao conhecimento histórico.
Em outro determinado momento do estudo, procuramos
analisar a presença de temas como religião e política no ensino de História e
como os professores lidavam com esses assuntos em sala de aula. Os professores
foram unânimes em indicar que esses são temas fundamentais para o entendimento
da história das diferentes sociedades, constituídas ao longo do tempo. No que
tange ao aspecto religioso, os professores indicaram que a história deve servir
como um apoio para entender a religião, em perspectiva histórica, e apontar as
suas contradições e as mudança ao longo do tempo.
A religião é um elemento muito presente no
cotidiano dos alunos jovens e adultos e todos carregam opiniões e valores
baseados no cristianismo. Os professores indicaram a necessidade de se
desenvolver, em sala de aula, uma relação de respeito às crenças sem que haja
imposições de verdades absolutas. O grande desafio é construir, junto aos
alunos, um diálogo em que todos percebam que a religião é uma forma de fé, mas também
é uma, dentre as muitas, formas de se entender o mundo.
O aspecto político foi indicado com um tema
polêmico e muito presente no ensino de História. Dos 5 [cinco] professores, 3
[três] conceberam que toda prática docente é um ato político, ou seja, que toda
seleção de conteúdos e a maneira como o professor empreende o ensino, são
influenciadas pelo seu posicionamento político [mas não partidário]. No geral,
todos os professores indicaram que a política é um tema que requer inúmeros
cuidados metodológicos, sendo que o ideal é não levantar uma bandeira
ideológica ou partidária em sala de aula. Em suma, tal como na religião, o
trabalho com temas políticos requer cuidados metodológicos para não afastar os
alunos do diálogo, mas sim construir reflexões políticas de maneira crítica.
A análise das narrativas nos levou a constatar que,
ao professor, não basta apenas realizar um planejamento pedagógico [engessado,
adentrar a sala de aula e desenvolver o ensino de História tal como é feito com
crianças ou adolescentes do Ensino Fundamental e Médio. Ser professor de
História na EJA é um processo que exige uma tomada de consciência acerca da
organização dessa modalidade e das particularidades que envolvem os alunos
jovens e adultos. Na relação com a cultura escolar o professor tem a
oportunidade de conhecer um pouco da realidade e as vivências dos alunos,
entender quais são os saberes históricos que eles possuem e identificar os
sentidos que eles atribuem ao conhecimento histórico.
Em suma, um dos resultados dessa investigação
mostrou-nos que a construção da identidade docente não é algo restrito a um
determinado tempo ou espaço. Cada momento e experiência vivida pelos docentes
produzem marcas que eles carregam em suas trajetórias de vida e, isso, exerce
um impacto na constituição da identidade individual. Nesse sentido,
compreendemos que ninguém nasce professor ou torna-se professor de um dia para
o outro
Considerações finais
Ao longo deste texto procuramos delimitar o
conceito de identidade histórica proposto por Rüsen e apontar as suas possíveis
contribuições para o desenvolvimento de pesquisas que envolvem a formação da
identidade histórica docente. É importante pontuar que este conceito também é
válido para pensar a formação da identidade de alunos, ou seja, como eles se
relacionam com o conhecimento histórico e criam identificações com diferentes
aspectos da cultura histórica da sociedade.
Desse modo pautamos o debate a partir do campo do
ensino de História e da Didática da História afim de contribuir para o
fortalecimento desse campo de investigação no Brasil. Além disso, destacamos
que o conceito de identidade não é homogêneo e se faz necessário demarcar quais
postulados teóricos o pesquisador irá utilizar e dialogar.
Em suma, com a apresentação de alguns dados
empíricos de nossa tese de doutorado, afirmamos que ser professor não é uma
atividade simples, mas sim dotada de um caráter dinâmico, como prática social.
Como afirma Pimenta [1999], é na leitura crítica da profissão, diante das
realidades sociais, que se pode buscar os referenciais para modificá-la.
Referências
Wilian Junior Bonete é Doutor pelo Programa de
Pós-Graduação em História [PPGHIS] da Universidade Federal de Mato Grosso
[UFMT]. Atualmente é Prof. Adjunto da Faculdade Guairacá e Faculdade
Guarapuava, na cidade de Guarapuava, PR.
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Caro professor Wilian Junior Bonete,
ResponderExcluirInicialmente, gostaria de parabeniza-lo pelo artigo. Sem dúvidas, ele nos possibilita compreender um aspecto bastante interessante do pensamento rüseniano, favorecendo aos estudos acerca da construção da identidade docente e, também, da identidade discente.
A leitura do seu trabalho logo me remeteu ao pensamento de Stuart Hall. Portanto, minha questão recai sobre o conceito de identidade em Rüsen. Em seus estudos, você efetuou algum tipo de comparação entre o conceito de identidade em Rüsen com outros teóricos, a exemplo do Hall? Caso tenha realizado, quais seriam as aproximações ou os distanciamentos com o pensamento de Rüsen?
Atenciosamente,
Aaron Sena Cerqueira Reis.
Olá Aaron, tudo bem? Agradeço pela sua leitura e pela sua questão e apontamento pertinentes. Na minha tese eu realmente fiz esse comparativo entre o pensamento de Rüsen, de Hall e outros pressupostos da chamada pós-modernidade.
ResponderExcluirEm termos de aproximações, ambos concordam que a identidade do ser humano é uma construção, que ela não é uma identidade fixa ou imutável. Ela é dinâmica no contexto da sociedade. Em termos de distanciamento, eu percebi que para o Stuart Hall o sujeito (na pós-modernidade) perde a autonomia no processo construtivo de sua identidade e fica refém dos reflexos e imposições da sociedade e do tempo sobre sua subjetividade. (o que caracterizaria um mosaico de identidades).
Rüsen, que defende a importância da História como um fator de intervenção na formação da consciência histórica, compreende que o sujeito, embora possua um conjunto de identificações, ele possui relativa autonomia no processo de construção da sua identidade, podendo refutar ou aderir os elementos de identificações. Essa autonomia é proporcionada em muito pela consciência histórica, pelo pensamento histórico e pela capacidade do indivíduo de localizar-se temporalmente e pelo ato narrativo de sua biografia/história.
Quando estava elaborando o quadro teórico da minha tese ficou claro que é muito tentador querer aproximar estes dois autores e que o posicionamento de Hall parece sempre se encaixar nas análises identitárias de nosso tempo. Porém, meu argumento é que eles dialogam até certo ponto, mas devido as suas tradições e formações, eles não podem ser entendidos como autores que falam a mesma língua e a mesma coisa. É necessário sempre fazer a opção, e eu optei pela epistemologia da história para compreender a identidade.
Obrigado pela análise, professor.
ExcluirDe fato, é muito tentador fazer este tipo de aproximação teórica. Mas, concordo plenamente com suas observações.
Um forte abraço,
Aaron.
Olá Wilian, gostei do seu texto, brother. Simpatizo com o tema, como já deve saber. Minha dúvida é a seguinte: como se comporta a identidade docente, a partir de seu entendimento da teoria ruseniana, diante de um cenário turbulento como o atual, de ataques organizados aos professores, de ressignificação do cotidiano escolar a partir do isolamento e das novas funções atribuídas? Abraço e obrigado pelas suas palavras e conhecimento ;)
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ExcluirOlá Wilian! Achei muito pertinente seu questionamento.
ExcluirComo tentei deixar claro no texto, a identidade para Rüsen não é fixa ou imutável, ela está sempre em processo de construção e reconstrução, um processo dinâmico. Entretanto, Rüsen não nega que a identidade do sujeito esteja em contante ameaça (e isso é fato diante das diferentes causas que você mesmo elencou),e a identidade docente também passa pelo mesmo processo. Eu entendo, a partir da teoria de Rüsen, que as mudanças são imperativas, mas é preciso que o professor não deixe de enxergar e interpretar as mudanças que estão ocorrendo, não apenas aceite imposições mas que seja um questionador dessa realidade. As Representações de continuidade consistem justamente na forma de absorver as demandas do nosso tempo e de ressignifica-las em função do professor que eu preciso ser.
Se pensarmos pela teoria ruseniana, o professor, mediante a consciência histórica e as interpretações do tempo, desenvolve autonomia no processo da construção da sua identidade, referendando ou refutando tais imposições.
Espero ter contribuído para o questionamento.
Obrigado pelas considerações, grande Abraço.
Oi Wilian! Passando para parabenizar pelo seu valioso texto! Um grande abraço!
ResponderExcluirObrigado Márcia! Grande abraço!!
ExcluirMárcia Teté
ResponderExcluirMuito interessante o texto e a proposta estabelecida. Acho esse tema de pensar a concepção de identidade em meio a concepção de tempo muito intrigante. Meu questionamento é o seguinte: de que forma poderíamos tratar dessa concepção de identidade construída por meio da narrativa do sujeito no tempo, bem como as transformações e ressignificações que este sujeito faz ao longo de sua trajetória de vida, no ambiente de sala de aula? Seria possível construir com os alunos uma percepção de identidade singular pautada nessas questões que elencas a partir da obra de Rüsen, de modo que os estudantes consigam perceber esses conceitos em seus cotidianos?
ResponderExcluirAgradeço a atenção.
Sandiara Daíse Rosanelli
Olá Sandiara, tudo bem? Obrigado pelos questionamentos, são muito pertinentes.
ExcluirAo meu ver, a identidade docente também é construída a partir do encontro entre o ensino de História e os alunos em sala de aula. Como argumentei um pouco aqui no texto (e também na minha tese) o professor constrói sua identidade docente a partir da relação com esferas como a acadêmica, a cultura histórica e a cultura escolar, e a partir das demandas de sala de aula, o professor segue transformando suas concepções de ensino e aprendizagem, transformando suas concepções de História e vai incorporando em sua identidade enquanto docente. Se nos ancorarmos na teoria de Rüsen, podemos compreender que os professores não estão apenas em sala de aula (e no mundo) mas agem de maneira intencional sobre ela (por meio da consciência histórica) e através da interpretação das demandas e das situações que exigem conhecimento e aprendizagem histórica, vai incrementando esses elementos à sua identidade.
Como o próprio Rüsen afirma, ela não é fixa ou imutável, mas o indivíduo não é um reflexo da sociedade, ele possui protagonismo ao refutar ou referendar essas demandas que o cotidiano da sala de aula propõe.
Espero ter contribuído em minha resposta.
Grande abraço.
Muito importante a discussão sobre a construção de uma identidade, parabéns pelo texto.
ResponderExcluirObrigado pelas palavras Wallamy. Um abraço!
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