ESCOLA UNITÁRIA: UM
DEBATE ACERCA DAS ELABORAÇÕES GRAMSCIANAS PARA SE PENSAR UM ENSINO DE HISTÓRIA
CONTRA O CAPITAL
Na
concepção de Estado elaborada por Antonio Gramsci o conceito de Hegemonia é
central, de forma que ligado a este conceito, os conceitos de Sociedade
Política e de Sociedade Civil são vitais para a compreensão da dinâmica dos
embates entre classes existentes. Como meio de se obter a hegemonia dos
projetos [mesmo que temporária] há uma série de instrumentos de ação das
classes no âmbito da Sociedade Civil, como os Aparelhos Privados de Hegemonia e
os Partidos Políticos.
Convém
aqui lembrar que a intelectualidade adquire papel central nas elaborações
gramscianas a respeito da dominação de classe haja vista que os Intelectuais
Orgânicos são responsáveis pela nacionalização dos projetos até então contra
hegemônicos, isto é, são os responsáveis por tornar nacional um projeto de uma
classe ou fração de classe.
É
neste momento que as escolas são parte fundamental na lógica de construção de
Hegemonia, isto é, responsáveis por criar as bases em sociedade a respeito da
reprodução da base ideológica do projeto que objetiva a hegemonia, funcionando,
assim, como Partido Político na lógica da elaboração teórica de Antonio
Gramsci. Crê-se, então, que dois conceitos são passíveis de análise neste
momento para a compreensão da elaboração teórica de Gramsci em torno da escola:
o conceito de Intelectuais Orgânicos e o conceito de Partido Político.
Em
seu caderno 12, escrito em 1932, intitulado Apontamentos
e notas dispersas para um grupo de ensaios sobre a história dos intelectuais,
Gramsci [2014] aponta a respeito da existência de duas formas de intelectuais,
a primeira:
“Todo
grupo social, nascendo no terreno originário de uma função essencial no mundo
da produção econômica, cria para si, ao mesmo tempo, organicamente, uma ou mais
camadas de intelectuais que lhe dão homogeneidade e consciência da própria
função, não apenas no campo econômico, mas também no social e político”
[GRAMSCI, 2014, p.15].
Essa
camada de intelectuais, criada pelo grupo social, é responsável por organizar a
Vontade Coletiva, isto é, tem uma “certa capacidade dirigente e técnica” e,
portanto, “deve ser um organizador de massa de homens, deve ser um organizador
da ‘confiança’ dos que investem em sua empresa, dos compradores de sua
mercadoria” [GRAMSCI, 2014, p.15], os intelectuais criados por determinado
grupo social são, portanto, os Intelectuais Orgânicos, que possuem como função
central a organização da Vontade Coletiva e a nacionalização, posteriormente,
deste projeto de classe. A segunda forma de existência dos intelectuais se dá
da seguinte maneira:
“Todo
grupo social ‘essencial’, contudo, emergindo na história a partir da estrutura econômica
anterior e como expressão do desenvolvimento desta estrutura, encontrou [...]
categorias intelectuais preexistentes, as quais apareciam, aliás, como
representantes de uma continuidade histórica que não foi interrompida nem mesmo
pelas mais complicadas e radicais modificações das formas sociais políticas”
[GRAMSCI, 2014, p.16].
Portanto,
“seria possível dizer que todos os homens são intelectuais, mas nem todos os
homens tem na sociedade a função de intelectuais” [GRAMSCI, 2014, p.18], isto é
o que Gramsci conceitua de intelectuais tradicionais frente ao conceito
anteriormente demonstrado de Intelectuais Orgânicos.
Gramsci
analisa com maestria a relação constante entre Intelectuais Orgânicos e o
Estado Restrito, de modo que apresenta sua função e sua gestação enquanto
Intelectuais Orgânicos conforme trechos citados, anteriormente, isto é, estes
emergem como Intelectuais Orgânicos a partir da sua relação constante com todos
os grupos sociais e, de forma mais latente, com os grupos sociais inseridos no
Estado Restrito, com as frações burguesas que se constituíram como classe
dirigente.
Foi
visto, então, que a categoria dos intelectuais é fundamental na compreensão da
dinâmica de elaboração de projetos a serem nacionalizados, no entanto, nos
resta uma questão-problema a resolver: quais os fundamentos da escola que tem
conexão direta com o conceito de Intelectuais Orgânicos em Gramsci? E mais,
qual a função da escola na dinâmica de nacionalização dos projetos, base da
construção da Hegemonia de acordo com o teórico italiano?
A
escola funciona como instituição dotada de meios organizados para a formação
dos Intelectuais Orgânicos, assim, segundo a concepção de Antonio Gramsci, as
escolas funcionam como Partido Político que aciona as bases organizativas à nacionalização
do projeto realizada pelos intelectuais orgânicos, isto é, “a escola é o
instrumento para elaborar os intelectuais de diversos níveis” [GRAMSCI, 2014,
p.19].
Convém
lembrar que a escola elabora os intelectuais tradicionais que poderão exercer
funções de Intelectuais Orgânicos em sociedade, ou seja, “a relação entre os
intelectuais e o mundo da produção não é imediata [...] mas é ‘mediatizada’, em
diversos graus, por todo tecido social, pelo conjunto das superestruturas, do
qual os intelectuais são precisamente os ‘funcionários’” [GRAMSCI, 2014, p.20].
Neste
sentido, a escola cria uma das bases possíveis para formação dos intelectuais,
mesmo que os Intelectuais Orgânicos não necessariamente precisem da educação
formal como prerrogativa de sua existência e de sua função nos embates entre
classes. No entanto, no jogo da disputa por Hegemonia exercem a função de
Partido Político, isto é:
“É
precisamente o mecanismo que realiza na sociedade civil a mesma função
desempenhada pelo Estado, de modo mais vasto e mais sintético, na sociedade
política, ou seja, proporciona a soldagem entre intelectuais orgânicos de um
dado grupo, o dominante, e intelectuais tradicionais; e esta função é
desempenhada pelo partido mais precisamente na dependência de sua função
fundamental, que é a de elaborar os próprios componentes, elementos de um grupo
social nascido e desenvolvido como ‘econômico’, até transformá-los em
intelectuais políticos qualificados, dirigentes, organizadores de todas as
atividades e funções inerentes ao desenvolvimento orgânico de uma sociedade
integral, civil e política” [GRAMSCI, 2014, p.24].
Assim,
a escola funciona como organismo diretivo das vontades da classe dirigente como
vontade geral, portanto, reprodutora – através dos Intelectuais Orgânicos – do
projeto burguês. Aqui se destaca precisamente o formato da escola na sociedade
contemporânea que objetiva o acúmulo de conteúdos em detrimento de uma educação
sistematizada e planejada em torno da educação humanitária e de caráter emancipador,
sobretudo, por não ser interesse da classe burguesa uma educação que Gramsci
chamara de unitária. Então, ao longo das diversas conjunturas históricas foram
criadas escolas que direcionavam o ensino à profissionalização necessária à
reprodução da engrenagem do sociometabolismo do capital, portanto:
“Ao
lado do tipo de escola que poderíamos chamar de ‘humanista’ [e que é o tipo
tradicional mais antigo], destinado a desenvolver em cada indivíduo humano a
cultura geral ainda indiferenciada, o poder fundamental de pensar e de saber
orientar-se na vida, foi-se criando paulatinamente todo um sistema de escolas
particulares de diferentes níveis, para inteiros ramos profissionais ou para
profissões já especializadas e indicadas mediante uma precisa especificação.
Pode-se dizer, aliás, que a crise escolar que hoje se difunde liga-se
precisamente ao fato de que este processo de diferenciação e particularização
ocorre de modo caótico, sem princípios claros e precisos, sem um plano bem
estudado e conscientemente estabelecido” [GRAMSCI, 2014, p.33].
Crê-se
na precisão da análise gramsciana apenas destacando uma ressalva: há uma série
de princípios estabelecidos de forma subliminar na educação de modo a orientar
o ensino para a subsunção real do trabalho ao capital, isto é, a formação tem
como princípio a formação do exército industrial de reserva capacitado ao
mercado de trabalho como forma de garantir a expropriação da massa de
trabalhadores que são levados à competição constante em busca de formas de
emprego precárias existentes.
A
partir da constatação da crise da escola, Antonio Gramsci elabora sua
proposição a respeito da organização escolar com base na união trabalho e
ensino, elaborada por Marx e Engels.
Chega-se, portanto, na chave de compreensão da Escola Unitária de
Antonio Gramsci: o desenvolvimento intelectual, associado, obviamente à práxis
revolucionária. A função da escola na sociedade capitalista, de acordo com a
concepção gramsciana, é dar base organizativa à ação dos Intelectuais Orgânicos
de modo a criarem consenso na massa de homens em torno do projeto de uma fração
de classe. Isto leva a escola a possuir uma estrutura que beneficie, portanto,
a classe burguesa de modo que garanta as bases do Consenso de seu projeto que,
por conseguinte, estruturará a escola em torno de uma formação puramente
técnica que inibirá a emancipação do homem a partir de uma educação humanista.
Assim,
Gramsci detecta uma crise da escola propondo então um novo modelo organizativo
que possibilite uma formação universalista e humanitária. Para Gramsci [2014],
portanto, a solução para a crise da escola seria uma “escola crítica de cultura
geral, humanista, formativa, que equilibre de modo justo o desenvolvimento da
capacidade de trabalhar manualmente [tecnicamente, industrialmente] e o
desenvolvimento das capacidades de trabalho intelectual” [GRAMSCI, 2014, p.34].
É
notável, através do trecho em destaque, que o princípio da união
trabalho-ensino, elaborado por Marx, está presente na obra gramsciana; e que as
crianças na concepção da Escola Unitária precisariam compreender a dinâmica da
produção capitalista desde as séries iniciais para uma posterior superação
desta através da formação teórica combinada ao trabalho.
No
que tange ao currículo escolar, Gramsci traz a perspectiva de uma educação
conforme a faixa etária da criança, demonstrando que são necessários vários
níveis desta educação escolar com o objetivo de “inserir os jovens na atividade
social” [GRAMSCI, 2014, p.36] após um período de formação de cultura ampla e humanista.
Para tanto haveria a necessidade de ampliação do corpo docente para que os
diversos níveis educacionais fossem atendidos satisfatoriamente em suas
diversas modalidades de ensino: tanto o ensino de conhecimento das forças
produtivas quanto o ensino de cultura geral. Ainda no que diz respeito à
estrutura curricular da escola Gramsci disserta que:
“O
nível inicial da escola elementar não deveria ultrapassar três-quatro anos e,
ao lado do ensino das primeiras noções “instrumentais” da instrução [ler, escrever,
fazer contas, geografia, história], deveria desenvolver sobretudo a parte
relativa aos “direitos e deveres” atualmente negligenciada, isto é, as
primeiras noções do Estado e da sociedade, enquanto elementos primordiais de
uma nova concepção do mundo que entra em luta contra as concepções determinadas
pelos diversos ambientes sociais tradicionais, ou seja, contra as concepções
que poderíamos chamar de folclóricas. O problema didático a resolver é o de
abrandar e fecundar a orientação dogmática que não pode deixar de existir
nestes primeiros anos. O resto do curso não deveria durar mais de seis anos, de
modo que, aos quinze ou dezesseis anos, já deveriam estar concluídos todos os
graus da escola unitária” [GRAMSCI, 2014, p.37-38].
Quando
destaca a respeito da necessidade das concepções de Estado e sociedade como
“elementos primordiais de uma nova concepção do mundo” podemos perceber que o
caráter formativo em Gramsci é necessário no seio das relações de produção
capitalistas, o que demonstra sua aproximação com a concepção de Politecnia
como modelo a ser aplicado antes da transição socialista ao comunismo, a escola
funciona então como ferramenta formativa revolucionária.
Esta
aproximação da Escola Unitária gramsciana com a escola politécnica se dá, sobretudo,
com uma estreita relação com o modelo de “escola de estudos para a escola do
trabalho social” elaborada por Shulgin [2013]. Para este a escola de estudos
deve assumir um papel de organizar o trabalho socialmente necessário, deve
“calcular o tempo que levará o trabalho, o volume de forças que exigirá, o grau
de preparação das crianças para ele, a duração de cada etapa” [SHULGIN, 2013,
p.151]. Pretende-se aqui, então, apontar que enquanto as crianças estão em
processo de formação para a compreensão da realidade, isto é, em formação para
o desenvolvimento de uma visão de mundo de acordo com a primeira etapa da
Escola Unitária gramsciana, a escola de estudos [SHULGIN, 2013] estaria em
processo de organização do trabalho socialmente necessário a ser executado por
estas crianças em formação.
O
que se pretende aqui, portanto, é perceber uma possibilidade de imbricação do
modelo escolar dos dois teóricos em questão de forma a desenvolver uma escola
politécnica unitária, isto é, conectar o primeiro passo proposto por Gramsci e
Shulgin de modo que aconteçam simultaneamente, mas em instâncias distintas,
isto é, os dirigentes estudam a organização enquanto as crianças estão em
processo de formação para se chegar ao objetivo comum: a revolução educacional
[proposta por Gramsci] - como forma de superação da subsunção real do trabalho
ao capital – para a efetivação do trabalho socialmente necessário [proposto por
Shulgin].
Assim,
a Escola Unitária tem uma relação estreita com os aspectos econômicos da sociedade
capitalista; e a compreensão da engrenagem capitalista se faz, portanto,
fundamental aos jovens em formação. Eis, portanto, a preocupação existente
neste momento em analisar os conceitos econômicos da contemporaneidade mais
utilizados nos livros didáticos da escola formal burguesa como forma de
superação da barreira existente no ensino básico ao ensino de história
econômica.
Considerações Finais
O
objetivo aqui proposto não é o de sistematizar um ensino politécnico ou de
Escola Unitária neste momento, mas minimamente trazer discussões em torno do
modo de produção capitalista que possam permitir aos estudantes do ensino
básico o mínimo de conhecimento a respeito da economia contemporânea tão
negligenciada no ensino básico. No entanto, esta é uma discussão posterior.
Além
do que já foi mencionado a respeito da Escola Unitária, é fundamental perceber
que ela não se encerra em si, sendo necessária uma série de outras instituições
que subsidiem o funcionamento desta escola, para que mesmo antes de entrarem na
escola unitária as crianças possam ter experiências de coletividade, como em
uma rede creches que já possuam uma organização introdutória à vida escolar.
Uma
problemática em torno do conceito de Escola Unitária diz respeito à análise
gramsciana da função do Estado em relação ao funcionamento desta instituição,
de modo que Gramsci considera que a Escola Unitária:
“Requer
que o Estado possa assumir as despesas que hoje estão a cargo da família no que
toca à manutenção dos escolares, isto é, requer que seja completamente
transformado o orçamento do ministério da educação nacional, ampliando-o
enormemente e tornando-o mais complexo: a inteira função de educação e formação
das novas gerações deixa de ser privada e torna-se pública, pois somente assim
ela pode abarcar todas as gerações, sem divisões de grupos de castas” [GRAMSCI,
2014, p. 37].
Quando
foi feita a referência à problemática no conceito de Escola Unitária e a função
do Estado neste sistema educacional, trata-se do seguinte questionamento: se o
Estado precisa exercer esta função no que tange ao funcionamento da Escola
Unitária e, partindo do pressuposto que, assim como a escola politécnica, o
modelo de escola elaborado pelo teórico sardo requer estruturação no seio do
Estado capitalista, como poderia este Estado fazer investimentos educacionais
em um sistema escolar que objetiva sua superação?
A
única solução a essa problemática é que o modelo de Escola Unitária perpassa
pelos modelos de educação politécnico e onilateral, pois, ao mesmo tempo em que
preza pela educação técnica, a Escola Unitária objetiva a educação da cultura
de forma ampla e universalista. Assim, mesclando momentos distintos de
desenvolvimento do Estado, isto é, a aplicação durante o modelo de Estado
capitalista e o momento de sua superação pela via revolucionária, mesmo que a
via revolucionária em Gramsci não tenha uma base marxista-leninista, mas pela
via de construção de Consenso a partir de estratégias que garantam a Hegemonia
de projetos elaborados no âmbito da Sociedade Civil.
A
partir desta perspectiva, então, é necessária uma luta pelo politecnismo com
base em um “sistema inteiro de reeducação não apenas das crianças” [SHULGIN,
2013, p.214], mas de toda uma sociedade engajada na luta pela superação da
dominação burguesa. A massa de trabalhadores juntamente com estudantes em prol
da organização do trabalho socialmente necessário que desenvolva uma economia
com base na igualdade.
Acredita-se
que seja fundamental uma educação de cultura ampla e geral vinculada ao mundo
trabalho, ou seja, vinculada ao conhecimento dos estágios das relações de
produção por parte das crianças a fim de que possamos ter gerações que possam
se posicionar criticamente frente às relações capitalistas contemporâneas e
que, além disso, possam se perceber como sujeitos históricos capazes de
intervir e reestruturar a realidade em que vivem. Acredita-se, então, assim
como Mészáros [2008] que:
“Inevitavelmente,
os primeiros passos de uma grande transformação social na nossa época envolvem
a necessidade de manter sob controle o estado político hostil que se opõe, e
pela sua própria natureza deve se opor, a qualquer ideia de uma reestruturação
mais completa da sociedade. Nesse sentido, a negação radical de toda a
estrutura de comando político do sistema estabelecido deve afirmar-se, na sua
inevitável negatividade predominante na fase inicial da transformação a que se
vise. Mas, mesmo nessa fase, e na
verdade antes da conquista do poder político, a negação necessária só é
adequada para o papel assumido se for orientada efetivamente pelo alvo global
da transformação social visada, como uma bússola para toda a caminhada.
Portanto, desde o início o papel da educação é de importância vital para romper
com a internalização predominante nas escolhas políticas circunscritas à
“legitimação constitucional democrática” do estado capitalista que defende seus
próprios interesses” [MÉSZÁROS, 2008, p.61].
Não
se quer, obviamente, reduzir esta dinâmica ao economicismo vulgar, mas tratá-lo
como fundamental para a compreensão da dinâmica social do Estado capitalista,
pois é este o modo de produção que conduz as instâncias política, social e
econômica de toda a sociedade contemporânea. Sendo, portanto, fundamental para
que os estudantes possam desenvolver a prática da crítica socioeconômica.
Referências
Werbeth
Serejo Belo é Doutorando em Estudos Contemporâneos pelo Centro de Estudos
Interdisciplinares do Século XX (CEIS20)/ Universidade de Coimbra. Mestre em
História pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Estadual do
Maranhão. Graduado em História pela Universidade Estadual do Maranhão. Tem
experiência na área de História, com ênfase em História econômica
Contemporânea, História do Brasil Contemporâneo e Ensino de História. Tem se
dedicado a pesquisas sobre desenvolvimentismo, propriedade industrial - com
foco em registro de patentes e relações capital-imperialistas desde 2013.
Recentemente tem se voltado a estudos sobre seguridade social no Brasil e em
Portugal entre os anos 1960 e 2019. Faz parte do Núcleo de Pesquisa em Historia
Contemporânea -NUPEHIC, do INCT/Proprietas e do Grupo de Investigação História
e Memória (CEIS20/UC).
GRAMSCI,
Antonio. “Cadernos do cárcere. Os
intelectuais, o princípio educativo e o jornalismo”. Vol. 2. Rio de Janeiro: Civilização
brasileira, 2014.
MÉSZÁROS,
István. “A educação para além do capital”.
São Paulo: Boitempo, 2008.
SHULGIN,
Victor Nikholawich. “Rumo ao politecnismo (artigos e conferências)”. São Paulo: Expressão Popular, 2013.
Interessante essa exposição. Minha pergunta é: em que medida a reflexão sobre esse modelo de escola tem servido como apamparo a classe trabalhadora que ao que parece não carrega mais um espírito transformador mas apenas conformista, diria mais, de sobrevivência.
ResponderExcluirEdson Silva de Lima
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ExcluirOlá Edson,
ExcluirPrimeiramente, agradeço pelo comentário e pela pergunta.
Acredito que a reflexão em torno da formação dos filhos e das filhas dos trabalhadores e trabalhadoras é de suma importância para que seja pensado o próprio futuro da classe, e sua reconstituição enquanto classe em sim e para si, uma vez que uma reflexão que tenha como eixo a formação com base no caráter de emancipação dos trabalhadores e das trabalhadoras possibilita, talvez, novas reflexões para cenários histórico-políticos distintos. Assim, um debate acerca das possibilidades, mesmo que, paulatinas, de alteração da estrutura da formação das crianças pode trazer novas soluções justamente a esse caráter "conformista" ou de "sobrevivência" mencionado por você.
Abraços.
Werbeth Serejo Belo
Prezado Werbeth,
ResponderExcluirPrimeiramente, parabéns pelo seu texto. Tenho interesse pelo debate, embora não tenha conseguido acompanhar das discussões como eu gostaria. Vou propor dois pontos, sobre os quais fiquei pensando ao ler seu texto, para você comentar, caso você os julgue relevante.
Primeiro, qual seria sua compreensão do papel de algumas noções típicas do ideário neoliberal, colocadas em prática na educação contemporânea, tais como "formação integral", "competências socioemocionais".
Segundo, de que modo você entende o papel do Estado diante de uma proposta de educação crítica, em um contexto considerado por alguns como pós-Estatal, de globalização e transnacionalização do valor?
Desculpe-me se ficaram confusos ou incoerentes!
Obrigado!
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ExcluirOlá Josias,
ExcluirObrigado pelo comentário e pelos dois pontos propostos para a discussão. No que diz respeito ao papel do Estado diante de uma proposta de educação crítica: considero que a função do Estado é dar as bases de organização da educação pública e de qualidade para que a formação com base no caráter crítico possa se efetivar. Entretanto, não se pode desconsiderar que o Estado é uma instância que está longe de ser imparcial, ao contrário, é o instrumento de dominação de uma fração de classe que está hegemônica e que, portanto, possui um projeto nacionalizado, segundo as noções de Estado Ampliado destacadas no texto. Assim, o papel que o Estado vem exercendo é de manutenção do projeto neoliberal de intervenção cada vez menor no que tange somente a garantir ao direitos da classe trabalhadora, sendo a instância educacional uma das afetadas pelo argumento do Estado Mínimo. O que quero destacar é que não é interesse da fração de classe dominante que seja efetivada uma educação crítica que permita a formação de filhos e filhas da classe trabalhadora. Assim, medidas paliativas em meio ao cenário de um Estado cada vez mais ausente no que tange somente à garantias de direitos (pois no que tange à garantia dos interesses da fração financeira, por exemplo, o Estado tem sido cada vez mais interventor, cada vez mais presente) tem sido postas em prática por uma fração que se pretende contra-hegemônica, mas que ainda não conseguiu criar consenso em sociedade acerca do seu projeto, talvez pela ausência de intelectuais orgânicos efetivos, ou pela própria dificuldade que é romper a barreira do sociometabolismo do capital.
Espero que eu tenha conseguido responder às suas proposições.
Abraços.
Werbeth Serejo Belo
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ResponderExcluirTendo em vista a crescente ingerência do setor privado na Educação pública através de seus "aparelhos privados de hegemonia" - Todos pela Educação, Movimento Pela Base Nacional Comum e Instituto Ayrton Senna, entre muitos outros - que têm definido a política educacional das últimas década (PNE - 2014-2024; BNCC), quais princípios gerais orientariam a possibilidade de articular a educação formal com os interesses da classe trabalhadora como Michael Apple, István Mészáros e o próprio Gramsci, entre tantos outros, defendiam?
ResponderExcluirRossano Rafaelle Sczip
Olá Rossano Rafaelle,
ExcluirPrimeiramente agradeço por sua pergunta e destaco a importância dela. Bom, considero como categoria central para se pensar o ensino com um caráter emancipador o próprio trabalho já que, segundo o próprio Marx, somente ele produz valor, e, portanto, é a partir do processo de alienação e expropriação da força de trabalho que se produz o mais-valor (trabalho não remunerado) e, portanto, subsume o trabalhador ao capital. Assim, pensar o princípio da união trabalho-ensino seja no modo de organização educacional politecnico ou unitário passando pela formação do sujeito omnilateral que se pode pensar em um ensino libertador e com bases na categoria da totalidade que possibilitaria a formação não para o mundo do trabalho (como pretende o modelo capitalista) para a compreensão do mundo do trabalho e pensando nas possibilidades de superar a dinâmica do sociometabolismo do capital. Assim, pra mim, o principio geral é o da união trabalho-ensino na formação de intelectuais orgânicos que sejam capazes de nacionalizar o projeto da classe trabalhadora enquanto a escola age como partido político organizando a vontade coletiva.
Espero que eu tenha conseguido responder à sua questão. Mais uma vevz, obrigado.
Abraço,
Werbeth Serejo Belo