ENSINO HÍBRIDO E
ENSINO DE HISTÓRIA: POSSIBILIDADES E DESAFIOS
Para situar o
leitor quanto ao objetivo deste trabalho, é pertinente mencionar um texto
publicado em 2007, pela historiadora Flávia Eloisa Caimi. Nele, a autora aponta
o que considera equívocos no modo de abordar a história na educação básica,
destacando a ineficácia da abordagem tradicional enraizada na prática de muitos
docentes. Defende que o conhecimento pedagógico é indispensável àqueles que se
formam para atuar no ensino de história, sendo tão importante quanto o conteúdo
disciplinar. Assim, abordando a falta de interesse dos estudantes pela
disciplina, também pontua fragilidades na formação dos professores, nesse caso,
referindo-se a ênfase na exposição de conteúdo ao invés de práticas pedagógicas
mais estimulantes.
Pouco mais de uma
década após a publicação desse artigo, as questões comentadas por Caimi hoje
são bastante discutidas, de modo que, cada vez mais, surgem publicações
referentes a experiências com novas propostas metodológicas e novos recursos
didáticos, experimentados com o intuito de obter a almejada inovação nas aulas
de história. É importante ressaltar que essas discussões sobre inovação estão
presentes em todo o meio educacional, notando-se um grande esforço para
repensar a educação. Isso porque as transformações sociais requerem um modelo
que estimule a autonomia por parte dos sujeitos, necessidade não suprida pela
abordagem tradicional ainda presente em muitas escolas [Alarcão, 2011, p. 29].
Este trabalho se
insere nesse debate. Partindo da preocupação com a prática pedagógica no ensino
de história, propõe-se discutir a possibilidade de trabalhar essa disciplina a
partir da metodologia conhecida como ensino híbrido. Todavia, para além das
potencialidades, serão abordados também os desafios a serem enfrentados para
tal implementação, fazendo-o a partir de uma discussão bibliográfica sobre o
assunto.
O ensino híbrido
O ensino híbrido
está intimamente relacionado ao que se conhece como metodologias ativas, que
podem ser entendidas como:
“(...)
estratégias de ensino centradas na participação efetiva dos estudantes na
construção do processo de aprendizagem, de forma flexível, interligada,
híbrida. As metodologias ativas num mundo conectado e digital se expressam
através de modelos de ensino híbridos, com muitas possíveis combinações”.
[Moran, 2017, p. 2]
Isto posto,
ressalta-se que ele também se relaciona com o uso de tecnologias digitais no
processo de ensino e aprendizagem. Trata-se de um uso pautado em um modelo que
combina recursos online e offline, sendo esse um ponto chave de
sua caracterização. Deve-se ter em conta a abordagem a partir da qual esses
recursos serão utilizados, pois, como lembra pertinentemente Pontes [2017], deve
haver um planejamento que os faça se complementarem. Por sinal, no que respeita
ao uso de tecnologias digitais na educação, uma questão bastante discutida é o
fato de que, não raro, ele ocorre sem uma estratégia realmente inovadora
envolvida, resultando no insucesso em superar a abordagem tradicional
[Rodrigues, 2016, p. 14]. O modelo híbrido se apresenta como uma proposta para
o uso eficaz desses recursos no ensino, proporcionando a inovação desejada.
Isso se dá da seguinte forma:
“Por ter uma natureza mista, como na
referência do termo híbrido de seu próprio nome, esse método pressupõe
incorporar parte da mobilidade e da possibilidade de comunicação através de
dispositivos tecnológicos para viabilizar o processo de aprendizagem para além
do encontro presencial no espaço escolar; isso fica particularmente evidente em
modelos didáticos como o de sala de aula invertida, onde os estudantes podem
travar um primeiro contato com o material expositivo de cada novo tema antes
das aulas, seja de casa ou de um espaço de informática na própria escola,
reservando o momento de encontro com o professor para a realização de
atividades e tarefas que permitam o desenvolvimento de ações práticas”.
[Rodrigues, 2016, p. 22]
Bertholdo Neto [2017] destaca como
benefício dessa abordagem sua relação com os novos papéis dos professores para
a geração Y. A mudança em questão trata-se de que o professor não é mais tido
como detentor do conhecimento, dada a abundância de informações online.
Ele se torna um “mediador entre o conhecimento e o aluno, utilizando
metodologias que direcionam os alunos a apropriação do conhecimento” [Bertholdo
Neto, 2017, p. 65]. Destaca-se que essa transformação não implica em uma
diminuição da relevância do docente, pois:
“Seja no ambiente virtual ou no
presencial, a atualização dos conhecimentos do professor se faz necessária, e,
junto com ela, uma mudança de postura de professor detentor para mediador do
saber. Com as novas metodologias, o ensino se torna uma troca constante de
conhecimento. O docente se torna um guia que leva o aluno a entender a
realidade e a adquirir os conhecimentos científicos que lhe interessa, fazendo
com que o ensino se torne centrado no aluno”. [Bertholdo Neto, 2017, p. 66]
Nesse processo de mediação, as
tecnologias digitais se tornam aliadas dos professores, uma vez que, como
mostra o autor José Moran [2017, p. 4]: “ajudam na tutoria digital de primeiro
nível, monitorando as dificuldades mais previsíveis. Cabe aos especialistas a
tutoria mais avançada, a de problematizar, ampliar significados, ajudar na
construção de sínteses”. Assim, no ensino híbrido, o professor pode utilizá-las
em prol de uma personalização do ensino, atendendo as necessidades específicas
de cada aluno. Vê-se com isso que essa forma de ensinar parte de duas premissas
importantes: o reconhecimento de uma pluralidade de formas de aprender e a
noção de aprendizagem como um processo contínuo [Viegas, 2018].
Isto posto, percebe-se que o ensino
híbrido pode atender a muitas demandas que a educação apresenta atualmente.
Adiante, busca-se avançar no que concerne a examinar seu potencial para o
ensino de história.
Ensino híbrido e ensino de história
Para identificar os benefícios de aliar
o ensino de história ao modelo híbrido, é importante levar em conta as
especificidades dessa disciplina. Isso diz respeito ao tipo de conteúdo nela
ensinado, bem como as competências que se almeja desenvolver por meio de seu
estudo.
Ao atentar às potencialidades da
modalidade híbrida, nota-se como um ponto interessante a questão da otimização
do tempo em sala de aula, uma vez que determinados conteúdos podem ser
acessados pelos alunos por meios digitais, em outros momentos. Essa otimização
costuma ser uma preocupação constante dos professores de história, dado que o
conteúdo lecionado abarca não apenas a explanação sobre os diferentes momentos
e processos históricos, mas também muitos conceitos que precisam ser
compreendidos por parte dos discentes. Caimi [2007] ressalta a relevância no
modo de trabalhá-los em aula:
“Sendo a História uma disciplina
escolar que se expressa essencialmente por meio de conceitos científicos, é
fundamental que a escola e o professor estejam atentos ao modo como se processa
a conceptualização, nesta idade de transição entre a fase operatório-concreta e
o pensamento formal (11 – 13 anos), em que se encontram os alunos das séries
finais do ensino fundamental. Há uma tendência entre nós, professores, de
assumir uma posição estática diante do ensino de conceitos, tratando-os como
definições verbais prontas, que podem ser encontradas nos dicionários e nos
livros. Aí reside muito do verbalismo vazio que permeia as aulas de História,
resultando ora na passividade dos alunos, ora na sua resistência ativa frente à
disciplina. É preciso considerar que conceitos são essencialmente esquemas de
ações, não informações que se possam incorporar externamente, somando-se dados
da realidade”. [Caimi, 2007, p. 24]
Torna-se vantajosa, então, a
possibilidade de indicar materiais a serem acessados online antes do
momento da aula, quer ele seja elaborado pelo próprio professor, quer se trate
de um conteúdo disponível na Internet, como textos de blogs ou vídeos do
Youtube. Isso permite que os alunos vão para o encontro presencial com
um contato pré-estabelecido com os conceitos necessários de serem compreendidos
para o estudo de um determinado tema, ou mesmo uma contextualização para
compreensão de um fato histórico, cabendo ao professor esclarecer dúvidas
pessoalmente.
A estratégia acima descrita é conhecida
como sala de aula invertida, um dos modelos atrelados à educação híbrida.
Outros modelos podem ser utilizados, a depender do planejamento do professor,
com base nas necessidades de cada turma e, ainda mais especificamente, de cada
aluno. Pensando no ensino de história de forma abrangente, ressalta-se a
potencialidade da sala de aula invertida para se suprir uma demanda
característica à disciplina.
A sala de aula invertida atende ao
intuito de personalização do ensino, oportunizando diferentes formas de
aprender, mediadas pelo docente. Isso porque possibilita o acesso a diferentes
materiais sobre um assunto, como textos e vídeos. Como mostra Rodrigues [2016],
os professores normalmente apresentam conceitos sem garantia de estar atendendo
toda a turma, visto que cada aluno tem um ritmo de aprendizagem próprio. O uso
dessa estratégia possibilita a exploração de recursos didáticos diferentes,
visando atender essas demandas. Trata-se de um aspecto que, por sinal, é muito
valorizado no ensino híbrido praticado no Brasil [Rodrigues, 2016, p. 28].
Outro ponto relevante também é apontado
por Rodrigues [2016]: a possibilidade de trabalhar com as fontes históricas de
acesso físico impossibilitado. O contato dos alunos com as fontes a partir das
quais a história é escrita contribui para o enriquecimento de sua experiência
com as aulas da disciplina:
“O ensino de História também pode ser
enormemente beneficiado pelo uso de recursos de tecnologia. As múltiplas
possibilidades das interfaces digitais viabilizam o acesso a registros históricos
antes indisponíveis seja pela distância física entre os estudantes e esse
material ou mesmo pela dificuldade de reprodução detalhada e disseminável do
mesmo. A História Antiga é um exemplo de área temática que pode ser apresentada
de forma mais rica aos alunos, precisamente através do uso das TICs (...)”.
[Rodrigues, 2016, p. 36-37]
Somando-se a isso, existe a preocupação
no que respeita ao papel do aluno no processo de ensino/aprendizagem histórica.
Tem sido discutida a importância de um ensino de história que estimule o
pensamento crítico, o que, como bem mostra Caimi [2007], esbarra no fracasso de
uma abordagem que prioriza a memorização de datas e nomes de determinadas
personagens. É preocupante que uma descrição da realidade escolar feita há mais
de dez anos seja ainda tão familiar aos professores de história:
“Quando se transita pelas escolas, no
acompanhamento de estágios ou na realização de pesquisas, muitos dados vão
emergindo. Os professores, de um lado, reclamam de alunos passivos para o
conhecimento, sem curiosidade, sem interesse, desatentos, que desafiam sua
autoridade, sendo zombeteiros e irreverentes. Denunciam, também, o excesso e a
complexidade dos conteúdos a ministrar nas aulas de História, os quais são
abstratos e distantes do universo de significação das crianças e dos
adolescentes. Os alunos, de outro lado, reivindicam um ensino mais
significativo, articulado com sua experiência cotidiana, um professor “legal”,
“amigo”, menos autoritário, que lhes exija menos esforço de memorização e que
faça da aula um momento agradável”. [Caimi, 2007, p. 18-19]
Como mostra a citada autora, os
professores falham em corrigir esses problemas ao acharem que a otimização do
tempo em sala de aula consiste em priorizar a exposição do professor em detrimento
de metodologias que estimulem a participação dos estudantes. Isso ocorre porque
se parte de uma intenção de abarcar “toda a história”, com uma prática na qual
se prioriza: “a leitura e a explicação do professor sobre o capítulo do livro
didático, seguindo-se a realização de exercícios pelos alunos, individualmente,
para que a classe se mantenha mais silenciosa e, assim, mais produtiva” [Caimi,
2007, p. 25].
Assim, nota-se a importância de se
buscar metodologias que proporcionem aos alunos um papel ativo no processo
educacional. Professores de história devem assumir a postura exigida pelo
contexto atual, negando o papel de transmissores de informações que os
estudantes podem acessar a qualquer momento com uma rápida busca na Internet.
Sem isso, de fato, é compreensível que o ensino escolar de história não faça
sentido para os discentes, visto que a tarefa de expor informações é realizada
pelos meios digitais, cada vez mais disseminados.
Como visto, o ensino híbrido se
caracteriza justamente por incorporar essa transformação dos papeis no processo
de ensino/aprendizagem. Se os professores compreendem a importância de
tornarem-se mediadores ao invés de transmissores de informações históricas, uma
abordagem pautada no modelo híbrido pode ser eficaz para concretizar o objetivo
de estimular o pensamento crítico dos alunos.
Bertholdo Neto [2007] disserta sobre como o ensino híbrido proporciona
essa experiência na qual o professor é um “instigador da inteligência coletiva”:
“Nessa nova modalidade de ensino, que
alia tecnologia a encontros presenciais (Ensino Hibrido), o tempo de aula não
mais é definido como no método tradicional. Os alunos podem acessar conteúdo,
participar de grupos de discussão e resolver problemas ou treinar habilidades
importantes ao seu aprendizado de qualquer lugar, a qualquer momento,
desfrutando de uma experiência de aprendizagem intensiva e autônoma”.
[Bertholdo Neto, 2017, p. 69]
As experiências relatadas por Rodrigues
[2016] e Silva [2016] demonstram o potencial desse modo de ensinar para a
história, em alinhamento com os apontamentos feitos até aqui. Todavia, existem
alguns desafios a serem enfrentados pelos professores, como se verá adiante.
O ensino híbrido e os desafios para sua
implementação
Esse modelo de ensino encontra alguns
desafios a serem superados para que sua implementação nas escolas alcance
plenamente os objetivos a que se propõe. Nesse caso, fala-se de uma realidade
do ensino híbrido em geral, não apenas no que se refere a sua aplicação no
ensino de história que, como se buscou mostrar até aqui, é promissora.
Quando se lê sobre o ensino híbrido e
sua aplicação à realidade brasileira, falando especialmente da escola pública,
nota-se que os autores tendem a identificar uma limitação relacionada às
questões estruturais. É sabido que grande parte das instituições públicas de
ensino ainda não dispõem de aparatos tecnológicos como tablets, notebooks
e mesmo qualidade no acesso à Internet. Dessa forma, a intenção do
docente em fazer uso eficaz dessas tecnologias nas aulas depara-se com esse
empecilho. No caso do ensino híbrido, que abarca o modelo de sala de aula
invertida, existe ainda a preocupação com a questão socioeconômica dos alunos,
visto que, apesar da disseminação do acesso às tecnologias digitais, a realidade
de muitos jovens pode incluir falta de condições para esse acesso, visto que,
como mostrou uma pesquisa divulgada em 2018, mais de um terço dos domicílios
brasileiros não têm acesso à Internet. Ela também mostra que, apesar do
crescente uso de redes móveis ao invés das conexões de banda larga, devido a
fatores como o preço mais alto desta última, isso implica em uma experiência
limitada com as tecnologias digitais [Agência Brasil, 2018].
Esse problema é identificado por
Rodrigues [2016], somando-se a outro:
“É preciso reconhecer que ao
estabelecer que os alunos deverão ter acesso prévio ao material expositivo de
determinado tema, o professor está se apoiando em duas premissas incertas: um
majoritário nível de engajamento à distância de seus alunos e a existência de
condições socioeconômicas das famílias dos estudantes para a aquisição e
manutenção de equipamento tecnológico e acesso à internet”. [Rodrigues, 2016,
p. 32]
Uma saída para isso é a combinação de
técnicas, visando atender as demandas de cada aluno, o que está relacionado à
necessidade de conhecer bem a turma, como lembra Moran [2017, p. 6]. Mas a
combinação de técnicas gera mais trabalho para o docente, tendendo a
desestimulá-lo devido às altas cargas horárias de trabalho, geralmente mal remunerado.
Como mostra Rodrigues [2016], existe ainda o imprescindível domínio das
tecnologias digitais por parte do professor, o que exige, portanto, uma
formação continuada que nem sempre é oferecida nas escolas.
Silva [2016] menciona as mesmas
dificuldades a partir de sua experiência, destacando que elas limitam todo o
potencial qualitativo do ensino híbrido. O autor enfatiza a necessidade de
empenho coletivo em prol de se atingir melhorias por meio da implementação
dessa metodologia, visto que experiências individuais encontram obstáculos
estruturais. O ideal, a seu ver, seria haver: “um amplo planejamento do
professor integrado a condições técnicas na escola e à participação efetiva dos
estudantes” [Silva, 2016, p. 53].
No intento de apontar soluções para
essas dificuldades, Moran [2017, p. 5] discorre sobre como as instituições mais
carentes podem usar o ensino híbrido. Para ele, isso pode se dar com o uso de
tecnologias mais simples como os celulares dos alunos, ou através da estratégia
em que o docente indica um material a ser acessado antes da aula. No entanto,
essa segunda opção trata-se do modelo de sala de aula invertida utilizado por
Rodrigues [2016], que se depara com os desafios acima descritos. O uso dos
celulares parece ser uma alternativa viável, tendo em vista o que os
mencionados dados de 2018 mostram sobre o crescente uso das redes móveis no
país. Parece haver, portanto, uma convergência quanto a combinação de técnicas
como solução, o que esbarra em isso gerar mais trabalho para o professor, sob
condições desfavoráveis.
Considerações finais
Buscou-se perscrutar as contribuições
do ensino híbrido para o ensino de história, defendendo-se que essa metodologia
atende às demandas da disciplina.
Destacou-se o potencial quanto a
abordagem de conceitos, contextualização de fatos e contato com fontes
históricas através do modelo de sala de aula invertida, havendo ainda outros
que podem ser explorados por professores interessados em adotar essa
metodologia. Também se abordou o potencial do ensino híbrido para estimular a
criticidade dos alunos. Os desafios, em suma, consistem em questões estruturais
que dificultam a implementação da modalidade híbrida não apenas no ensino de
história, mas no contexto escolar como um todo. Portanto, o interesse em
melhorar o processo educacional através da aplicação do ensino híbrido está,
inevitavelmente, atrelado à constante luta por mais investimentos na educação
pública.
Por fim, finaliza-se enfatizando a
importância de iniciativas individuais como as de Rodrigues [2016] e Silva
[2016], pois, além de consistirem em esforços para melhoria no ensino de
história, contribuem ainda para a ampliação do debate sobre a aplicação do
ensino híbrido nessa disciplina, questão ainda pouco abordada.
Referências
Fabiana Alves Dantas é mestranda no
Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal da Paraíba
(PPGH/UFPB) e licenciada em História pelo Centro de Ensino Superior do Seridó –
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (CERES/UFRN).
AGÊNCIA BRASIL. Mais de
um terço dos domicílios brasileiros não tem acesso à internet: Índice
chega a 70% em domicílios das classes D e E, 2018. Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2018-07/mais-de-um-terco-dos-domicilios-brasileiros-nao-tem-acesso-internet.
ALARCÃO, Isabel. Professores reflexivos em uma escola
reflexiva. São Paulo: Cortez, 2011.
BERTHOLDO NETO,
Emílio. “O ensino híbrido: processo de ensino mediado por ferramentas
tecnológicas” in PONTO-E-VÍRGULA, São Paulo, v. 1, n. 22, jul-dez, 2017,
p.59-72.
CAIMI, Flávia Eloisa.
“Por que os alunos (não) aprendem História? Reflexões sobre ensino,
aprendizagem e formação de professores de História” in TEMPO, Niterói, v.
1, n. 21, jun, 2007, p.17-32.
MORAN, José. Metodologias ativas e
modelos híbridos na educação, 2017. Disponível em:
http://www2.eca.usp.br/moran/wp-content/uploads/2018/03/Metodologias_Ativas.pdf.
PONTES, Elivelton. O que é ensino híbrido? Saiba mais sobre esse
modelo de aprendizagem, 2017. Disponível em:
https://eadbox.com/o-que-e-ensino-hibrido/.
RODRIGUES, Eric
Freitas. Tecnologia, inovação e ensino de história: o ensino híbrido e suas
possibilidades. 2016. 97 f. Dissertação (Mestrado) - Instituto de Ciências
Humanas e Filosofia, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2016.
SILVA, Jorge Everaldo
Pittan da. Ensino
híbrido: possíveis contribuições para a qualificação do
ensino de história no ensino médio. 2016. 67 f. Dissertação (Mestrado) - Centro
de Educação, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2016.
VIEGAS, Amanda. Ensino
híbrido: o que é e como implementar na escola, 2018.
Disponível em: https://www.somospar.com.br/ensino-hibrido/.
Olá, Fabiana. Tudo bem?
ResponderExcluirPrimeiro, gostaria de dizer que achei seu texto muito interessante e ele me fez ficar pensando aqui. Gostaria de propor para você não exatamente perguntas, mas pontos que me interessam e, caso você queira, poderíamos refletir sobre eles.
Primeiro, seria mesmo saber sua opinião sobre as questões do ensino EAD neste contexto de emergência relacionado à pandemia. Todos estamos acompanhando muitas discussões sobre isso, tenho algumas ideias e muitas inquietações sobre o tema. Embora você já apresente algumas reflexões ali na última parte do seu texto, gostaria de saber, caso queira comentar, sobre os desafios e (im)possibilidades do ensino de História nesse nosso contexto.
Um segundo ponto, também indo de encontro com algo que você menciona, sobre a importância de enfatizar o caráter "ativo" dos estudantes. Como você acha que isso poderia ser estimulado no cotidiano da sala de aula? Muitas vezes me vejo como um consumidor mais ou menos passivo de informações no mundo digital... Como poderíamos estimular uma "atividade" produtiva de nossos estudantes, no seu entendimento.
Desculpe-me se ficaram confusas, ou repetitivas em relação ao que discute no seu texto.
Obrigado!
Olá, Josias. Tudo bem por aqui, espero que com você também.
ExcluirMuito obrigada pelos seus apontamentos, por sinal, muito pertinentes.
Sobre a primeira questão, do EAD no contexto atual, vejo por dois ângulos. Acredito que o potencial das tecnologias na educação está sendo explorado por força das circunstâncias e isso pode trazer alguns benefícios, tais como familiarizar profissionais que não utilizavam esses recursos e, mais a frente, poderão adotá-los em sua prática docente, aliando-os ao ensino presencial, como proponho no texto. No entanto, assim como outras pessoas da nossa área com quem cheguei a conversar sobre o assunto, me preocupo com possíveis interpretações de que o ensino EAD supre as necessidades de todos os alunos, o que sabemos não ser verdade tanto pelas peculiaridades de cada um no processo de aprendizagem, como pelas condições sócio-econômicas que envolvem o acesso a computador e internet. O ensino EAD tem sua importância, é uma modalidade que atende as necessidades de muitas pessoas, mas me preocupo seriamente com possíveis propostas de torná-lo uma opção no contexto da educação pública (pois ela deve atender aos mais diversos perfis de aluno) para se cortar gastos com a infraestrutura das universidades e escolas.
No caso do ensino de História, acredito que os debates em sala de aula fazem muita falta para o processo de ensino/aprendizagem, pois conduzir discussões em plataformas digitais pode não ser muito fácil, ainda mais quando sabemos que muitos docentes não têm uma cultura digital e sentem dificuldades em se adaptar aos recursos necessários para isso.
Com isso eu entro na segunda questão. Acredito muito na importância dos debates nas aulas de História, por isso, penso que levar um pouco do conteúdo que está disponível no mundo digital para eles pode contribuir para que os alunos aprendam a pensar criticamente sobre tudo que veem e ouvem (na Internet, na vida de maneira geral). Levar para aula um bom texto de um blog ou um vídeo do Youtube (e mostrar que é bom porque é embasado em fontes e referências sérias), analisar um meme sobre o tema da aula... São alguns exemplos de coisas que penso serem possíveis para alcançar esse objetivo.
Espero ter conseguido responder satisfatoriamente e, novamente, muito obrigada!
Fabiana Alves Dantas.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirPrezada Fabiana Alves Dantas,
ResponderExcluirobrigado pelo artigo. Acho que o debate que você faz é importante e atual. Contudo, fiquei com uma dúvida:
Segundo dados do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação, 71 milhões de brasileiros acessam a internet **apenas** pelo celular (estima-se em 126,9 milhões os usuários de Internet no Brasil, 70% da população nacional). Que diferenças teríamos para implantar uma educação híbrida relevante para a aprendizagem histórica utilizando o celular e não o computador? Essas diferenças existem?
Grato.
Atenciosamente,
Emy Falcão Maia Neto
Olá, Emy!
ExcluirEu que agradeço seu comentário e sua pergunta.
Penso que a diferença existe no que se refere à escolha dos recursos com os quais o docente irá trabalhar no ensino híbrido, porque existem alguns que podem ser facilmente usados no celular, enquanto outros funcionam melhor com o uso do computador. Daí a importância de conhecer o perfil dos alunos, estar ciente dos recursos aos quais eles podem ter acesso, para traçar um plano que atenda a todos.
Se tratando especialmente do celular que, como os dados mostram, é mais recorrente entre a população brasileira que o uso do computador, o professor pode investir em criar grupos para compartilhar materiais em apps como o Whatsapp e Telegram ou no Google Sala de Aula (os alunos acessariam o material em casa para debater sobre ele na aula presencial, que é o que se chama de "modelo de sala de aula invertida"), além de ser possível pensar em atividades que envolvam o uso de apps como o Instagram (por exemplo, para se trabalhar com imagens no ensino de história, a turma pode ter um perfil voltado para reuni-las e debater sobre elas no campo dos comentários). Enfim, a estratégia que vamos traçar precisa ser adequada aos recursos dos quais os alunos dispõem, por isso a importância de levar isso em conta.
Espero ter conseguido responder satisfatoriamente. Mais uma vez, muito obrigada!
Fabiana Alves Dantas.
Parabéns Fabiana pelo excelente texto!
ResponderExcluirSuas reflexões sobre o tema são bastante pertinentes e esclarecedoras, pois estou desenvolvendo uma pesquisa, numa escola pública, objetivando verificar os desafios e possibilidades da inserção do ensino híbrido na educação básica, notadamente, no ensino médio, e me vi representada nas suas reflexões sobre as limitações para implementação de uma metodologia baseada na utilização das mídias sociais como ferramenta pedagógica nas instituições públicas: falta de equipamentos eletrônicos, situação socioeconômica dos alunos, falta de internet de boa qualidade, além de da falta de habilidade técnica de muitos docentes, para operacionalização dos poucos equipamentos tecnológicos disponíveis. Estas fragilidades se tornaram evidentes, neste momento, de necessidade de aulas virtuais, devido à pandemia.
Assim, gostaria que se possível, você apontasse além das estratégias indicadas no texto, como se poderia lidar com todos esses desafios para obter um maior engajamento dos estudantes no processo ensino e aprendizagem.
Obrigada!
Meire Lourdes Pereira Almeida.
Olá, Meire! Muito obrigada pelo seu comentário.
ExcluirPrimeiramente, lhe parabenizo por você estar desenvolvendo uma pesquisa sobre esse assunto, pois, sem dúvida, é um tema muito valoroso para se pensar os desafios da educação básica no século XXI, ainda mais nesse momento difícil que estamos vivendo, como você bem lembrou.
Passando a sua questão, eu penso que uma chave está na mudança de postura do professor. Nós estamos em um ponto no qual já identificamos o que não mais funciona na relação professor-aluno, mas ainda noto resistência por parte de muitos profissionais no que se refere a repensar suas práticas. Os alunos costumam expor sua insatisfação com a abordagem que costumamos chamar de "tradicional" (o professor como detentor do conhecimento e o aluno como mero receptor de informações), mesmo assim, muitos insistem nela. Como esses professores não são estimulados, por exemplo, por processos de formação continuada ou mesmo por estarem cientes da falta de condições estruturais da escola para implementar algo novo, se acomodam. Penso que seria muito interessante se isso mudasse e, quando falo sobre uma mudança de postura, falo englobando os profissionais que não são familiarizados com o mundo digital, pois o uso das tecnologias na educação são uma ótima possibilidade de inovação, mas não a única (tanto que não funcionam sem serem usados a partir de uma abordagem realmente inovadora, como falo no texto). Assim, considero importante estimular atividades que coloquem o aluno em uma posição mais ativa no processo de ensino/aprendizagem, como ao se promover debates em sala de aula, propor trabalhos que envolvam a pesquisa, assim como usar outros recursos didáticos nas aulas, como imagens, poemas e músicas para serem analisados. Esses são exemplos que eu considero pertinentes para fomentar essa postura mais engajada nos alunos, sem necessariamente depender da disponibilidade de recursos inovadores nas escolas e habilidade de usá-los por parte do professor.
Eu espero ter conseguido responder sua questão. E desejo muito sucesso na pesquisa que você está desenvolvendo, que certamente será de grande valia para o debate sobre o ensino híbrido.
Muito obrigada!
Fabiana Alves Dantas.
Olá Fabiana, fiquei feliz em ler seu texto e aprender muita coisa. Admito que não possuía conhecimento teórico sobre o ensino híbrido, porém, mais do que isso, descobri que exerço o ensino híbrido. Tenho um histórico acadêmico maior do que pedagógico, porém, em todas as situações de ensino que vivenciei recorri às mídias e à internet. Muitos foram os desafios sim, mas sempre foi minha linguagem para com os alunos. E, sim, mesmo no melhor dos cenários, sempre me senti uma alien em meio à maioria dos professores rs.
ResponderExcluirSou doutoranda em História na UFG e no ano passado tentei desenvolver um projeto de extensão de produção audiovisual em uma escola estadual em Pirenópolis, onde moro no interior de Goiás. Foi realmente muito complicado e, em resumo, não foi adiante pela falta de estrutura e apoio. Em outro contexto, fui professora substituta de História no colégio de aplicação (Cepae) da UFG e ali tive uma grande liberdade para trabalhar o que vc define em seu trabalho como ensino híbrido. Nessa ocasião além da experiência que narro nessa edição do Simpósio, com produção audiovisual pelos estudantes do ensino médio, desenvolvi também um projeto com histórias em quadrinhos, que apresentei na edição de 2018.
Contudo, descobri que uma estratégia de ensino que em certa ocasião “me veio à mente” é denominada sala de aula invertida. É um processo muito intenso e envolvente de construção do conhecimento. Certa vez solicitei a eles que se dividissem em grupos e cada grupo pesquisasse sobre um aspecto de determinado tema, depois, apresentariam em seminários. As alunas e alunos se empenhavam na missão e depois apresentávamos os seminários, aproveitando muito da pré-contextualização dos estudantes e utilizando a aula para (des)construir conceitos históricos.
É verdade que essa metodologia demanda uma estrutura de tecnologia e comunicação. Em relação aos aparelhos acredito ser mais fácil driblar o problema, pois os estudantes costumam disponibilizar seus equipamentos para o trabalho, sendo possível desenvolver atividades principalmente em grupos, contudo, é mesmo muito complicado no âmbito das escolas públicas brasileiras. Acredito, porém que o maior problema seja mesmo o acesso à rede, até porque além da dificuldade física, há também uma ideia implícita vigente nas escolas de que a internet é mais um problema a ser combatido na aprendizagem do que um aliado nesse processo. Além de ocasionalmente ser negado o acesso aos estudantes, mesmo quando disponível, a questão do ambiente tecnológico não é abraçada pela escola como uma realidade tangível hoje, na qual a nossa função, como educadores, seria também mediar esse conhecimento, indicando os melhores caminhos para os estudantes. Como trabalhava com o uso continuo das tecnologias em sala de aula buscava trabalhar também com meus alunos a questão do plágio e direitos autorais, por exemplo. Acredito que o uso das tecnologias precisa ser desmistificado ainda em nossa sociedade e esse papel deverá passar também pela escola nas próximas gerações, sobretudo diante do atual contexto de isolamento social em que passamos a viver.
Parabéns pela sua pesquisa. Abs,
Juliana Ribeiro Marra
Olá, Juliana! Muito obrigada pelo seu comentário. Fiquei bem contente ao ler sobre sua experiência. Eu me identifico muito com o seu relato, pois quando eu estava na graduação e começava a pensar em estratégias para quando estivesse em sala de aula, mesmo sem nunca ter ouvido falar em Ensino Híbrido comecei a pensar em atividades que envolvessem essa associação do online com o presencial. Acabei me familiarizando com o conceito por causa da minha irmã que é Pedagoga, e estudar sobre o assunto me abriu os olhos para pontos importantes que contribuíram para aperfeiçoar as propostas que eu vinha timidamente elaborando antes de conhecer o conceito.
ExcluirGostei muito do seu relato sobre as atividades que você fez com seus alunos, são coisas que contribuem realmente para engajá-los no processo de ensino/aprendizagem. E você colocou dois pontos muito importantes: familiarizá-los com as discussões sobre plágio e direitos autorais, além da questão de ser ainda comum em muitas escolas a noção de que a internet é um inimigo a ser combatido. Acho muito importante buscarmos cada vez mais transformar essa noção, promovendo o aproveitamento do conteúdo online no processo de ensino/aprendizagem, o que torna necessário instruir os alunos a identificarem o que é uma fonte confiável em meio a esse mar de informações que pode conter coisas de muita qualidade, mas também o contrário. E aí falar sobre essas questões éticas é fundamental para que eles aprendam a pesquisar e utilizar esse conteúdo da forma correta.
No mais, parabéns por sua iniciativa como professora! Espero que o conteúdo do texto tenha contribuído para sua prática profissional.
Abraços,
Fabiana Alves Dantas.
Muito legal Fabiana, seu conteúdo irá contribuir tanto em minha prática profissional pedagógica quanto investigativa. Sem dúvidas vou buscar me familiarizar ainda mais com a discussão, a partir, inclusive, de sua bibliografia. Esse Simpósio é uma oportunidade incrível também nesse sentido, é muito legal nos conectarmos com pessoas e pesquisas afins às nossas, mas distantes espacialmente.
ExcluirAbraços e boa sorte,
Juliana Ribeiro Marra
Sem dúvida, Juliana! Está sendo incrível poder ter esse diálogo tão valioso com pessoas de diferentes lugares, ainda mais nesse contexto de isolamento social.
ExcluirAbraços e boa sorte também.
Fabiana Alves Dantas.
Olá!
ResponderExcluirVivemos numa sociedade cada vez mais tecnológica, onde a informação é a comunicação digital fazem-se presentes na vida da grande maioria dos adolescentes e jovens. Pensar uma educação escolar para eles exige dinâmica, metodologia diversificada e atrativa. Por isso refletir o ensino híbrido é pensar em uma educação que contemple o desenvolvimento de habilidades como a pesquisa responsável, a autonomia, a comunicação. Na educação pública onde a limitação possa ser maior, ela é ainda mais necessária. Se não existirem equipamentos tecnológicos existem metodologias adaptadas. Juri simulado, debates, seminários, video jornais, entrevistas, pesquisas e proposições de soluções para problemas locais entre outros, podem também possibilitar o ensino híbrido.
Na perspectiva de debate proponho uma relação entre o ensino híbrido e o desenvolvimento do protagonismo juvenil, conceito fundamental na proposta do ensino médio inovador.
Olá, Maria Juscelia!
ExcluirSeus apontamentos são muito valiosos para essa discussão. De fato, "pesquisa responsável", "autonomia", "comunicação" e "metodologias adaptadas" são palavras-chave para se pensar a aplicação do ensino híbrido.
Ao ler seu comentário, procurei me familiarizar um pouco com o conceito de "desenvolvimento do protagonismo juvenil" antes de respondê-lo, pois ainda não o conhecia e, em razão disso, não conseguirei argumentar com propriedade sobre essa relação. Mas posso dizer, com base nesse primeiro contato com o conceito a partir da reflexão que você provoca, que ambos parecem ter em comum o objetivo de tirar os alunos de uma posição passiva no processo de ensino/aprendizagem e, portanto, penso que podem ser trabalhados em conjunto. Um possibilidade pode estar na idealização de projetos baseados na ideia de desenvolvimento do protagonismo juvenil que adotem o ensino híbrido como metodologia para sua concretização. Assim, os alunos trabalhariam sua autonomia na construção do conhecimento, ao tempo em que o professor teria a função de mediador nesse processo.
Desculpe se não consegui me aprofundar muito por não conhecer bem o conceito, mas foi muito importante conhecê-lo a partir do seu comentário. Assim, buscarei estudá-lo para incorporá-lo a essa discussão em trabalhos futuros.
Muito obrigada!
Fabiana Alves Dantas.