ENSINO DE HISTÓRIA
LOCAL E O PENSAMENTO CURRICULAR NUMA PERSPECTIVA DISCURSIVA
Entendo a sala de aula como espaço para privilegiar
processos de subjetivação como resultado da tradução de significados através do
diferir [Derrida] e da decisão política [Laclau]. Defendo processos educativos
que assumam constantemente a contingência do mundo dos significados e que
explicitem toda prática como atribuição de sentidos fraturada, porque
constituída pela negociação e alteridade.
Dessa maneira, a pergunta provocadora presente no título, evocada a
partir de uma experiência de sala de aula, apresenta questionamentos tanto
sobre as políticas curriculares quanto sobre os processos de avaliação.
Seguindo os trabalhos de Alice Casimiro Lopes e Elizabeth Macedo,
reconhecimento e contextualização, considerado como projetos, são tentativas de
suturar a contingência ontológica do processo de interpretação, são tentativas
de controle da significação do mundo e de controle do imprevisto/do risco
quanto ao sucesso de processos educativos e o alcance da dita educação de
qualidade, seja por meio dos sistemas centralizados de avaliação, pela
organização curricular por competências ou também por meio do significante
conhecimento. A educação defendida aqui, contudo, busca se estruturar
justamente sobre esse risco [Biesta] para dar visibilidade a experiências de
estar com o outro e construir demandas. Dessa maneira, o objetivo da
experiência didática apresentada é projetar experiências curriculares
construídas contextualmente, atendendo demandas e necessidades que não são
homogêneas e que apontem para a importância de práticas de significação
contextual e a consequente contingência da realidade social discursivamente
construída, através de um projeto pedagógico desenvolvido numa turma de ensino
fundamental da rede pública. Portanto, as conclusões apresentadas nesse texto
são resultado de algumas experiências práticas do cotidiano de uma sala de aula
e apontamentos para outras práticas educacionais possíveis.
Esse texto foi elaborado a
partir da experiência didática realizada em resposta ao projeto cultural
escolar multidisciplinar sobre auto representação e história da escola
intitulado “Quem é você? Eu sou Moyses”, sugerido pelo professor Erick Debossan
e acolhido pela equipe pedagógica da Escola Municipal Vereador Moyses Ramalho
da rede pública de Araruama/Rio de Janeiro. A proposta inicial do projeto
buscou trabalhar a autorrepresentação audiovisual dos discentes como alunos da
instituição e como sujeitos sociais. A equipe pedagógica sugeriu então que outros
professores também elaborassem alguma atividade que relacionasse sua disciplina
ao tema do projeto escolar. Enquanto professor de história, busquei em temas
que convergissem com a proposta conceitual e pedagógica do projeto. Orientei
minha abordagem para a possibilidade de trabalhar nas aulas de história
questões de identidade, desdobrando o tema inicial. Essa associação foi
motivadora do diálogo com os alunos para explicar minhas escolhas didáticas e
temáticas e indicar que todo texto é transbordável, que as possibilidades de
interpretação e [cria]ação sempre podem extrapolar o texto.
O
conceito de identidade foi apresentado a partir da reflexão sobre as frases do
título do projeto: “quem é você?” e “eu sou”. Buscou-se apresentar o debate
sobre a concepção do mundo como representação e como ocorrem os processos de
identificação, a partir da alteridade e da atribuição de sentidos criados
contextualmente. Trabalhando a ideia de que é através do discurso, entendido
como todo processo de significação dentro do jogo político de disputas
desiguais de produção de sentido num espaço-tempo, que o mundo e as identidades
são criados e recriados em cada contexto que atuamos.
A partir
dessas considerações é apresentada a ideia de que a História é também
representação, é a narrativa criada a partir de elementos que indicam a ação do
seres humanos no tempo e no espaço, como tudo a que atribuímos sentido sobre a
experiência humana num contexto. Portanto, pensar sobre a escola, o bairro, a
praça, os pontos de referência locais é também produzir História e atribuir
significado complexo para os elementos que nos circundam no nosso cotidiano.
Na teoria
do discurso político de foco pós-fundacional o mundo é concebido como
representação e o texto é definido como qualquer elemento social dotado de
significado, sempre produzido no jogo político com uma alteridade, que ganha
forma na enunciação do texto, mas nunca consegue completamente apagar as marcas
de sua contingência e os processos de tradução desses textos, porque sempre ocorrem
em espaços de indecidibilidade
caracterizados pelo conflito. Dessa maneira, é apontada a
vulnerabilidade constitutiva do mundo como construção social em espaços
indecidíveis e, por isso, é preciso sempre suplementar os sentidos consolidados
para manter sua sedimentação, buscando saturar significações e produzir
consensos. Porém, como a suplementação de significados se dá na relação entre
diferença e repetição, da repetição como diferença, toda hegemonia, entendida
como consenso, traz em si uma fratura que não permite interromper por completo
a tradução do mundo e dos textos.
A noção de currículo mobilizada busca
desestabilizar consensos que consideram o currículo como um conjunto de
conhecimentos selecionados a partir de uma cultura mais ampla para ser ensinado
a todos, seja em nome de um projeto instrumentalista de inserção no mercado de
trabalho, seja num projeto de transformação social e de formação de sujeitos
críticos. Porque entendo que todas tentativas de apagar a contingência
constituinte do mundo, explícita ou implicitamente, atenta contra a diferença e
limita a experiência da alteridade. A relação existente entre currículo e
ensino e entre currículo e conhecimento é problematizada, como resultado da
maneira que as políticas curriculares centralizam seus argumentos em torno do
significante conhecimento, como objeto definido fora do jogo político, o que
acaba levando a concepções que reduzem a educação ao ensino, definindo a
primeira pela segunda, e mantém o conhecimento como núcleo central dos textos
curriculares.
Concordo
com Macedo [2013] e Biesta [2013] que para educar é preciso colocar o ensino
sob suspeita, porém isso não significa abolir a dimensão do ensino, e sim
descentralizar esse significante do cotidiano escolar e dos processos educativos.
Algumas propostas desenvolvidas são estabelecer o currículo como instituinte de
sentidos, como enunciação da cultura, como espaço indecidível em que a
subjetivação ocorre através de atos de criação.
Mesmo
projetos críticos de currículo em função de conceitos como autonomia,
emancipação, cidadania, democracia , mudança social, entre outros, podem
limitar-se a projetos de ensino por conta da centralidade atribuída a um
conjunto de conhecimentos como ferramentas para esses fins, definidos de maneira
externa aos sujeitos e aos contextos, reduzindo a educação ao simples
reconhecimento, com efeitos de controle sobre a diferença. Seja de matriz
técnica e liberal, seja a partir de perspectivas críticas, parte considerável
das teorias que estabelecem a centralidade do conhecimento consideram esse
conceito como um produto histórico sócio-histórico inserível no currículo e
passível de apropriação transparente, e não como prática de significação.
Essa
concepção de conhecimento, e sua centralidade nas políticas curriculares,
sanciona a compreensão da educação como processo de reconhecimento no já dado
[Macedo, 2017] através do controle da interpretação [Lopes; Borges, 2017] em
práticas de contextualização que visam garantir o estabelecimento de uma
relação direta com o conhecimento [Lopes; Costa, 2018]. Teorias curriculares
tributárias dessa concepção, focando o ensino ou a aprendizagem, buscam
expulsar o não controlável da educação, reforçando sua dimensão normativa. A
questão central nesses currículos é a criação de estratégias generalizantes que
“colapsam o conteúdo em processos demonstráveis, tornando a mensuração das
performances não apenas possíveis, como desejáveis” [Taubman, 2009, p 185 apud
Macedo, 2017]. Todo processo de aprendizagem concebido dessa maneira
precisa ser demonstrável, mensurável [através de avaliações sistêmica como
Prova Brasil e Pisa] e reconhecível de antemão, expulsando o não controlável,
não dando espaço para o surgimento do inesperado e do imponderável.
Ao
estabelecer as formas de reconhecimento, limitando o diferir mas possibilitando
a mensuração, a atuação do professor assume forma de responsabilização por um
projeto previamente elaborado, externamente definido. Porém, não se trata de
abolir qualquer forma de conhecimento ou fundamento, e sim de reconhecer “a
violência da norma não para a ela se contrapor de fora, mas para seguir se
perguntando sobre as formas de ação do poder regulatório” [Macedo, 2017, p548].
Costa;
Lopes [2018], problematizam a ideia de contextualização presente nos textos
curriculares, entendida como outra forma possível de garantir a aprendizagem de
conhecimentos e competências pré-definidos ao realizar operações que buscam
inserir o conhecimento disciplinar curricular num dado contexto escolar. Nesse
sentido, contexto é compreendido positivamente tanto pela delimitação de suas
fronteiras, quanto pela expectativa de que a contextualização garanta um melhor
aprendizado, como garantia de motivação através da construção de significado para/a
partir da vida dos alunos, para a formação de sujeitos capacitados a decidir
conscientemente, a agir criticamente. Nessa visão, a escola é vista como
contexto de aplicação dos conhecimentos, porém, a prefixação dos contextos como
caminho para a garantia do ensino e da aprendizagem impede o imprevisto.
Remeter
um texto a um dado contexto é uma forma de tentar limitar sua significação, de
proporcionar uma base que ofereça garantias de interpretação. Não há um sentido
original ao qual se possa recorrer ou alcançar. Toda enunciação sobre um
contexto, que busque contextualizar, é ela também contextualização. Logo, sendo
a contextualização um tema recorrente nas políticas curriculares, é preciso
sempre apontar a educação como práticas de tradução contextuais em espaços
indecidíveis.
Derrida
[2001] define tradução como iteração, como repetição aditiva e suplementar na
disseminação do sentido na enunciação, que sempre é alterada nessa repetição e,
por isso, não é possível manter intacta a significação do que se pretende
produzir e, por isso, toda produção de sentidos é realizada em espaços
indecidíveis, sempre sujeitas à diferença. Dessa maneira, essa definição de
tradução, como forma de estar e criar o mundo entendido como texto, freia
quaisquer aspirações homogeneizantes de [con]textualização. Não há
conhecimento, consciência, controle absoluto do sentido, ou limites e
propriedades do contexto, há apenas um movimento de disseminação generativa de
novos sentidos e é no conflito e negociação desses sentidos que nos tornamos
sujeitos.
A ideia
de conhecimento, presente nos textos de políticas curriculares como os PCNs e
as DCNs, como elemento fundamental do que se entende por currículo e educação
[em sua concepção de ensino] direciona ao contexto/contextualização uma
possibilidade e uma metodologia que garanta a oportunidade para a formação de
competências e habilidades. Correlaciona também a ideia de conhecimento com
conteúdo curricular, mas questionando a segmentação disciplinar e propondo um
conhecimento integrado e integrador, garantido por estratégias de
interdisciplinaridade, temas integrados, temas transversais, entre outros
significantes, através da aplicação contextual desses conhecimentos, através da
contextualização, o que permitiria preencher a lacuna existente entre teoria e
prática, produzindo um sujeito que domine o conhecimento classificado como
necessários para ser aplicado em outros contextos presumidos, como a sociedade
e o mundo do trabalho. Apesar dessa visão demonstrar uma perspectiva mais complexa
da educação, ainda assim, está centralizada em torno do conhecimento normativo
e heterônomo, ao qual o aluno tem o direito de acesso, mas não o de produção. O
risco dessa concepção é limitar construções contextuais possíveis surgidas do
imponderável da vida social e nos momentos imprevistos dos processos
educacionais. Costa, Lopes [2018] apontam que isso permite a leitura de que o
conhecimento defendido é produzido e definido externamente ao contexto e
direcionado para uma “função contextual” que possibilite tornar a escola
“capaz” de produzir sujeitos “capazes” de [vir] a ser [idem, ibidem, p312].
Todo o
desconstrucionismo apresentado nesse artigo não pretende caminhar ao
irracionalismo, à rejeição de qualquer conhecimento herdado, ao relativismo desmedido,
porque entendo que todo conhecimento, todo significado, precisa estar embasado
num fundamento epistemológico. Portanto, me posiciono tanto pelo
antirelativismo, que enxerga a validade geral dos saberes, levando a embasar-se
num outro fundamentalismo, a generalidade, quanto pelo antirrealismo, contrário
a concepções universais, das definições estruturais, do essencialismo, do
normativismo ou qualquer tentativa de limitar a tradução, a interpretação.
Seguindo
a ideia de que as construções de identidades ocorrem relacional e
contextualmente, os temas abordados nas aulas de história foram a história
local e memória. Sugeriu-se aos alunos que realizassem uma atividade na qual
eles pesquisariam como ocorreu a construção de memórias e sentidos locais, através
de entrevistas com moradores antigos, da investigação sobre a origem de nomes
de ruas, praças, bairros e pontos de referência locais. Visando estimular o
trabalho dos alunos e evitar um uso direto de textos online, o
objeto formal de avaliação seria uma redação relatando todo o processo de
investigação e as descobertas encontradas. Um aluno apresentou um texto sobre a
história da origem de Araruama, copiado da Wikipédia e falando sobre povos
indígenas que habitaram esse território [o município possuí sítios de sambaquis
e um museu arqueológico]. Ao que respondi, que o material apresentado poderia
ser considerado como uma etapa do trabalho, porém, o combinado tinha sido uma
redação. Em meio às dúvidas sobre o modelo de escrita pedido, vem a pergunta provocativa
deste aluno de 14 anos do 9º ano do Ensino Fundamental: “professor, posso
inventar qualquer história?”. Toda a experiência didática realizada realmente
permitiu tal questionamento.
A
resposta dada ao aluno no contexto da sala de aula foi de que ele poderia
inventar o que quisesse, mas que articulasse com o que foi debatido em aula. No
dia seguinte, o aluno traz um texto no qual ele narra uma história fictícia
sobre a origem de Araruama. Nessa história, o aluno fala que é o cacique quem
tem o poder de dar nome a tudo e a todos, e explica a origem do nome Araruama a
partir da história de povos indígenas que tiveram seus caciques mortos pelos
invasores portugueses, e por isso buscavam formar e nomear uma nova “cidade”,
uma nova tribo. Dessa maneira, o nome Araruama teria vindo da sobreposição do
nome Araru, segundo o aluno, o nome pelo qual os indígenas eram conhecidos
porque havia muitas araras em seu território, com o sufixo Ama, porque os
indígenas teriam percebido coletivamente que o que eles mais gostavam de fazer
era amar. De maneira inadvertida e não presumida, o aluno articulou em seu
processo de produção contextual de significação diversos temas e concepções
desenvolvidos em aula, que costumam fazer parte da fundamentação epistemológica
e didática, mas que nem sempre se apresentam como tema principal da aula,
demonstrando a importância de concebermos o currículo, a avaliação e os
processos educacionais como atos de tradução em espaços indecidíveis.
Assim,
uma resposta possível à pergunta do título, numa perspectiva pós-fundacional, é
que pode, sim, escrever qualquer coisa, porém, não é qualquer coisa que é
válida, mas é sempre necessário responder qualquer coisa como potencialização
de espaços abertos à negociação e ao diferir na direção de uma educação
[des]construtivista. Questionando fronteiras disciplinares, tornando estranho o
que parece familiar. Construindo práticas de significação contextuais [Costa;
Lopes, 2018], descolonizando hegemonias [Macedo, 2017], realizando um
investimento radical em processos interpretativos [Borges; Lopes, 2017] de
decisões políticas [Laclau, 2011], levando à acentuação do político, a uma hiperpolitização
[Mouffe, 2017] na qual os sentidos estão sempre sendo negociados relacional e
contextualmente sem garantias, assumindo a educação como risco para
possibilitar a emersão do inesperado [Biesta, 2013], tomando qualquer consenso
como sedimentações de particularidades que se universalizam, mas que está
sempre sujeito ao deslocamento porque é sempre tradução, como repetição aditiva
da differánce [Derrida, 2008]
Referências
Bruno Fernando Castro é doutorando em Educação na
UERJ e professor de História da rede pública.
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apresentação dos temas transversais. Brasília: MEC, 1998.
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Bruno. Gostaria de saber como ficaria esse debate entre ensino de historia regional e curriculo, com as novas demandas da BNCC.
ResponderExcluirA história local foi abordada no meu texto a partir da concepção de currículo que eu opero, que trabalha o currículo como texto, como subjetivação que ocorre através de atos de criação de sentidos. Logo, as novas demandas da BNCC podem pretender determinar os métodos e o valor do local e da diversidade cultural no ensino, mas toda tentativa de controle ou determinação de sentidos serão falhos porque pretendem uma suturação impossível da contingência constitutiva do mundo, entendido como texto. O debate sobre ensino de história local e currículo existe apesar da BNCC, mas também por causa da BNCC. Se colocamos a questão do local nas aulas de história sob a perspectiva do ensino, diferenciado da educação como apresentado no meu texto, sob a perspectiva de um conhecimento sobre o local mais contextualizado, mais crítico, serão sempre ações que tentam controlar os sentidos produzidos pelos alunos, mas que serão sempre falhas. Logo, defendo, em qualquer processo educativo, um investimento radical e sem garantias na hiperpolitização do mundo, seja orientado pelo tema local, ou por qualquer outro tema.
ResponderExcluirOlá, Bruno.Ao longo do seu texto, você faz referências a documentos importantes para se pensar o currículo no Brasil, tais como os PCN's e as DCN's e eu gostaria de saber o que você pensa em relação à quantidade de elementos trazidos na BNCC. Apesar do currículo da educação básica ter que ser formado pela parte comum (BNCC) e a diversificada, sabemos que esta tem que estar, ainda assim, em consonância com aquela, a qual é bastante longa. Você acredita, assim, que a história local ficou prejudicada com a BNCC e, se sim, em que medida? Sabemos das dificuldades que aparacem em sala de aula com relação ao desenvolvimento programático com os alunos, às vezes não dá tempo trabalhar o básico, principalmente se consideramos a pouca carga horária das aulas de História.
ResponderExcluirMichell Alves de Almeida Ricarte
A referência a textos de políticas públicas de currículo foram feitas para afirmar a impossibilidade de estabelecer fundamentos para o currículo, na tentativa de criar uma base comum para todo o território nacional, baseado em ideias como conteúdo, conhecimento, ensino, competências, etc., que transbordam rastros de essencialização numa tentativa de controlar a significação. Esse pensamento não decreta o niilismo que leva à inércia, ele põe diante de nós a responsabilização por nossos atos e convida ao investimento radical e sem garantias na hiperpolitização do mundo, na possibilid-ação da diferença emergir e na ação a partir de um horizonte de expectativas do por vir e não de um vir a ser.
ResponderExcluirPrezado, Bruno Fernando Castro! Parabéns pelo texto nos direciona a muitas reflexões, principalmente neste momento, onde a valorização da História e da História Local ficaram de lado com a constituição da Base. Desse modo lhe questiono, como você percebeu a receptividade do professor de História com inserção dessa abordagem de valorização da História local, como forma de dinamizar o ensino em sala de aula? Jakson dos Santos Ribeiro
ResponderExcluirPelas minhas experiências, a temática da história local é recorrente nas aulas de história e mesmo nos textos de políticas públicas de currículo. Diante disso, trouxe no meu texto alguns apontamentos sobre o riscos de estabelecer o conhecimento e a contextualização no ensino de história ao apontar rastros de essencialização que limitam a educação e a emergência do outro, da diferença.
ExcluirBoa noite, Bruno Fernando Castro. você utilizou um projeto cultural como base do seu texto, você poderia utilizar outra base? A forma como o aulo usou a Wikipédia foi determinante para realização do trabalho? teria outra forma de ensino fora as PCNs e as DCNs?
ResponderExcluirHiago Taumaturgo Lopes
A ideia é que, justamente, podemos trazer as problematizações e desconstruções propostas no texto em qualquer projeto escolar e até mesmo em qualquer aula de qualquer disciplina. O que foi determinante para o trabalho foi justamente trabalhar num horizonte de possibilidades do "por vir", diferentemente de um "vir a ser", que entende e defende a educação como um espaço aberto para o outro, para a diferença impresumível e incontrolável.
ExcluirCompletando a resposta. O que defendo é que não existe ensino fora dos PCNs, das DCNs ou da BNCC, e que também essas políticas de currículo não elimina ou controla a contingência constitutiva do mundo, apesar de ser uma exemplar tentativa de controle com efeitos sociais sobre políticas públicas, sobre a produção de livros didáticos e sobre a produção de sentidos sobre temas sob grande disputa social de sentidos.
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