DO ROMANCE À CRÍTICA:
O ENSINO DE HISTÓRIA LOCAL PARA A LIBERTAÇÃO
Na atualidade,
circulam dispositivos que almejam uma aprendizagem bancária voltada para a
resignação à ordem existente. Sendo assim, análises que tenham como objetivo
revelar a raiz dos problemas são, frequentemente, atacadas e taxadas como
subversivas de modo a criar um ambiente intimidatório que gera medo. Tal
contexto associa-se a uma histórica determinação dos currículos escolares por
interesses específicos.
Desse modo,
conforme Paulo Freire: “O problema fundamental, de natureza política e tocado
por tintas ideológicas, é saber quem escolhe os conteúdos, a favor de quem e de
que estará o seu ensino, contra quem, a favor de que, contra quê.” [2011, p.
152]. Isto é, o incômodo causado por pesquisas consistentes no campo das
Ciências Humanas nos leva a questionar a natureza do poder que é ameaçado por
essa prática.
Em vista disso,
é possível perceber que nosso currículo é controlado e utilizado em prol de
orientações de caráter financeiro. Não apenas ocorre silencionamento do papel
contra-hegemônico da área, como também há o emprego do espaço para a
popularização de discursos assentados na conformação. A curiosidade é eliminada
do educar, ato em que, a partir de então, só pode ocorrer depósito de
pensamentos; jamais produção de conhecimento.
No campo do
ensino de História, tal lógica implica uma sala de aula baseada no culto de um
passado instituído como eterno. Nesse sentido, outros modos de vida que não o
considerado proponderante na contemporaneidade são tratados como exóticos – o
que, por si só, já incentiva a reprodução de preconceitos. Além disso, a forma
de existência de professor [a] e alunos [as] é vista como a única correta e,
como tal, imutável; estável porque ideal. Aqui, constitui-se uma visão de
“romance” perante o mundo tendo a instrumentalização do passado como sua
indutora.
Sob essa óptica,
a pretensão do sistema vigente é fazer com que não haja alteridade possível.
Trata-se de um método totalitário e que, portanto, demanda forte oposição
daqueles que se identificam com um processo educacional democrático e popular.
Com isso, faz-se necessária outra estrutura de ensino em que possa haver lugar
para metodologias e temáticas plurais. Precisamos edificar uma educação emancipatória
para que sejamos capazes de imaginar e construir uma sociedade diversa.
Nas palavras de
Adorno: “[...] a única concretização efetiva da emancipação consiste em que
aquelas poucas pessoas interessadas nesta direção orientem toda a sua energia
para que a educação seja uma educação para a contestação e para a resistência.”
[1995, p. 183]. À vista disso, concebemos uma práxis “crítica”, como disse
Cassol: “[...] no sentido de compreender o porquê das coisas.” [2019].
Diante dessa
disposição, pensar em espacialidades mais próximas aos discentes é um caminho
interessante quando estivermos elaborando esse novo plano. Isso porque, ao
sentirem-se sujeitos da História, os educandos poderão se capacitar para
transformar a realidade. Nessa lógica, Damazio aponta que:
“[...] a
História Local, assunto a ser tratado na escolarização, diz respeito a uma
espacialidade determinada que expressa particularidades articuladas ao todo
social, pois, vive-se uma época que aponta para a supressão de barreiras
culturais entre sociedades, deliberando uma interdependência entre o local e o
global. Assim, é um campo fértil para estudos históricos, articulando aspectos
econômicos, sociais e políticos determinados espacialmente, porém, imbricados a
uma realidade mais ampla. Hoje a História Local aparece como reveladora de uma
História mais geral, um ‘local’ privilegiado no sentido de levar os alunos a
sentirem-se sujeitos da História a partir de suas próprias singularidades.”
[2015, p. 4248].
Destarte, faz-se
necessário debater elementos que possam contribuir para o fortalecimento desse
campo da didática da História. Com uma posição pedagógica embasada em pesquisa,
conseguiremos maximizar as potencialidades da prática. Dessa forma, a seguir,
serão apresentadas inferências acerca da atual conjuntura desse ensino tendo
como pretensão elaborar novas concepções e ferramentas de modo a fortalecer uma
educação emancipadora para que a crítica seja a nossa reação a estes tempos
difíceis.
Dos [as]
professores [as]
A postura do professor perante a proposição do
ensino da História local é o ponto chave para despertar nos estudantes o senso
investigativo e a busca por respostas acerca dos acontecimentos do passado a
nível municipal. Segundo Freire:
“Antes de qualquer tentativa de discussão de
técnicas, de materiais, de métodos para uma aula dinâmica assim, é preciso,
indispensável mesmo, que o professor se ache “repousado” no saber de que a
pedra fundamental é a curiosidade do ser humano. É ela que me faz perguntar,
conhecer, atuar, mais perguntar, re-conhecer.” [2013, p. 84].
A assertividade na prática do ensino é fator
determinante na concepção da realidade embasada nos traços do passado como
alicerces na perspectiva do futuro. O processo de ensino e aprendizagem é uma
via de mão dupla na qual cabe ao professor traçar as estratégias que melhor se
adaptem à subjetividade dos discentes, e que, portanto, ocasionem resultados
satisfatórios e expressivos que potencializem o poder de transformação que é
inerente à prática educacional.
Comumente, a abordagem da História local fica a
cargo dos professores das Séries Iniciais do Ensino Fundamental e o eixo
temático não volta a ser pauta de debates no decorrer da vida escolar dos
discentes. Damazio [2015, p. 4255] alerta que essa conjuntura é problemática,
uma vez que existem conteúdos que devem ficar para o professor
especialista trabalhar nos anos finais,
já que o professor generalista não
possui aporte teórico-metodológico para grandes digressões. Sendo assim:
“[...] os anos iniciais devem desenvolver conceitos
de temporalidade, espacialidade, identidade, dentre outros, no âmbito da
História Local, já que a partir do local é possível identificar e estudar
diversos aspectos sociais nos mais variados campos da ação humana.” [Damazio,
2015, p. 4248].
A partir dessa abordagem, os docentes generalistas
podem contribuir decisivamente para a efetividade da aprendizagem do passado
local por meio do ensino de conceitos fundamentais, os quais serão decisivos
nas fases escolares subsequentes. O início da trajetória educacional é, nesse
sentido, responsável pelo desenvolvimento e consolidação das condições
necessárias para a abordagem profunda e crítica do passado regional de modo que
sejam formados indivíduos conscientes dos processos históricos que tem o munícipio
em estudo como palco. Desse modo, de acordo com Nascimento Júnior:
“A história local é apontada como uma forma de
fazer o ensino de história se tornar algo mais inteligível ao estudante,
facilitando a intervenção do sujeito nos espaços locais, amadurecendo suas
perspectivas de reflexão sobre os espaços mais amplos.” [2016, n.p].
Ressalta-se,
portanto, que as incursões centradas no estudo da História local de forma
crítica ao longo das Séries Inicias são relevantes haja vista que introduzem o
assunto e aproximam o corpo discente do conhecimento dos fatos históricos.
Todavia, cabe ao professor especialista retomar de forma mais específica e
aprofundada a História do município no decorrer das Séries Finais do Ensino
Fundamental, bem como no Ensino Médio.
Dos
materiais
Um dos maiores desafios enfrentados pelos docentes
da disciplina de História é encontrar material pedagógico no que tange a
aspectos relacionados ao passado local. Não obstante à escassez de recursos
disponíveis no âmbito escolar, muitos professores enfrentam uma exaustiva
jornada de trabalho com quarenta horas semanais, o que inviabiliza pesquisas
mais consistentes e impossibilita idas a acervos para planejamento das aulas.
Além disso, segundo Damazio:
“Em geral, as fontes e os documentos disponíveis
aos professores são produzidos pelos órgãos administrativos locais e tendem a
transmitir o ponto de vista do poder político ou econômico, levando alunos e
professores a preservarem uma memória da elite local, contribuindo para a construção
de uma identidade coletiva e individual a partir desse referencial.” [2015, p.
4253].
Ainda para Damazio [2015, p. 4261], na atual
conjuntura, a representação cultural pertinente à História local revela que a
definição do currículo que será contado e se tornará hegemônico perpassa
diferentes estratos sociais, sendo palco de ações políticas de caráter
econômico. Nesse sentido, a classe dominante, por meio das editoras locais,
instrumentalizaria o material didático-pedagógico oferecido às escolas de modo
a construir narrativas de naturalização da estrutura social. Essa prática
constitui um “uso do passado”, o que denota que o campo da memória local é
terreno de intencionalidades inscritas nas tramas da sociedade.
Desse modo, merece ênfase a importância da visão
crítica do professor ao apresentar fontes históricas aos estudantes. Questionar
e contextualizar a forma como as memórias históricas são apresentadas nos
materiais disponíveis, bem como a comparação entre diversas fontes são
procedimentos que devem ser ministrados pelos docentes ao explorar materiais
pedagógicos de caráter histórico junto aos discentes. Não cabe ao professor
selecionar materiais que privilegiem determinado ponto de vista, mas sim propor
uma diversidade de pesquisa acompanhada de indagações que possibilitem aos
alunos formarem seu posicionamento sobre os fatos, construírem seu conhecimento
sobre a História e sentirem-se, de fato, representados na memória – a partir de
uma visão histórica contra-hegemônica.
As fotografias são um rico e concreto material
pedagógico, que evidenciam o patrimônio histórico como forma de explicar os
fatos transcorridos e situam o discente no tempo e no espaço em relação à
História do município e à sua própria trajetória de vida, bem como de seus
ascendentes, haja vista que ambas se mesclam e se complementam. Consoante a
Simson:
“As imagens fotográficas têm exercido papel
significativo nesse processo de seleção e registro do que deve ser armazenado e
se constituem num útil sistema de transmissão da memória para alguns grupos
sociais. Elas indicam também que o registro imagético vem permeando cada vez
mais a nossa cultura ocidental contemporânea e se transformando talvez no
principal ‘texto’ orientador da construção das memórias individuais e da
memória coletiva dos grupos sociais.” [1998, p. 33].
Nessa linha, os registros fotográficos eternizam
momentos e, portanto, sua observação e análise pode estabelecer
correspondências e analogias entre determinadas épocas ao longo da História.
Através de imagens é possível identificar transformações no espaço e nos
costumes, além de instituir reflexões que levem a estudar os motivos que
ocasionaram tais mudanças.
Simultaneamente ao uso de fotografias, é essencial
a utilização de outros materiais, tais como pesquisas literárias, entrevistas
com moradores antigos, festivais étnicos, palestras com especialistas e
passeios que contemplem o patrimônio histórico-cultural da cidade no intuito de
criar um mecanismo completo que aborde os diversos aspectos da análise da História
local. Essa prática fortalece a emancipação intelectual dos discentes e
contribui para o desenvolvimento da cidade através da reflexão acerca do seu
cotidiano com base no passado.
Sobre as
disposições na BNCC
De acordo com Pereira e Rodrigues:
“A constituição de uma base curricular nacional
[...] está relacionada a uma demanda colocada pela Constituição Federal de
1988, pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9.394/1996 e prevista
nas metas do Plano Nacional de Educação, com vigência desde 2014.” [2018, p.
4].
No entanto, a existência de uma Base Nacional Comum
Curricular nunca foi consenso entre especialistas em educação . No que se
refere especificamente ao campo da História, essa divergência em relação à
necessidade do documento teria consequências nas discussões que seriam travadas
após as publicações das primeiras versões do texto – divergências as quais
refletiam diferentes concepções de análise do passado em sala de aula e,
inclusive, opunham abordagens clássicas a inovadoras focadas no contexto local
[Moreno, 2016, p. 13].
Conforme Silva:
“O espaço dos conteúdos no currículo de história é
um espaço de disputas e, portanto, historiadores estão disputando-o dentro das
relações de poder que existem. A presença ou não de determinadas temáticas, bem
como a afirmação pela importância da presença destas, revela que objetivos e
percepções formativas distintas estão coexistindo para a efetivação de uma
formação escolar.” [2018, p. 90].
Nesse sentido, a primeira versão da Base,
homologada em 2015, era extremamente disruptiva em relação à disciplina
História. Ela punha fim à tradição vigente baseada na temporalidade linear, no
modelo quadripartite e na listagem de conteúdos obrigatórios. Dava luz a
Histórias da América Latina, dos povos indígenas, dos negros e da África.
Pensava em análises menos eurocêntricas e em currículos mais locais e que
pretendessem a emancipação dos estudantes na dinâmica de aprendizagem. Contudo,
por dar menos espaço, no conteúdo programático, à antiguidade clássica e ao
medievo, a primeira versão foi fortemente repudiada por associações de
intelectuais dessas áreas e o Ministério da Educação decidiu elaborar um novo
texto.
Para Pereira e Rodrigues:
“A segunda versão optou por, justamente, retornar à
ênfase na lista de conteúdos, relatando objetivos “clássicos” do ensino de
história, deixando de renovar tanto o campo teórico da escrita da história
quanto as competências intelectuais – ou, ainda, a própria dimensão cidadã –
possíveis de serem exploradas com diversos conteúdos. A opção por essa lista
tornou a BNCC muito próxima de uma história sem corpo e sem política, uma vez
que estabelece conteúdos considerados “canônicos” e obrigatórios ao
conhecimento dos estudantes e das novas gerações. Essa ideia supõe que determinados
conteúdos são indispensáveis, mas, ao mesmo tempo, não problemáticos e com
pouco ou nenhum sentido em relação ao tempo presente.” [2018, p. 9].
Assim, essa edição da BNCC – de 2016 – representou
um regresso nas discussões acerca do ensino da História local além de declinar
no que se refere às possibilidades de instituição de uma educação mais
consciente, engajada e ativista. Em paralelo aos debates de professores e
pesquisadores, o MEC publica, em 2017, a terceira versão da Base, a qual
representou a consagração do projeto já aplicado na maioria das escolas do país
e com o diferencial de uma roupagem do modo neoliberal de compreender o
conhecimento. Essa visão fica clara quando consideramos a alteração na
nomenclatura da estruturação dos currículos, de “objetivos e direitos de
aprendizagem e desenvolvimento”, nas duas primeiras versões, para “competências
e habilidades”. No entendimento da Associação Nacional de Pós-Graduação e
Pesquisa em Educação [ANPEd]: “Esta ‘volta’ das competências ignora todo o movimento
das Diretrizes Curriculares Nacionais construídas nos últimos anos e a crítica
às formas esquemáticas e não processuais de compreender os currículos”. [2017,
on-line].
Em relação à quarta e atual versão, já em fase de
imposição às escolas, se restringe a adicionar os componentes curriculares do
Ensino Médio ao texto da terceira edição, que só se referia ao Ensino
Fundamental. Sendo assim, não apresenta novidades e reafirma um projeto que, na
sua essência programática exclui o passado local dos debates. Segundo Pereira e
Rodrigues: “verifica-se que a aula de história foi cada vez mais esvaziada do
seu potencial crítico em relação às identidades dominantes e/ou tradicionais e
do seu papel de construção/reconstrução da memória”. [2018, p. 13].
Além desse panorama, a BNCC dá possibilidade para
que parte dos conteúdos a serem desenvolvidos sejam escolhidos. 60% da grade
escolar seria nacional e os outros 40% poderiam ser definidos pelas redes
estaduais e municipais. Cabe questionar quanto tempo de aula sobraria, a partir
da última versão da BNCC, para a História da cidade após o estudo dos conteúdos
clássicos e de um enfoque no quadro do estado. Com isso, percebe-se que, na
prática, o passado mais propínquo segue sem espaço. Não obstante, a partir de um
quadro em que o dever de “crítica” da História passa a ser condenado, é
temeroso que possamos nos fixar a uma posição de “romance” ao passado diante de
uma educação golpeada.
Educar é
lutar e libertar
As reflexões tangentes à postura docente e aos
materias cabíveis para o ensino de História local de caráter emancipador, bem
como a análise das diferentes versões da BNCC estabelecem perguntas,
possibilidades e indicações para que a concepção bancária de educação seja
superada. O processo de ensino/aprendizagem é dialético e, como tal, exige
maleabilidade e capacidade de autocrítica. Assim sendo, não pode haver uma
fórmula pronta e absoluta. Se existisse, cairíamos no sectarismo. O que deve
haver é um movimento constante de aproximação com a radicalidade, ou seja,
atingir a causa dos problemas entendendo seu devir.
Para Freire: “Partir
do ‘saber de experiência feito’ para superá-lo não é ficar nele.” [2011, p. 98, grifos do autor]. Dessa maneira, a
partir da pedagogia da partida presente no pensamento freiriano, podemos
trabalhar com a noção de que a História local é, também, ferramenta para o
ensino de outras Histórias através de uma práxis dinâmica e engajada. Tal
panorama é concebível tendo em vista que: “[...] o regional emerge do local tal
qual o nacional surge do regional e o continental do nacional como o mundial
emerge do continental.” [Freire, 2011, p. 121]. Isso porque, as sociabilidades
formam uma rede de significados que tem sua origem no espaço mais propínquo às
coletividades.
“Perfilamos a cidade e por ela somos perfilados.
Sua tarefa educativa se realiza também através do tratamento de sua memória,
que não apenas guarda, mas reproduz, estende, comunica-se às gerações que
chegam.” [Simon; Blanch, 2015, p. 131-132]. Com essa compreensão, podemos pensar
no papel do componente curricular História no que diz respeito à preservação de
fontes, seja para visibilizar culturas seja para questionar pensamentos de
outrora. Isso porque, conservar registros é mecanismo para que nos
instrumentalizemos para a transformação da realidade concreta – marcada por
injustiças e desigualdades.
De acordo com Matos, o ensino de História: “[...]
precisa estar compromissado com reflexões capazes de municiar os sujeitos a se
pensarem e repensarem seu espaço e assim, mudá-lo.” [2017, p. 213].
Considerando o papel constenstador da prática, caberá aos envolvidos no
processo educacional postarem-se em defesa do seu dever de desmascarar as
opressões da sociedade. Os incomodados por essa prática reagirão. E nós
precisaremos resistir. Para que a educação seja libertadora teremos de lutar.
Paulo Freire disse que: “ninguém educa ninguém,
como tampouco ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão,
mediatizados pelo mundo” [1994, p. 79]. Na História crítica, o mundo que comungamos
tem a realidade local como ponto de partida para um ensino popular. Nela, a
luta pelo fim da barbárie é coletiva. A educação é contestadora para que,
citando Adorno [1995, p. 119], Auschwitz não se repita.
Referências
Guilherme José
Schons é acadêmico de História – Licenciatura na Universidade Federal da
Fronteira Sul [UFFS] – Campus
Erechim. E-mail: guilherme.schons@estudante.uffs.edu.br
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Boa noite! Parabéns pelo texto, nos remete a reflexões interessantes sobre a História local. A partir de suas leituras, além das atuais políticas públicas como a Bncc, quais outras dificuldades para que se concretize o ensino de história libertador?
ResponderExcluirCamilla Mariano
Boa noite, Camilla! Muito obrigado pela leitura e pela pergunta!
ExcluirComo cheguei a suscitar no texto, acredito que tenhamos deflagrado um contexto que poderia ser caracterizado como o de uma "educação golpeada". Nesse sentido, a BNCC é um dos elementos constituintes de uma série de retrocessos. Projetos de lei, assaltos midiáticos e linchamentos perpetrados por indivíduos que pretendem uma escola com mordaça representam um grande desafio, e também incômodo, aos que se identificam com um projeto popular de ensino de História. Além disso, é possível mencionar como dificuldades inerentes a estes tempos difíceis: cortes de investimentos (seja na educação básica seja na pesquisa em Humanidades), a desvalorização das Ciências Humanas em comparação a outras áreas do conhecimento e o encantamento de alguns profissionais, nossos colegas, com o que chamei de "romance".
Esse último quadro é ainda mais preocupante. Afinal, trata-se de pensar até que ponto o discurso hegemônico pode fazer com que os próprios professores de História assumam uma abordagem acrítica que naturalize a realidade. Isso porque, para que possamos almejar um processo de emancipação, é indispensável que o docente esteja pronto para resistir. Dessa forma, é grave quando o próprio educador perde o objetivo e a utopia da transformação social.
Esses são exemplos de quadros que demandam nossa atenção tendo em vista o entendimento de que o esvaziamento do potencial de questionar da educação é interesse do Capital. Portanto, que nós estejamos firmes e fortes para a nossa reação. Afinal, ela será necessária para que possamos construir um ensino de História libertador.
Abraço!
Guilherme José Schons
E-mail: guilherme.schons@estudante.uffs.edu.br
Mais uma vez parabéns pela escrita crítica e reflexiva, bem como agradeço pela atenção em responder-me. Abraços!
ExcluirCamilla Mariano
Parabéns pelo texto! Sou professora e concordo que a BNCC restringe a possibilidade de um estudo aprofundado da História local. Considerado ainda que o professor, vou tomar como exemplo o Paraná, teve sua carga horária de hora atividade reduzida sobrando menos tempo para pesquisa da História Local. Com base em suas leituras, o que você sugere para o professor (a) conseguir trabalhar este assunto sem fugir dos conteúdos propostos pela BNCC?
ResponderExcluirObrigada!
Ana Joana Zimolong.
Olá, Ana!
ExcluirMuito obrigado pela leitura e pela pergunta!
Ao ler o quadro do estado do Paraná que você nos apresentou, lembrei-me de Paulo Freire: "Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino". Sendo assim, precisamos nos mobilizar em defesa do tempo de reflexão do professor, bem como de elaboração das aulas. Aqui no Rio Grande do Sul, um pacote recente do governador Eduardo Leite (PSDB) transformou a "hora atividade" em "hora aula", fazendo com os que o magistério tenha remuneração relativa apenas ao tempo em que permanece na escola. Ora, a quem serve uma educação sem embasamento? Quem se beneficia com uma educação sucateada em que não há produção de conhecimento? Por que o medo do estudo da História local?
Tendo em vista essas questões, reitero a necessidade de luta pelo tempo de pesquisa. Além disso, como alguns intelectuais já vêm defendendo, o problema da BNCC não é apenas no que tange à restrição de conteúdos, mas, também, no que se refere à forma bancária e acrítica como o processo educacional aconteceria. Nesse sentido, precisamos falar em desobediência ao documento. Trata-se de um dever ético. Dessa forma, em um primeiro momento, poderíamos estabelecer o local como ponto de partida para os temas propostos na Base. No entanto, jamais poderemos ceder àquela perspectiva de "romance" mencionada no meu texto.
Abraço!
Guilherme José Schons
E-mail: guilherme.schons@estudante.uffs.edu.br
Texto deslumbrante!
ResponderExcluirPoderia explicar melhor a pedagogia da partida defendida por Paulo Freire?
FRANCISCA BORGES DE SOUSA
Muito obrigado, Francisca! Fico feliz que tenha gostado do meu texto!
ExcluirA pedagogia da partida presente na obra de Paulo Freire é um tema que eu considero absolutamente relevante e necessário. Precisamos fazer esse debate.
Como o nosso patrono da educação dizia, é fundamental partir da realidade do oprimido, ou seja, do estudo do contexto local - entendendo as contradições do mundo mais propínquo aos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem. No entanto, essa abordagem não pode se restringir ao que já está dado na realidade conhecida, caso contrário cairíamos no sectarismo e/ou no fatalismo. É preciso ir além para que possamos superar o saber de experiência feito, inclusive, para transformá-lo.
Isto é, a partir do processo de libertação, tendo como ferramenta o estudo da História local, poderemos nos instrumentalizar para a construção de um outro mundo.
Abraço!
Guilherme José Schons
E-mail: guilherme.schons@estudante.uffs.edu.br
Bom dia Guilherme. Parabéns pelo material.
ResponderExcluirQuanto a questão das identidades culturais, além do uso de fotografias para mostrar grupos culturais, o uso de documentários é uma ferramenta muito importante para utilizar na História Oral, por meio das entrevistas com personagens locais. Quais cuidados são necessários ao utilizar fontes orais para falar sobre essa temática?
Olá, Diair! Muito obrigado pela leitura e pela pergunta!
ExcluirAcredito que o principal cuidado necessário seja prevenir que a História possa vir a ser transformada em uma espécie de repositório de curiosidades onde imperariam as lembranças dos mais velhos. A idade não transforma ninguém em historiador e, nesse sentido, cabe ao profissional formado fazer a seleção e a interpretação do material colhido para o documentário de forma a evitar, portanto, erros, imprecisões e saudosismos perigosos.
Todavia, a História Oral é, sem dúvida, um campo absolutamente instigante e com grande potencial no que se refere a uma práxis libertadora de educação.
Abraço!
Guilherme José Schons
E-mail: guilherme.schons@estudante.uffs.edu.br
Agradeço pela leitura e pela pergunta, Mônica!
ResponderExcluirComo suscitado pelo Stuart Hall, acredito que a identidade cultural na pós-modernidade seja influenciada por uma série de argumentações disruptivas. Assim, teríamos a ideia de "identificação", no sentido de andamento. Desse modo, pode-se compreender a "identidade nacional" como uma comunidade imaginada, uma invenção da tradição com base em determinados dispositivos discursivos. Esse entendimento abre impasses e disputas importantes. No entanto, a globalização, enquanto destruição do espaço através do tempo - como pondera David Harvey -, apresenta, como diz Doreen Massey, uma geometria do poder. Portanto, há três perspectivas para a cultura local (entendo-a como aquela que não é a do centro financeiro do capitalismo): fundamentalismo, diáspora e/ou hibridismo. Teríamos, portanto, chances de enfraquecimento.
O que podemos fazer, para além da perda de memórias ou, por outro lado, da valorização de uma tradição idealizada e perigosa, é pensar sobre a História local nas nossas salas de aula a partir de uma perspectiva crítica que leve à emancipação no intuito de podermos construir um outro mundo - que não seja nem o da identidade nacional clássica nem o proposto pela globalização nos termos como ela se apresenta.
Abraço!
Guilherme José Schons
E-mail: guilherme.schons@estudante.uffs.edu.br