Carlos Eduardo da C. Campos e Luis Filipe B. de Assumpção


CONSIDERAÇÕES SOBRE ENSINO DE HISTÓRIA E PATRIMÔNIO CULTURAL: O CASO DOS PCNEM E BNCC


Nos últimos anos, com o advento da globalização, o Ensino de História se transformou em demasia. Tanto pela emergência de novas tecnologias, quanto pela relação em tempo real com outras culturas e informações provenientes de outros países. Já não existe um isolamento geográfico efetivo para uma sociedade que se inseriu no mundo globalizado, uma vez que as fronteiras se tornaram simbólicas e subjetivas por não se limitarem às demarcações físicas e geopolíticas.

Contudo, não é somente o Ensino de História que é modificado com essas questões, mas, também, a instituição e a cultura escolar. Segundo Vera Candau [2013] a globalização preza pela uniformização e a padronização de valores, fazendo com que diversos grupos se entrelacem submetidos aos pressupostos hegemônicos da sociedade. Portanto, a Escola é um ambiente de legitimação e difusão de práticas político-culturais, sendo o locus de formação/interiorização de valores e de consolidação de identidades. Em um mundo globalizado, no entanto, no qual ocorre a tentativa de se homogeneizar ações para se assentar uma cultura dominante – que no caso brasileiro, está longe de ser nativa – o estabelecimento, a elaboração e a promoção de uma memória é parte essencial do controle sobre os segmentos sociais de um território.

Nesse sentido, os grupos hegemônicos de uma sociedade precisam conceber um discurso que reforce a sua autoridade e, para isso, a memória é um mecanismo imprescindível. Contudo, a memória precisa de materialidade, sendo esta um atributo fundamental de artefatos, edifícios, utensílios, bem como de rituais, danças, músicas etc., estando esses últimos revestidos de atributos imateriais. Com isso, pensar a memória é pensar a identidade de um grupo, a qual se constitui pela relação do homem com o seu meio ao longo do tempo. É essa produção inerente a ação do homem que podemos chamar de patrimônio cultural, cujos atributos permitem que sejam de ordem material e/ou imaterial. O patrimônio cultural está revestido de memória que, em virtude da sua relevância político-social, reforça e legitima uma memória tanto coletiva quanto individual [Rocha, 2012]. Sendo assim, afirmamos que o patrimônio cultural é uma construção dotada de poder e representação política com o intuito de ratificar a estrutura social em uma sociedade.

Embora o nosso posicionamento pareça taxativo, o uso da memória para promover uma identidade cultural demonstra a importância do patrimônio cultural para o desenvolvimento do conceito de nação. Este, por sua vez, exprime a lógica da memória ao redor de aspectos e práticas comuns que culminam na percepção do sujeito como parte integrante de um grupo. Entretanto, a memória é fruto de escolhas e o seu uso pode ser manipulado em função de inúmeros interesses. Entretanto, Ismênia Martins [2007, p. 14] nos advertiu que mesmo diante desse cenário globalizante e globalizado, a lógica de uma memória totalizante capaz de englobar a cultura de todo um conjunto político-geográfico do mundo já não tem lugar entre os pensadores e pesquisadores contemporâneos.

Durante a Guerra Fria, por exemplo, as lutas por direitos e liberdades fomentadas por sociedades e/ou grupos sociais destacaram as limitações de um pensamento hegemônico que, embora mantenha a sua preponderância, já não se encontra isento de críticas. Com a aproximação da História, enquanto disciplina, de outras ciências e áreas de conhecimento, houve a emergência da importância do simbólico e da sua pluralidade na composição do pensamento humano, os quais passaram a figurar nos indícios documentais atrelados à produção do conhecimento historiográfico. Logo, o pensar-se indivíduo no interior de uma sociedade e imerso em uma cultura se tornou elemento de discussão e problematização dos historiadores.

Se tratarmos das lutas nacionais que se deram na Guerra Fria, verificamos que muitas sociedades se esforçaram pela conservação de seu patrimônio cultural, haja vista que este era um dos instrumentos essenciais para a sua formação e a reafirmação de seu pertencimento a um grupo dotado de uma identidade cultural específica. Dessa forma, Júlio Bembe [2013, p. 100-101] explicitou que, no caso de Angola, a guerra civil e a participação ativa de outras sociedades em meio aos conflitos sociais angolanos fez com que os jovens contemporâneos estivessem à margem das memórias de sua sociedade edificadas por meio de patrimônios culturais materiais e imateriais. Isso porque, esses conflitos levaram à destruição dos lugares de memória e milhares de pessoas à morte. Esse posicionamento apenas reitera a ideia de que a memória e o patrimônio cultural, como formadores de identidades, são elementos políticos que ao serem esquecidos abrem espaço para que novas identificações e práticas culturais sejam formadas.

É nessa perspectiva que mobilizamos o Ensino de História, pois, tal como a memória, a identidade e o patrimônio cultural, aquele contribui para a percepção que o sujeito pode ter de si enquanto indivíduo e parte integrante de uma sociedade. Isso porque Geraldo Moreira, Hilbernon Coelho e Christiano Santos [2014, p. 151-152)] demonstraram que a História é uma disciplina dotada de muita importância política e social, afinal, muito daquilo que analisa e problematiza pretende tornar os discentes críticos. Essa postura também projeta a expectativa de que ao discutir os feitos sociais ao longo do tempo, o sujeito poderá se constituir em um cidadão crítico e consciente de seu lugar na sociedade e no mundo. Obviamente esta premissa converge com os pressupostos dialógicos de uma pedagogia que, no Brasil, remonta a Paulo Freire [2005, p. 91-96]. Isto é, devemos pensar o lugar de fala do aluno, tornando-o protagonista do processo de ensino-aprendizagem de modo que este se perceba como um sujeito do conhecimento.

Esse posicionamento para o Ensino de História é algo que parece preocupar os governos, sobretudo, na maneira como este [não] pode ser desenvolvido. Dessa forma, tornar o aluno crítico para que daí este perceba a dinâmica política da realidade social, pode ser identificado como um risco para a hegemonia de uma parcela da elite. Essa premissa se relaciona, diretamente, com o compromisso de se preservar um patrimônio cultural, seja ele material seja imaterial, em uma sociedade. Isso porque, a memória também se faz presente no Ensino de História, sendo selecionados os assuntos que interessam às elites. Esses aspectos se manifestam por meio das mudanças que se fizeram presentes no currículo nacional por meio da Base Nacional Comum Curricular [BNCC] recentemente aprovada pelo governo.

Portanto, a função do Ensino de História pode ser atrelada aos objetivos de um patrimônio cultural, afinal, ambos pretendem fomentar a memória e legitimar poderes, ainda que cada qual à sua maneira. Ambos também projetam e se utilizam da memória para alcançarem grande parte de seus objetivos, de modo que os sujeitos possam se inserir, de forma coesa, no interior de uma sociedade. Logo, a função política do Ensino de História e do patrimônio cultural é reforçada por meio da memória, cujo objetivo é assegurar que os sujeitos se identifiquem com práticas, ideias e rituais – tanto individualmente quanto em grupo, fomentando a lógica de uma identidade nacional.

Por outro lado, se pensarmos a nossa posição como professores de História, nos cabe reforçar a contribuição de todos os segmentos de uma sociedade para a composição de sua trajetória no tempo e no espaço, assim como a sua importância para a memória de seu território. Diante disso, Circe Bitterncourt [2018, p. 230-232] afirmou que a educação patrimonial se tornou parte dos currículos e planejamentos escolares. Isso porque a História, enquanto disciplina, se refere à cidades históricas e lugares dotados de monumentos históricos consagrados. Mediante o exposto fica evidente que o professor de História precisa conhecer métodos para lidar e trabalhar adequadamente com o patrimônio histórico-cultural em suas aulas, haja vista que este é um instrumento de memória e identidade que ajuda a compor a temática de aula.

No entanto, ter a temática de aula composta por análises e conscientizações acerca da importância do patrimônio cultural  nos leva a depreender aquilo que essa documentação pode nos oferecer. Segundo Nilton Pereira e Fernando Seffner [2008] a utilização dos vestígios arquitetônicos e outros artefatos materiais como documentos históricos se deu com os avanços historiográficos promovidos pela Escola dos Annales. Isso porque os seus pesquisadores estavam interessados em desenvolverem uma História menos elitista, capaz de abranger o todo da sociedade por se utilizar de indícios que não se restringiam às fontes escritas oficiais. Dessa maneira, não somente a pesquisa acadêmica sobre o patrimônio cultural, como também a educação patrimonial, são fundamentais para que possamos desenvolver uma História que não esteja limitada aos registros oficiais. Essa postura, já problematizada pelos Annales, reforça os benefícios que a análise crítica sobre os vestígios materiais e imateriais, entre os alunos, gerará para a sociedade como um todo.

Embora esse não seja o interesse de grande parte das elites brasileiras, a preservação do patrimônio cultural de nosso país fomenta a lógica da diversidade que compõe a nossa sociedade. Todavia, como se preservar um patrimônio? Quem o preserva e por que o preserva? Se retomarmos às premissas dos Annales, a preservação do patrimônio cultural de uma sociedade requer a conscientização das pessoas que dele se utilizam. Nesse sentido, ao conjecturarmos os apontamentos de Maria Auxiliadora Schmidt [2007, p. 190-193] verificamos que a preocupação com a História Local seria interessante para discorrermos sobre a importância do patrimônio. Essa postura e aparente ênfase atribuída ao aspecto local é justificada pelo contato direto que este mantém com o cotidiano de algumas comunidades, no interior de um território. Com isso, a conscientização da importância dos vestígios materiais e imateriais que ali existem pode favorecer a sua preservação.

Por outro lado, Schmidt [2007, p. 194-195] complementa expondo que o local deve ser pensado por uma via relacional com o nacional e o global, fomentando os seus referenciais identitários. Logo, a valorização do elemento local [micro] no interior do nacional [macro] permite a elaboração de uma História plural, menos homogênea e que não silencie especificidades. Bittencourt [2018, p. 231-232] reforça que mesmo diante desse cenário historiográfico devemos nos questionar sobre o que tem sido constituído como memória social e patrimônio da sociedade, além de discutirmos se o resgate da memória de todos os setores e grupos sociais são realizados de maneira efetiva. É justamente nessa esteira que segue a relação entre Ensino de História, patrimônio cultural e memória.

Diante do comentado, o Ensino de História Local pode nos auxiliar na busca pela conscientização dos grupos sobre a importância do patrimônio cultural para a manutenção da memória de uma sociedade. No caso brasileiro, os esforços ao redor dessa preservação lidam, também, com a percepção da diversidade étnico-cultural que compõe o nosso país. Nesse sentido, ao conseguirmos propiciar em nossos alunos a importância dos vestígios materiais e imateriais que integram a nossa cultura, estes poderão elaborar mecanismos, posturas e atitudes que ajudem na sua conservação. De fato, em uma sociedade tão plural como a nossa, é difícil que todos tenham identificação com os patrimônios dos quais dispomos. Ainda assim, a preservação patrimonial pressupõe a empatia e o reconhecimento da importância que aqueles vestígios detêm para os outros.

A postura do professor e os seus esforços para demonstrar que a História não está em lugares distantes, mas, também em ambientes próximos à residência dos alunos, pode ser uma alternativa interessante nesse processo de reconhecimento e preservação da memória. Em conformidade as considerações de Mario Chagas [2007, p 209-216] notamos, que se conseguirmos ampliar a percepção da comunidade escolar acerca do patrimônio cultural na localidade da instituição, podemos superar as respostas pessimistas que geralmente se manifestam quando tentamos responder as perguntas suscitadas anteriormente. Em geral, os organismos políticos tendem a preservar aquilo que foi “eleito” como fundamental para a memória de uma nação, no entanto, a política da unidade nacional ignora a pluralidade, sobretudo se considerarmos o caso brasileiro.

Quando pensamos sobre a maneira como o patrimônio cultural é preservado, a conscientização do seu valor identitário deve ser pensada e ensinada desde a mais tenra idade, cabendo ao professor de História esse processo de ensino-aprendizagem. Não somente porque nos utilizamos dos vestígios em nossas aulas, mas, porque estamos preocupados com a formação/preparação de cidadãos críticos e respeitosos para com o outro; dispostos a pensarem e a repensarem o seu lugar no mundo e na realidade em que vivem. Essa premissa já havia se manifestado nos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio [1997], os quais destacaram a importância de debates que discorram sobre a importância de festas e monumentos comemorativos, além de museus arquivos e áreas preservadas, de tal maneira que estes explicitem o papel da memória na vida da população. Do mesmo modo, os alunos deviam tentar perceber os vínculos entre as gerações, os quais se expressam pelas suas raízes culturais e históricas como integrantes de uma sociedade humana.

É curioso pensar que embora os PCNEM tenham sido propostos pelo Conselho Nacional de Educação, sendo parte integrante do Ministério da Educação, a sua redação esteve preocupada com a diversidade como uma característica da identidade nacional brasileira. O nosso “espanto” lida com os esforços do atual governo em rejeitar aquilo que fora determinado e garantido por lei em outras ocasiões. Dialogando com Kátia Abud [2007, p. 108] esta manifestou que a simplificação didática está atrelada aos interesses políticos de grupos específicos, de tal maneira que o ensino se torne cada vez mais objetivo e menos preocupado com a humanidade, tanto da sociedade quanto dos alunos e professores. Logo, ainda que os PCNEM tenham manifestado a importância da preservação do patrimônio histórico-cultural brasileiro, endossando o que já havia sido proposto pela Constituição brasileira de 1988 [art. 216, seção II], esta política não se alinha com as demandas neoliberais que vivenciamos no Brasil.

Ainda analisando os PCNEM, percebemos que a visitação e o contato ativo dos alunos com ruas, praças, edifícios públicos e monumentos são oportunidades para que o seu aprendizado patrimonial seja efetivo. Entretanto, essa postura teria sido suficiente para o processo de conscientização? Convergindo com Ismênia Martins [2007, p. 14-16], não podemos acreditar que uma simples visita consiga fomentar a importância do patrimônio cultural em sala de aula. Elemento que impactou na relação que muitos jovens possuem com os seus monumentos e historicidade, em nossos dias. Para tanto, partimos da premissa que o fundamental é elaborar atividades práticas que explicitem as potencialidades do conceito de memória de forma crítica. Ao destacarmos a singularidade deste em conformidade a pluralidade de ideias e definições que o integram, teremos condições de discorrer sobre a sua relevância para a vida em sociedade.

Feito isso, a História Local reforça a ideia de que o conhecimento histórico ocorre de modo cotidiano e que não está distante dos alunos em sala de aula. Pedir que estes pesquisem sobre a história do bairro e das suas famílias pode demonstrar que somos sujeitos historicamente ativos. Realizado este passo, o professor pode tentar sistematizar os vestígios obtidos em relação ao que ocorria na cidade, no país ou no mundo no período verificado, estabelecendo as possíveis conexões entre eles. Após esse processo, o professor e a instituição escolar podem criar um roteiro que visite as principais ruas e construções do bairro, para que os alunos vivenciem e comprovem aquilo que havia sido exposto em sala de aula. No momento em que estes identificarem a relação existente entre o seu espaço social imediato e a sua identidade cultural, teremos um cenário favorável para promovermos a importância da preservação do patrimônio cultural para a manutenção da memória e a relação desta com a identidade cultural que os sujeitos concebem de si e para si em conformidade ao lugar em que residem e com as pessoas com quem convive.

Os apontamentos de Maria Angélica Zubaran e Lisandra Maria Machado [2013, p. 118-119] foram taxativos quanto ao posicionamento dos PCNEM. Em sua exposição, as autoras partilham de práticas como as citadas acima para fomentar a importância do patrimônio cultural e da memória dos grupos que compõem a sociedade brasileira. Zubaran e Machado apontam que não podemos esquecer que os vestígios materiais e imateriais são manifestações de poder, sendo empregados conforme o interesse de segmentos sociais específicos e com as mais variadas finalidades. As autoras manifestam que os professores devem estar compromissados com a sua profissão e o potencial desta para com o desenvolvimento político-cultural da sociedade. Portanto, Zubaran e Machado denunciam a maneira como os museus são tratados e como as exposições são projetadas, considerando que estes tendem a ser considerados lugares de memória para todo um estado, município e, até mesmo, a nação. Em certa medida, a falta de problematização do ambiente museológico e de outros lugares de memória acabam normatizando a visão dominante da sociedade, a qual se utiliza dos mesmos para legitimar o seu lugar social e a sua autoridade.

Diante desse cenário, o Ensino de História [crítico] também pode contribuir para a percepção crítica dos usos da memória por meio do patrimônio cultural. Essa postura desnaturaliza a ideia de que alguns artefatos e práticas são dignos de memória enquanto outros precisam ser esquecidos. De fato, a seleção dos elementos de memória se dá em todas as instâncias e grupos sociais, porém, os alunos podem tecer críticas aquilo que foi empregado como parâmetro da memória e da identidade nacional ainda que esteja restrito a um pequeno grupo de pessoas. Logo, enfatizamos que a nova BNCC do Ensino Fundamental apresenta uma reflexão em como devemos fazer uso de diferentes [...] fontes e tipos de documento [escritos, iconográficos, materiais, imateriais] capazes de facilitar a compreensão da relação tempo e espaço e das relações sociais que os geraram. Fato esse que auxilia aos professores na reflexão do patrimônio junto aos conteúdos. Desse modo, a BNCC enfatiza que os estudos documentos materiais revelam expressões humanas, o contexto de produção, consumo e circulação desses objetos. Logo, nessa perspectiva: [...] o objeto histórico transforma-se em exercício, em laboratório da memória voltado para a produção de um saber próprio da história [BNCC, 2017, p. 398]. Afinal, colocamos nossos alunos numa postura reflexiva e que toma a cultura material como ponto de partida para a construção do conhecimento, assim valorizando a própria consciência histórica. Dessa maneira, em nossa visão o emprego da cultura material para o ensino-aprendizagem, proporciona aos discentes processos de identificação, comparação, contextualização, interpretação e análise de um objeto estimulam o pensamento [BNCC, 2017, p. 398]. Todavia, notamos certa escassez de menções a cultura material e imaterial quando tratamos da BNCC para o Ensino Médio. Da mesma forma, o pensamento patrimonial não é destacado, o que impacta na produção de conhecimento do aluno. Esse é um fator que precisaremos ampliar em debates escolares e sociais.

Sendo assim, concluímos que o Ensino de História é uma peça fundamental para a mudança política, social e cultural que esperamos em nossa sociedade. Seria por meio dos seus esforços que os alunos entrariam em contato com a subjetividade do conceito de memória e a sua importância para o desenvolvimento da identidade cultural de um grupo, pessoa e sociedade. Com isso, o uso consciente e planejado do patrimônio cultural – material e imaterial – além de melhorar o ambiente de aprendizado favorece a consciência crítica dos alunos, os quais serão preparados para interagirem de modo questionador para com aquele tipo de vestígio. Nesse sentido, o Ensino de História poderá enfatizar que a memória é construída e que esta também é responsável pela importância que um grupo atribui ao patrimônio cultural, o qual lhe permite legitimar uma dada identidade cultural. Em certa medida, devemos recordar que esse procedimento ocorre em um nível interdisciplinar, além de ser um processo gradativo. Contudo, a conscientização da importância dos lugares de memória, da cultura material e imaterial para a edificação de uma sociedade mais justa, vale os esforços de resistência aos grupos hegemônicos e pouco dispostos em pensar nos segmentos menos abastados.

REFERÊNCIAS

Luis Filipe Bantim de Assumpção é Doutor em História pela UFRJ. Atualmente, realiza o pós-doutorado no PPGLC/UFRJ. Assumpção é Professor-tutor presencial do curso de graduação em História da UNIRIO/CEDERJ, polo de Cantagalo, nas disciplinas de História Antiga, História Medieval e Sociologia.

BRASIL/MEC/SEF. Parâmetros Curriculares Nacionais, 1997.
BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Fundamental 1º e 2º Ciclos – História. Brasília: MEC/SEF, 1997.
BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Fundamental 3º e 4º Ciclos – História. Brasília: MEC/SEF, 1998.
BRASIL, Lei nº 9.394/96 – Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: Ministério da Educação, 20 dez. 1996, Artigo 22.

ABUD, Katia Maria. A História nossa de cada dia: saber escolar e saber acadêmico em sala de aula. In: MONTEIRO, Ana Maria; GASPARELLO, Arlette Medeiros; MAGALHÃES, Marcelo de Souza [Org.]. Ensino de História: Sujeitos, saberes e práticas. Rio de Janeiro: Mauad X, 2007.p.107-117.
BEMBE, Júlio. Ensino de história e o patrimônio histórico-cultural numa relação teoria-prática, Paidéia – revista do curso de Pedagogia da Faculdade de Ciências Humanas, Sociais e da Saúde, Universidade FUMEC, Belo Horizonte, Ano 10, nº 14, p. 99-112, jan./jun. 2013.
BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: fundamentos e métodos. 5ª Ed. São Paulo: Cortez, 2018.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Artigo 216, § 3, seção 2. 1988. Acessado em 22 de abril de 2020. Link de acesso: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>
_____. Parâmetros Curriculares Nacionais [PCNs]. Ensino Médio. Bases Legais. Brasília: MEC/SEF, 2000.
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CHAGAS, Mario. Casas e portas da memória e do patrimônio. Em Questão, v.13, n.2, 207-224, jul./dez. 2007.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 44ª Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.
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59 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Escrita fluída e narrativa impecável.
    Muito interesse desde a análise social à base teórica, no entanto, os autores consideram que a BNCC tem atingido o real objetivo do ensino histórico? Embora bem descrita, acredita-se as atividades limitadas a propostas de "reflexão", vejo, em âmbito pessoal, poucas metodologias ativas quanto a essa proposta.
    Como citado no texto, existe a colocação de análises críticas em documentos, mas, até que ponto isso tem alcançado as crianças de colégios públicos?
    Não se questiona a importância de ensinar História, o quero pontuar é justamente o alcance dessa "conscientização" em um território tão desigual.

    Atenciosamente, Talytha Cardozo Angelo.

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    1. Olá Talytha, obrigado pelas considerações. Concordo com você que temos muito que discutir sobre essa BNCC, pois ela ainda precisa vários debates e reformulações, em minha visão e experiência. Acredito que a BNCC, ainda não conseguiu atingir o seu objetivo e precisa, principalmente, pensar no ensino médio. As questões patrimoniais, no médio, também necessitam de mais reflexões. Enfim, a BNCC joga propostas que ainda precisam de muitas lutas e debates, em minha perspectiva.

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    2. Olá Talytha, agradeço pelas considerações e o interesse.
      Eu corroborou a colocação do Prof. Carlos Eduardo e enfatizo que a BNCC está muito longe de garantir qualquer objetivo prático ao qual tenha se proposto.
      Ela pretende ser um modelo para que as escolas edifiquem os seus currículos, mas, o que ela concebe como igualdade se constitui em simplificação e generalismo - próximo ao que destacamos no início do texto.
      De fato, o que existe é um projeto que ainda não faz ideia do que é preciso realizar.
      Logo, é justificável e perceptível os motivos pelos quais não verificamos ou identificamos os esforços desse documento.
      Cordialmente,
      Prof. Luis Filipe de Assumpcão

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  3. Parabéns pelas colocações no texto. Muito pertinentes, principalmente quando objetivamos levar o saber histórico e patrimonial para um ambiente de aprendizagem que sofre com uma estrutura ultrapassada de ensino. Neste contexto, como solucionar a questão do ensino patrimonial com a construção de identidade, sem propostas concretas em nossos currículos?

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    1. Estimadx, recomendo colocar seu nome para poder assegurar sua participação no evento. Respondendo a sua pergunta, creio que isso terá de ser pensado junto as diretivas estaduais para educação e discutida pelos fóruns nacionais. Creio que essa BNCC ainda precisa de muitas reflexões, pois como a Talytha falou acima, ela deixa muitas lacunas.

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    2. Perdão. Meu nome é Fábio Junho Silva. Obrigado.

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    3. Boa tarde, Fábio.

      Eu corroboro o Prof. Carlos Eduardo, afinal, as lacunas e as limitações inerentes ao ensino se fazem presentes de forma intensa, tanto no ensino básico quanto no superior.
      De todo modo, não podemos esperar que estas questões curriculares sejam sanadas de imediato, sobretudo no que tange às identidades culturais.
      Nesse sentido, penso que cabe ao professor - em seu ofício e esforço - fomentar debates que propostas de análise/pesquisa acerca da importância do patrimônio, dos seus usos e abusos, bem como a sua importância para o ensino e a percepção do sujeito enquanto indivíduo.
      Cordialmente,
      Prof. Luis Filipe

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  4. Se a “História enquanto disciplina, se refere” a lugares, conteúdos e “monumentos históricos consagrados”, por parte das elites brasileiras, e não fomenta a lógica da diversidade e pluralidade nacional, vejo que o professor de história enfrenta grande dificuldade na execução de sua tarefa de formação crítica dos educandos. Com isso, como enfrentar esse fator em propostas e proposições, que tragam reforço identitário os alunos nessa relação entre local, nacional e global? Queria entender tal fator, numa relação didática- pedagógica, em que a educação histórica superasse as dificuldades cotidianas que enfrentamos na escola...

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    1. Concordo com você Wilson, pois temos inúmeras limitações diárias e as dificuldades pedagógicas que temos. Creio que nossos trabalhos são mais no campo dos microcosmos que no macro, infelizmente. Todavia, acredito que podemos jogar questões reflexivas e trabalhar elementos ligados aos aspectos da antropologia e política social, sem necessariamente usarmos os termos e chaves que eles criem rejeições. A gente, através do patrimônio, pensar processos de silenciamento de grupos e de valorização de outros, pensando desigualdades sociais que vão da destruição ao acesso, por exemplo.

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    2. Olá Wilson,
      Obrigado pelo comentário.
      Quanto a essa questão, destaco que o fundamental é que o professor crie um planejamento capaz de lidar com essas situações e temáticas.
      Dito isso, nos cabe utilizar os materiais disponíveis para fomentar análises e reflexões nos discentes, para que esses se tornem historicamente ativos e percebam as limitações daquilo que tende a ser ensinado.
      Logo, o Patrimônio e a História Local se tornam instrumentos, e alternativas, para se pensar novas maneiras de ensinar - para além da normatização colonialista a qual o ensino se encontra submetido.
      Cordialmente,
      Prof. Luis Filipe

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  5. Parabéns pelo texto! Do ponto de vista técnico, a que se dá a escassez de menção a cultura material e imaterial na BNCC para o Ensino Médio já que no Ensino Fundamental isso é contemplado?

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    1. Olá Wilson,

      Sinceramente, eu não consigo pensar em inocência e/ou desconhecimento da parte dos responsáveis pela BNCC. Muito pelo contrário. Acredito que isso esteja alinhado a um projeto de organização curricular interessado em pensar e/ou tratar a educação por vias superficiais mecanicistas, algo que se associa à educação bancária de Paulo Freire.
      Não é interessante que o aluno se torne consciente de seu lugar na sociedade, seja como cidadão crítico e ativo seja como agente histórico.
      Portanto, a cultura que precisa ser interiorizada é a hegemônica - segundo as elites.
      Cordialmente,
      Prof. Luis Filipe

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  7. Excelente texto! Parabéns pelas colocações concernentes ao ensino de História com a formação da consciência histórica. Apesar de estar nos documentos oficiais, como a BNCC, na prática, enfrentamos muitas dificuldades nas escolas no que tange, não só os conceitos apresentados e sua apreensão por toda a comunidade escolar. Parabéns! Gostaria de saber de vocês, quais sugestões dariam para professsores da rede pública de ensino, sobre o ensino de conceitos como cultura, patrimônio para esses estudantes? Como fazer que esses estudantes se apropriem de sua história como sujeitos históricos? Atenciosamente prof. Vivian Alkaim

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    1. Vivian, esse é um problema que vivi muito como professor do fundamental e médio. Muitas vezes, elaboramos conceitos na academia e não pensamos na realidade escolar. Um caminho que busquei era partir das experiências de vida deles, assim explicando a cultura em jogos de escalas - indo do microcosmo dele até o macrocosmo da sociedade, assim pensando como isso impactava na sua vida social. Temos poucos tempos para o fundamental e médio, então buscava ministrar os conteúdos do bimestre pegando os principais pontos e depois aprofundar eles naquilo que podia propiciar reflexões. Não é uma fórmula, mas foi uma tática que tentei implantar. Sobre o patrimônio, eu tentava falar desses assuntos, ao falar das obras e movimentos culturais e o valor de preservar eles.

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    2. Olá Vivian,
      Obrigado pela sua contribuição.
      Eu concordo com o Prof. Carlos Eduardo e afirmo que, a maioria das vezes, esse tipo de abordagem requer que o próprio professor invista em leituras mais especializadas acerca dos temas e conceitos propostos.
      Digo isso por experiência própria, haja vista que tento introduzir essas questões conceituais aos meus alunos, de modo que tenha utilidade em suas atividades práticas como discentes.
      Em turmas do ensino médio e superior isso se deu de uma maneira mais fácil, uma vez que eu pedia com uma ou duas semanas de antecedência para que lessem sobre certas definições conceituais e, posteriormente, tentava promover uma discussão visando a aplicação dos conceitos.
      Contudo, na graduação de História os objetivos eram diferentes dos alunos do ensino médio, me levando a pensar/problematizar/selecionar o que teria utilidade para os mesmos em suas aulas da área de ciências humanas.
      Por fim, eu sugiro que o aluno seja levado a pensar o seu lugar social (em uma escala micro) e depois pense a relação deste com perspectivas mais amplas.
      Cordialmente,
      Prof. Luis Filipe

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  8. Boa contribuição, pois é importante trabalhar com os alunos a ideia de patrimônio histórico como um elemento de afirmação de identidades e como registro material de concepções e práticas. E no âmbito da unidade escolar (considerado, também, o entorno da escola), como você pensa que se pode trabalhar de maneira significativa a questão do patrimônio com os alunos?

    Carlos César Bento Filho

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    1. Estimado Carlos,
      recomendo sempre um planejamento e contextualização historico-patrimonial junto aos objetivos da aula. Já realizei muitos trabalhos com essa proposta para o Estudo de Brasil, no fundamental e Médio, bem como com artes neoclássicas para o mundo grego e romano. Creio que é possível elaborar vários planos até com arte tumular.

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    2. Estimado Carlos César,
      Tal como o Prof. Carlos Eduardo, eu partilho da ideia de que o planejamento é fundamental para a devida aplicação de análises patrimoniais em sala de aula.
      Nesse sentido, eu cheguei a propor a definição do conceito de patrimônio, para depois trabalhar com os alunos (ensino básico) a percepção da sua importância para a sociedade e a formação de sua identidade.
      Com isso, é importante estabelecer os objetivos com esse tipo de trabalho e pensar a especificidade de cada turma para que saber os mecanismos mais efetivos para a sua aplicação.
      Cordialmente,
      Prof. Luis Filipe

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  9. Prezados Carlos Campos e Luis Assumpção, parabenizo pelo excelente texto e contribuição ao debate proposto. Concordo que o "Ensino de História é uma peça fundamental para a mudança política, social e cultural que esperamos em nossa sociedade", entretanto, numa conjuntura de ataque e criminalização da nossa atuação docente e tentativas revisionistas por parte dos próprios agentes do ministério da educação, como vocês compreendem e localizam táticas de resistência a essa tentativa de submeter a narrativa histórica a projetos autoritários de poder?

    Natanael de Freitas Silva

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    1. Estimado Natanael Silva,
      há muitos grupos procurando polarizações em debates, ao invés de pontes. Vivemos um momento complexo, o qual é possível buscar criar trocar tópicos narrativos para falar das mesmas coisas, porém com outras roupagens. É possível, muitas vezes, trabalharmos conteúdos e levarmos as reflexões sem diretamente tocarmos nos pontos que geram ataque. Michel de Certeau ensina muito sobre as táticas e estratégias para subversões do sistema.

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    2. Estimado Natanael,
      Obrigado pela contribuição. Efetivamente, sempre estaremos sujeitos a esse tipo de situação - em alguns momentos mais e em outros menos.
      Contudo, eu penso que a retórica docente precisa estar alinhada com os seus objetivos, seja profissional seja pessoal. Logo, se nos utilizarmos de um viés desconstrucionista, somos capazes de fazer o que devemos sem estarmos explicitamente ameaçados pelo sistema.
      Em certa medida, isso se enquadraria na perspectiva ressaltada pelo Prof. Carlos Eduardo, pois, sabemos fazer e como fazer o nosso trabalho, haja vista que a maioria dos historiadores se veem ameaçados e agredidos já em seu processo de formação. Dessa maneira, nos tornamos especialistas no não-dito.
      Cordialmente,
      Prof. Luis Filipe

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  10. Olá, professores! Muito legal o texto de vocês. O estudo patrimonial na educação básica é quase nula. Tem-se disposto nos livros didáticos de 1ª a 5ª série um breve estudo da História local e do indivíduo na dentro da História, ou seja, o estudo do eu enquanto sujeito ativo na história. A partir do fundamental II, o estudo caso fica nulo/ou quase. Também gostaria de chamar a atenção que muitos professores que lecionam a disciplina de História não são formados na área da disciplina que ministram. Sendo assim, o estudo/continuidade do estudo da História patrimonial não deveria vir de um diálogo com os professores do fundamental I com os professores do fundamental II, dando uma continuidade no desenvolvimento do ensino-aprendizagem da criança? Levando em conta que os livros didáticos, de tão precários que são não fazem esse tipo de relação!
    Leitora: Yasmim Fagundes Centeno

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    1. Olá Yasmin,
      Obrigado pelo comentário. Sinceramente, a formação do sujeito - tanto a escolar quanto a cotidiana/pessoal - é um processo contínuo (ou deveria ser). Dito isso, embora haja essa segmentação, o fundamental seria que o processo não fosse interrompido, e sim aprimorado.
      Pensar o lugar do sujeito e a sua relação com o seu micro-universo, não anula o diálogo que este mantém com esferas/escalas maiores de experiência e existência.
      Contudo, vemos que os esforços fundamentais dos órgãos responsáveis pela organização curricular é, justamente, o inverso do que desejamos e vivenciamos em sala de aula.
      Nesse sentido, os alunos que nos chegam no ensino superior manifestam defasagens inerentes a uma formação básica deficitária, sem saber que já deveriam ter consciência crítica sobre o seu papel na sociedade e diante do ensino que vivenciam.
      Portanto, penso que o ensino, não somente de História Patrimonial, deveria ser um processo de ampliação de conhecimentos e percepções de mundo, ao invés de rupturas - como geralmente verificamos.
      Cordialmente,
      Prof. Luis Filipe

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  11. Bruno Fernando Santos de Castro

    Gostaria de contrapor a abordagem de currículo como conhecimento ou numa perspectiva multiculturalista, com uma abordagem de currículo como espaço indecidível em que a subjetivação ocorre através de atos de criação, e a ação educadora como um investimento radical e sem garantias na hiperpolitização do mundo, a partir, principalmente, de autoras como ALice Casimiro Lopes e ELizabeth Macedo ao lerem, a partir do campo da comunicação, autores como Derrida, Laclau, Butler, Bhabha, entre outros.

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    1. Estimado Bruno,
      Agradeço a sua contribuição. Na verdade, a subjetivação/relativização do conhecimento é algo que muitos professores e pesquisadores de História ainda são resistentes.
      Isso porque a "falta de uma materialidade objetiva" do conhecimento parece ameaçar o lugar de fala do profissional da História, ainda em sua busca por uma realidade que inexiste de forma universal.
      Quando pensamos o currículo por uma via subjetiva, temos a vantagem de demonstrar que o conhecimento é construído a todo momento, sem estar limitado a um grupo ou instituição.
      Entretanto, devemos concordar que o excesso de subjetivação impediria a organização de parâmetros curriculares, pois, não haveria materialidade de nada.
      Talvez, uma alternativa interessante para isso, seja a adaptação de um currículo "fixo" diante de perspectiva teóricas desconstrucionistas/relativistas/pós-modernas/pós-estruturalistas.
      No entanto, essa é uma percepção pessoal.
      Cordialmente,
      Prof. Luis Filipe

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  12. Bom dia. Que alternativas possíveis podemos utilizar para inserir a História Oral na Educação Patrimonial?

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    1. Obrigado pela contribuição, Diair.
      Bem, eu sugiro que o mais importante - de imediato - seja definir o que é patrimônio e a importância da memória para a sua legitimação como instrumento identitário.
      Feito isso, podemos demonstrar que a oralidade contribui para que possamos perceber o modo como os sujeitos se relacionam com o seu espaço e o patrimônio ao seu redor.
      Portanto, a medida que eu empregaria seria a definição teórica de Patrimônio e a exposição de sua importância para um sujeito/sociedade/nação. Feito isso, demonstraria que a memória e a identidade são fluidas e heterogêneas, podendo se utilizar de elementos patrimoniais para se consolidar. Por fim, destacaria a relação entre oralidade, memória e identidade atrelada ao patrimônio e a sua contribuição para a produção do conhecimento histórico.
      Cordialmente,
      Prof. Luis Filipe

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  13. Professores, agradeço as ideias apresentadas no texto e esclarecimentos. O conceito de patrimônio é uma construção social e que no desenrolar de seu desenvolvimento, acompanhou as novas preocupações sociais, de inicio da “pedra e cal” e progredindo para as manifestações culturais imateriais. No presente as nossas escolas estão sendo julgadas, sofrendo um descrédito por parte da população. Seria possível tornar a escola um patrimônio cultural, envolvendo a comunidade no seu meio e assim demonstrando a importância da instituição para sociedade? Sei que por lei a comunidade escolar está embutida nas linhas documentais, mas a realidade é diferente. A escola pode ser vista como Patrimônio cultural e de formação? Como trazer a comunidade para dentro da escola a partir desta perspectiva?

    Lana Martiéli Schröer

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    1. Estimada Lana,

      excelente reflexão proposta. Apesar da questão documental, há vários requisitos para colocar um espaço ou monumento como patrimônio histórico do sistema social e educacional. Todavia, eu creio que podemos dar vazão a escola e sua história, as história de vidas que ali passaram e que impactam naquela realidade comunal. Os seus pontos precisamos de aprofundar em maior análise, porém é um tópico que pode se tornar em uma investigação ou proposta. No que tange ao envolvimento da comunidade, esse é um dos maiores desafios, a escola se fechou por muito tempo. Dessa forma, precisamos passar a elaborar projetos pedagógicos que tragam a comunidade para as escolas.

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    2. Bom dia, Lana.
      Obrigado pelo comentário.
      Particularmente, tornar a escola um patrimônio cultural é algo que merece ser discutido e problematizado com maior ênfase. Isso porque a burocratização das atividades político-institucionais brasileiras acabariam dificultando o próprio funcionamento escolar.
      De todo modo, acredito que a formação, na condição de um direito ao cidadão, poderia ser compreendida como um bem patrimonial, ao invés do espaço escolar. Contudo, trazer a sociedade para essa dinâmica, requer um processo constante e gradativo de formação dos seus membros. Caso contrário estaremos reproduzindo aquilo que já é feito atualmente.
      Agora, eu concordo com o Prof. Carlos Eduardo, pois essas questões merecem ser aprofundadas.
      Cordialmente,
      Prof. Luis Filipe

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  14. POR QUE A ELITE NÃO TEM INTERESSE NA PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL?
    HEINZ DITMAR NYLAND

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    1. Bom dia, Heinz.
      Obrigado pelo comentário.
      Na verdade, a elite se preocupa com patrimônios culturais específicos, sobretudo aqueles capazes de enaltecer uma memória nacional promovida pelas elites, e que solapam os demais grupos sociais.
      No entanto, os movimentos políticos e sociais relacionados a alguns grupos já conseguiram fazer reconhecer patrimônios que não estão vinculados as elites, ainda que esse seja um esforço que merece reconhecimento.
      Cordialmente,
      Prof. Luis Filipe

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  15. O PENSAMENTO PATRIMONIAL NÃO É DESTACADO O QUE IMPACTA NA PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO DO ALUNO. DE QUE FORMA DEVEMOS AMPLIAR ESSES DEBATES ESCOLARES E SOCIAIS?
    HEINZ DITMAR NYLAND

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    1. Olá Heinz,
      De fato, essa consciência patrimonial é feita de modo superficial nas escolas, sendo pouco problematizada ou mesmo desenvolvida.
      Acredito que um planejamento pessoal inclinado a perceber e discutir a importância política, social, cultura e identitária do patrimônio possa minimizar essa defasagem vivenciada em nossa
      base curricular nacional.
      Cordialmente,
      Prof. Luis Filipe

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  16. Professores, bom dia!
    Quero cumprimenta-los pela proposta de trabalho e enfatizar que em Mato Grosso do Sul, as discussões sobre patrimônio, ainda que contem com esforço importante, a meu ver ainda carecem de ações mais efetivas para a sua consolidação. Nesse sentido, e talvez sendo repetitiva aos que me antecederam, gostaria de "lê-los", sobre as possibilidades de interação com o poder público, em sua boa maioria, detentor da responsabilidade de cuidar, manter e prover estes espaços.
    Com minhas saudações.
    Prof. Adriana Pinto

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Estimada Adriana,
      Obrigado pelo o comentário.
      Essa interação com o poder público é algo que, para muitos professores do ensino básico, não ocorre. Possivelmente, a interação dos professores com o sindicato poderia levar a esse tipo interação, mas, não consigo visualizá-la.
      Do mesmo modo, no ensino superior particular, vejo que muitos não se interessam nesse dialogo, pois dependem de seus empregos e muitas universidades privadas recebem recursos do governo para se manter. Essa situação inviabiliza um debate profícuo e impede a tomada de decisões sobre essas questões relativas ao patrimônio.
      Sinceramente, eu não vejo muita disponibilidade governamental em promover esse tipo de diálogo, pensando no aprimoramento das medidas para preservar e manter patrimônios culturais.
      Espero ter respondido, mas, falo a partir das experiências profissionais que vivenciei.
      Cordialmente,
      Prof. Luis Filipe

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    3. Sim, prof. Luis. Acompanho, em boa medida, o seu entendimento da questão. Estou contemplada na sua resposta, e espero que consigamos ganhar mais espaços, ao longo dos anos vindouros.

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    4. Estimada Profa Adriana,

      tudo bem? Suas reflexões são importantíssimas. Em minhas experiência em MS, Coxim e Campo Grande, vemos algumas distinções no tratamento do Patrimônio. Em Coxim, houve um retrocesso ao ponto do Museu de Arqueologia está abandonado com infiltrações e prejuízos imensos ao acervo. Apesar de haver uma verba destinada, a mesma não chega e o museu não se encontra devidamente registrado, outro problema. O investimento que antes era destinado as questões patrimoniais foram regredindo fortemente. No caso, sinto que falta buscarmos além do que deve ser investido pelo poder público, através do Ministério Público, parcerias com os setores privados, também. Em Campo Grande, como membro do MuArq, temos maior visibilidade, porém os recursos não chegam na medida que necessitamos para a demanda que temos. Estamos na luta buscando outras possibilidades de recursos, como debatido nessa semana da 18 Semana Nacional dos Museus. Infelizmente, temos de pensar em outras estratégias para os nossos museus e patrimônios.

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  17. Prezados Carlos e Luis, os parabenizo pelo texto muito claro e de temática tão pertinente. Bem sabemos que a memória é um elemento de disputa, sobretudo quando os grupos dominantes querem priorizar determinadas memórias em detrimento de outras que acabam sendo marginalizadas, bem como também sabemos que os lugares de memória são cruciais como elementos constitutivos da identidade cultural dos indivíduos. O patrimônio cultural é um elemento crucial neste processo de compreender que determinados elementos da nossa história resultam de escolhas de grupos que estão no poder, e que muitas vezes não representam outros grupos sociais, bem como interferem no processo de construção de sua identidade. Como podemos trabalhar essas tensões que envolvem as disputas pela memória na aula de história, de uma forma que o aluno perceba a importância do patrimônio cultural neste processo?
    Abraço

    Gerlane do Nascimento Mendes

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    1. Estimada Gerlane,
      Obrigado pelo o comentário.
      Eu partiria de uma escala micro - a História Local - para demonstrar os elementos constitutivos da memória dos alunos. Muitas vezes isso se faz presente no bairro ou nas cercanias deste. Feito isso, estabeleceria relações entre os patrimônios culturais disponíveis e como estes estão associados à maneira como os alunos e as suas famílias pensam e representam a si mesmos.
      Por fim, ao conseguir discutir, apresentar e problematizar essas questões, eu estabeleceria um contraponto entre esses patrimônios culturais - atrelados a lugares de memória, artefatos e atividades imateriais - com o que verificamos em grandes museus.
      Acredito que esse contraste permita que os alunos identifiquem esse "jogo de escalas" e a forma totalizante e generalista como muitas das identidades são pensadas para se conformar ao nacional.
      Cordialmente,
      Prof. Luis Filipe

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    2. Muito boa a sua proposta de abordagem! Concordo contigo. Obrigada pela resposta, me sinto perfeitamente contemplada. Abraços cordiais!

      Gerlane do Nascimento Mendes

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  18. Saudações!
    Primeiro gostaria de parabenizar pelos excelente texto!
    sou um apaixonado pela temática de patrimônio cultural e educação patrimonial.
    Como professor, sempre busco trabalhar em minha aulas as questões de preservação patrimonial, principalmente sobre o patrimônio dos esquecidos, mas sempre evidenciando os patrimônios mais "tradicionais" eleitos pelas instituições.
    Em minhas experiências, observo que ainda falta muito a ser elaborado, discutido e planejado para ser ter minimamente o aceitável nos livros didáticos e isentivo dos gestores para uma prática de preservação do patrimônio.
    Outro ponto que percebo é a dificuldade dos alunos em se relacionar com a cidade, com os patrimônios locais, mesmo sendo introduzidos na temática e encorajados as visitações aos espaços e pesquisas.
    Minhas pergunta vai nesse sentido, como podemos melhor trabalhar a educação patrimonial em tempos de uma sociedade liquida, onde os jovens não estão muito interessados na preservação de uma identidade local, mas sim mais dispostos a buscar uma identidade mais macro e globalizada.

    att. PAULO IGO GOMES DOS SANTOS

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    1. Estimado Paulo,
      Agradeço a sua contribuição. Esse processo de formação e interiorização de identidades é longo e dotado de inúmeras variáveis. De fato, na condição de professores, somos levados a trabalhar diante da singularidade individual de nossos alunos, marcada por um conjunto de experiências que se deram ao longo de uma vida inteira, mas, que ainda se encontra em processo de transformação/formação.
      Nesse sentido, percebo que o maior esforço da sociedade global é edificar sujeitos sem identidade, ou com identidades fluidas (me questiono se isso é possível), para que assim, estes estejam alinhados com toda uma perspectiva globalizada. Contudo, essa globalização está longe de ser "global", ela é uma forma singular de impor por vias alternativas um imperialismo cultural.
      Portanto, acredito que o professor de História tem o compromisso de promover a capacidade de pensar criticamente, destacando os motivos pelos quais os sujeitos se identificam com patrimônios que não lhes compete, bem como a função dessa postura no cenário político-social.
      Repito, esse é um processo bastante singular e, por vezes, muito difícil, pois estamos "lutando" com uma perspectiva estruturada e estruturante que tende a não pensar no local, e sim em suplantá-lo.
      Cordialmente,
      Prof. Luis Filipe

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    2. Estimado Paulo,

      complementando o Prof. Luis Filipe, também chamo atenção para os recursos digitais com visitas 3d, imagens e a construção de uma narrativa que busque levar o aluno as memórias afetivas com aquele espaço. Tais pontos são o começo da jornada para relacionar ele e o objeto que pretende pensar, quando possível.

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  19. O que você como educador sugere para despertar nos alunos o interesse pelas memórias coletivas, pelo patrimônio cultural?
    At.Marcia de Oliveira Pinto

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    1. Bom dia, Marcia.
      Obrigado pelo comentário.
      Essa questão do interesse pode ser desenvolvida, na minha perspectiva, por meio da conscientização gradativa de que o discente é um agente histórico ativo. Do mesmo modo, se formos capazes de encontrar meios e mídias alternativas para apresentar essa temática, os quais estariam associados os grupo social e/ou a faixa etária dos alunos, teríamos maiores possibilidades de análise.
      Contudo, essa é uma opinião pessoal, baseada em experiências de ensino particulares, as quais pude vivenciar.
      Cordialmente,
      Prof. Luis Filipe

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  20. Vimos que a interdisciplinaridade e a multiplicidade de documentos surgida na Escola dos Annales ampliou o nosso campo de estudos. Atualmente as várias áreas do conhecimento estão estabelecendo diálogos entre si, o que facilita muito a fixação do conteúdo por parte dos educandos. Seria interessante os educadores, sempre que possível incentivar ou até mesmo levar os alunos aos museus, aos locais que tenham algum patrimônio histórico para eles conhecerem e assimilaram melhor a importância de preservarmos as nossas memórias? Esse diálogo entre ouvir falar de algo e conhecer pessoalmente poderia enriquecer o processo ensino aprendizagem?
    At. Marcia de Oliveira Pinto

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    1. Olá Marcia.
      Obrigado pelo comentário.
      A experiência pessoal do aluno junto ao patrimônio tende a fazer diferença na forma como o sujeito passa a considerá-lo.
      No entanto, antes de irmos aos museus, acredito que o ideal seria partir do local, isto é, promovendo uma análise para verificar se existem lugares de memória e monumentos nas proximidades da instituição de ensino e/ou da residência desses alunos.
      O museu é importante, também, mas, ele tende a homogeneizar práticas e artefatos como se aquela fosse a única alternativa patrimonial existente, o que pode gerar o afastamento de muitos alunos.
      Cordialmente,
      Prof. Luis Filipe

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    2. Estimada Marcia,
      creio que esse procedimento valoriza a consciência histórica do aluno e ajuda no processo cognitivo. Vários museus realizam esse tipo de experiência e creio ser um caminho prazeroso para os alunos.

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  21. Boa noite, Carlos e Luís Filipe. Parabéns pelo texto! Como pensar o patrimônio nacional, que é plural, quando a BNCC busca homogeneizar um sentido único para a História ?

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    1. Olá Giselle,
      Obrigado pelo comentário.
      Acredito que o professor esteja em uma situação bastante singular, pois, ele tem diante de si um compromisso pessoal e com a sua profissão, mas, também o "dever" de seguir o currículo nacional do governo.
      Dito isso, acredito que cabe a nós, docentes, decidir o caminho a seguir. Sinceramente, os professores e pesquisadores de História já são considerados subversivos por problematizarem o lugar social dos sujeitos, então, acredito que o melhor seja nadar contra a corrente e demonstrar como o currículo é um espaço de conflitos político-sociais.
      Cordialmente,
      Prof. Luis Filipe

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    2. Estimada Profa. Giselle,
      boa tarde! Concordo com os apontamentos do meu colega, porém acrescento que não podemos tomar essa BNCC como um documento imutável. Creio que devemos endossar um movimento forte de alteração e revisão desse texto, tanto pela forma que foi feito e o conteúdo proposto. Devemos retomar essa luta, pois há mais problemas que soluções nesse texto. Todavia, nossa sala é nosso espaço e cada escola pode adotar projetos que pensem esse ensino de maneira específica, assim valorizando a diversidade contra uma proposta de História "Patriótica".

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  22. Estimado Prof. Luis Filipe Assumpção,
    Em nome da Mesa de Ensino de História: Teorias e Metodologias, gostaria de agradecer por compartilhar o seu conhecimento conosco. O seu trabalho foi um diferencial em nosso evento. É perceptível o quanto as suas reflexões motivaram e incentivaram os leitores. Obrigado!

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