Douglas Mota Xavier de Lima


AVALIAÇÃO NO ENSINO SUPERIOR: USO DE DIÁRIOS REFLEXIVOS NA LICENCIATURA EM HISTÓRIA


A tarefa de avaliar é árdua. Há mais de dez anos exercendo a docência entre a Educação Básica e o Ensino Superior, posso afirmar que as dúvidas que nesse período me afligiram foram compartilhadas com os demais professores com quem trabalhei e, atualmente, as percebo igualmente nos jovens que, recém-formados, iniciam suas atividades como docentes. Ao longo de minha trajetória profissional, por vezes, as incertezas em relação ao como avaliar, que práticas avaliativas utilizar, quais critérios usar para oferecer uma nota etc., se acentuaram diante da centralidade das provas objetivas e discursivas como instrumentos de avaliação padronizados pelas redes ou instituições de ensino; pela ênfase na preparação para processos seletivos de escolas técnicas e federais ou de vestibulares; e pelas próprias referências didáticas durante a minha formação, posto que meus professores, tanto na Educação Básica como no Ensino Superior, privilegiaram a avaliação por meio de provas. Diante disso, tal como Luckesi [2014], compreendo que é necessário aprender a avaliar, posto que, em geral, as ações dos professores ainda se concentram mais nos exames do que na avaliação da aprendizagem. Assim, o presente texto propõe refletir sobre a avaliação no Ensino Superior, particularmente na licenciatura, e apresentar alguns apontamentos sobre o uso de diários reflexivos.

Apontamentos sobre avaliação

Ao longo do século XX, formou-se uma cultura de avaliação, que não se limita ao campo educacional, estendendo-se às demais atividades sociais e mobilizando os recursos dos estados. No âmbito da educação, a avaliação vem se constituindo em um campo autônomo nas investigações acerca do currículo e da aprendizagem, afirmando-se a percepção de que é parte do processo de ensino-aprendizagem, tendo, dessa maneira, a função de formar o aluno e de promover a aprendizagem.

No Brasil, as investigações sobre a avaliação da aprendizagem radicam entre finais dos anos 1960 e a década de 1970, manifestando-se, por exemplo, no texto da LDB/1996. Apesar disso, a prática escolar permanece mais centrada nos exames, caracterizados pela classificação e seletividade do educando, do que na avaliação da aprendizagem, promotora de diagnóstico e inclusão [Luckesi, 2014]. Pode-se afirmar que no sistema de ensino brasileiro, seja na Educação Básica ou no Ensino Superior, prevalecem modelos de avaliação tradicional e tecnicista, os quais compreendem a avaliação, no sentido de exame, como instrumento para verificar unicamente a quantidade de conhecimento que o aluno foi capaz de apreender ou para medir a produtividade e as mudanças de comportamento do aluno.

Como destacam Maria Roldão e Nuno Ferro [2015], em geral, no ambiente escolar o tempo divide-se em dois momentos: o período de desenvolvimento dos conteúdos curriculares e o tempo das tarefas avaliativas, como as provas e testes, tradicionalmente aplicadas ao final dos componentes curriculares e que resultam em uma classificação-nota que pontua os ritmos e o percurso escolar do aluno. Tal circunstância tende a abordar os campos do ensinar/aprender e do avaliar/classificar como duas áreas separadas e, no ambiente universitário, sobressai “o hábito, que tantos de nós vivemos quando alunos, de ir às aulas quando se pode e depois estudar para os exames” [Roldão; Ferro, 2015, p. 573]. Todavia, as ideias relativas a uma avaliação mais crítica e formativa, comprometida com o aprendizado do aluno, têm, pouco a pouco, ganhado mais atenção nos ambientes educativos e nas investigações sobre o ensino-aprendizagem.

Pode-se afirmar que essa nova perspectiva de avaliação “exige do professor uma concepção de criança, de jovem e de adulto como sujeitos do seu próprio desenvolvimento, inseridos no contexto de sua realidade social e política” [Hoffmann, 2017, p. 26-27]. Deste modo, a avaliação é redimensionada para o acompanhamento do processo de ensino-aprendizagem, enfatizando as relações estabelecidas diariamente entre educador, conteúdo e educando, e promovendo oportunidades de autorreflexão.

Em meio a tais reflexões, não se pode negligenciar as relações entre avaliação e postura política do docente. Como argumenta Luckesi [2014], para que a avaliação assuma o seu papel de instrumento dialético de diagnóstico para o crescimento, ela terá de estar a serviço de uma pedagogia preocupada com a transformação social, assim como o educador deve redefinir os rumos de sua prática pedagógica. Para o autor, essa via implica no resgate da função diagnóstica da avaliação. Em suas palavras: “Para não ser autoritária e conservadora, a avaliação terá de ser diagnóstica, ou seja, deverá ser instrumento dialético do avanço, terá de ser o instrumento da identificação de novos rumos. Enfim, terá de ser o instrumento do reconhecimento dos caminhos percorridos e da identificação dos caminhos a serem percorridos” [Luckesi, 2013, s.p.].

Nas universidades é comum que os procedimentos de ensino-aprendizagem deem destaque ao domínio de conceitos científicos e às habilidades profissionais de natureza técnica. Nas licenciaturas essa questão da avaliação torna-se ainda mais delicada, pois os cursos formam professores e, assim, devem “preparar os futuros profissionais no que se refere à avaliação da aprendizagem, bem como possibilitar a eles a vivência de políticas diferenciadas e inovadoras de avaliação” [Berbel; Oliveira; Vasconcelos, 2006, p. 137]. Do mesmo modo, nos cursos de História, mesmo nos de licenciatura, os estudos apontam para a permanência da desarticulação entre as disciplinas pedagógicas e as de conteúdo específico, assim como para o predomínio do conteúdo factual em detrimento de saberes curriculares e relativos às práticas pedagógicas [Oliveira; Freitas, 2013].

A literatura especializada sobre o tema da avaliação no ensino superior tem enfatizado “a importância de se dar mais valor à formação na área de avaliação, já que saber avaliar corretamente é fundamental para o desenvolvimento do ensino”, apesar de a maior parcela dos estudos não se concentrar no tema da avaliação durante a formação inicial ou a formação continuada [Boldarine; Barbosa; Annibal, 2017, p. 168, 176]. Destarte, a avaliação ocupa papel-chave na formação inicial do professor, mostrando-se um instrumento de aprendizagem e de reflexão sobre o próprio processo de aprendizagem.

Diários reflexivos como avaliação significativa

Amplamente usados nas Ciências Sociais para etnografias, pelos historiadores como documento biográfico e, nos componentes curriculares de Estágio, como relatos da experiência no ambiente escolar, os diários estão presentes nas Humanidades e abarcam modalidades e funções das mais diversas. No presente texto, os diários reflexivos são entendidos como uma produção escrita pessoal, feita pelos estudantes ao longo da disciplina, para o registro da experiência vivida. Ele procura estimular a reflexão sobre a bibliografia, os recursos usados em sala [documentos, imagens, vídeos, ilustrações etc.], a metodologia de ensino, a organização da sala, as interações entre a turma e entre a turma e o docente..., fomentando ainda a introspecção através do relato das dificuldades enfrentadas, dos sentimentos vivenciados, das memórias resgatadas, da construção de conexões e das potencialidades da disciplina, dialogando com a proposta de aprendizagem significativa.

De acordo com Liberali [1999], os diários são fundamentais para a reflexão crítica porque recuperam a prática para iniciar uma reflexão sobre e na prática, favorecendo a aprendizagem significativa tanto dos elementos estudados como das experiências vividas. Outrossim, considera-se que os diários são instrumentos de avaliação formativa, propiciando o acompanhamento da aprendizagem de maneira processual [Darsie, 1996; André e Pontin, 2010].

Em relação ao uso dos diários em cursos de formação de professores, pode-se afirmar que:

“Quando os alunos escrevem o Diário Reflexivo, eles têm a oportunidade de parar e pensar e, assim, avaliar a aula e se autoavaliar. [...] A escrita do Diário Reflexivo é importante no âmbito educacional pois, como instrumento de ensino-aprendizagem, possibilita que estes sejam auxiliados de forma mais consistente e que o curso seja redimensionado de acordo com as suas necessidades reais, o que consiste em uma aprendizagem significativa” [Miranda; Felice, 2012, p. 134].

Sobre o mesmo tema, Brito argumenta que, em relação ao ensino-aprendizagem e à formação de professores, o uso do diário coincide com a valorização da escrita e da pesquisa biográficas, “fruto do deslocamento de um paradigma mais estruturalista para um mais humanista na ciência, que valoriza o sujeito e sua história, em detrimento da racionalidade”. Assim, “intitulados de ‘reflexivos’ ou não, os diários têm sido comumente compreendidos como um instrumento que possibilita a atitude de introspecção, [auto]avaliação, conscientização, crítica e transformação” [Brito, 2012, p.67].

Conforme Zabalza [2007], ao menos duas dimensões dos diários merecem destaque: a riqueza informativa e a sistematicidade das informações recolhidas. Ambas as dimensões são, de imediato, úteis para o acompanhamento da aprendizagem do estudante ao longo de uma atividade, curso ou componente curricular, possibilitando a substituição das avaliações tradicionais pelo diário. As provas discursivas, por exemplo, amplamente usadas no Ensino Superior, visam avaliar a capacidade de síntese, de seleção e organização das ideias, a clareza de expressão, entre outros aspectos da aprendizagem do aluno. O diário, como instrumento de sistematização escrita de textos e aulas também oferece essa possibilidade, além de proporcionar novas dimensões. Nesse sentido, Zabalza, ao traçar os âmbitos de impacto formativo dos diários, aponta quatro elementos: o acesso ao mundo pessoal, o desenvolvimento pessoal, o explicitar dos próprios dilemas e a avaliação e o reajuste de processos. Tais questões pouco aparecem nas avaliações tradicionais, demonstrando a potencialidade dos diários como recursos avaliativos.

A experiências no curso de Licenciatura em História da UFOPA

Desde 2017, tenho usado o diário reflexivo como avaliação para as turmas do curso de Licenciatura em História da Universidade Federal do Oeste do Pará, substituindo a aplicação de prova discursiva. A avaliação é usada durante os dois primeiros semestres letivos do curso, nas disciplinas de História Antiga e História Medieval, envolvendo, sobretudo, os alunos ingressantes, além de estudantes de outros cursos e alunos repetentes. A proposta é explicada no primeiro dia de aula e, em seguida, é publicado roteiro para a elaboração do diário na Plataforma SIGAA, sistema acadêmico usado pela instituição. Em geral, a explicação da atividade causa estranhamento inicial, pois, até o momento, todos os alunos indicaram que nunca fizeram uma avaliação similar. As primeiras reações à proposta são diversas, alguns acham que a atividade é mais fácil do que a prova tradicional e ficam animados; outros manifestam resistências por considerarem o diário como algo infantil e não como uma avaliação acadêmica; todavia, a maior parte dos alunos manifesta interesse na avaliação por ela propiciar uma escrita menos rigorosa [comparada às provas, artigos e resenhas] e ser uma forma alternativa de expressão.

Uma das principais limitações que enfrento na aplicação dos Diários Reflexivos é o fluxo de entrega. Considero que o ideal para esse tipo de atividade seria a entrega semanal das anotações, favorecendo o acompanhamento pelo professor do desenvolvimento do aluno ao longo dos meses e permitindo ações constantes para a adequação da disciplina e das estratégias de ensino-aprendizagem. Apesar disso, infelizmente, seja em virtude das limitações do sistema acadêmico, do número de alunos matriculados por disciplina [entre 45 e 60 alunos], da distribuição das disciplinas com aulas concentradas etc., em nossa experiência os diários são entregues ao fim do curso, abarcando um conjunto de 10 a 12 aulas. Essa circunstância não possibilita o uso do diário para mudanças nas estratégias de ensino-aprendizagem ou para o acompanhamento individual, contudo, permite uma série de elementos que orientam os cursos dos semestres seguintes.

Por meio dos diários reflexivos, é possível identificar dificuldades de aprendizagem, verificar o que o aluno aprendeu ou não aprendeu, relacionar os conteúdos aprendidos ao longo da trajetória acadêmica, entre outras potencialidades avaliativas. O diário reflexivo também oferece a possibilidade de o educando construir sua própria percepção do processo, expressando os desafios encontrados no percurso acadêmico, além de ser uma ferramenta que contribui para o contato e a aproximação entre o docente e o discente, mobilizando a construção tanto de um texto acadêmico acerca da bibliografia e dos conceitos dos componentes curriculares, quanto de um texto em primeira pessoa, que traz referências pessoais do processo educativo e das experiências de vida.

Nesse sentido, destacam-se três elementos possíveis de explorar a partir dos diários reflexivos: primeiramente, o diário favorece a autoavaliação e a postura reflexiva do aluno, com o estudante refletindo sobre sua aprendizagem e sobre sua trajetória até o momento em questão, identificando potencialidades e necessidades de aperfeiçoamento. Destarte, o diário mostra-se uma modalidade de avaliação que estimula os aspectos dialógico, crítico e emancipador. Em segundo lugar, e diretamente relacionado com o elemento anterior, o diário alcança as diferentes dimensões do desenvolvimento do estudante, com destaque para o elemento afetivo-emocional, questão por vezes negligenciada no dia a dia da sala de aula e não alcançada pelas avaliações tradicionais. O aspecto afetivo-emocional tem se afirmado como um dos principais desafios do ambiente escolar, em especial do universitário, cada vez mais afetado por problemas de saúde mental, como casos de depressão, crises de ansiedade e suicídios [La Cruz, 2018]; desta maneira, por permitir a aproximação entre professor e aluno e, principalmente, por favorecer a expressão das individualidades, o diário tem possibilitado identificar casos de depressão, dificuldades na adaptação à vida acadêmica e, em alguns casos, ao contexto de uma nova cidade ou à distância da família. Por fim, o diário tem contribuído para a superação do olhar autocentrado, no qual o estudante apenas acostuma-se a apresentar considerações sobre sua própria experiência de aprendizagem, ao passo que promove uma visão ampliada que alcança as interações ocorridas no ambiente da sala de aula entre o professor e a pluralidade de alunos, a organização do ambiente e o desenvolvimento coletivo. Considera-se que, talvez, esse seja um dos grandes desafios da formação inicial docente, isto é, formar o olhar do futuro professor para explorar as diferentes dimensões e personagens inseridos na sala de aula, construindo sua percepção com base nas coletividades sem descurar das individualidades.



Referências

Douglas Mota Xavier de Lima é professor Adjunto da Universidade Federal do Oeste do Pará, Doutor [2016], Mestre [2012], Bacharel e Licenciado [2009] em História pela Universidade Federal Fluminense.

ANDRÉ, Marli Eliza Damasco Afonso de; PONTIN, Marta Maria Darsie. O diário reflexivo, avaliação e investigação didática. Meta: Avaliação, Rio de Janeiro, v. 2, n. 4, p. 13-30, jan./abr. 2010.
BERBEL, Neusi Aparecida Navas; OLIVEIRA, Cláudia Chueire de; VASCONCELOS, Maura Maria Morita. Práticas avaliativas consideradas positivas por alunos do ensino superior: aspectos didático-pedagógicos. Estudos em Avaliação Educacional, v. 17, n. 35, set./dez. 2006.
BOLDARINE, Rosaria de Fátima; BARBOSA, Raquel Lazzari Leite; ANNIBAL, Sérgio Fabiano. Tendências da produção de conhecimento em avaliação das aprendizagens no Brasil [2010-2014]. Estudos em Avaliação Educacional, v. 28, n. 67, jan./abr. 2017.
BRITO, Cristiane C. de Paula. Entretecendo vozes na [re]escrita de diários reflexivos de professores de línguas em formação inicial. Signum, Estudos da Linguagem, v.15, n.2, 2012.
DARSIE, Marta Maria Pontin. Avaliação e aprendizagem. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 99, p. 47-59, nov. 1996.
HOFFMANN, Jussara. Avaliação. Mito e desafio. Uma perspectiva construtivista. Porto Alegre: Mediação, 2017.
LA CRUZ, Fernanda. Por que depressão e ansiedade afetam cada vez mais universitários. Desafios da Educação, 30 jul. 2018. Disponível em: https://desafiosdaeducacao.com.br/ansiedade-e-depressao-na-universidade/ Acesso em: 5 abril de 2020.
LIBERALI, Fernanda Coelho. O diário como ferramenta para a reflexão crítica. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica, Tese de Doutorado em Linguística aplicada ao Ensino de Línguas, 1999.
LUCKESI, Cipriano C. Avaliação da aprendizagem escolar. Estudos e proposições. São Paulo: Cortez, 2013 [e-book].
MIRANDA, Josely I. Fernandes; FELICE, Maria Inês Vasconcelos. O diário reflexivo como instrumento da avaliação formativa. Revista Intercâmbio, v. XXVI, 129-153, 2012.
OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de; FREITAS, Itamar. Desafios da formação inicial para a docência em história. Revista História Hoje, v. 2, n. 3, p. 131-147, 2013.
ROLDÃO, Maria do Céu; FERRO, Nuno. O que é avaliar? Reconstrução de práticas e conceções de avaliação. Estudos em Avaliação Educacional, v. 26, n. 63, set./dez. 2015.
ZABALZA, Miguel A. Diários de aula: um instrumento de pesquisa e desenvolvimento profissional. Porto Alegre: Artmed, 2007.

12 comentários:

  1. Penso que a prática relatada é de grande relevância, uma vez que, tendo me graduado em dois cursos de licenciatura, praticamente fui avaliada por meio de provas. Ao menos no curso de Pedagogia houve uma diversificação relativamente maior do que no de História, já que eventualmente tive de fazer relatos de experiência, relatórios de observação e um memorial. Já no que se refere à minha prática como docente, minha experiência limita-se aos anos iniciais e finais do Ensino Fundamental. A questão é que pelas redes por onde passei praticamente já existem instrumentos avaliativos pré-definidos, tornando-se um grande desafio romper com estes padrões. Gostaria, então, que você abordasse se você teve dificuldades para instituir essa prática dos diários no âmbito burocrático. Isto é, o professor do Ensino Superior - ou ao menos na instituição em que trabalha - possui esta autonomia de definir a avaliação discente? Foi fácil colocar os roteiros no SIGAA? Além disso, poderia comentar a reação de seus pares?
    Letícia Sousa Campos da Silva

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    1. Olá Letícia, agradeço pela contribuição.
      Vou responder em tópicos.
      1. Autonomia para definir avaliação. Sim, tenho. A única orientação é que o docente deve propor, ao menos, 3 avaliações na disciplina, sendo, no mínimo, uma individual.
      Esse ponto é interessante, percebi que mesmo com essa liberdade para atividades, meus primeiros semestres na docência no ensino superior repetiam avaliações tradicionais (prova, seminário, resenha), as mesmas que usaram comigo na graduação.
      2. SIGAA. O sistema de postagem na plataforma é simples. No entanto, seria interessante ter uma ferramenta de diário on-line para o acompanhamento do aluno.
      3. Reação dos pares. Não há. Diferente da Educação Básica, onde, minimamente, ocorre trocas, discussões conjuntas, projetos integrados... e a figura do coordenador, em alguns momentos, orienta a prática dos docentes, no Ensino Superior as reuniões concentram-se em elementos administrativos e na legislação. Mesmo a discussão do PPC não mobilizou qualquer reflexão coletiva sobre ensino e aprendizagem. Em quase 6 anos, nunca vi os coordenadores de curso e os TAE puxando tais debates.
      Obrigado.

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  2. Prezado professor Douglas. O seu texto traz um tema crucial para a razão de ser da educação seja ela básica ou superior – avaliação. Dou tal importância a ação de avaliar porque é um tema que permeia a objetividade e subjetividade do ensino e aprendizagem. Como avaliar? O que avaliar? Quais critérios? Quando avaliar? Quais dimensões considerar na avaliação? Essas questões intrigam pesquisadores do campo da educação e das demais áreas como a história. Fiquei interessado na ideia do uso dos Diários Reflexivos, pois quando trabalhei no âmbito da Educação Superior trabalhava mais com relatórios dos Estágios Supervisionados. Eu gostaria de saber se há parâmetros de orientação fechados para a construção desses Diários em forma de modelo ou se sua construção é mais de acordo com espaço, instituição, objetivos e curso? Outra questão é se consideras que é viável o uso de tal instrumento avaliativo na Educação Básica? Agradeço. Parabéns pelo texto. NELES MAIA DA SILVA

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    1. Olá meu caro. Muito obrigado pela contribuição.
      1. Parâmetros. Não, não há. Para Estágio existe as normas, mas para as avaliações dos componentes não. Eu faço o que chamo de roteiro de diário e disponibilizo aos alunos. Ele é um roteiro padrão que uso em Antiga e Medieval.
      2. Uso na Educação Básica. Questão muito complexa. Possível é, viável talvez, dependendo das circunstâncias. Acredito que um limitador é o numero de alunos/turmas do professor. Quanto maior, mais provável que a avaliação seja mais seriada e padronizada. De todo modo, penso várias contribuições. A) o diário é uma produção escrita, assim, seja na Educação Básica ou na Superior, ele contribui nesse sentido. B) o diário estimula a autoavaliação, e isso é uma aprendizagem contínua; C) o diário expõe subjetividade, sentimentos, nesse sentido, pode ajudar nesse desafio que vivemos de educação emocional e saúde mental, afinal os números de suicídio entre jovens e adolescentes cresce de maneira acelerada.
      Saudações Neles.

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  3. Olá Douglas. Ver um trabalho sobre diários remete, a priori, a talvez uma etnografia. Interessante seu uso como instrumento para avaliação da aprendizagem no Ensino Superior. Desperta muita curiosidade.
    Gostaria de perguntar o seguinte:
    Como surgiu a ideia de usar o diário reflexivo como instrumento de avaliação pra História Antiga e Medieval?
    Alguma sugestão de metodologia de ensino mais apropriada para as aulas cuja avaliação da aprendizagem será pelos diários?
    Como as leituras pessoais dos componentes curriculares aparecem no diário reflexivo?
    Na sua opinião, em que forma de oferta de disciplina ou curso o diário tem maior efetividade como instrumento avaliativo?
    Os diários tem potencial para servir como fonte para produzir ciência sobre a prática educativa que retrata?
    Qual a importância da avaliação para a formação do discente do curso de licenciatura?
    A forma [do instrumento diário reflexivo] é determinante para a efetividade da avaliação formativa ou há a possibilidade de, mesmo com o uso do diário, a avaliação ser tradicional ou conservadora?
    Como o senhor lida com os relatos avaliando seu trabalho como professor que constam dos escritos nos diários reflexivos já produzidos em suas disciplinas?
    Valdelirio Caetano da Cunha.

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  4. Olá meu caro, obrigado pelas questões.
    1. Durante a residência (2010-2012), minha esposa teve como avaliação diários reflexivos, passei a acompanhar a questão minimamente. Ao ingressar na UFOPA, comecei meus cursos seguindo a tradição: prova, seminário, resenha, artigo. Mas esse modelo não estava dando bons resultados. Lembrei que na Educação Básica eu testava muitas coisas, vídeos, jogos, aula de campo etc.,mas que não as usava na Universidade. Do mesmo modo, ainda que o discurso bibliográfico geral seja de múltiplas aprendizagens, notei que normalmente todos os docentes seguiam modelos de aula expositiva, discussão de texto, lista de textos para prova etc. No interesse de mudar, recordei os diários e adaptei para as disciplinas.
    2. Não tenho uma sugestão de metodologia mais adequada. Na verdade, com os diários busco fomentar a percepção de que existem várias metodologias de ensino. Quero que o aluno, futuro docente, perceba que em algumas aulas fazemos atividades práticas, outras debates, em outros momentos exposições sobre o conteúdo, análise de fontes etc. Algumas funcionam, outras nem tanto. Penso que refletir sobre isso é bom para a formação inicial.
    3. As leituras geralmente aparecem numa espécie de fichamento dos textos. Poucos alunos discutem o texto, apresentando problemas, debatendo a leitura etc. De todo modo, há uma sistematização mínima do conteúdo de leitura.
    4. Na maior parte, penso que não seja muito adequado para Optativas, Metodologia de pesquisa e disciplinas muito conceituais, como as Teorias.
    5. Sim, sem dúvida. Inclusive, a literatura sobre o tema explora muito esse eixo.
    6. Penso que a avaliação tem importância crucial. Todos ao exercerem a docência (salvo em cursinhos), desenvolvem inúmeras avaliações. Refletir sobre isso é fundamental na formação inicial. Que avaliação usar? Como dar uma nota? O que levar em consideração na avaliação? Etc. São dilemas comuns que, por vezes, não são discutidos na graduação.

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  5. Continuando...
    7. O diário aponta para a avaliação formativa, em especial com a autoavaliação. Contudo, considero que o feedback do diário é a incorporação dos apontamentos dos alunos para o planejamento das disciplinas seguintes são fundamentais para não transformar a avaliação em algo 'tradicional'. Se não, o diário vira apenas um texto e uma nota. Avaliação formativa é muito mais.
    8. Tento usar os diários para repensar a bibliografia sugerida, metodologias de ensino e as atividades. Além disso, consigo me aproximar mais dos alunos. Isso é fundamental. Educação é contato, interação. Começo a saber que aquele aluno que chega um pouco atrasado trabalha, que o aluno desligado pode estar sendo medicado ou passando por um problema pessoal/familiar, já ouvi de gravidez não planejada, depressão, etc. em síntese, com o que leio no diário a aula fica mais humana.
    Abraços meu caro.

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  6. Caro professor, como seu aluno fui conhecedor do quanto você se esforça para que suas disciplinas sejam dinâmicas e produtivas. O diário reflexivo é apenas mais uma ferramenta utilizada com esse objetivo. Nos estágios observei que as avaliações, não sei se por autonomia e escolha da professora ou se eram normas da escola se resumiam a provas, poucos seminários e exercícios do livro didático que demoravam mais de duas aulas para serem corrigidos por desinteresse dos alunos. prestes a entrar na Docência me preocupo com esse tema. É possível utilizar o diário reflexivo em uma turma do ensino médio de 40 alunos, sem internet e outros recursos digitais como é a realidade de muitas escolas publicas de nossa cidade? Se sim é indicado ou melhor só usar na universidade? Matias Jorge de Sousa Pereira

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  7. Caro Matias, obrigado pelo comentário. Como você sabe, lecionei na Educação Básica, especificamente no Ensino Fundamental, por 5 anos e meio, atuando na rede privada e na rede pública. Era comum ter a famosa "semana de prova", mas sempre tive liberdade para criar avaliações alternativas. Na escola pública, pouco antes da minha saída, eu e outros professores das Humanas estávamos começando a testar provas conjuntas, que tratassem se História, Geografia e Português. Em síntese, diferente de Matemática e Português que recebiam provas padronizadas estaduais, municipais ou federais, as demais disciplinas tinham muita autonomia. Assim, penso que a ênfase na questão do teste + prova é força do hábito, expressando, talvez, a falta de reflexão sobre avaliação e sobre formas alternativas de avaliar. Nos meus anos de docência, vi poucos professores preocupados em dar feedback das avaliações ou construírem avaliações formativas.
    Sobre o uso no exemplo de ensino médio, penso que os recursos digitais ajudariam, mas a ausência deles não inviabiliza nenhum aspecto da avaliação. Só é preciso um lápis/caneta e um caderno para anotações diárias. O número de alunos realmente é um problema, nas minhas turmas tenho geralmente 50 matriculados, sei como é difícil. Mas é uma opção. Da trabalho ao docente? Sim, bastante. Mas vale a pena. Talvez o maior desafio seja a devolutiva dos diários, afinal, para esse tipo de avaliação, não basta dar apenas uma nota.
    Abraços

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  8. Francisco Lucas Gonçalves dos Reis20 de maio de 2020 às 18:12

    Oi Prof.Dr. Douglas Matias. Boa tarde.
    Sou aluno do curso de História e já estou no 4º período da graduação. Após a leitura de seu texto, me vi em muitas situações já ocorridas em que pude ver que muitas variáveis não são levadas em conta no momento da avaliação. O próprio ritmo da universidade acaba desgastando muito os alunos, e isso fica evidente no comportamento de muitos. Isso já foi de certa forma naturalizado, o fato do ensino superior ser mesmo assim, cansativo, estressante, difícil, etc. O que é complicado pois estamos falando da formação de professores, pessoas que estarão em ambientes muito mais complexo que a universidade que são as escolas públicas e todos os seus problemas de estrutura; além do fato de se esperar do professor de História o pontapé inicial para a realização de muitas atividades da escola. Ou seja, durante a formação e após a mesma os ambientes são de muito estresse e torna-se mais que importante a preocupação com a saúde mental dos futuros professores. Por isso lhe parabenizo pela ideia e iniciativa de usar diários reflexivos, onde o que mais me interessa é a possibilidade do aluno colocar de forma escrita todas as suas dificuldades e emoções sentidas durante a disciplina, ao passo que ajuda o professor na melhoria de sua prática em sala de aula.
    Dentre os problemas que você diz já ter identificado, estão os casos de depressão. Gostaria de saber que atitude você toma diante da situação. Há um diálogo com o aluno? O que acontece após a identificação de um caso assim? Há acompanhamento?


    FRANCISCO LUCAS GONÇALVES DOS REIS.

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    1. Francisco Lucas Gonçalves dos Reis20 de maio de 2020 às 18:25

      Perdão...
      A pergunta é se você já se deparou com algum caso em que foi possível identificar através dos diários reflexivos, um aluno com depressão. Se sim, que atitude tomou? Houve diálogo com o aluno? O que aconteceu após a identificação? Houve acompanhamento?

      FRANCISCO LUCAS GONÇALVES DOS REIS.

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    2. Olá Francisco, muito obrigado pelo comentário e pergunta.
      Em primeiro lugar, fico muito contente com seu comentário, e mesmo sem conhecer você imagino que será um ótimo professor, pois desde a graduação já demonstra sensibilidade no olhar, preocupação com seus futuros alunos e reflete sobre a sua formação. A educação precisa muito disso!
      Vamos a resposta...
      Sim, já deparei com muitos casos de depressão a partir dos diários. Admito que isso é angustiante e ultrapassa a minha formação. O que tento fazer é dar um feedback humanizado na avaliação, evitando a letra fia da nota. Ofereço uma palavra de incentivo, disponibilizo-me para conversa ou alguma ajuda, conto histórias pessoais (afinal saí de casa com 17 anos para fazer faculdade, fui morar sozinho e entendo um pouco quando alunos meus de outros municípios relatam casos de solidão, saudade da família etc.). Além disso, a universidade oferece apoio psicológico aos estudantes e, sempre que possível, comento em sala sobre a importância do tema e sugiro aos alunos que busquem apoio.
      Desde a época que trabalhei no ensino fundamental, sempre tive o hábito de conversar muito com meus alunos, sobre todos os tempos, principalmente ouvi-los. Na universidade mantenho essa linha, assim muitos alunos mandam email para conversar, marcam uma hora para falar de seus problemas. Seguindo o que os estudos de saúde mental indicam, penso que essa dimensão do diário ajuda a aliviar as tensões e angústias vividas pelos meus alunos.
      Saudações.

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