A REPRESENTAÇÃO COMO UM CONCEITO PARA
COMPREENDERMOS A LINGUAGEM ESCRITA E NÃO ESCRITA
Os objetivos deste texto são: trabalhar
o conceito de representação na linguagem escrita, em sua materialidade e
conteúdo, pensando também na linguagem não escrita, inserida nos atos sociais.
Metodologia: análise comparativa entre autores que estabelecem reflexões
teóricas sobre este conceito, nas áreas da Filosofia e da História. Resultados:
apesar de um determinado texto ter sido pensado para determinado público, ele
pode atingir outros leitores, sendo reapropriado de formas que os autores e/ou
editores jamais pensaram. Além disso, representar implica em valorizar algo ou
determinado grupo, em detrimento de uma ou mais culturas. Desse modo, podemos
constatar que o ato de representar também reflete relações de poder.
Introdução
O objetivo deste texto é trabalhar o
conceito de representação na linguagem escrita, tendo em vista sua
materialidade e conteúdo, abordando também, a linguagem não escrita. Ao ter em
vista o conhecimento teórico inserido no conceito de representação, haverá a
possibilidade de analisar obras didáticas e paradidáticas, voltadas ao ensino
de História, elaboradas pelo Centro de Trabalho Indigenista [CTI], que são tema
de minha dissertação de mestrado. A partir desse conceito, é possível pensar
como elas são construídas e ressignificadas com o passar do tempo, seja na
forma como o conhecimento é estruturado e difundido, seja por intermédio de seu
conteúdo textual e iconográfico. Por conta do escopo de minha dissertação de
mestrado, a utilização desse conceito é justificada.
A metodologia é estruturada na análise
comparativa entre autores que estabelecem reflexões teóricas sobre este
conceito, ou seja, são utilizadas reflexões do historiador Roger Chartier e do
filósofo Henri Lefebvre [falecido].
Um
conceito multifacetado
Ao refletir sobre o conceito de representação,
proposto pelo historiador Roger Chartier [1991], pensando nas obras didáticas
como representações da realidade, criadas por indivíduos ou grupos sociais,
podemos ter como foco, a necessidade em verificar os protocolos de leitura,
isto é, os mecanismos existentes nas referidas obras, criados por autores e/ou
editores para direcionar a leitura e a assimilação de determinados saberes ou
ideologias. Todavia, nem sempre esse direcionamento da leitura é respeitado
pelos diversos leitores, pois um mesmo texto pode ser compreendido de forma
diferente, lembrando de que devemos levar em consideração as intencionalidades
da leitura e a habilidade em se decifrar códigos, por parte de quem está lendo:
“Os que podem ler os
textos, não os leem de maneira semelhante, e a distância é grande
entre os letrados de talento e os leitores menos hábeis, obrigados a oralizar o
que leem para poder compreender, só se sentindo à vontade frente a determinadas
formas textuais ou tipográficas. Contrastes igualmente entre normas de leitura
que definem, para cada comunidade de leitores, usos do livro, modos de ler,
procedimentos de interpretação. Contrastes, enfim, entre as expectativas e os
interesses extremamente diversos que os diferentes grupos de leitores investem
na prática de ler. De tais determinações, que regulam as práticas, dependem as
maneiras pelas quais os textos podem ser lidos, e lidos diferentemente pelos
leitores que não dispõem dos mesmos utensílios intelectuais e que não entretêm
uma mesma relação como escrito”. [CHARTIER, 1991, p. 5]
Chartier [1991] também enfatiza a importância do
suporte e da forma como o conteúdo é apresentado, a fim de facilitar ou não a
compreensão do conteúdo textual, assim a forma pode conceder usos inéditos ao
material escrito:
“Contra uma definição puramente
semântica do texto, é preciso considerar que as formas produzem sentido, e que
um texto estável na sua literalidade investe-se de uma significação e de um
estatuto inéditos quando mudam os dispositivos do objeto tipográfico que o
propõem à leitura”. [CHARTIER, 1991, p. 5]
Isto é, a forma como um determinado texto
encontra-se disposto na página, o formato de letra, a manipulação de cores, a
sequência de títulos e/ou capítulos ajudam a compor os protocolos de leitura.
Todavia, no momento em que é alterado o suporte e/ou a forma como o texto nos é
apresentado, isso permite que existam outras interpretações referentes ao
conteúdo escrito.
O historiador Peter Burke, ao se apropriar das
ideias de Don McKenzie, repete o argumento proposto por Chartier, ao expor que
a forma como determinado texto encontra-se disposto pode influenciar na maneira
como este é interpretado ou recebido por seus leitores:
“O neozelandês Don McKenzie [...],
chamou atenção para a necessidade de estudar as ‘formas materiais dos livros”,
“os detalhes sutis de tipografia e diagramação’, argumentando que elementos não
verbais, entre eles “a própria disposição do espaço”, eram portadores de significado.
Na linguagem do teatro, outro tema de interesse para McKenzie, pode-se dizer
que a aparência física da página impressa funciona como uma série de deixas
para os leitores, encorajando-os a interpretar o texto de uma maneira e não de
outra”. [BURKE, 2005, p. 91]
Ou seja, ao falar de representação, isso implica em
pensar num significante, texto ou objeto, possuidor de um significado, contudo,
isso não quer dizer que determinados códigos ou símbolos sejam compreendidos
como deveriam ser [Chartier, 1991]. Ou seja, este autor nos expõe uma séria
crítica à escola positivista, no sentido em que esta atribui aos documentos
escritos o atributo de transmissores de verdades absolutas: “[...] entre
as objetividades das estruturas [que seria o território da história mais
segura, que, ao manipular documentos maciços, seriais, quantificáveis,
reconstrói as sociedades tais como verdadeiramente eram]”.
[CHARTIER, 1991, p. 8]
Já Henri Lefebvre vai além sobre a explicação
referente ao conceito de representação, mostrando que sua força transcende a
linguagem escrita, evidenciando sua força por intermédio do discurso falado e
das práticas sociais: “As representações atravessam a
linguagem. São fatos de fala [ou se preferem de discurso] e de prática
social”. [JAHNEL; LUTFI; SOCHACZEWSKI, 1996, p. 93]
Seguindo o exemplo de Lefebvre,
Chartier reforça o argumento do falecido filósofo ao mostrar que as
representações só possuem sentido ao comandarem atos coletivos:
“[...] estas representações coletivas
como as matrizes de práticas construtoras do próprio mundo social – ‘Mesmo as
representações coletivas mais elevadas só têm existência, só são
verdadeiramente tais, na medida em que comandam atos’”. [CHARTIER, 1991, p. 8]
Ademais, Lefebvre [1996] nos adverte de que as
representações não são falsas ou verdadeiras, mas sim, falsas e verdadeiras ao
mesmo tempo. Verdadeiras no sentido em que permitem a reflexão e transformações
sociais e falsas quando são elaboradas com o propósito de enganar,
lembrando-nos de que, por meio da análise e pesquisa é possível compreendermos
a força que as representações possuem ao dissimular o real. Chartier [1991]
também nos adverte sobre o caráter ilusório das representações, sendo estas
capazes de provocar submissão e controle por meio das aparências. Isto é, este
autor nos adverte sobre o sentido enganoso que as representações podem provocar:
“A relação de representação [...] que
faz com que se tome o engodo pela verdade, que considera os signos visíveis
como índices seguros de uma realidade que não o é. Assim desviada, a
representação transforma-se em máquina de fabricar respeito e submissão [...]”
– [CHARTIER, 1991, p. 10]
Chartier afirma que a exceção a esta regra é
encontrada nos indivíduos que se legitimam por meio da violência: “Só os
homens de guerra não estão disfarçados assim, porque na realidade a sua parte é
mais essencial: estabelecem-se pela força, ao passo que os outros o fazem pela
aparência”. [CHARTIER, 1991, p. 10]
Podemos entender a citação anterior por
intermédio do exemplo usado por Lefebvre, mostrando que o sistema capitalista
se legitimou por meio da imposição de hábitos sociais que legitimam a
perpetuação de um modelo de exclusão, tendo em vista as representações do
trabalho:
“Os dominantes, através da
representação, podem, sem mentir,
passar uma imagem que perpetua a dominação.
Lefebvre lembra que as
representações do trabalho, na história do capitalismo, permitiram não apenas
por a trabalhar grande parte da sociedade de um modo que não lhe era habitual
nem desejado, nem prazeroso ou gratificante, como também a utilização da
tecnologia de ponta não para a realização do possível, do sonho da humanidade de extinção do trabalho, mas,
ainda uma vez, para a dominação e o controle”. [JAHNEL; LUTFI;
SOCHACZEWSKI, 1996, p. 94]
Não podemos nos esquecer de que as
representações são produzidas a partir de grupos sociais e no embate entre dois
ou mais grupos, ou seja, as representações são constituídas a partir de
relações de poder que podem ser veladas ou estabelecidas explicitamente:
“A própria representação tem uma
história, um modo de ser. Não se pode deixar de lado, diz Lefebvre, as
condições de vida dos povos, grupos ou classes que as produzem e, embora sejam
resultado de uma determinada relação de forças na sociedade, as representações
dirigem-se a todos. Representam a imagem que um grupo, povo ou classe mostra,
tanto para os outros como para si mesmo. Assim sendo, a representação, como
produto de um determinado processo social está referida à problemática da
dominação e da exploração”. [JAHNEL; LUTFI; SOCHACZEWSKI, 1996, p. 94]
Isto é, podemos compreender as representações como
frutos de determinado contexto histórico e com suas ressignificações não é
diferente, já que o tempo histórico é determinado por continuidades, rupturas e
transformações.
Lefebvre afirma que presença e ausência não estão
excluídas no processo de representação, mas, as duas circunstâncias ocorrem ao
mesmo tempo: “[...] o que se representa está presente
e ausente, ao mesmo tempo, na representação. Presença e ausência não se
excluem, pelo contrário, uma é mediada pela outra, uma supõe a
outra”. [JAHNEL; LUTFI; SOCHACZEWSKI, 1996, p. 88]
Em outras palavras, mesmo que um grupo
social ou indivíduos não estejam presentes fisicamente, sua rememoração os
torna presentes, sejam nos objetos, sejam em obras escritas difundidas.
Lefebvre nos lembra de que representar é um ato de valorização:
“Representar implica
uma valoração, ou positiva ou negativa. [...] Mas para que algo seja valorado,
é preciso estar representado. Por sua vez, atribuir valor modifica a
representação. Representar é, assim, colocar em perspectiva e valorar ao mesmo
tempo”. [JAHNEL; LUTFI; SOCHACZEWSKI, 1996, p. 93-94]
Lefebvre usa o termo: ‘obra poética’ no
sentido em que a obra de arte possui a característica única de captar a
transformação social de determinada época, como se isso fosse um flash de
realidade, embora o quadro pintado não deixe de ser uma representação. Segundo
este autor, o real chega a nós por intermédio de representações e seria
impossível vivermos sem representar o mundo:
“O papel da teoria crítica das
representações, segundo Lefebvre, não é destruí-las, pois não é possível viver
sem compreender uma situação sem representá-la. A filosofia, tradicionalmente,
quer eliminar as representações. Sem elas, entretanto, só restam a morte e o
nada. A teoria deve expor o poder da representação no mundo contemporâneo,
deslindar os mecanismos de sua produção e permanência, e fazê-lo anunciar ‘um
pensamento novo e ativo em marcha’”. [JAHNEL; LUTFI; SOCHACZEWSKI, 1996, p.
95-96]
Ou seja, a representações são fruto de
seu tempo e, assim como refletem atos que não mudam, também podem anunciar
rupturas e mudanças nos comportamentos sociais.
Considerações finais
Assim como é impossível vivermos sem
representar nossa realidade, devemos ter um senso crítico apurado para
identificarmos representações enganosas, conforme nos adverte Chartier, sendo
que, estas podem ser evidenciadas a partir da análise teórica, segundo nos
afirma Lefebvre.
Chartier nos apresenta o fato de que um
texto pode ter mecanismos próprios que direcionam a leitura, estes artifícios
podem ser subvertidos, trazendo novas interpretações e novos usos a uma obra
escrita. Assim como Lefebvre nos expõe que, o ato de representar transcende a
linguagem escrita, e também, implica na valorização de algo, ou seja, podemos
refletir sobre as relações de poder inseridas neste processo, pois enquanto
determinadas culturas ou saberes são valorizados, outros são negligenciados e,
é por meio destes silêncios que podemos indagar:
-Por que isso ocorre?
-Como esse processo ocorre?
-A que grupos interessam a perpetuação
de determinada representação?
-Como aparecem ou são silenciados
grupos sociais marginalizados?
-Como subverter isso?
Podemos pensar nestas questões ao
trabalharmos este conceito no estudo do processo de autodeterminação de povos
indígenas, por intermédio da inserção de modelos educacionais e de materiais
didáticos diferenciados, voltados para demandas locais de diferentes
comunidades. Um exemplo que podemos citar é o livro didático: ‘A História do
Povo Terena’, em que representantes dessa etnia, existentes no estado do Mato
Grosso do Sul, atuaram como coautores, criando a representação destes como
construtores da nação brasileira, ao terem participado da Guerra do Paraguai ao
lado das tropas brasileiras, um aspecto de orgulho. Assim como esta obra
apresenta problemas cotidianos, como aldeias que não suportam a grande
quantidade de indivíduos, forçando indígenas a migrarem para a cidade ou para
atuarem em trabalhos temporários nas fazendas do entorno. Ademais, conforme foi
evidenciada neste texto, a forma como o conteúdo é apresentado é essencial para
o entendimento de um texto e, neste livro não é diferente, pois esta obra didática
está escrita em português, não no sentido de mostrar que esse grupo étnico
aceitou a dominação, por meio da linguagem escrita, mas, para se valer da
linguagem do não indígena, com a finalidade de realizar o embate, para lutar
pela demarcação de terras e para ter direito ao manejo sustentável dos recursos
naturais.
Referências
Luciano Araujo Monteiro é aluno, vinculado ao
programa de mestrado acadêmico, pelo Departamento de História da UNIFESP.
Graduado em História, com certificação em patrimônio e pós-graduado em Gestão
Pública pela mesma universidade.
BITTENCOURT, Circe Maria; LADEIRA, Maria Elisa. A História do Povo
Terena. Brasília: Ministério da Educação/Universidade de São Paulo, 2000. 156p.
[livro]
BURKE, Peter. O
que é história cultural? Zahar. Rio de Janeiro: 2005. [livro]
CHARTIER, Roger. “O mundo como representação”. ESTUDOS
AVANÇADOS. vol. 5. nº 11. São Paulo Jan./Abr. 1991.
[artigo]
JAHNEL, Teresa
Cabral; LUTFI, Eulina Pacheco; SOCHACZEWSKI, Suzanna. “As representações e o
possível”. In: Henri Lefebvre e o retorno da dialética. Hucitec. São Paulo:
1996. [livro]
Meu caro, Luciano!
ResponderExcluirComo você está?!
Sou eu: o Felipe, da sua turma!
Já faz um tempo que não nos falamos, mas cá está mais um evento que possibilita nos “reencontrarmos”!
Bem, começo dizendo que o tema de sua comunicação é fundamental - sobretudo no que diz respeito às pesquisas enquadradas no campo da História Cultural (no qual a representação é uma pedra angular, como tantas vezes ressaltou Chartier). Você toca em pontos importantes e traz à tona a ressalva de um aspecto imprescindível para a “História dos livros e das edições didáticas” (para tomar emprestado a premissa de Choppin): a, por vezes negligenciada, materialidade.
Apenas tomando, brevemente, parte de sua fala como um gancho: compreender a importância das formas como o discurso se apresenta é, antes de qualquer coisa, preocupar-se com a questão da materialidade do texto e, consequentemente, de seu suporte.
É através desta materialidade que se torna possível apreender as representações construídas, por parte dos autores e editores, da comunidade de leitores para a qual o livro será direcionado. Esta representação se difere, portanto, daquela apresentada pelo discurso em si, pelo teor de sua narrativa.
Vejo que quanto à representação histórica - vou denominar assim a que se refere à narrativa em si -, sua interpretação segue conforme o esperado: pontuando a análise dos discursos sobre os acontecimentos do passado e a participação indígena nestes fatos, como uma tentativa dos autores em legitimar a importância da comunidade Terena na história. Mas estou curioso em relação à outras informações. Aquelas a respeito das representações sobre a comunidade de leitores: como eles estão contidos na materialidade? Questiono pois a aplicabilidade das suas considerações sobre representações (sobretudo, dos leitores) parece não ter ficado clara no exemplo dado ao final. Nesse sentido, o que o livro diz de sua “comunidade interpretativa” quando você analisa a conjuntura da obra (ou seja, tanto a estrutura dos textos quando do suporte em si)?
Os parágrafos são longos? (o que pressupõe que seus leitores poderiam ter hábitos de leitura avançados); Ou são curtos? (pressupondo que os leitores não compreenderiam se lidassem com uma leitura mais densa); Tem termos destacados? (Em itálico; negrito; sublinhado); E quanto aos exercícios? (São elaborados com o intuito de se promover uma “volta ao texto” para serem respondidos? Se sim, as respostas podem ser facilmente encontradas? E como? Através de palavras destacadas? Outra coisa: os exercícios tem espaços para serem respondidos no próprio livro? Se não, por que?)
Além destas questões, é válido pensar em outras que se desencadeiam meio que automaticamente quando analisados os livros didáticos - que, como sabe, também são meus objetos de pesquisa: quais são os elementos paratextuais que o livro didático que analisa apresenta? Tem Prefácio? Notas de rodapé? Epígrafes? Imagens? Como elas estão inseridas e relacionadas com o texto?
Bem, por enquanto é isso.
Agora passo a bola para você.
Abração!
Felipe Augusto dos Santos Vaz
Prezado, Felipe.
ResponderExcluirVou bem e você, como tem passado?
Como recursos didáticos para chamar a atenção do leitor é possível citar: palavras em itálico, sublinhado e negrito. Os parágrafos mais longos ocupam entre 10 e 14 linhas. Os livros escritos em português utilizam o padrão médio da língua culta, facilitando seu entendimento. Suas imagens não estão apenas como ilustração, mas também, para reforçar os conteúdos expostos na linguagem escrita. A iconografia encontra-se disposta em meia página, uma página ou página dupla. Quanto aos exercícios, eles estabelecem um elo reflexivo com a realidade atual das etnias abordadas, assim como é possível ver numa das obras didáticas analisadas o forte apelo à questão mítica, apresentada nos relatos orais dos mais velhos, que possuem neste material específico o status de fonte histórica. Ademais, nesta mesma obra, há exercícios que estimulam os mais jovens a buscarem o conhecimento junto aos anciões de suas comunidades.
Todavia, neste mesmo livro há entraves por conta da própria materialidade do objeto, pois este livro específico foi impresso em papel couchê. Se por um lado este material melhora em muito a visualização do texto e das imagens, por outro, dificulta a aderência do lápis no momento em que os alunos tentam ou tentaram escrever suas respostas, dificultando a prática de ensino-aprendizagem.
Ao refletir sobre o conjunto da obra, é notório que, apesar da apresentação de problemas ligados à questão da terra, as comunidades apresentadas não desejam ser apresentadas como vítimas, mas, como protagonistas de sua própria História.
Caso tenha ficado algum ponto em aberto, por favor, refaça a pergunta.
Abraço.
Luciano Araujo Monteiro
Oi Luciano,
ExcluirNa medida do possível, tudo tranquilo!
Pois bem, na verdade tem uma coisa que ficou em aberto sim.Você diz que "as comunidades apresentadas não desejam ser apresentadas como vítimas, mas, como protagonistas de sua própria História". Estamos em comum acordo que esta representação, que é defendida pelos autores que, por sua vez, também fazem parte da comunidade Terena, corresponde à representação histórica - ou seja, está ligada ao O QUE o discurso apresenta.
A minha pergunta, na realidade, se refere ao COMO o discurso se apresenta - ou seja, sua estrutura, sua materialidade. É nesta que o leitor está representado enquanto leitor - ou melhor, enquanto aquilo que os autores entendem quem são estes leitores.
O que quero dizer quando pergunto "o que o livro diz de sua “comunidade interpretativa” é: o que o livro entende que são seus leitores enquanto leitores? E isso é o que se torna perceptível quando analisamos os aspectos materiais - do texto e do livro.
Apenas para título de exemplo, vou pegar sua fala:
Você disse que os parágrafos mais longos ocupam entre 10 e 14 linhas. A forma como esse discurso se apresenta - e, observe, não "o que" ele apresenta -, pode dizer muita coisa dos seus leitores. São parágrafos que dispõem de um conjunto de frases curtas? Se sim, pode significar que os autores entendem que os leitores poderiam não ter competência cultural para compreenderem a mensagem passada se fossem ler um parágrafo com frases muito longas. Entende? É nesse sentido que eu questiono..
É uma coisa complexa que, certamente, não será respondida na sua totalidade aqui neste fórum, mas gostaria de saber se você tem essa percepção de que os leitores - sujeitos da comunidade Terena - podem estar representados, em leitores, como ávidos leitores ou que leem pouco.. Coisas desse tipo.
Felipe Augusto dos Santos Vaz
Ah, só para complementar:
ResponderExcluirEssa questão das linhas do parágrafo me lembra a análise que o José Cássio Másculo faz em alguns livros que toma em sua tese como objetos de pesquisa. Ele discorre sobre a quantidade de caracteres contidos, de um modo geral, nas linhas que compõem os parágrafos - pontuando que se a linha apresenta um total de, sei lá, 30 caracteres, a leitura pode ser algo cansativo. Isso acontece com o material que você analisa?
Felipe Augusto dos Santos Vaz
Olá, Felipe.
ResponderExcluirQuanto ao material voltado para a comunidade Terena, percebo que a obra didática foi elaborada com frases médias e longas, pensando em leitores com um certo grau de escolarização. Esse argumento pode se reforçado pelo fato de que esse livro foi elaborado em coparceria com essa etnia, para que fosse distribuído aos alunos dos anos finais do ensino fundamental. Suas indagações são aspectos que fazem parte dos protocolos de leitura, propostos por Chartier, isto é, todos os mecanismos elaborados pelo autor e/ou editor, a fim de direcionar a leitura. Pelo meu ponto de vista, os períodos longos evidenciam que sim, há capacidade de entendimento, por parte dessa etnia, das informações transmitidas pelo livro didático. Além disso, ao continuarmos a falar da materialidade, vale lembrar de que esse livro foi escrito em português, por vontade das lideranças dessa comunidade, pois estes líderes observam na língua portuguesa um mecanismo de embate com o não indígena, com o objetivo de requerer do Poder Público direitos sociais, como a demarcação de terras e o manejo sustentável de seus recursos naturais.
Caso tenha interesse em saber mais sobre meus estudos referentes à comunidade Terena, segue o link que fornece acesso ao meu artigo:
https://www.tellus.ucdb.br/tellus/article/view/561
Abraço
Luciano Araujo Monteiro
Oi Luciano,
ResponderExcluirBacana, agora entendi...
Parabéns pela apresentação!
Abraços
Obrigado, Felipe.
ResponderExcluirAbraço
Olá, Luciano!
ResponderExcluirGostei muito de suas reflexões e já socializei o seu artigo.
Muito obrigada por suas contribuições. Uso Chartier na pesquisa em educação e considero um dos grandes autores que dá suporte para olharmos a sociedade e o movimento que se estabelece no cotidiano e, na história.
Desejo boas pesquisas para você.
Olá, Márcia.
ResponderExcluirFico feliz que tenha gostado do meu texto e que o tenha socializado.
Se possível, poderia me informar onde você o divulgou?
Segue meu contato:
lucianoaraujomonteiro@yahoo.com.br
Também desejo boas pesquisas a você.
Luciano Araujo Monteiro