Juberto de Oliveira Santos


O ENSINO DE HISTÓRIA DA ILHA DO GOVERNADOR NA EDUCAÇÃO BÁSICA: POSSIBILIDADES E USOS DE PRÁTICAS LÚDICAS NO ENSINO DE HISTÓRIA LOCAL


A pesquisa busca refletir a importância do estudo da História da Ilha do Governador [RJ], sendo forjada junto com os demais processos históricos brasileiros no contexto do Currículo no Ensino de História para turmas insulanas no Ensino Fundamental e Médio. Também é analisado o uso da Ludicidade como importante aliada desse professor para potencializar as aulas. Como o ensino de História da Ilha do Governador, potencializado por práticas lúdicas, pode ser um diferencial positivo na formação de estudantes insulanos na educação básica?

A partir dessa questão inicial será investigado: se a ludicidade pode agregar muitas contribuições positivas à prática do professor de História no ensino fundamental e médio; se o estudo de História local, na maioria das vezes, é colocado de lado nos livros didáticos e no currículo visto nas aulas na educação básica; se a associação da História pode contribuir com um melhor ensino dos demais conteúdos curriculares.

“A aula se constitui como espaço privilegiado para o processo de aprendizagem, onde a partir do diálogo, dos conflitos e negociações, professor e alunos podem desenvolver o trabalho que lhes compete. Ainda, a aula deve se constituir como possibilitadora de desenvolvimento tanto do aluno, como do professor. Neste sentido, a aula é espaço de encontros e trocas”. [Luana Vaz, 2017, p.11].

Ludicidade e Ensino de História

O termo lúdico vem do latim ludus e significa jogo, brincar. Nele está incluído um universo de possibilidades de vetores [métodos e práticas], como os brinquedos [bonecos em geral, quebra-cabeças, blocos de montar...], jogos [estilo de tabuleiro ou eletrônicos, atividades individuais ou em grupos...], além de outros caminhos [objetos, plantas, fotografias, músicas, filmes...] que proporcionem percepções diversas e atribui um ensino mais prazeroso, significativo e concreto. Pensar o lúdico na educação é refletir esse brincar. Assim também argumenta Rubem Alves: “a inteligência gosta de brincar e se a criança não faz nada que seja desafiador ela fica preguiçosa. Entende que todo conhecimento científico passa por desafios, enigmas a serem decifrados” [Alves, 2004, p.39].

O uso de vetores lúdicos pode contribuir nesse fazer docente, melhorando dificuldades, facilitando a compreensão e gerando mais prazer ao ensinante e ao aprendente. É confrontar o que nomeio como a Pedagogia do Tédio [aulas monótonas, entediantes com mera cópia, leitura de páginas, execução de exercícios...]; a Pedagogia da Acomodação [professores que não inovam, repetem aulas ano a ano, não agregam informações ou metodologias novas...] e a Pedagogia do Laço [por conta de várias causas os professores não preparam as aulas e apenas lançam conteúdos sem muita reflexão continuando a linha do tempo tradicional e os capítulos do material em suas salas de aula.

Um dos objetivos do presente trabalho é repensar a ação pedagógica, avaliar a relevância, utilização e eficácia de ações lúdicas na didática de história no ensino fundamental e médio, buscando outra perspectiva sobre a prática docente.

O lúdico, assim, não é uma ação que visa substituir as práticas comuns já existentes, mas buscar-se-á entender como ele pode auxiliar estudantes e professores a desenvolverem aulas mais elaboradas, prazerosas e dinâmicas. “A metodologia lúdica faz com que a criança aprenda com prazer, alegria e entretenimento, sendo relevante ressaltar que a educação lúdica está distante da concepção ingênua de passatempo, brincadeira vulgar, diversão” [Élia Amaral Santos, 2010, p.07].

Como professor de História das redes municipal e particular de ensino há mais de 10 anos tenho tido uma grande angústia de tentar lecionar uma história mais dinâmica, crítica; observar alguns colegas de outras disciplinas buscarem diferentes estratégias de ensino em suas aulas e perceber que, na área de ensino de História, ainda a prática docente está engessada em métodos que, muitas vezes, não atingem mais os estudantes. Mesmo existindo tantos avanços tecnológicos de informação na atualidade nota-se que uma das grandes causas do fracasso no ensino da História, está na utilização de propostas pedagógicas antigas que não geram interesse dos estudantes pelos conteúdos ensinados, pois não há conexão com atividades que correspondam às necessidades dos educandos. Assim, as dificuldades apresentadas na compreensão dessa disciplina são bastante visíveis também nos resultados escolares.

O uso de vetores lúdicos pode contribuir para a redução dessa triste realidade, melhorando deficiências, facilitando a compreensão e gerando mais prazer ao ensinante e ao aprendente. É confrontar o que nomeio como a Pedagogia do Tédio [aulas monótonas, entediantes com mera cópia, leitura de páginas, execução de exercícios...], Pedagogia da Acomodação [professores que não inovam, repetem aulas ano a ano, não agregam informações novas...] e a Pedagogia do Laço [por conta de várias causas os professores não preparam as aulas e apenas lançam conteúdos sem muita reflexão continuando a linha do tempo e os capítulos do material em suas salas de aula].

O lúdico é capital enquanto forma de humanização: “se verificarmos que o jogo se baseia na manipulação de certas imagens, numa certa “imaginação” da realidade [ou seja, a transformação desta em imagens], nossa preocupação fundamental será, então, captar o valor e o significado dessas imagens e dessa “imaginação”. Observaremos a ação destas no próprio jogo, procurando assim compreendê-lo como fator cultural da vida” [Johan Huizinga, 2001, p.7].

História Local no Currículo de História

Localizada na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, a Ilha do Governador é a maior Ilha da região e conta atualmente com 15 bairros [Bancários, Cacuia, Cocotá, Freguesia, Galeão, Jardim Carioca, Jardim Guanabara, Moneró, Pitangueiras, Portuguesa, Praia da Bandeira, Ribeira, Tauá, Tubiacanga e Zumbi].

A região foi habitada por inúmeros povos nativos e contém vestígios de Sambaquis em algumas localidades. No século XVI os povos Temiminós vivam nela e sempre entravam em atrito com os Tamoios que habitavam o entorno da Baía. Com a chegada dos portugueses ao nordeste em abril de 1500 viu-se nos meses seguintes o sistema de capotagem e feitorias “descendo a costa”. Em janeiro de 1501 a expedição comandada por Gaspar de Lemos é a primeira a adentrar na Baía, mas não há relatos que eles estiveram na referida Ilha. Em 1º de Janeiro de 1502 já há outra expedição maior com a presença de Américo Vespúcio e nesse contexto surge o nome que até hoje a cidade mantém: Rio de Janeiro. Pensaram que a Baía era a foz de um imenso rio. Entende-se que em 1502 também começou a ocupação europeia em algumas ilhas, inclusive na Ilha do Governador.

Ao longo da primeira metade do século XVI o grupo Temiminó foi expulso da Ilha pelos Tamoios e também contou com a forte presença francesa no período da França Antártica [1555-1567]. Em março de 1565 a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro foi fundada e levaria mais dois longos anos para os portugueses, definitivamente, expulsar a ameaça francesa. Vale ressaltar que as tropas de Estácio de Sá tiveram um ajuda descomunal dos Temiminós que se aliaram aos portugueses no Espírito Santo e retornaram ao Rio de Janeiro sob o comando do cacique Araribóia. Podemos imaginar as batalhas travadas pela baía da Guanabara e com nativos e europeus dos dois lados: Tamoios e Franceses versus Temiminós e Portugueses.

Antes de a maior Ilha ser doada pelo Governador Geral Mem de Sá ao sobrinho Salvador Correa de Sá e Benevides, que foi o segundo governador do Rio – daí o atual nome da localidade –, ela já se chamou Ilha de Paranapuã, Ilha dos Maracajás, Ilha do Gato, Belle Isle e Ilha dos Sete Engenhos.

Podemos observar que nesse contexto da História do Brasil do período Pré-colonial e a colonização da América Portuguesa, a Ilha do Governador é, de fato, parte importante desse processo de ocupação e fortalecimento da ação lusitana na América. Assim também assinala a historiadora Cybelle de Ipanema “A História da Ilha é História do Rio, é História do Brasil, de Portugal, do Planeta... Tudo influi e é influído”. [Ipanema, 2014, p.33]

Ao longo o tempo a Ilha do Governador teve inúmeros destaques importantes como a produção de Cana-de-Açúcar em diversas áreas, a construção de navios de carga e de guerra como é o caso do Galeão Padre Eterno [1663] – sendo o maior galeão construído pelo Homem até então e que fez o nome “Galeão” se perpetuar na região sendo um atual bairro carioca; a instalação do mosteiro de São Bento em uma grande área [1665] onde os religiosos impulsionaram atividades agrícolas. Nos séculos XVII e XVIII a Ilha teve importante função na produção de alimentos para abastecer a cidade [criações de aves e porcos, o cultivo de verduras, frutas, de milho, mandioca e inhame, além da pesca, abundante na Baía].

No século XIX, o Príncipe-Regente D. João utilizou o seu espaço como Coutada para a caça nas áreas pertencentes aos beneditinos [eles conseguiam os animais para a tal prática]. A igreja de Nossa Senhora da Conceição, localizada na Praia da Bica sempre recebia membros da família real para passeio e orações. O fim da chamada Coutada foi dado por D. Pedro I em 1823. Também a região se destaca na produção Caieira abastecendo a cidade e com os Formicidas produzidos pelo Barão de Capanema visando combater a formiga Saúva [1873] que atingia os cafezais fluminenses e que perduraria a praga até meados do século XX. O desenvolvimento da Ilha do Governador, entretanto, só ocorreu a partir da ligação regular da ilha com o continente, efetuada por barcas a vapor com atracadouro na Freguesia desde 1838. Posteriormente, outras pontes de atracação foram erguidas nas áreas do Galeão e Ribeira, integrando a área à economia do café e à atividade industrial [produção de cerâmica] em áreas como a praia de Olaria [Cocotá], Freguesia e Jardim Guanabara. 

Em 1903 a região forneceu tijolos que foram usados nas obras do prefeito Pereira Passos coma empresa de cerâmica Santa Cruz. Ao longo do século XX viram-se importantes modificações como a construção de uma ponte ligando a Ilha ao continente [1949], construção do Aeroporto Internacional [1952], a presença militar na Ilha: Marinha [1914] e Aeronáutica [1951] que cresceu amplamente ao longo das décadas surgindo batalhões, hospital, vilas militares... Tudo isso gera uma maior mobilidade e fluxo de visitantes e, consequentemente, maior loteamento e povoamento de toda a Ilha. Já no século XXI as modernizações surgem ano após ano as quais tentam gerar mais comodidade, conforto e segurança a seus atuais residentes.

Hoje, a população insulana consegue observar alguns estratos desse imenso passado, pois observam nomes de ruas, avenidas e bairros no idioma nativo, alguns monumentos antigos que fazem referência a fatos históricos [antigo canhão exposto que remonta a Revolta da Armada de 1893, prédios antigos como casas coloniais e igrejas, o nome Galeão por conta do grande navio construído na região...], contudo, há pouco pertencimento do povo insulano com seu passado e sua memória, logo não conseguem manter sua própria História.

Assim, serão analisados tais usos de recursos lúdicos e o estudo de História Local e seus possíveis benefícios. Serão observadas questões como criatividade, autonomia, valores, interesse, memorização, reflexão, prazer, socialização, curiosidade, protagonismo discente nesse processo. Outro aspecto é mostrar aos docentes um novo olhar sobre suas práticas, com a apropriação de História local, tendo como referência essa ação sobre a Ilha do Governador.

Assim, a História local teria mais espaço nas salas de aula, possibilitando mais empatia e significado na aprendizagem da História, a partir também do entendimento da região onde os alunos habitam. Esse estudo de História local, na maioria das vezes, é colocado de lado nos livros didáticos e nos currículos escolares. Com o uso de vetores lúdicos na realização desses planos de aula associando a História da Ilha com o currículo tradicional, serão buscados importantes fatos históricos ocorridos na Ilha entre os séculos XVI ao início do XX e serão associados aos conteúdos vistos em turmas de 7º, 8º e 9º anos e no ensino médio. Entender, com isso, se essa associação pode contribuir ou não com um melhor ensino dos demais conteúdos curriculares. “Narrativas abstratas” [partindo da ideia da dificuldade dos estudantes em visualizar os processos históricos, cenários do passado descritos nas aulas] em algo mais “concreto” [de mais fácil compreensão] para os alunos entenderem e aprenderem melhor.

Nesse sentido, alguns objetivos específicos podem ser destacados: propor que o lúdico é um importante aliado para a redução na dificuldade de aprendizagem no ensino de História, possibilitando muitos benefícios; despertar maior interesse no educando a aprendizagem do ensino de História, sendo essa mais atrativa e divertida; exemplificar algumas práticas lúdicas já realizadas em aulas de História mostrando, assim, processos de aproximação prazerosa e significativa de nossos alunos e professores com o uso desses novos recursos; sugerir aos educadores que a ludicidade pode ser inserida em suas práticas no Ensino de História; Tentar reduzir possíveis preconceitos e reconhecermos o papel do lúdico na aprendizagem histórica dos jovens na atualidade; gerar mais empatia e significado na aprendizagem da História em turmas da educação básica; mostrar como os vetores lúdicos podem ampliar mais a percepção dos estudantes para o entendimento dos processos históricos ensinados na escola; dar aos docentes um novo olhar sobre as práticas em sala de aula; potencializar nos estudantes insulanos [moradores da Ilha do Governador] a apropriação de sua História local.

Observa-se que na sala de aula há muita dificuldade dos alunos em contextualizarem os fatos históricos, na construção dos cenários em suas mentes e, dessa forma, muitas vezes, não alcançam uma plena compreensão dos mesmos. São muitas as causas que podem gerar essas dificuldades na aprendizagem e penso que duas são explicadas pelas estratégias usadas pelo professor serem tidas como chatas, tediosas, desinteressantes e a outra por não conseguirem enxergar que esses processos históricos também podem se relacionar com o local onde habitam.

Partindo dessa ideia de unir teoria e prática na Educação, torna-se cada vez mais importante o uso de métodos lúdicos em vários níveis escolares [alfabetização, socialização, inclusão...] e que as aulas de História possam abrir espaço também para o estudo da História local [Ilha do Governador/RJ].

A ideia de um produto a ser feito juntamente com a dissertação de mestrado será produzir um material que possa ser utilizado por professores, estudantes ou pesquisadores para a pesquisa de História Local. Ele será desenvolvido junto com a ação dos alunos, com muitas propostas de atividades dentro e fora das salas de aula com o uso de vetores lúdicos, materiais multimídia ou documentos. A proposta será inserida em um arquivo em tipo PDF que poderá ser acessado em qualquer dispositivo eletrônico.

REFERÊNCIAS

Juberto de Oliveira Santos é especialista em Ensino de História [CESPEB/UFRJ], bacharel e licenciado em História pela UFRJ. É professor na Educação Básica na rede municipal e particular do RJ. É mestrando pelo Prof.História/UFRJ. Estuda o uso de vetores lúdicos no ensino de História, metodologias ativas, História Local e Patrimônio. É autor do projeto PlayEduca: a História contada pelo mundo Playmobil
[https://www.facebook.com/playeduca/].


ALVES, Rubem. O desejo de ensinar e a arte de aprender. Campinas. Editora Fundação Educar DPaschoal. 2004.

HUIZINGA, Johan. Homo ludens. São Paulo: Perspectiva, 2001.

IPANEMA, Cybelle de. História da Ilha do Governador. Rio de Janeiro: Mauad, 2014.

SANTOS, Élia Amaral do Carmo. JESUS, Basiliano do Carmo de. O lúdico no processo de aprendizagem. 2010 Disponível em:
http://need.unemat.br/4_forum/artigos/elia.pdf.

VAZ, Luana. A sala de aula como espaço relacional: o olhar do professor para as singularidades dos alunos. 2017. 162 f., il. Dissertação [Mestrado em Educação]— Universidade de Brasília, Brasília, 2017. Disponível em: http://repositorio.unb.br/handle/10482/24233.

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